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Capítulo 2: Stella Conti

Esfrego os olhos, sentindo que estou prestes a enlouquecer.

Meus dedos estão exaustos de tanto digitar as pautas que minha chefe precisa para as reuniões de amanhã. Pelo menos consegui almoçar no refeitório da empresa. A Fiori fornece almoço para todos os funcionários e isso ajuda a economizar.

Levando em consideração que minhas opções de culinária são limitadas no fogão de duas bocas que cabe na minha cozinha.

Não reclamo de ficar um pouco depois, as horas extras sempre me ajudam.

Às vezes sinto falta do meu antigo emprego.

Trabalhei por cinco anos como babá para uma família rica e foram ótimos anos de trabalho. Recebia um salário adequado que me ajudou a pagar a faculdade de secretariado e convivendo com as duas crianças mais fofas e amáveis desse mundo.

Era muito bem tratada pela família, que pagou meus cursos de idioma e me levou em algumas viagens.

Sempre serei grata por tudo o que fizeram por mim.

Infelizmente, o pai foi transferido para Londres, para uma das filiais da empresa onde trabalhava. As gêmeas ainda mantêm contato comigo, e mensalmente me enviam cartões postais ou atualizações pelas redes sociais. Me sinto grata por ter marcado a vida delas.

— Acho que finalmente terminei.

O relógio marca quase sete da noite e eu, finalmente, consigo apertar o botão de "salvar" no último relatório. Os dedos já estão dormentes de tanto digitar, e a dor nas costas parece que vai me matar. Ainda bem que o expediente acabou, porque minha paciência está no limite.

Confiro o último parágrafo antes de salvar e imprimir, ajeitando as folhas dentro de uma pasta preta, pronta para ser entregue na sala de reuniões amanhã.

O celular vibra e me arranco da minha espiral mental. Um lembrete do meu banco aparece: "Data de vencimento da fatura do cartão de crédito: hoje".

Ah, claro. O que mais poderia ser?

O andar já está mergulhado no silêncio quase completo quando saio pelo corredor, ocupada em guardar os óculos na bolsa e pronta para enfrentar a chuva até o ponto de ônibus. Tiro a carteira da bolsa, olhando as dobras dentro, quando a porta do elevador se abre e me preparo para entrar.

Antes que eu possa entender o que aconteceu, sinto o impacto de algo – ou melhor, de alguém – me atingindo no peito.

 É como se eu tivesse trombado contra uma parede sólida. Meus pés escorregam no piso polido e, por um segundo, tudo fica em câmera lenta. Minhas moedas, que estavam guardadas na bolsa, saltam para fora, como se quisessem escapar também.

Sinto uma mão firme segurando meu braço, me impedindo de cair.

Levanto os olhos, ainda tonta com o choque, e me deparo com um par de olhos azuis – olhos tão claros e intensos que me fazem perder o fôlego por um momento. Ele está me encarando com uma expressão de preocupação, como se eu fosse quebrar em mil pedaços a qualquer instante.

— Você está bem? — a voz dele é profunda, grave, e faz meu coração disparar sem motivo algum.

Eu me esforço para recuperar a compostura, ignorando o calor que sobe pelas minhas bochechas e tentando dar a impressão de que tudo está sob controle, apesar do mundo ao meu redor ter virado uma bagunça.

— E-estou... — falo, tentando manter a calma, mas minha voz sai meio trêmula. — Sou mais forte do que pareço.

— Que bom.

O estranho de cabelos pretos e bem penteados me coloca de volta em pé ao seu lado e aperta o botão do térreo.

— Me desculpe, ainda não tive tempo de conhecer o prédio inteiro, acabei saindo no andar errado e trombei em você.

Minha santa das azaradas, que ele trabalhe no meu andar.

— É normal, demorei alguns meses para conhecer tudo — Forço um sorriso, segurando as moedas contra o peito — Você é novo aqui?

O estranho aperta os olhos como se eu acabasse de dizer algo irônico, mas o sorriso dele, divertido, aparece logo em seguida.

— Sim, sou novo aqui — Ele coloca as mãos nos bolsos da calça — E você?

— Trabalho aqui há quase um ano, sou secretária da chefona.

Ele se engasga com uma risada.

— Da chefona?

— É. Você sabe... Da senhora Bianchi.

— Ah, claro, como me esqueci — Ele gargalha, fazendo o elevador quase estremecer — Bem, acho que não tem tanta sorte assim.

Ele está rindo? Por Deus, aquele homem não tinha medo de ser demitido.

— Ela é uma boa chefe.

— Não é o que fiquei sabendo.

Abro a boca para rebater, mas desisto. Não serei eu quem vai falar mal da pessoa que paga meu salário. As portas se abrem, revelando o piso branco e polido da entrada.

— Bom, esse é o meu andar —  Agarro a alça da bolsa preta e me viro — Acho que nos vemos por aí.

Só então percebo, pelo espelho, o emaranhado de fios pretos do coque do meu cabelo e o quanto meus olhos castanhos estão cansados.

—Espero que sim.

Saio do elevador, mas ele permanece quase encostado na parede, com os ombros largos bem delineados pela camisa branca e levemente aberta. Um pouco despojado para um dos executivos, e bem-vestido demais para ser um dos funcionários do meu nível.

As portas metálicas se fecham, e saio para a rua com o coração disparado, deixando que as gotas finas de chuva tentem aplacar o calor das minhas bochechas.

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