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Capítulo 4: Stella Conti

Tranco a porta me certificando de dar duas voltas.

Não quero ser acordada pelo meu vizinho bêbado entrando no apartamento errado novamente.

Fico em pé encarando a mansão de um cômodo em que moro. O apartamento é formado apenas por um banheiro e na parte onde estou ficam o meu sofá cama, a televisão sobre o móvel de madeira gasta e ao lado da porta, a cozinha com apenas um balcão e um armário superior.

Não posso esquecer do meu incrível fogão de duas bocas.

Deixo a bolsa sobre a bancada e em dois passos estou sentada no sofá.

Tenho vontade de chorar ao imaginar que mal consigo andar sozinha nesse apartamento, quem dirá com um bebê.

— Ninguém descobriu sobre você ainda — deslizo a mão pelo volume inexistente na minha barriga — Ainda temos um tempinho.

Descobri que estou grávida de três semanas há alguns dias.

A notícia fez com que o meu mundo desabasse um pouco mais. Eu preciso daquele emprego, e preciso muito mais agora. Não tenho ajuda, o pai dele ou dela é um cara com quem saí apenas uma noite, depois de insistência da minha única amiga de trabalho para ir ao bar.

Sei que uma empresa daquele porte não me colocaria na rua, mas também não tenho garantia alguma. Existem dezenas de mulheres como eu que precisam do cargo.

— Eu vou cuidar de você, não importa o que acontecer. Vamos ficar bem.

Inspiro deixando o cansaço sair um pouco.

Não posso pensar nisso agora, no momento tenho que agradecer por ter o suficiente para quitar as contas e manter a casa. Levanto e abro as portas do pequeno armário multiuso ao lado da televisão. Foi a única coisa que coube aqui para guardar minhas roupas.

Pego o primeiro conjunto de pijamas e entro no banheiro.

O calor é quase insuportável, mas nada que um banho geladinho não resolva.

Paro diante do espelho para pentear o cabelo, viro de lado e aperto a camiseta solta do pijama contra a barriga que ainda não tinha mudado muito, mas já parecia um lembrete constante de que minha vida estava prestes a virar do avesso.

Como vou esconder isso no uniforme?

Eles vão perceber.

Claro que vão perceber.

E quando perceberem...

Bem, seria o meu fim.

Saí do banho com a mesma sensação de exaustão de antes, mas agora ao menos estava limpa e cheirosa, o que é quase tão bom quanto ser rica e sem problemas. Na cozinha, abri o armário e me deparei com um cardápio de possibilidades... bem limitado.

Um pacote de macarrão quase vazio, arroz, e para a minha felicidade, um sache de molho de tomate.

— Stella Gourmet, com vocês: alta gastronomia — murmurei, revirando os olhos.

Comecei a esquentar água para o macarrão.

Um dia de cada vez, Stella. Primeiro, coma. Depois, surte.

Fazia sentido, não fazia?

O macarrão ficou pronto em tempo recorde.

 Um molho improvisado com o que tinha na geladeira – tomate meio murcho, alho que já estava gritando "me consuma" e azeite – e voilà: meu banquete estava servido. Peguei o prato e fui direto para o sofá.

Escolhi um filme de terror porque, sei lá, me parecia adequado. Um dia de trabalho na empresa já era praticamente um teste de sobrevivência, então por que não complementar a vibe?

Comi de pernas cruzadas no sofá, equilibrando o prato no joelho como se fosse uma atleta de circo. O filme começou com aquele clássico: casa velha, trovão e pessoas tomando decisões questionáveis.

— Não entra aí, sua anta! — reclamei, mastigando.

Claro que ela entrou. O barulho da trilha sonora subindo me fez rir. Minha vida podia estar uma bagunça, mas pelo menos eu sabia o que fazer: não ir para o porão.

Quando terminei o macarrão, larguei o prato no chão e puxei uma almofada para o colo, abraçando-a como se fosse um escudo contra os sustos. A tensão do filme era contagiante, mas ao mesmo tempo relaxante, de um jeito estranho.

A casa no filme explodiu de repente em gritos e sombras assustadoras, mas eu já não conseguia focar. Meus olhos começaram a pesar. Antes que me desse conta, estava com a cabeça apoiada no braço do sofá, a trilha sonora de terror ainda ecoando na TV.

Meu último pensamento antes de pegar no sono foi uma mistura estranha de cansaço e sarcasmo: “Se um assassino vier me pegar agora, espero que pelo menos lave a louça antes.”

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