Enquanto nós dois nos acomodávamos à mesa, a sala de jantar estava iluminada pela suave luz do entardecer que entrava pelas grandes janelas. Eu me recostei na cadeira, sentindo o calor da comida no estômago, uma sensação reconfortante depois de um dia tão agitado. Não era só o cheiro da comida ou o gosto da massa fresca que me trazia essa sensação, mas o ambiente ao redor — a leveza que Stella trouxe sem nem perceber.Ela estava em silêncio, saboreando cada pedaço de massa com molho vermelho e o filé grelhado. Eu podia ver o prazer no rosto dela, e isso fazia minha mente descansar por um momento, afastando os pensamentos sobre as coisas que eu sabia que precisava resolver. Enquanto ela comia, eu me perdi por um instante, observando-a com a mente vagando. A forma como ela parecia tão absorvida na refeição, como se tivesse se desconectado do mundo, me fez pensar no quanto a vida dela, até aquele ponto, tinha sido solitária.Eu dei um gole no vinho e continuei a falar, um pouco perdido n
Eu estava sentado no escritório, o computador à minha frente exibindo a janela de vídeo chamada com Fiorella. Minha irmã não demorou a aparecer na tela, com aquele olhar atento e preocupado, como sempre.— Matteo, o que está acontecendo? Você nunca falta ao trabalho. — Ela disse, cruzando os braços e me observando com desconfiança. — O que significa que tempestade está prestes a cair na nossa empresa?Eu tentei disfarçar a inquietação no meu olhar. Não queria preocupar a minha irmã mais do que o necessário. Era complicado, mas era o que eu tinha que fazer. Não podia dizer que ficaria em casa pois estava cuidando da sua assistente que por irônia também havia sido afastada pelo RH por motivos médicos.Mas Stella continuaria trabalhando de casa, essa foi uma condição que a garota não me deixou negociar.— Eu… não estou me sentindo muito bem. — Respondi, buscando a melhor desculpa que consegui pensar na hora. — O médico me pediu para descansar. Estresse, sabe? Estou realmente precisando d
Eu estava sozinha no escritório de Matteo, a luz suave do meio da manhã entrando pelas grandes janelas enquanto eu tentava me concentrar no relatório da minha chefe. Era um daqueles dias em que a cabeça não queria colaborar, e o clique do teclado parecia mais um som distante do que uma tarefa a ser cumprida. A cada linha que eu tentava escrever, minha mente voltava a passear pelos últimos dias, pela rotina que, mesmo estranha, tinha se formado aqui no apartamento.Matteo havia saído cedo para uma reunião da empresa. Ele garantiu que voltaria logo, mas, como sempre, a promessa soava mais como um lembrete de que nada aqui duraria para sempre. Dois meses. Apenas dois meses. Eu não podia esquecer isso. Mesmo que os dias tivessem se passado sem grandes surpresas, a sensação de estar sendo cuidada, como se tudo tivesse voltado a fazer algum sentido, me fazia questionar o tempo que ainda tinha aqui.Havia algo tranquilo e até reconfortante em nossa rotina. Matteo parecia estar sempre por pert
Sento-me à mesa da Fiorella, tentando manter minha expressão neutra enquanto ela me observa com aqueles olhos penetrantes que ela herdou da nossa avó. Uma habilidade peculiar de perceber quando algo não está certo, uma habilidade que sempre me irritou. Ela não diz nada de imediato, mas a forma como seus olhos se fixam em mim diz tudo.— Você está escondendo alguma coisa. — ela diz, com a mesma voz afiada de sempre.Reviro os olhos e tento manter a calma.— Você está louca, Fiorella. Estou apenas doente, nada demais.Ela não desvia o olhar.— Você não parece doente. Parece mais... preocupado. Como se tivesse algo em mente que não quer dividir.Me sinto tenso. Não posso contar a verdade. Não posso contar sobre Stella e a situação que estou criando para nós dois. Ela nunca entenderia, e na minha cabeça, é melhor manter as coisas no campo das mentiras do que abrir uma porta para um julgamento que eu não quero ouvir. Então, faço o que qualquer pessoa normal faria quando tenta evitar um con
Quando entro em casa, o apartamento parece mais silencioso do que o normal. Coloco as sacolas com o almoço na bancada da cozinha e sigo pelo corredor em direção à sala de TV. O cheiro da comida começa a preencher o ar, e eu já me imagino sentado ao lado dela, compartilhando uma refeição.Chego à sala e encontro Stella encolhida no sofá gigante, com uma coberta cobrindo seu corpo. Ela parece confortável, mas a TV exibe um filme qualquer, sem muito foco. Me aproximo com cautela, sem querer assustá-la, e a vejo apenas mexer os olhos na direção da tela.— Está tudo bem? — Pergunto, me sentando no canto do sofá, preocupado. A última coisa que eu quero é que ela esteja se sentindo mal, ainda mais depois de tudo que aconteceu.Ela vira os olhos para mim e dá um pequeno sorriso, embora seu rosto esteja pálido.— Estou bem. — diz ela com uma leveza na voz, mas eu consigo ver que algo não está certo. — Só que há algumas horas comecei a me sentir muito enjoada, então deitei. Não queria fazer nad
Eu acordo lentamente, o som baixo da TV ainda ecoando na sala, mas tudo parece suavizado, quase como se o mundo lá fora estivesse distante. Estou confortável, muito mais do que imaginava que estaria. Sinto uma leve pressão ao meu redor, um abraço firme, mas suave, que me mantém segura. Tento me mover, mas o braço de Matteo está sobre mim, e não posso negar que, mesmo sem querer, me sinto... bem.A luz suave da sala ilumina seu rosto, e eu o vejo dormindo tranquilamente. Seu rosto, normalmente tão sério e focado, agora está em paz. Ele respira devagar, o queixo repousando contra a minha testa, os fios de cabelo caindo levemente sobre sua testa. Eu não sei em que momento ele me abraçou, mas agora que estou assim, não tenho vontade de sair. Não quero me mover. Não quero que nada mude.Eu fecho os olhos por um momento e deixo que a sensação me envolva. Às vezes, desde que descobri que estava grávida, o medo tem sido meu companheiro constante. O medo do futuro, o medo de não ser capaz, o me
Acordei com o som suave dos raios de sol entrando pelas janelas, mas a sensação era diferente. Era como se o peso de alguns dias tivesse se dissipado um pouco. A conversa de ontem ainda estava fresca na minha mente, mas de uma maneira mais leve, quase tranquila. Havia algo em dividir aquela parte do meu passado com Stella, algo que não acontecia há muito tempo. Ela não me julgou, não se afastou. Apenas ouviu, e por mais simples que fosse, isso fez toda a diferença.Olhei ao redor e percebi que não estava mais no sofá. Levantei-me e caminhei até o corredor, seguindo o som da voz dela. Ela estava falando ao telefone, a conversa tranquila e animada, como se fosse o dia mais normal do mundo. Parei um pouco à distância, observando, sem querer interromper. Algo nela me trazia uma sensação de paz que eu não sabia que precisava até encontrar.Ela desligou a chamada e me percebeu, virando-se rapidamente com um sorriso que, embora discreto, iluminava o ambiente.— Como você está? — perguntou el
A chuva encharca meus sapatos enquanto caminho pela calçada de uma das avenidas mais movimentadas da cidade, rezando para que, desta vez, eu não chegue atrasada. O som do meu estômago roncando me faz soltar uma das mãos da sombrinha e apertar o próprio corpo.Lidar com a chuva até que é fácil — eu poderia tentar secar o cabelo no secador de mãos do banheiro de novo. Mas hoje trabalhar será difícil, porque não conseguirei passar na padaria e gastar minhas últimas moedas. Nem chegamos à metade do mês, e meu salário já foi quase todo embora.Paro em frente ao semáforo e espero abrir para atravessar em direção ao prédio da Fiori Security, uma das filiais da maior empresa de segurança italiana. Por um milagre, depois de ter sido demitida do meu último emprego de babá, consegui uma vaga de secretária.Deus abençoe minha mãe no dia em que me obrigou a fazer aquele curso.Meu pé desliza dentro do salto molhado ao entrar no saguão de mármore branco e dourado. Chamo o elevador e subo para o vig