Assim que a chamada de vídeo conectou e a tela mostrou o rosto sério do advogado, meu estômago revirou. Matteo segurava minha mão firmemente, sentado ao meu lado no sofá, mas eu sentia os dedos dele suarem tanto quanto os meus. Tentei respirar fundo, mas o ar parecia não chegar aos meus pulmões. Era agora.— Boa tarde, Stella, Matteo — começou o advogado, ajeitando os óculos. Sua expressão profissional não entregava nada, e isso só aumentava meu nervosismo. — Recebemos a decisão do juiz sobre o pedido de guarda apresentado pelo genitor da sua filha.Meu coração disparou. Eu apertei a mão de Matteo com força, sentindo um nó na garganta. Por mais que eu tivesse tentado me preparar para qualquer resposta, agora que o momento tinha chegado, parecia impossível me manter calma.— E…? — Minha voz saiu trêmula, quase um sussurro. Matteo deslizou o polegar pelo dorso da minha mão, um gesto pequeno, mas reconfortante.O advogado fez uma pausa, provavelmente para organizar os papéis em sua mesa,
O ar estava impregnado com o perfume das flores que decoravam a vinícula. O entardecer tingia o céu com tons de dourado e laranja, enquanto o sol se escondia por entre as colinas. Nunca imaginei que um dia poderia ser tão perfeito. Tudo parecia parte de um sonho — mas era real, e ela estava prestes a caminhar em minha direção.Minhas mãos suavam, e eu tentava controlar a respiração enquanto esperava no altar. O vento suave fazia as folhas das videiras balançarem, criando uma música natural que se misturava à melodia suave tocada pelo quarteto de cordas. Amigos e familiares estavam reunidos, mas minha atenção estava toda na entrada, onde sabia que Stella apareceria a qualquer momento.Quando a música mudou, meu coração deu um salto. E então, ela surgiu. Stella.Ela estava linda. Deslumbrante. Inimaginavelmente perfeita. O vestido branco moldava seu corpo com delicadeza, o tecido leve dançando com a brisa. Seu cabelo estava preso em um penteado elegante, com algumas mechas soltas que em
1 ano depois...O sol já começava a se esconder atrás das montanhas, tingindo o céu de tons dourados e laranja. O quarto de Giorgia, nosso cantinho acolhedor, foi banhado pela luz suave do entardecer, criando uma sensação de paz que me envolvia. Embalava nossa filha em meus braços, sentindo sua respiração calma e leve, como se o mundo lá fora fosse apenas um eco distante, longe do nosso pequeno universo. Ela me olhou com os olhos curiosos, e o coração parecia se expandir dentro de mim, repleto de um amor tão profundo que não sabia como descrever.Eu cantava para ela, uma melodia suave, quase como um sussurro, minha voz refletindo a serenidade que invadia minha alma. Cada nota era um agradecimento silencioso por tudo o que a vida me deu. Por Giorgia. Por Matteo. Pela chance de recomeçar, de ser feliz de uma forma que eu nunca imaginei possível.Quando minha mente se perde, pensando em tudo o que passou, não posso deixar de sorrir. O homem que entrou na minha vida de uma maneira inesper
A chuva encharca meus sapatos enquanto caminho pela calçada de uma das avenidas mais movimentadas da cidade, rezando para que, desta vez, eu não chegue atrasada. O som do meu estômago roncando me faz soltar uma das mãos da sombrinha e apertar o próprio corpo.Lidar com a chuva até que é fácil — eu poderia tentar secar o cabelo no secador de mãos do banheiro de novo. Mas hoje trabalhar será difícil, porque não conseguirei passar na padaria e gastar minhas últimas moedas. Nem chegamos à metade do mês, e meu salário já foi quase todo embora.Paro em frente ao semáforo e espero abrir para atravessar em direção ao prédio da Fiori Security, uma das filiais da maior empresa de segurança italiana. Por um milagre, depois de ter sido demitida do meu último emprego de babá, consegui uma vaga de secretária.Deus abençoe minha mãe no dia em que me obrigou a fazer aquele curso.Meu pé desliza dentro do salto molhado ao entrar no saguão de mármore branco e dourado. Chamo o elevador e subo para o vig
Esfrego os olhos, sentindo que estou prestes a enlouquecer.Meus dedos estão exaustos de tanto digitar as pautas que minha chefe precisa para as reuniões de amanhã. Pelo menos consegui almoçar no refeitório da empresa. A Fiori fornece almoço para todos os funcionários e isso ajuda a economizar.Levando em consideração que minhas opções de culinária são limitadas no fogão de duas bocas que cabe na minha cozinha.Não reclamo de ficar um pouco depois, as horas extras sempre me ajudam.Às vezes sinto falta do meu antigo emprego.Trabalhei por cinco anos como babá para uma família rica e foram ótimos anos de trabalho. Recebia um salário adequado que me ajudou a pagar a faculdade de secretariado e convivendo com as duas crianças mais fofas e amáveis desse mundo.Era muito bem tratada pela família, que pagou meus cursos de idioma e me levou em algumas viagens.Sempre serei grata por tudo o que fizeram por mim.Infelizmente, o pai foi transferido para Londres, para uma das filiais da empresa
Estou tão cansada que desmaiaria ali mesmo, então decido fazer o que qualquer pessoa lascada de dinheiro faz em um dia de chuva.— Eu mereço voltar para casa confortável... Só hoje.Abro o aplicativo de Uber e começo a procurar um motorista, ciente de que vou me arrepender.Esse é um problema para a Stella de amanhã.Percebo um veículo preto e luxuoso diminuir a velocidade pela rua do prédio e estacionar devagar bem na minha frente. Agarro a bolsa, pronta para correr; se alguém vai me sequestrar, então terá que me pegar primeiro.Já estou fodida demais, ninguém pagaria meu resgate.O vidro abaixa devagar, e no banco do motorista vejo o mesmo par de olhos azuis do elevador.— Ei, nova amiga de trabalho. Quer uma carona?O sorriso dele me desconcerta, e por um instante, fico hesitante. A chuva fina que começa a cair sobre a calçada me faz pensar rapidamente. Não quero esperar mais um segundo para pegar um Uber, e a grana está tão curta que, sinceramente, vou deixar a minha preocupação c
Tranco a porta me certificando de dar duas voltas.Não quero ser acordada pelo meu vizinho bêbado entrando no apartamento errado novamente.Fico em pé encarando a mansão de um cômodo em que moro. O apartamento é formado apenas por um banheiro e na parte onde estou ficam o meu sofá cama, a televisão sobre o móvel de madeira gasta e ao lado da porta, a cozinha com apenas um balcão e um armário superior.Não posso esquecer do meu incrível fogão de duas bocas.Deixo a bolsa sobre a bancada e em dois passos estou sentada no sofá.Tenho vontade de chorar ao imaginar que mal consigo andar sozinha nesse apartamento, quem dirá com um bebê.— Ninguém descobriu sobre você ainda — deslizo a mão pelo volume inexistente na minha barriga — Ainda temos um tempinho.Descobri que estou grávida de três semanas há alguns dias.A notícia fez com que o meu mundo desabasse um pouco mais. Eu preciso daquele emprego, e preciso muito mais agora. Não tenho ajuda, o pai dele ou dela é um cara com quem saí apenas
O alarme tocou às cinco da manhã.O som era discreto, quase gentil, mas foi suficiente para me arrancar do sono. Eu abri os olhos e encarei o teto do quarto por um momento, deixando minha mente se ajustar. Dormir mais um pouco? Nem pensar. Esse tipo de indulgência era reservado para outros, não para mim.Levantei e troquei de roupa sem pensar muito.Calça de treino, camiseta básica, tênis.Tudo funcional, sem firulas.A academia do prédio era no térreo, então o elevador se tornou meu primeiro companheiro do dia. Dentro dele, observei meu reflexo no painel metálico. O cabelo estava uma bagunça, os olhos meio sonolentos, mas não importava. Eu não estava ali para agradar ninguém.A academia estava deserta quando cheguei, como sempre. Perfeito. Comecei o aquecimento na esteira, aumentando gradativamente o ritmo até sentir o coração acelerar e a mente clarear. Depois vieram os pesos. Rotina é uma coisa estranha: parece tediosa para quem vê de fora, mas para mim, é um alicerce. Quando tudo