|primeiro livro da trilogia Criaturas Noturnas| Para Angeline, recomeçar era a única saída. Após uma perda devastadora na infância, ela acreditava que já havia sobrevivido ao pior. Mas seu destino ainda guarda segredos sombrios, e ela está prestes a descobrir da pior forma que não se pode escapar do que já foi profetizado. Ao mergulhar nas sombras onde vampiros são reais - e estão à sua procura - Angeline enfrentará perdas devastadoras e escolhas fatais. Cada decisão poderá desencadear uma batalha sangrenta, ameaçando destruir tudo e todos ao seu redor. Quem são os verdadeiros inimigos? Em quem ela deve confiar? Quantos segredos uma pessoa pode guardar e permanecer a mesma?
Ler maisA MULHER RECORDAVA com nitidez a primeira vez que cruzara aqueles imponentes muros de concreto, encimados por cercas elétricas e vigiados de perto por caçadores estrategicamente posicionados nas torres de observação. A base militar, com sua estrutura austera e decadente, mantinha a mesma aparência de abandono, oculta no coração da densa floresta e esquecida nas páginas de mapas desatualizados de Nova Jersey. Naquele tempo sombrio, ela havia adentrado o local escoltada ao lado do pai, cuja presença fora requisitada com urgência devido ao desaparecimento inexplicável de seis jovens — um mistério que pairava como uma sombra sobre a região.Uma lembrança dolorosa se instalou em seu peito ao reviver aquele dia fatídico. O interrogatório que seu pai enfrentara fora mais excruciante do que as intermináveis aulas de cientologia da professora Rabello, cujo tom monótono transformava cada minuto em uma tortura silenciosa. Sentada em uma sala escura, ela observava seu pai relatar, com um pesar evi
O FOYER FOI tomado pelo caos. Caçadores emergiam de todos os lados, saltando das janelas despedaçadas e avançando pelas portas com precisão calculada. Vestidos com trajes escuros de combate, empunhando lâminas afiadas e bestas carregadas, eles se moviam com uma fúria inabalável. Vampiros rosnavam em resposta, os olhos ardendo em um brilho feroz, encurralados como feras prestes a atacar. Braddock permaneceu firme à frente de seu bando, como um predador protegendo seu ninho. O corpo gigante estava retesado, pronto para o confronto, as presas expostas num sorriso de puro ódio.— Como ousam profanar nosso domínio?! — ele rugiu, a voz reverberando pelo saguão, gotas de saliva escapando de sua boca retorcida.— Viemos tomar de volta o que nos pertence. — um dos caçadores, um homem alto e corpulento, declarou sem hesitação. A arma cintilava sob a luz instável das chamas ao redor. — Vocês já são assassinos vis, agora se tornaram ladrões também? Sua raça não passa de escória pútrida. Um erro
O DESESPERO RUGIU dentro de mim, ensurdecedor como um alarme disparado diretamente em meus tímpanos. Dor, raiva e frustração se retorciam dentro do meu peito, serpenteando pelos meus nervos, sobrecarregando cada fibra do meu corpo até que o esgotamento físico e mental se tornasse inevitável. Era como lutar contra a correnteza de um mar revolto, nadar com todas as forças apenas para ser arrastada para as profundezas. O esforço era inútil.Eu estava afundando.E olhar para Karyn naquele estado fazia cada gota de resistência se esvair.A dor era lancinante. Uma dor que não vinha de ferimentos visíveis, mas que dilacerava por dentro, uma dor que me desmanchava pouco a pouco. Como se a mulher forte, astuta e inabalável que ela costumava ser tivesse desmoronado, reduzida a nada diante da cena diante de mim. Eu não sabia se a dor que sentia era a minha própria, ou a dela, mas era impossível ignorar.Há quanto tempo estávamos presas? Dois dias? Três? Não havia como saber. Mas, ao ver Karyn naq
DEPOIS DE REPASSAR pela terceira vez o que precisava fazer para escapar daquela prisão e despertar o poder selado, a insegurança começou a se arrastar sobre mim como uma sombra sufocante. E se eu falhasse? E se, ao invés de libertação, eu trouxesse apenas ruína? O peso da responsabilidade se transformava em um fardo insuportável, pressionando-me até os ossos. Eu nunca quis uma vida grandiosa, apenas um clichê confortável: uma casa simples cercada por um gramado verdejante, pais admiráveis e um futuro acadêmico repleto de promessas. Mas essa não era a realidade traçada para mim. Por mais que eu desejasse, tentasse ou fingisse pertencer a esse ideal, ele nunca me pertenceria. Meu destino já estava escrito, e nele, eu não passava de uma peça num tabuleiro de xadrez, onde as regras não eram minhas. O destino movia as peças, guiava os passos, e quando o xeque-mate chegasse, eu teria que estar preparada.Independentemente de quem caísse pelo caminho.Desafiar Henry pela segunda vez não era
DEFINITIVAMENTE, EU NÃO estava ficando louca. Havia alguém ali comigo, na escuridão, e não podia ser uma ilusão. O som daquela voz ecoava na minha mente como um sussurro dissonante, me lembrando de que eu não estava sozinha — e isso estava longe de ser um alívio. Quem mais estaria preso nesse lugar? Outro prisioneiro como eu? Ou, pior, um dos vampiros de Henry, rondando como uma sombra, esperando o momento certo para atacar?O pavor rastejou pela minha espinha como dedos frios e invisíveis. A escuridão absoluta tornava tudo ainda mais aterrorizante. Eu podia sentir minha respiração acelerada, meus sentidos aguçados, cada nervo do meu corpo em alerta máximo. O que quer que estivesse ali, parecia interessado na minha marca. Mas por quê? Qual era o verdadeiro propósito dessa presença oculta?O silêncio ao meu redor era insuportável, como se o próprio ar estivesse suspenso, aguardando um desfecho que eu não queria enfrentar. A qualquer momento, um ataque poderia vir — de qualquer direção.
KATHRYN JÁ HAVIA perdido a noção do tempo desde que fora trancafiada naquela cela. Não sabia quantas vezes despertara sobressaltada, assombrada por pesadelos que invadiam sua mente sem piedade, torturando-a de maneiras cruéis e inimagináveis. Mas o pior nunca era encarar a própria morte — e sim a de Angeline. As formas estranhas e brutais em que a irmã morria em seus sonhos escancaravam seu sentimento de fracasso como uma lâmina afiada rasgando-lhe a carne, cortando de dentro para fora. Doía, sangrava e a despedaçava por completo. A sensação de impotência a consumia, corroendo-a pouco a pouco. Ela sentia-se um fracasso consigo mesma, com Angeline, com os próprios pais.Você falhou.Seu subconsciente sussurrava impiedosamente sempre que a dor começava a se dissipar — apenas para ressurgir logo depois, sufocando-a de todas as formas possíveis.Você falhou, Kathryn.Desde o instante em que despertara desorientada, com uma dor latejante na lateral da cabeça, soubera que a situação havia se
☪PARTE III - ABISMO CHAMA ABISMO Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você." ― Friedrich Nietzsche ☪ RECOBREI A CONSCIÊNCIA com uma pontada afiada que disparou no canto da minha testa. Um chiado escapou da minha garganta seca, e eu forcei meus olhos a se abrirem. O primeiro detalhe que meus olhos captaram foi o teto de pedra acima de mim, gelado e áspero. Uma sensação de pavor se espalhou por meu peito, como se algo horrível estivesse prestes a acontecer. O medo se instalou em mim com uma intensidade aterradora, como se uma premonição sombria tivesse se apoderado do meu ser. Eu não sabia onde estava, mas sabia que não era bom. Tentei me apoiar em algo para me levantar, mas meu corpo foi recusado com um grito silencioso de dor, e eu caí de volta, sentindo o chão frio e liso contra a minha pele. Meu corpo protestou em cada movimento, como se cada fibra estivesse a
A PEDRA VERMELHA cintilava através do reflexo no espelho engordurado acima da pia, que há muito deixara de ser branca. Meus olhos estavam presos no pequeno pingente hexagonal pendurado em meu pescoço. O tom rubro e brilhante me lembrava de cada sangue derramado, de todas as vidas ceifadas por minha causa.Foi tudo o que me restou de uma vida que ficou para trás.Uma vida que, no fundo, nunca pertencera à verdadeira Angeline Collins, destinada a transformar tudo de bom em cinzas e destruição por causa dessa marca em seu braço. Agora, mais do que nunca eu a carregaria como se tivesse gravada em minha própria alma. Em um lembrete cruel de que havia sangue em minhas mãos.Eu os faria pagar.Não choraria mais, não agiria mais como uma garotinha amedrontada, escondida nas sombras da culpa e da fragilidade. Mas, para que isso acontecesse, eu precisava me recompor primeiro. Recuperar minha energia física e minha saúde mental era indispensável se eu quisesse enfrentar o que ainda estava por vi
EU NÃO CONSEGUIA reagir naquele momento. As palavras simplesmente não vinham, nem os sentimentos. Estava entorpecida, incapaz de processar o que estava acontecendo, como se estivesse em um redemoinho onde a lógica não fazia mais sentido. Cada segundo parecia me afundar ainda mais em um mundo distorcido, onde as pessoas que eu conhecia por toda minha vida agora eram completas estranhas.Descrença, desespero e raiva tornavam-se meus companheiros silenciosos.― A filha da Agnes... ― disse tio Lester, lentamente, como se apreciasse as palavras. Um sorriso discreto ameaçou curvar o canto de seus lábios pela descoberta. ― Então isso quer dizer que você não foi transferida para Londres.― Provavelmente esse seria o meu destino. ― Eve respondeu sombriamente, sua voz quase inaudível. ― Mas houve uma mudança de planos.Minha irmã e tio Lester trocaram olhares carregados de significado, como se um entendimento silencioso passasse entre eles. E eu estava ali, dividida, sem saber se deveria ficar