MEU DEUS VEM AÍ!
O cheiro do hospital era algo que eu nunca me acostumaria. Antisséptico, frio, uma memória que eu insistia em tentar apagar, mas que continuava impregnada em minha mente, obrigando-me a reviver momentos que desejei enterrar por muitos anos. Caminhava pelo corredor com passos lentos, sentindo o leve peso do buquê na minha mão direita.Flores. Quem compra flores para alguém que mal conhece?Passei a mão livre pelos cabelos, soltando um suspiro pesado. A ideia parecia estúpida agora, mas já era tarde para voltar atrás. Minha mãe sempre dizia que era educado levar flores para uma mulher doente, que pequenos gestos importavam. E, bem... foi por isso que comprei. Só por isso. Não tinha nenhum significado maior.Respirei fundo, tentando afastar a sensação de nervosismo que subia pelo meu peito. Era só um buquê de lírios brancos. Algo simples, delicado, nada que pudesse ser interpretado de forma errada. Stella já era desconfiada o suficiente comigo; a última coisa que eu precisava era que ela
Eu estava sentado no sofá, a mão direita repousando sobre o celular enquanto a outra descansava no meu joelho. Olhava pela janela para a cidade lá fora, observando as luzes começando a se acender enquanto a noite se aproximava. O silêncio no apartamento era um alívio, mas também um pouco pesado. Stella estava no quarto de hóspedes, descansando. Eu sabia que ela estava precisando de tempo para se recuperar, mas o espaço ainda me fazia sentir como se estivesse faltando alguma coisa.Quando o telefone tocou, reconheci imediatamente o número da minha avó. Não pude evitar o sorriso que apareceu instantaneamente.— Ciao, Nonna. — Falei no tom mais descontraído que consegui, deixando a tensão do dia um pouco de lado.— Ciao, bambino. Esqueceu que tem avó? Como você está, querido? — a voz dela veio, sempre calorosa e cheia de amor. — E como vão as coisas na empresa? Está tudo bem? Eu já ouvi alguns rumores por aí, mas você sabe como é, não é?Suspirei, afastando um pouco os pensamentos sobre
Eu estava sentada na banqueta, o peso do dia começando a sumir à medida que o cheiro do molho começava a se espalhar pela cozinha. Matteo estava ali, trabalhando com concentração. Seus braços, fortes e definidos, se moviam com precisão enquanto ele abria a massa, cortando as tiras de macarrão. O movimento fluido e hábil me fez perceber o quanto ele era diferente naquele ambiente. Não havia mais aquela tensão, o olhar de alguém sempre pronto para resolver um problema ou lidar com algo urgente. Agora, ele parecia... tranquilo.Como se estivesse em seu próprio território, fazendo algo que realmente gostava.Não pude evitar observá-lo.O jeito como seus músculos se flexionavam sob a camiseta cinza, o sorriso discreto nos lábios enquanto ele se concentrava no prato, me fez perceber uma faceta dele que eu ainda não tinha visto. No escritório, Matteo era o chefe, sempre com o semblante sério, de quem tinha o mundo nos ombros. Mas ali, na cozinha, ele parecia leve, como se estivesse se entreg
Enquanto nós dois nos acomodávamos à mesa, a sala de jantar estava iluminada pela suave luz do entardecer que entrava pelas grandes janelas. Eu me recostei na cadeira, sentindo o calor da comida no estômago, uma sensação reconfortante depois de um dia tão agitado. Não era só o cheiro da comida ou o gosto da massa fresca que me trazia essa sensação, mas o ambiente ao redor — a leveza que Stella trouxe sem nem perceber.Ela estava em silêncio, saboreando cada pedaço de massa com molho vermelho e o filé grelhado. Eu podia ver o prazer no rosto dela, e isso fazia minha mente descansar por um momento, afastando os pensamentos sobre as coisas que eu sabia que precisava resolver. Enquanto ela comia, eu me perdi por um instante, observando-a com a mente vagando. A forma como ela parecia tão absorvida na refeição, como se tivesse se desconectado do mundo, me fez pensar no quanto a vida dela, até aquele ponto, tinha sido solitária.Eu dei um gole no vinho e continuei a falar, um pouco perdido n
Eu estava sentado no escritório, o computador à minha frente exibindo a janela de vídeo chamada com Fiorella. Minha irmã não demorou a aparecer na tela, com aquele olhar atento e preocupado, como sempre.— Matteo, o que está acontecendo? Você nunca falta ao trabalho. — Ela disse, cruzando os braços e me observando com desconfiança. — O que significa que tempestade está prestes a cair na nossa empresa?Eu tentei disfarçar a inquietação no meu olhar. Não queria preocupar a minha irmã mais do que o necessário. Era complicado, mas era o que eu tinha que fazer. Não podia dizer que ficaria em casa pois estava cuidando da sua assistente que por irônia também havia sido afastada pelo RH por motivos médicos.Mas Stella continuaria trabalhando de casa, essa foi uma condição que a garota não me deixou negociar.— Eu… não estou me sentindo muito bem. — Respondi, buscando a melhor desculpa que consegui pensar na hora. — O médico me pediu para descansar. Estresse, sabe? Estou realmente precisando d
Eu estava sozinha no escritório de Matteo, a luz suave do meio da manhã entrando pelas grandes janelas enquanto eu tentava me concentrar no relatório da minha chefe. Era um daqueles dias em que a cabeça não queria colaborar, e o clique do teclado parecia mais um som distante do que uma tarefa a ser cumprida. A cada linha que eu tentava escrever, minha mente voltava a passear pelos últimos dias, pela rotina que, mesmo estranha, tinha se formado aqui no apartamento.Matteo havia saído cedo para uma reunião da empresa. Ele garantiu que voltaria logo, mas, como sempre, a promessa soava mais como um lembrete de que nada aqui duraria para sempre. Dois meses. Apenas dois meses. Eu não podia esquecer isso. Mesmo que os dias tivessem se passado sem grandes surpresas, a sensação de estar sendo cuidada, como se tudo tivesse voltado a fazer algum sentido, me fazia questionar o tempo que ainda tinha aqui.Havia algo tranquilo e até reconfortante em nossa rotina. Matteo parecia estar sempre por pert
Sento-me à mesa da Fiorella, tentando manter minha expressão neutra enquanto ela me observa com aqueles olhos penetrantes que ela herdou da nossa avó. Uma habilidade peculiar de perceber quando algo não está certo, uma habilidade que sempre me irritou. Ela não diz nada de imediato, mas a forma como seus olhos se fixam em mim diz tudo.— Você está escondendo alguma coisa. — ela diz, com a mesma voz afiada de sempre.Reviro os olhos e tento manter a calma.— Você está louca, Fiorella. Estou apenas doente, nada demais.Ela não desvia o olhar.— Você não parece doente. Parece mais... preocupado. Como se tivesse algo em mente que não quer dividir.Me sinto tenso. Não posso contar a verdade. Não posso contar sobre Stella e a situação que estou criando para nós dois. Ela nunca entenderia, e na minha cabeça, é melhor manter as coisas no campo das mentiras do que abrir uma porta para um julgamento que eu não quero ouvir. Então, faço o que qualquer pessoa normal faria quando tenta evitar um con
Quando entro em casa, o apartamento parece mais silencioso do que o normal. Coloco as sacolas com o almoço na bancada da cozinha e sigo pelo corredor em direção à sala de TV. O cheiro da comida começa a preencher o ar, e eu já me imagino sentado ao lado dela, compartilhando uma refeição.Chego à sala e encontro Stella encolhida no sofá gigante, com uma coberta cobrindo seu corpo. Ela parece confortável, mas a TV exibe um filme qualquer, sem muito foco. Me aproximo com cautela, sem querer assustá-la, e a vejo apenas mexer os olhos na direção da tela.— Está tudo bem? — Pergunto, me sentando no canto do sofá, preocupado. A última coisa que eu quero é que ela esteja se sentindo mal, ainda mais depois de tudo que aconteceu.Ela vira os olhos para mim e dá um pequeno sorriso, embora seu rosto esteja pálido.— Estou bem. — diz ela com uma leveza na voz, mas eu consigo ver que algo não está certo. — Só que há algumas horas comecei a me sentir muito enjoada, então deitei. Não queria fazer nad