Eu estava sentada no sofá da sala de estar da casa da avó de Matteo, com um chá quente nas mãos, enquanto Antonella revirava uma enorme caixa de papelão no meio da sala. O aroma de camomila e biscoitos recém-assados preenchia o ambiente, criando uma atmosfera acolhedora que só a casa dela conseguia ter. Matteo estava ao meu lado, observando tudo com um sorriso divertido nos lábios.— Aqui está! — exclamou Antonella, erguendo um pequeno ursinho de pelúcia marrom com uma orelha um pouco torta. Ela o sacudiu no ar, como se fosse um troféu, e depois caminhou até mim com um brilho nos olhos. — Este era do Matteo quando ele era pequeno. Não largava por nada!Olhei para Matteo, que corou ligeiramente e deu de ombros.— Eu tinha uns dois ou três anos, não me lembro disso.Antonella riu.— Não importa se você não lembra, eu lembro! Ele dormia com esse ursinho toda noite. E agora, quero que a sua filha tenha algo que foi do pai dela.Segurei o ursinho com cuidado, sentindo o tecido macio, embora
A tarde estava quente, e o ventilador girava preguiçosamente no canto da sala enquanto Matteo empurrava mais uma caixa para o centro do apartamento. O pequeno espaço, que eu havia chamado de lar por tanto tempo, agora parecia diferente, quase irreconhecível com as paredes nuas e os móveis desmontados. Era estranho pensar que, em breve, ele não seria mais meu.— Você tem certeza que quer mandar esse móvel para o seu vizinho? — Matteo perguntou, apontando para o rack que já estava encostado perto da porta. Ele me observava com aquela expressão meio desconfiada que fazia sempre que achava que eu estava escondendo algo.— Tenho. — respondi, tentando parecer decidida. — Ele estava precisando de um e... bem, eu não vou levar isso para a Itália. Faz sentido que fique com ele.Matteo apenas assentiu, mas não parecia convencido. Ele voltou a se concentrar na caixa de livros à sua frente, deixando o ar carregado de uma pergunta não feita.Suspirei e me sentei no chão, passando as mãos pelo cabel
Eu me perguntei pela milésima vez se tinha feito a escolha certa ao trazer Stella tão rapidamente de volta para a Itália. A casa era bonita, espaçosa e cheia de potencial, mas eu podia ver nos olhos dela que algo ainda não estava certo. Ela caminhava pelos cômodos como se estivesse tentando se encontrar, como se algo estivesse fora de lugar.Deixei meu casaco no encosto do sofá e a observei da cozinha. Stella estava na sala, ajeitando as almofadas do jeito dela. Aquelas almofadas eram novas, escolhidas em uma das muitas lojas que visitamos desde que chegamos em Livorno. Eu sabia que ela sentia falta do apartamento pequeno, onde cada canto tinha um pedacinho dela, onde o mundo parecia mais simples.— Preciso colocar algo aqui na parede. — ela disse, mais para si mesma do que para mim, apontando para um espaço vazio acima do aparador. — Talvez uma foto nossa... ou um quadro colorido.— É uma ótima ideia — respondi, apoiando-me na porta.Ela olhou para mim e sorriu, mas era aquele sorris
Assim que a chamada de vídeo conectou e a tela mostrou o rosto sério do advogado, meu estômago revirou. Matteo segurava minha mão firmemente, sentado ao meu lado no sofá, mas eu sentia os dedos dele suarem tanto quanto os meus. Tentei respirar fundo, mas o ar parecia não chegar aos meus pulmões. Era agora.— Boa tarde, Stella, Matteo — começou o advogado, ajeitando os óculos. Sua expressão profissional não entregava nada, e isso só aumentava meu nervosismo. — Recebemos a decisão do juiz sobre o pedido de guarda apresentado pelo genitor da sua filha.Meu coração disparou. Eu apertei a mão de Matteo com força, sentindo um nó na garganta. Por mais que eu tivesse tentado me preparar para qualquer resposta, agora que o momento tinha chegado, parecia impossível me manter calma.— E…? — Minha voz saiu trêmula, quase um sussurro. Matteo deslizou o polegar pelo dorso da minha mão, um gesto pequeno, mas reconfortante.O advogado fez uma pausa, provavelmente para organizar os papéis em sua mesa,
O ar estava impregnado com o perfume das flores que decoravam a vinícula. O entardecer tingia o céu com tons de dourado e laranja, enquanto o sol se escondia por entre as colinas. Nunca imaginei que um dia poderia ser tão perfeito. Tudo parecia parte de um sonho — mas era real, e ela estava prestes a caminhar em minha direção.Minhas mãos suavam, e eu tentava controlar a respiração enquanto esperava no altar. O vento suave fazia as folhas das videiras balançarem, criando uma música natural que se misturava à melodia suave tocada pelo quarteto de cordas. Amigos e familiares estavam reunidos, mas minha atenção estava toda na entrada, onde sabia que Stella apareceria a qualquer momento.Quando a música mudou, meu coração deu um salto. E então, ela surgiu. Stella.Ela estava linda. Deslumbrante. Inimaginavelmente perfeita. O vestido branco moldava seu corpo com delicadeza, o tecido leve dançando com a brisa. Seu cabelo estava preso em um penteado elegante, com algumas mechas soltas que em
1 ano depois...O sol já começava a se esconder atrás das montanhas, tingindo o céu de tons dourados e laranja. O quarto de Giorgia, nosso cantinho acolhedor, foi banhado pela luz suave do entardecer, criando uma sensação de paz que me envolvia. Embalava nossa filha em meus braços, sentindo sua respiração calma e leve, como se o mundo lá fora fosse apenas um eco distante, longe do nosso pequeno universo. Ela me olhou com os olhos curiosos, e o coração parecia se expandir dentro de mim, repleto de um amor tão profundo que não sabia como descrever.Eu cantava para ela, uma melodia suave, quase como um sussurro, minha voz refletindo a serenidade que invadia minha alma. Cada nota era um agradecimento silencioso por tudo o que a vida me deu. Por Giorgia. Por Matteo. Pela chance de recomeçar, de ser feliz de uma forma que eu nunca imaginei possível.Quando minha mente se perde, pensando em tudo o que passou, não posso deixar de sorrir. O homem que entrou na minha vida de uma maneira inesper
A chuva encharca meus sapatos enquanto caminho pela calçada de uma das avenidas mais movimentadas da cidade, rezando para que, desta vez, eu não chegue atrasada. O som do meu estômago roncando me faz soltar uma das mãos da sombrinha e apertar o próprio corpo.Lidar com a chuva até que é fácil — eu poderia tentar secar o cabelo no secador de mãos do banheiro de novo. Mas hoje trabalhar será difícil, porque não conseguirei passar na padaria e gastar minhas últimas moedas. Nem chegamos à metade do mês, e meu salário já foi quase todo embora.Paro em frente ao semáforo e espero abrir para atravessar em direção ao prédio da Fiori Security, uma das filiais da maior empresa de segurança italiana. Por um milagre, depois de ter sido demitida do meu último emprego de babá, consegui uma vaga de secretária.Deus abençoe minha mãe no dia em que me obrigou a fazer aquele curso.Meu pé desliza dentro do salto molhado ao entrar no saguão de mármore branco e dourado. Chamo o elevador e subo para o vig
Esfrego os olhos, sentindo que estou prestes a enlouquecer.Meus dedos estão exaustos de tanto digitar as pautas que minha chefe precisa para as reuniões de amanhã. Pelo menos consegui almoçar no refeitório da empresa. A Fiori fornece almoço para todos os funcionários e isso ajuda a economizar.Levando em consideração que minhas opções de culinária são limitadas no fogão de duas bocas que cabe na minha cozinha.Não reclamo de ficar um pouco depois, as horas extras sempre me ajudam.Às vezes sinto falta do meu antigo emprego.Trabalhei por cinco anos como babá para uma família rica e foram ótimos anos de trabalho. Recebia um salário adequado que me ajudou a pagar a faculdade de secretariado e convivendo com as duas crianças mais fofas e amáveis desse mundo.Era muito bem tratada pela família, que pagou meus cursos de idioma e me levou em algumas viagens.Sempre serei grata por tudo o que fizeram por mim.Infelizmente, o pai foi transferido para Londres, para uma das filiais da empresa