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Um Novo Amor Para O Herdeiro
Um Novo Amor Para O Herdeiro
Por: Laura Ricci
Capítulo 1: Stella Conti

A chuva encharca meus sapatos enquanto caminho pela calçada de uma das avenidas mais movimentadas da cidade, rezando para que, desta vez, eu não chegue atrasada. O som do meu estômago roncando me faz soltar uma das mãos da sombrinha e apertar o próprio corpo.

Lidar com a chuva até que é fácil — eu poderia tentar secar o cabelo no secador de mãos do banheiro de novo. Mas hoje trabalhar será difícil, porque não conseguirei passar na padaria e gastar minhas últimas moedas. Nem chegamos à metade do mês, e meu salário já foi quase todo embora.

Paro em frente ao semáforo e espero abrir para atravessar em direção ao prédio da Fiori Security, uma das filiais da maior empresa de segurança italiana. Por um milagre, depois de ter sido demitida do meu último emprego de babá, consegui uma vaga de secretária.

Deus abençoe minha mãe no dia em que me obrigou a fazer aquele curso.

Meu pé desliza dentro do salto molhado ao entrar no saguão de mármore branco e dourado. Chamo o elevador e subo para o vigésimo andar da presidência.

O elevador demora a chegar.

Ou talvez seja só a minha impaciência tornando tudo mais lento.

Quando finalmente entra, o pequeno cubículo parece apertado demais, como se o peso da manhã estivesse todo ali, me sufocando. Subo até o vigésimo andar, o som da chuva batendo no teto metálico e o estômago roncando ainda mais alto.

Eu tento me concentrar no trabalho, mas tudo que consigo pensar é em como minha vida parece estar se arrastando em um dia após o outro, uma sequência interminável de pequenas derrotas.

O elevador para e, quando as portas se abrem, eu me vejo de frente para o saguão que me aguarda, vazio, exceto pela minha mesa. Cada passo até ela parece uma eternidade. Não consigo deixar de me sentir exausta. Não fisicamente — já estou acostumada com a correria —, mas emocionalmente.

O dia mal começou e eu já sinto que ele vai ser um daqueles onde nada dá certo.

Por um momento, fico ali parada, observando a mesa vazia.

O computador parece me desafiar com sua tela em branco, como se estivesse esperando que eu desse o primeiro passo, mas tudo que eu quero é me encolher ali mesmo. E então, como se o universo resolvesse se divertir com a minha falta de sorte, minha chefe aparece.

— Bom dia, Stella. O clima está horrível hoje.

Minha chefe abre a porta da sala separada e se aproxima da minha mesa carregando uma pilha de papéis.

— Senhora Bianchi, me perdoe, o trânsito estava horrível, eu tentei…

— Não precisa se explicar — ela levanta um dedo. — Recomponha-se e comece o trabalho. Sei que conseguirá compensar.

— Sim, senhora.

Espero até que o som dos seus sapatos se encerre com o fechar da porta e desabo na minha cadeira. Fiorella Bianchi é a representante e CEO da filial brasileira, braço direito do irmão, uma mulher bem-sucedida e um pouco ranzinza, mas que me estendeu a mão.

Está sempre com os cabelos castanhos perfeitamente ondulados caindo pelas costas, vestida com elegância em caros vestidos italianos, com postura impecável. Seus olhos azuis são afiados, capazes de detectar erros a metros de distância.

Ela é tão bonita que chega a me faltar o ar, e me pergunto como devem ser seus outros dois irmãos. A Fiori tem duas filiais, no Brasil e na Bélgica, além da matriz em Roma, cada uma liderada por um dos irmãos Bianchi.

Já procurei fotos dos três na internet, mas elas não fazem jus à beleza real da minha chefe. Não que isso me interesse muito.

Desde que eu mantenha meu bom desempenho e continue mantendo sua vida organizada, consigo ter um bom dia de trabalho e receber um salário decente no final do mês.

Empurro a cadeira e sigo para a copa no final do corredor das outras salas. Coloco a cafeteira para funcionar e me encosto no balcão, conferindo as contas que ainda não foram pagas. Ainda estou quitando os custos do tratamento da minha mãe.

Um câncer a levou de mim, minha única família restante, e além de um coração dilacerado, fiquei com as dívidas hospitalares que, há três meses, vêm acabando com minha saúde financeira e me forçaram a mudar para um cômodo em um dos piores bairros de São Paulo.

— Bem, o banco vai ter que esperar mais um mês. Posso não ter armários, mas ainda preciso colocar comida nas gavetas que me restam.

Sirvo o café na xícara e Amanda, a secretária de um dos nossos advogados, me encontra.

— Bom dia, Stella. Dia péssimo, quase caí em uma poça do lado de fora.

Ela pega uma das xícaras e se serve.

— Não tive muito mais sorte que você. O ônibus quebrou, e precisei fazer o resto do percurso a pé.

— Meu Deus, amiga, será que em algum momento nós vamos ter sorte?

Ela me acompanha, mexendo nas pontas loiras do cabelo.

Ela pega uma das xícaras e se serve, antes de encostar ao balcão ao meu lado. Amanda é uma das poucas pessoas aqui com quem consigo conversar sem sentir que estou sendo julgada. Às vezes, parece que estamos as duas lutando no mesmo barco, só que em turnos diferentes.

— Preciso acreditar que sim, pelo menos nas histórias que eu leio.

— Por falar em histórias, ficou sabendo que o chefão estará aqui amanhã?

Franzo o cenho, um pouco confusa.

— O chefão?

Amanda faz uma cara misteriosa e se aproxima um pouco mais, como se fosse contar um segredo.

— Matteo Bianchi, o irmão da sua chefe. Ele chega amanhã para supervisionar a empresa de perto.

Meu coração dá um salto, uma mistura de surpresa e curiosidade. Eu sempre ouvi falar dele, mas nunca vi o homem pessoalmente. O irmão de Fiorella Bianchi, o CEO da Fiori Security, que mora na Itália e raramente visita a filial brasileira. Por algum motivo, a ideia de ele aparecer aqui, no meio de todo esse caos, me deixa nervosa.

— Sério? Nunca imaginei que ele fosse aparecer. A última vez que ouvi falar dele, estava lidando com uma crise na matriz em Roma.

Amanda sorri e mexe nas pontas do cabelo, um hábito dela quando está empolgada com alguma fofoca.

— Eu também nunca achei que ele viria. E dizem que ele é super misterioso. Ninguém sabe muito sobre ele, porque sempre fica lá na Itália. Mas sempre tem aquelas histórias, né? Todo mundo fala que ele é… bem, digamos… difícil de agradar.

Dou uma risada nervosa.

— E o que mais você ouviu sobre ele? Eu nunca encontrei ninguém que o conhecesse pessoalmente.

Amanda baixa a voz, como se estivesse revelando um grande segredo.

— Dizem que ele é charmoso, imponente, e que tem esse jeito de líder que intimida. Algumas pessoas o acham meio frio, mas quem trabalha diretamente com ele sempre fala muito bem dele. E, claro, tem toda essa aura de poder… É, não vou mentir, estou bastante curiosa para vê-lo.

Balanço a cabeça, pouco interessada.

— Bom, isso não mudará nada para nós, meras secretárias.

— Não, mas pelo menos poderemos admirar o bonitão.

— Fale por você. Tenho cinco pautas para digitar, meus olhos ficarão apenas no computador.

Aceno me despedindo de uma das minhas poucas amigas, puxo a cadeira, respiro fundo e estico os dedos, pronta para enfrentar mais um dia. Abro a gaveta para procurar o grampeador e a pilha de boletos do tratamento da minha mãe me encara de volta.

Fecho os olhos e respiro fundo, lembrando que posso ser despejada, que voltarei para casa e os armários estarão vazios, mas preciso continuar.

Pronta para desejar que as coisas mudem, preciso acreditar.

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