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Capítulo 6: Matteo Bianchi

As vozes ao meu redor se acumulavam, buscando qualquer resquício da minha atenção.

E eu deveria mesmo estar entretido no assunto que os investidores insistem em debater comigo no meio do corredor. Todos em busca de mais uma fatia do nosso império familiar. Minha irmã decidiu que esse era um ótimo momento para desaparecer e me deixar lidar com os problemas dos quais fugi todos esses meses.

— Acho poderíamos expandir para outras cidades, talvez uma ou duas filiais — o homem ao meu lado sugere, ajeitando a gravata torta no pescoço.

— Claro, é uma ideia que poderia ser estudar.

Respondo sem nem ao menos desviar os olhos para ele.

Eu tentava me concentrar na conversa, mas as palavras deles se misturavam em um borrão. Concordei com um sorriso educado aqui, um aceno ali, enquanto minha atenção estava em outro lugar.

Melhor dizendo, em outra pessoa.

Através das portas de vidro do escritório da Fiorella, eu conseguia vê-la.

Stella.

Sentada à mesa, inclinada sobre alguns papéis, seus dedos deslizando pela página enquanto sua expressão permanecia concentrada. Havia algo quase hipnotizante em como ela mexia nos cabelos, afastando uma mecha do rosto.

Podia jurar que ela sabia que eu a estava observando.

Dessa distancia eu quase conseguia ver seu maxilar se contraindo em um movimento raivoso. Seus olhos pareciam desejar se fundir com a tela do computador, lutando com todas as forças para não encontrarem os meus.

Que merda está acontecendo?

Quando ela se levantou, ajeitando o vestido com um gesto rápido, senti meu peito apertar. Ela saiu do escritório e desapareceu pelo corredor, deixando para trás um rastro de inquietação que me fez perder o fio da conversa de vez.

— Com licença, senhores. — Minha voz soou firme, mas minha mente já estava longe.

Sem esperar por resposta, segui em direção à copa. Eu sabia que era uma péssima ideia, mas meu corpo parecia agir por conta própria, movido por algo que eu não estava pronto para nomear.

Quando cheguei à copa, Stella estava parada ao lado da bancada, tentando disfarçar o desconforto que parecia emanar dela. A cafeteira apitando enquanto se servia de uma xícara quase cheia.

Ela virou rapidamente quando me ouviu entrar, e pude ver a expressão dela se fechar, como se uma parede tivesse sido erguida entre nós.

— O que você está fazendo aqui? — A voz dela saiu mais baixa do que o normal, mas havia uma dureza nas palavras.

Eu hesitei antes de responder, ainda sem saber como começar.

Senti o peso do que acontecera, e o desejo de corrigir as coisas me dominava, mas tudo o que eu conseguia fazer era ficar ali, olhando para ela, tentando encontrar as palavras certas.

— Deve estar imaginando que eu sou algum tipo de filho da puta. Não queria te colocar em uma situação desconfortável.

— Não pensaria isso do meu chefe, senhor Bianchi.

Ela deu um passo atrás, cruzando os braços, e eu percebi a tensão na postura dela.

— Não precisamos dessas formalidades. Somos amigos, não somos?

— Não conhece as políticas de relacionamento da sua empresa?

— Conheço o suficiente a minha empresa.

— Então é algum fetiche em brincar com suas funcionárias?

Aquelas palavras me atingiram como um soco no estômago. Eu tentei me aproximar, mas ela levantou a mão, impedindo qualquer tentativa de aproximação.

— Não foi isso, Stella. Eu não... Não era minha intenção. Eu não sabia que você... estava ali, como minha funcionária, não até depois. Eu... — Meus pensamentos estavam embaralhados, minha voz falhando a cada palavra.

Porque estava tentando me justificar para uma estranha que só conhecia há dois dias?

Ela me olhou com uma intensidade que me fez questionar até onde poderia ir.

—Isso aqui — ela apontou para o escritório do lado, onde a equipe dela trabalhava — é meu trabalho. E eu não vou arriscar perdê-lo por causa de uma confusão idiota.

— Eu nunca pediria que te demitissem, eu apenas te ofereci uma carona.

Ela se vira e aperta a xícara entre os dedos parecendo agoniada.

— Sabe o que aconteceria se alguém me visse no carro do meu chefe? Eu preciso muito desse emprego, mais do que você imagina. Então por favor, finja que nunca me viu fora daqui.

Eu sentia que estava perdendo o controle da situação, mas eu não podia simplesmente desistir.

— Eu só queria me desculpar e explicar que não tinha intenções ruins com você. Apenas isso.

Ela soltou um suspiro pesado e passou as mãos pelos cabelos, exausta.

— Está explicado, aceito as suas desculpas — Stella se virou, pegou a xícara pronta para sair — Preciso voltar ao trabalho, com licença.

Aquilo me cortou profundamente, mais do que eu queria admitir.

Ela estava certa em muitas coisas, eu poderia ter causado a sua demissão apenas por ter oferecido uma carona.

— Claro, tenha um ótimo dia, Stella.

Seu nome reverberou pela minha boca enquanto a observava se afastar. Havia algo naquela garota que me puxava na sua direção, desde o dia em que trombei com ela no elevador, uma força estranha e atrativa.

***

Fiorella estava sentada à sua mesa, revisando alguns documentos, quando entrei na sala dela. Ela não levantou os olhos, mas o tom de sua voz foi suficiente para mostrar que sabia exatamente do que eu queria falar.

A última ligação com a nossa avó não foi fácil. Apesar de ser uma italiana forte e independente, e que manteve a família unida e sólida após a morte dos nossos pais, ela também preserva seu lado tradicional e conservador.

E esse lado está acabando com a minha vida.

Não é a primeira vez que ela me faz ameaças para que eu me case, principalmente depois que Fiorella se casou e eu me tornei o único solteiro da família. 

— Não posso acreditar que você ainda está resistindo — minha irmã tirou os óculos e colocou sobre a mesa — Vovó está completamente certa sobre isso, Matteo. Você sabe o quanto é importante para a nossa família.

Revirei os olhos, nem parecia que eu era o mais velho.

Eu soltei um suspiro e me deixei cair na cadeira à frente dela. Ela ainda não havia parado de olhar para os papéis, mas sua atenção estava claramente em mim.

— Eu sei o que ela quer. Não é como se fosse novidade. Mas você sabe que casar por obrigação não é a solução. Não é assim que eu vejo as coisas.

— Já fazem cinco anos, Matteo — sua voz adquiriu um tom pesaroso — Precisa superar que Giulia nunca vai voltar.

— Não me importo com ela ou com o que fez da porra da vida.

Solto a gravata sentindo o tecido apertar meu pescoço. Aquele era um assunto proibido na família. O motivo pelo qual desejar casamentos não fazem mais parte da minha vida.

Ela finalmente levantou os olhos, o olhar dela fixando-se em mim com a frieza característica que ela sempre exibia quando falava de assuntos sérios.

— Vovó está disposta a vender as ações dela na empresa. Se você não se casar, ela não vai hesitar. E você sabe que isso pode mudar tudo. Não só para você, mas para todos nós.

Eu me recostei na cadeira, tentando manter a calma. A pressão estava apertando, mas eu não queria admitir que estava começando a me sentir preso.

— Você realmente acha que isso vai me fazer mudar de ideia? Casar com alguém só para agradar à vovó... Isso não resolve nada.

— Resolveria muita coisa. Já faz anos que você vive isolado de todos nós, das pessoas que te amam e isso não faz bem, Matteo — ela contorna a mesa e se senta na poltrona ao meu lado — Não pense nisso só pela empresa ou para evitarmos que um estranho se sente entre nós, mas por você também.

Fiorella levantou uma sobrancelha, como se já soubesse exatamente o que eu estava pensando. Ela fez uma pausa, e eu soube que ela estava pesando suas palavras. Fiorella sempre foi pragmática demais para entrar em debates emocionais.

Ela falava como se já tivesse tomado a decisão por mim.

— Eu sei que é difícil, mas você precisa fazer isso. O que está em jogo vai além do que você imagina. E eu não quero ver você perder tudo por causa de um capricho.

Eu engoli seco.

A sensação de estar sendo empurrado para algo que eu não queria fazer me consumia, mas não havia mais espaço para recusar.

O jogo estava armado, e eu já tinha perdido mais uma vez.

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