Stella está decidida a recomeçar, mesmo carregando as cicatrizes de um passado marcado pelo abandono e pela perda. Com as poucas esperanças que lhe restaram ela se muda para recomeçar a vida em uma cidade nova, longe de tudo que a machucou. Acreditando que o passado nunca mais a encontrará. Até seu caminho se cruzar com um homem misterioso no elevador. Matteo Bianchi é o típico chefe frio e inacessível, um homem que trocou o calor das emoções pela segurança do trabalho. Mergulhado em um mar de culpa e remorso, ele se isolou da família e de todas as chances de recomeçar. Quando seus caminhos se cruzam, ele faz uma proposta inusitada: fingir ser sua noiva por um ano. Para ela, uma chance de estabilidade. Para ele, uma tentativa de reencontrar significado na vida. Mas será que um acordo tão improvável pode despertar sentimentos reais e trazer a redenção que ambos tanto precisam?
Ler maisO som constante do motor preenchia o silêncio dentro do carro enquanto eu dirigia pela estrada estreita que levava ao cemitério. O sol do final da tarde banhava a paisagem em tons dourados, mas tudo o que eu via eram os flashes de uma vida que nunca existiu. As possibilidades assombravam minha mente, como um filme projetado em minha memória: pequenas mãos alcançando as minhas, uma risada cristalina ecoando no ar, a palavra "papai" pronunciada com a doçura de quem sabe que é amado.Ela nunca teve a chance de me chamar assim. Nunca teve a chance de viver. E essa dor às vezes era tão intensa que eu não sabia como ainda conseguia respirar.Meus dedos apertaram o volante, e eu me forcei a olhar para a estrada à frente. Os girassóis no banco do passageiro tremulavam levemente com os solavancos do carro. Eles eram as flores favoritas de minha mãe, e eu i
A luz suave do final da tarde se espalhava pelo jardim, dançando entre as folhas das árvores e destacando os tons vivos das flores que pareciam ter sido pintadas à mão. Sentada à mesa redonda de ferro forjado, eu segurava um copo de chá gelado com limão, deixando a frescura aliviar o calor que ainda persistia. A brisa leve trazia o perfume das flores, uma mistura de lavanda, rosas e algo tão único que só poderia ser o cheiro desse lugar.Antonella estava a alguns passos de mim, com as mãos habilidosas trabalhando em um arranjo floral. As flores que ela havia colhido momentos antes estavam espalhadas pela mesa: rosas vermelhas, margaridas brancas e ramos de eucalipto. Ela murmurava para si mesma enquanto escolhia cada elemento com cuidado, ajustando as cores e texturas como se fosse uma artista pintando um quadro.— Essas rosas vermelhas são minhas favoritas. disse ela, interrompendo o silêncio do jardim com sua voz melodiosa e carregada de um leve sotaque italiano.— Sabe, Stella, com
O sol brilhava suavemente sobre os vinhedos, refletindo uma tonalidade dourada nas folhas das parreiras. O vento, leve e morno, carregava consigo o aroma das uvas maduras e da terra. Caminhávamos lado a lado, Stella e eu, enquanto eu apontava as fileiras de videiras, tentando explicar o máximo que podia sobre o trabalho que minha família fazia ali.— Aqui é onde tudo começa, — disse, passando a mão pelas folhas de uma parreira. — Todo o cuidado com as uvas é feito manualmente. Cada cacho é observado para garantir que cresça saudável. Vê aquelas tesouras pequenas que os trabalhadores usam? Elas servem para podar apenas o que é necessário.Stella me olhava com aqueles olhos brilhantes, absorvendo cada palavra. O sorriso que curvava seus lábios me fez sentir um calor que ia muito além do sol. Ela tocou uma das folhas, delicadamente, como se estivesse temendo machucar a planta.— Isso é incrível, Matteo. Eu nunca tinha imaginado quanto amor e dedicação existiam por trás de uma garrafa de
Assim que desci do carro, senti o cheiro fresco e terroso que só um lugar como esse poderia ter. Matteo segurou minha mão com firmeza enquanto eu dava o primeiro passo no caminho de pedras que levava até a casa. Não, “casa” era um eufemismo. Era como uma mansão digina cenário de filme, mas aconchegante.A villa era encantadora, com suas paredes de tijolos claros cobertas por trepadeiras que subiam como dedos verdes em direção ao céu. As janelas de madeira tinham molduras pintadas de branco, e as cortinas finas balançavam suavemente com a brisa. Ao redor da casa, árvores robustas espalhavam sombras acolhedoras, e vinhedos se estendiam pelo horizonte como um tapete infinito de verde. Era como estar em um pequeno paraíso, onde o tempo parecia ter parado.— É aqui que você cresceu? —<
O som suave do motor do avião era quase hipnotizante, e eu me peguei olhando pela janela para as nuvens que pareciam algodão doce espalhado pelo céu. Era surreal pensar que em menos de uma hora eu estaria pisando em um lugar completamente novo, na terra do Matteo. E enquanto eu tentava encontrar uma posição mais confortável na poltrona de primeira classe — porque, sinceramente, mesmo em uma poltrona que parecia uma cama, minhas costas ainda reclamavam — ele estava ali, completamente atento a mim, como sempre.— Você está bem, mi amore? — Matteo perguntou, inclinando-se para me olhar melhor.— Minhas costas estão meio doloridas, mas estou bem. Um pouco de fome — respondi, tentando minimizar. Mas ele não era do tipo que aceitava respostas simples quando o assunto era cuidar de mim. Antes que eu pudesse protestar, ele chamou u
O quarto estava iluminado pela luz dourada do entardecer, e o som baixo de uma música qualquer preenchia o espaço. O cheiro doce das uvas congeladas que ela comia parecia se misturar ao aroma suave do perfume que ainda pairava no ar desde que Stella saiu do banho. Eu me movia pelo quarto, dobrando cada roupa com a precisão de um perfeccionista, encaixando-as nas malas como se estivesse resolvendo um quebra-cabeça.Ela estava sentada na cama, com as pernas cruzadas, segurando o potinho de uvas na palma da mão e usando os dedos para escolher uma de cada vez. Um gesto tão simples, mas que para mim parecia carregar toda a suavidade do mundo. Stella nem imaginava o quanto eu gostava de observá-la assim, nos momentos em que ela achava que ninguém estava olhando.Cada movimento dela era como um detalhe perfeito de uma obra de arte, algo que não se devia apressar para entender.Dois meses. Era inacreditável pensar que, há apenas dois meses, eu havia desembarcado no Brasil com um coração vazio
A despedida no escritório do advogado foi breve, mas carregada de significados. Matteo manteve sua mão em minha cintura enquanto caminhávamos pelo estacionamento em direção ao carro. Quando finalmente paramos ao lado da porta, ele se virou para mim, me surpreendendo. Suas mãos firmes deslizaram até minhas costas, pressionando-me gentilmente contra o metal frio do veículo.— Tudo vai correr bem, Stella. — ele disse, sua voz carregada de uma convicção que aquecia meu coração. Seus dedos acariciaram minha barriga com cuidado, como se ele pudesse se comunicar diretamente com o bebê através daquele gesto.Coloquei minhas mãos sobre as dele, absorvendo a força e o carinho que ele transmitia. Por um momento, parecia que o mundo havia parado ao n
As portas do elevador se fecham com um leve sibilo, isolando-nos temporariamente do mundo exterior. Olho para Stella, parada ao meu lado, as mãos inquietas acariciando a barriga em um gesto que mistura nervosismo e proteção. Ela tenta parecer calma, mas eu conheço cada detalhe de sua expressão, e o leve tremor em seus dedos denuncia o turbilhão de pensamentos que deve estar atravessando sua mente.— Ei... — murmuro, deslizando minha mão sobre a dela, envolvendo-a com firmeza. — Tudo vai dar certo. Eu prometo. — Minha voz sai baixa, mas segura, como se eu pudesse, de alguma forma, fazer aquelas palavras se tornarem uma verdade absoluta.Ela finalmente me olha, e por um breve momento, vejo uma fagulha de esperança se misturar ao medo em seus olhos.— E se ele não puder nos ajudar? — ela pergunta, quase num sussurro.— Ele vai. — respondo com convicção, mesmo que no fundo eu não tenha todas as respostas. — Bernardo é advogado da minha família há anos. Não vamos deixar nada nem ninguém at
Entramos em casa, e o silêncio acolhedor nos envolveu assim que fechei a porta. Stella estava ao meu lado, tirando os sapatos enquanto eu pendurava as chaves no gancho. A noite tinha sido longa, mas, para mim, havia algo reconfortante em ver como ela e Fiorella se deram bem.Seguimos para o quarto, e Stella foi direto para o closet, mexendo na barra do vestido enquanto eu tirava o blazer. O ambiente era iluminado por uma luz suave, refletida no grande espelho da parede.Deixei o blazer sobre a poltrona em frente ao espelho e comecei a desabotoar a camisa.— Tudo correu bem, não acha?Ela assentiu, tirando os brincos e os colocando no pequeno porta-joias.— Fiorella me fez sentir... parte da família.Havia algo na forma como ela disse aquilo, um toque de emoção que me fez parar o que estava fazendo. Caminhei até ela, envolvendo sua cintura com meus braços e puxando-a para mais perto.