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Capítulo 5: Matteo Bianchi

O alarme tocou às cinco da manhã.

O som era discreto, quase gentil, mas foi suficiente para me arrancar do sono. Eu abri os olhos e encarei o teto do quarto por um momento, deixando minha mente se ajustar. Dormir mais um pouco? Nem pensar. Esse tipo de indulgência era reservado para outros, não para mim.

Levantei e troquei de roupa sem pensar muito.

Calça de treino, camiseta básica, tênis.

Tudo funcional, sem firulas.

A academia do prédio era no térreo, então o elevador se tornou meu primeiro companheiro do dia. Dentro dele, observei meu reflexo no painel metálico. O cabelo estava uma bagunça, os olhos meio sonolentos, mas não importava. Eu não estava ali para agradar ninguém.

A academia estava deserta quando cheguei, como sempre. Perfeito. Comecei o aquecimento na esteira, aumentando gradativamente o ritmo até sentir o coração acelerar e a mente clarear. Depois vieram os pesos. Rotina é uma coisa estranha: parece tediosa para quem vê de fora, mas para mim, é um alicerce. Quando tudo ao redor é incerto, a disciplina é a única constante.

Terminei o treino uma hora depois, o corpo cansado, mas em alerta. Subi para a cobertura sentindo o suor escorrer pela pele e pensando em como o dia seria longo. Meu apartamento era espaçoso e impecável, mas parecia vazio.

No fundo, eu sabia que faltava algo, ou talvez alguém.

Não podia falar sobre isso com a minha irmã e muito menos com a minha mãe. Depois de tudo o que aconteceu, sei que elas vão despejar um caminhão de esperanças e promessas para que eu me case de novo.

Minha irmã saiu na frente e já deu aos meus pais dois netos.

Eu permaneço no titulo de melhor tio do mundo e por enquanto é o mais seguro.

No chuveiro, a água quente relaxou meus músculos enquanto minha mente já trabalhava. Hoje seria mais um dia supervisionando a filial no Brasil, analisando relatórios, lidando com problemas e decisões que não podiam esperar. Mas enquanto me enxugava e me preparava, percebi um pensamento que não conseguia afastar: sentia falta de casa.

Tudo o que preciso é terminar minha estadia por aqui e voltar para casa.

Minha casa.

Um carro da empresa me esperava quando desci, com um motorista pronto para me levar. Assim que entrei e a cidade começou a passar pela janela, não pude deixar de notar. Aqui, todos pareciam correr. Rostos tensos, passos apressados, buzinas constantes. Na Itália, as pessoas valorizam o tempo, eu pensei, olhando para o horizonte de prédios.

Elas sabem quando desacelerar, quando simplesmente viver.

Inclinei a cabeça contra o encosto do banco, observando o caos lá fora. Gostava do Brasil, mas era impossível não sentir saudade da minha terra. As ruas de pedra, o cheiro de café forte, o som das conversas animadas nas praças. Era uma vida que fazia mais sentido para mim.

Suspirei. Por agora, meu lugar era aqui. E como sempre, eu faria o que fosse necessário.

Cheguei na sede da filial faltando cinco minutos para a reunião. O prédio era imponente, mas não mais do que a expectativa de todos ali. Funcionários me aguardavam, em sua maioria, com olhares curiosos e respeitosos, como se esperassem a chegada.

Entrei no lobby, onde uma recepcionista me cumprimentou com um sorriso cortês. Ela me guiou até o elevador, onde um dos gerentes da filial já estava à minha espera. Cumprimentei-o com um aperto de mão firme e, ao caminhar pelos corredores, recebi mais olhares discretos de quem estava trabalhando.

Às vezes me perguntava como seria se, em vez de ser o “Bianchi” por trás da gigante de segurança que dominava mercados, fosse apenas um Matteo qualquer. Mas logo abandonei esse pensamento. Era quem eu era, e nada iria mudar isso.

Quando cheguei à sala de reuniões, minha irmã, já estava à porta, esperando.

— Matteo! — ela exclamou, me abraçando rapidamente antes de se afastar com um sorriso afiado. — Pronto para impressionar a todos?

Eu sorri, Ela sempre tinha essa energia de quem controla o ambiente, e naquele momento, estava claramente no comando.

Entramos juntos no auditório, a equipe inteira da filial nos aguardava, todos em seus lugares. Eu sabia que, apesar da formalidade da situação, todos ali estavam pensando a mesma coisa: “O que o CEO da matriz tem a dizer sobre nossa filial?”

Queriam que eu trouxesse boas notícias, seus empregos dependiam disso.

A primeira coisa que eu notei, assim que a porta se fechou atrás de nós, foi o olhar de todos se voltando para mim, a sala silenciosa, à espera de algo grandioso. Meu discurso estava ensaiado, mas o que me chamou a atenção de verdade foi a primeira fileira de bancos.

Eu a reconheci imediatamente.

Não era difícil, ela tinha uma presença, algo único, mesmo entre tantos rostos desconhecidos.

Stella...

Ela estava ali, tão discreta, mas com uma energia que eu não conseguia ignorar. Ela me olhou diretamente, e quase que instintivamente, senti um peso nos ombros. Não era só curiosidade em seus olhos, havia algo mais profundo ali.

Uma tensão no ar que eu não soube explicar naquele momento.

Eu estava começando a falar sobre o futuro da empresa, meus objetivos e como esperava que todos colaborassem para crescer juntos, mas era impossível não sentir o peso daquela troca de olhares com Stella.

Foi só quando minha irmã me chamou, interrompendo meus pensamentos, que percebi o que estava acontecendo.

— Matteo! — Valentina disse, puxando-me para o centro da sala.

Eu me virei para ela, forçando um sorriso. “Foco”, me lembrei. Meus olhos se afastaram de Stella por um momento, mas meu cérebro não parava de voltar àquela cena. Ela não sabia que eu era o chefe, e no fundo, isso me causava uma certa ansiedade.

E então, foi como se o tempo tivesse desacelerado. Ela não parecia surpresa. Pelo contrário, sua expressão parecia carregada de raiva contida, algo que eu sentia como se fosse palpável.

Será que ela sabia, mesmo antes de eu falar?

Não podia ser. Claro que não. Como poderia saber? Mas ali, no fundo dos olhos dela, havia algo mais do que a simples surpresa de encontrar seu chefe na mesma sala. A raiva, a frustração... era quase visível.

Eu me mantive firme, mas o que começou como um encontro casual no elevador, uma conexão genuína que senti com ela, agora se transformava em algo completamente diferente. Algo tenso.

Ela não estava apenas chocada por me ver ali. Ela estava magoada. E o pior de tudo: eu não sabia como lidar com isso.

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