KATHRYN JÁ HAVIA perdido a noção do tempo desde que fora trancafiada naquela cela. Não sabia quantas vezes despertara sobressaltada, assombrada por pesadelos que invadiam sua mente sem piedade, torturando-a de maneiras cruéis e inimagináveis. Mas o pior nunca era encarar a própria morte — e sim a de Angeline. As formas estranhas e brutais em que a irmã morria em seus sonhos escancaravam seu sentimento de fracasso como uma lâmina afiada rasgando-lhe a carne, cortando de dentro para fora. Doía, sangrava e a despedaçava por completo. A sensação de impotência a consumia, corroendo-a pouco a pouco. Ela sentia-se um fracasso consigo mesma, com Angeline, com os próprios pais.Você falhou.Seu subconsciente sussurrava impiedosamente sempre que a dor começava a se dissipar — apenas para ressurgir logo depois, sufocando-a de todas as formas possíveis.Você falhou, Kathryn.Desde o instante em que despertara desorientada, com uma dor latejante na lateral da cabeça, soubera que a situação havia se
DEFINITIVAMENTE, EU NÃO estava ficando louca. Havia alguém ali comigo, na escuridão, e não podia ser uma ilusão. O som daquela voz ecoava na minha mente como um sussurro dissonante, me lembrando de que eu não estava sozinha — e isso estava longe de ser um alívio. Quem mais estaria preso nesse lugar? Outro prisioneiro como eu? Ou, pior, um dos vampiros de Henry, rondando como uma sombra, esperando o momento certo para atacar?O pavor rastejou pela minha espinha como dedos frios e invisíveis. A escuridão absoluta tornava tudo ainda mais aterrorizante. Eu podia sentir minha respiração acelerada, meus sentidos aguçados, cada nervo do meu corpo em alerta máximo. O que quer que estivesse ali, parecia interessado na minha marca. Mas por quê? Qual era o verdadeiro propósito dessa presença oculta?O silêncio ao meu redor era insuportável, como se o próprio ar estivesse suspenso, aguardando um desfecho que eu não queria enfrentar. A qualquer momento, um ataque poderia vir — de qualquer direção.
DEPOIS DE REPASSAR pela terceira vez o que precisava fazer para escapar daquela prisão e despertar o poder selado, a insegurança começou a se arrastar sobre mim como uma sombra sufocante. E se eu falhasse? E se, ao invés de libertação, eu trouxesse apenas ruína? O peso da responsabilidade se transformava em um fardo insuportável, pressionando-me até os ossos. Eu nunca quis uma vida grandiosa, apenas um clichê confortável: uma casa simples cercada por um gramado verdejante, pais admiráveis e um futuro acadêmico repleto de promessas. Mas essa não era a realidade traçada para mim. Por mais que eu desejasse, tentasse ou fingisse pertencer a esse ideal, ele nunca me pertenceria. Meu destino já estava escrito, e nele, eu não passava de uma peça num tabuleiro de xadrez, onde as regras não eram minhas. O destino movia as peças, guiava os passos, e quando o xeque-mate chegasse, eu teria que estar preparada.Independentemente de quem caísse pelo caminho.Desafiar Henry pela segunda vez não era
O DESESPERO RUGIU dentro de mim, ensurdecedor como um alarme disparado diretamente em meus tímpanos. Dor, raiva e frustração se retorciam dentro do meu peito, serpenteando pelos meus nervos, sobrecarregando cada fibra do meu corpo até que o esgotamento físico e mental se tornasse inevitável. Era como lutar contra a correnteza de um mar revolto, nadar com todas as forças apenas para ser arrastada para as profundezas. O esforço era inútil.Eu estava afundando.E olhar para Karyn naquele estado fazia cada gota de resistência se esvair.A dor era lancinante. Uma dor que não vinha de ferimentos visíveis, mas que dilacerava por dentro, uma dor que me desmanchava pouco a pouco. Como se a mulher forte, astuta e inabalável que ela costumava ser tivesse desmoronado, reduzida a nada diante da cena diante de mim. Eu não sabia se a dor que sentia era a minha própria, ou a dela, mas era impossível ignorar.Há quanto tempo estávamos presas? Dois dias? Três? Não havia como saber. Mas, ao ver Karyn naq
O FOYER FOI tomado pelo caos. Caçadores emergiam de todos os lados, saltando das janelas despedaçadas e avançando pelas portas com precisão calculada. Vestidos com trajes escuros de combate, empunhando lâminas afiadas e bestas carregadas, eles se moviam com uma fúria inabalável. Vampiros rosnavam em resposta, os olhos ardendo em um brilho feroz, encurralados como feras prestes a atacar. Braddock permaneceu firme à frente de seu bando, como um predador protegendo seu ninho. O corpo gigante estava retesado, pronto para o confronto, as presas expostas num sorriso de puro ódio.— Como ousam profanar nosso domínio?! — ele rugiu, a voz reverberando pelo saguão, gotas de saliva escapando de sua boca retorcida.— Viemos tomar de volta o que nos pertence. — um dos caçadores, um homem alto e corpulento, declarou sem hesitação. A arma cintilava sob a luz instável das chamas ao redor. — Vocês já são assassinos vis, agora se tornaram ladrões também? Sua raça não passa de escória pútrida. Um erro
A MULHER RECORDAVA com nitidez a primeira vez que cruzara aqueles imponentes muros de concreto, encimados por cercas elétricas e vigiados de perto por caçadores estrategicamente posicionados nas torres de observação. A base militar, com sua estrutura austera e decadente, mantinha a mesma aparência de abandono, oculta no coração da densa floresta e esquecida nas páginas de mapas desatualizados de Nova Jersey. Naquele tempo sombrio, ela havia adentrado o local escoltada ao lado do pai, cuja presença fora requisitada com urgência devido ao desaparecimento inexplicável de seis jovens — um mistério que pairava como uma sombra sobre a região.Uma lembrança dolorosa se instalou em seu peito ao reviver aquele dia fatídico. O interrogatório que seu pai enfrentara fora mais excruciante do que as intermináveis aulas de cientologia da professora Rabello, cujo tom monótono transformava cada minuto em uma tortura silenciosa. Sentada em uma sala escura, ela observava seu pai relatar, com um pesar evi
Inverness, Escócia 1875Uma tempestade descomunal rugia desde o cair da tarde, banhando o mundo em um manto de trevas inquietantes. Nuvens pesadas e densas, de um cinza profundo como o carvão, tomavam o céu, apagando qualquer vestígio de luz. A lua e as estrelas, impotentes, foram obliteradas por essa cortina de desespero. O vento, feroz e inclemente, bradava em uivos que carregavam a essência da fúria, enquanto relâmpagos riscavam o firmamento com uma luz branca e crua, cada clarão como uma lâmina que feria os olhos. Beleza e perigo entrelaçados, anunciando que a noite não pertencia mais aos homens, mas às forças que os superavam.No vilarejo aos pés das Montanhas de Krane, a tempestade não era a única ameaça. Os moradores, encurvados sob o peso da calamidade, enfrentavam algo muito mais antigo e terrível que a ira da natureza. Um terror sombrio, quase inominável, pairava sobre eles como uma maldição, espreitando nos cantos mais profundos de suas mentes e corações.Evangeline cambalea
Parte I "Nada há de oculto que não se torne manifesto, e nada em segredo que seja conhecido e venha a luz do dia.— Evangelho de Lucas 8,17✥Adeus.Indicação de despedida; sinal, palavra, gesto ou acontecimento que assinala a partida de alguém.UMA PALAVRA QUE carrega um significado tão profundo quanto o amor, a morte e o perdão. Há momentos em que nos preparamos para a partida iminente de alguém, mas e quando a morte nos pega de surpresa? Quando chega sem aviso e nos obriga a aceitá-la, levando aqueles que, por mais mortais que sejam, deveriam ser eternos? Como saber quando estamos finalmente prontos para dizer adeus e retirar a atadura que cobre a ferida em nossos corações? O tempo não cura; ele apenas ameniza a dor, tornando as lembranças mais suaves, embora a tristeza persista, apertando nosso peito até nos sufocar. As lágrimas, então, caem, e a dor se torna mais visível.Já se passaram sete anos desde que comecei a conviver com essa dor profunda e a passar a detestar a data do m