Início / Romance / Um Novo Amor Para O Herdeiro / Capítulo 3: Stella Conti
Capítulo 3: Stella Conti

Estou tão cansada que desmaiaria ali mesmo, então decido fazer o que qualquer pessoa lascada de dinheiro faz em um dia de chuva.

— Eu mereço voltar para casa confortável... Só hoje.

Abro o aplicativo de Uber e começo a procurar um motorista, ciente de que vou me arrepender.

Esse é um problema para a Stella de amanhã.

Percebo um veículo preto e luxuoso diminuir a velocidade pela rua do prédio e estacionar devagar bem na minha frente. Agarro a bolsa, pronta para correr; se alguém vai me sequestrar, então terá que me pegar primeiro.

Já estou fodida demais, ninguém pagaria meu resgate.

O vidro abaixa devagar, e no banco do motorista vejo o mesmo par de olhos azuis do elevador.

— Ei, nova amiga de trabalho. Quer uma carona?

O sorriso dele me desconcerta, e por um instante, fico hesitante. A chuva fina que começa a cair sobre a calçada me faz pensar rapidamente. Não quero esperar mais um segundo para pegar um Uber, e a grana está tão curta que, sinceramente, vou deixar a minha preocupação com o orçamento para outro dia.

Olho para o carro e, depois, para ele, ainda tentando processar o que está acontecendo. Ele me observava com os olhos azuis brilhando na luz fraca da rua, com um olhar curioso, quase travesso.

— Você... você tem certeza? — pergunto, desconfortável, mas já colocando a mão na maçaneta da porta do passageiro.

Ele ri de leve, com um toque de diversão na voz, como se estivesse acostumado a ter esse tipo de resposta de pessoas que hesitam.

— Claro, sem problema. Só não vou te deixar na chuva. — Ele puxa o banco do passageiro para frente, fazendo um gesto para que eu entre. — Vai ser rápido, prometo.

Olho uma última vez para a rua deserta e, finalmente, desisto do dilema. Se vou ser sequestrada, pelo menos vou estar confortável para isso.

Entro no carro, fechando a porta com cuidado e me sentando no banco, ainda me perguntando se fiz a escolha certa. O interior do carro é elegante, com um cheiro leve de couro novo e algo mais, como uma mistura de frescor e um toque masculino.

Ele me entrega o celular para que digite o endereço.

Olho de soslaio para ele, que parece completamente à vontade, como se estivesse fazendo isso o tempo todo.

— Então, como foi o seu dia? — ele pergunta, quebrando o silêncio, enquanto a rua vai ficando cada vez mais vazia.

Eu respiro fundo e tento relaxar, me jogando contra o encosto do banco.

— Ah, você sabe, um dia normal. O escritório estava mais calmo, então foi até tranquilo. A parte difícil foi terminar o trabalho a tempo — respondo, tentando não parecer tão exausta.

Ele me olha de relance, antes de voltar a focar na estrada.

— Parece que não foi um dia fácil. Você gosta de trabalhar lá? Na Fiori?

A pergunta me pega um pouco desprevenida, e eu dou de ombros, olhando pela janela para tentar disfarçar um pouco a minha resposta.

— É... é um trabalho, né? Eu gosto de ter meu salário no final do mês, então, em geral, não tenho do que reclamar. Você trabalha aqui há muito tempo?

Ele sorri, como se esperasse que eu fizesse uma pergunta, mas sua expressão continua séria.

— Não, na verdade, estou por aqui há pouco tempo — ele diz, dando uma olhada rápida para mim. — Mas tenho que dizer, o ambiente parece... diferente do que eu esperava.

A curiosidade dele me faz levantar uma sobrancelha.

— De que maneira "diferente"? — Pergunto, desconfiada, mas também interessada. Afinal, ele parece ser novo por ali, então deve ter algumas impressões, assim como eu tive quando comecei.

Ele hesita por um momento, olhando pela janela como se ponderasse como responder.

— Ah, você sabe, é uma grande empresa. E eu imagino que, por ser uma empresa de prestígio, tudo aqui tenha um ritmo um pouco... acelerado demais, digamos. Mas ainda estou me acostumando com isso — ele dá uma risadinha, a voz dele mais suave, quase convidativa para uma conversa mais aberta.

Sinto uma pontada de curiosidade, mas também desconforto. Não sei se deveria dar muito papo para ele. No entanto, há algo na forma como ele fala que me faz querer saber mais.

— Sim, o ritmo aqui é um pouco... implacável. A chefe, a senhora Bianchi, é exigente, mas é o tipo de chefe que, se você fizer o seu trabalho direito, você acaba ganhando a confiança dela. — Comento, sem muito entusiasmo, mais por obrigação de manter a conversa fluindo.

Ele balança a cabeça, com um sorriso ainda mais profundo, como se estivesse absorvendo tudo.

— Isso é bom. — Ele dá um suspiro. — Às vezes, parece que as pessoas tentam impressionar demais. Acho que estou mais acostumado com um ambiente mais descontraído, sabe?

— Eu entendo. Aqui é tudo muito formal. — Concordo, e comento, olhando pela janela. — Eu costumava trabalhar em uma família, antes de entrar aqui. Era muito mais tranquilo.

Ele parece interessado, mais do que eu esperava.

— Ah, uma família? Como foi essa experiência? — pergunta, visivelmente curioso.

— Foi ótimo. Eu era babá de duas meninas. O trabalho era simples, mas muito recompensador. Eles foram muito bons comigo.

Ele observa o meu rosto por um segundo, como se estivesse tentando entender algo mais, mas rapidamente se volta para a estrada.

— Parece que foi uma boa época. — Ele comenta, mais para si mesmo. — Mas você parece feliz com sua escolha atual. Não é?

Eu dou de ombros, tentando me convencer de que estou.

— Eu estou. Só... tem dias que são mais difíceis que outros, sabe?

Ele assente e um minuto de silêncio se instala sobre nós.

E uso esse tempo para perceber que estou completamente maluca. Estou dentro de um carro, com um completo estranho que conheci a cinco minutos e dei meu endereço para ele. Tudo o que minha mãe tinha me ensinado a não fazer.

— A-acabei de perceber que não sei seu nome — agarro minha bolsa junto ao peito.

— Giovanni — até o nome soa bem na sua voz — E o seu?

Estreito os olhos levemente desconfiados.

— Não se preocupe, não vou te sequestrar. Trabalhamos na mesma empresa, esqueceu? Têm câmeras por todos os lados.

Giovanni estaciona em frente ao meu prédio, analisando com estranheza o bairro que não combina nenhum pouco com o seu carro.

— Obrigada pela carona, foi muito gentil — coloco a mão na maçaneta pronta para descer — Acho que nos vemos amanhã então.

Seus dedos envolvem meu braço antes que eu consiga descer.

— Preciso saber seu nome, como vou encontrar minha amiga?

Desço os olhos até onde seus dedos estão, como se minha pele queimasse.

— Stella. Meu nome é Stella.

— Stella — ele repete fazendo soa aveludado — Ótimo, te vejo amanhã, Stella.

Preciso juntar todas as minhas forças para sair daquele carro.

Fico alguns segundos parada entre a porta e a calçada tentando entender como meu cérebro não derreteu.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo