Marcada desde a infância por um sinal que o povo acredita ser obra do demônio, Helena foi acusada de bruxaria e forçada a viver isolada no fim do vilarejo. Sua única conexão com o mundo são os feridos que aparecem à sua porta, desesperados por cura, mas sempre prontos a desprezá-la depois. Quando Tristan, um cavaleiro marcado pela brutalidade da guerra, surge ferido em sua vida, ela não tem escolha senão cuidar dele. Ele nunca acreditou no amor. Ela nunca esperou ser salva. Mas conforme os dias se tornam semanas, Tristan percebe que Helena enxerga além de suas cicatrizes e pecados. Só que a guerra não espera, e quando o dever chama, Helena terá que tomar a decisão mais difícil de sua vida: fugir e salvar a si mesma ou lutar ao lado do homem que prometeu nunca amar.
Ler maisO caminho pela floresta parecia ter se transformado em outro mundo. Galhos haviam sido enfeitados com fitas finas de linho, flores silvestres entrelaçadas em arcos naturais sobre a estrada de terra batida. Pequenos sinos pendiam das árvores, e o som que produziam era quase mágico, misturando-se ao canto suave dos pássaros, como se a própria floresta estivesse abençoando aquela união.Dentro da carruagem, Helena observava tudo com os olhos arregalados, o coração disparado. Cada curva, cada detalhe do caminho parecia ter sido sonhado e moldado para ela. O vestido roçava sua pele, apertado do jeito que gostava, lembrando-lhe a cada respiração quem ela havia se tornado — mas mesmo com a beleza ao redor, uma sombra de medo ainda dançava em seu peito.Ela não sabia exatamente o que a aguardava na chegada. E se eles riam dela? E se a rejeitassem de novo?— Nervosa? — a voz grave de Rowan soou ao lado dela, baixo, como se tivesse lido seus pensamentos.Ela assentiu, engolindo em seco.— E se
As horas que se seguiram após a saída de Tristan pareceram longas demais para Helena. A cabana, antes tão familiar e tranquila, agora parecia carregada de expectativa. Rowan estava do lado de fora, sentado em uma tora de madeira próxima à entrada, observando a floresta em silêncio. De tempos em tempos, ela ouvia o estalar de galhos sob os pés de algum animal ou o chamado distante de um corvo. A natureza parecia mais viva naquele dia, como se também soubesse que algo importante estava prestes a acontecer.Helena permaneceu quieta por um tempo, sentada na cadeira perto da janela, abraçada aos próprios joelhos, sentindo o calor do sol deslizar pelos braços. Seu coração batia devagar, como se estivesse aguardando a ordem certa para acelerar. Ela se permitiu aquele momento de solidão, de silêncio. Não era apenas o dia de um casamento — era o dia em que tudo mudaria.Quando o sol começou a descer no céu e os raios dourados invadiram o interior da cabana com mais intensidade, ela se levantou
O dia do casamento chegou com a luz suave da manhã filtrando pelas janelas da cabana. Helena acordou cedo, o coração batendo rápido, quase pulando do peito. Era difícil acreditar que o momento finalmente chegara. Ela olhou para Tristan, ainda adormecido ao seu lado, o rosto sereno e despreocupado. Sabia que ele estava esperando por ela, mas por mais que quisesse vê-lo, ela sabia que ainda não era o momento.Ela se levantou silenciosamente, tomando cuidado para não acordá-lo. O vestido que ela fez com tanto carinho estava guardado no baú, seu segredo, e ela não podia esperar para vesti-lo.Enquanto ela arrumava as coisas, sentiu a presença de Tristan acordando. Ele estendeu os braços, espreguiçando-se lentamente, antes de abrir os olhos, sorrindo ao ver Helena
Helena disse com um sorriso travesso, se virando para olhar Tristan, que já estava se aproximando da mesa. Ela notou o brilho nos olhos dele, uma mistura de cansaço e carinho, e isso fez seu coração acelerar.Tristan ergueu as sobrancelhas, fazendo uma expressão divertida.— Eu sou um brutamontes, sim, mas um brutamontes que sabe que você é a melhor cozinheira da região — ele respondeu, com um sorriso de canto de boca. — E, pelo visto, a sopa está perfeita, como sempre.Ela riu, colocando a colher de lado e arrumando os pratos na mesa. Seu estômago roncou um pouco, mas foi o olhar de Tristan que mais a desconcertou. Ele estava a observando com intensidade, como se cada movimento seu fosse uma obra de arte.
Helena sorriu sozinha enquanto terminava de dar os últimos pontos no vestido. O tecido, suave e delicado, era de um tom profundo de vinho, o que a fazia se sentir diferente de tudo que já usara. Ela tinha escolhido um modelo mais ajustado ao corpo, com um decote que desenhava uma linha sutil sobre seu busto, e a saia, longa, mas com um corte que deixava suas pernas livres para um movimento sensual. Nos ombros, pequenos bordados de fios dourados formavam um delicado padrão de flores, com pequenas pedras coloridas que ela mesma havia costurado. Não eram diamantes, mas pedras que lembravam cristais naturais, que ela achava mais encantadoras e genuínas. Elas brilhavam suavemente com a luz que entrava pela janela, refletindo em pequenos toques de azul e verde, como se estivessem sussurrando segredos de um mundo mágico.O vestido, embora simples, tinha algo de intenso, c
Helena estava animada, a agitação dentro de si quase elétrica. O casamento estava a apenas dois dias de distância, e a cada momento que passava, ela sentia a ansiedade se misturar com a excitação. Ela tinha ficado surpreso com a generosidade de Tristan ao comprar os tecidos, mas se sentia ainda mais empolgada por fazer seu próprio vestido de noiva.Ela estava sentada em uma mesa simples na cozinha, seus dedos ágeis trabalhando no tecido suave e delicado que Tristan trouxera. As cores eram suaves, como um tom pálido de rosa, quase esbranquiçado, e o tecido tinha um toque de brilho que fazia seus olhos brilhar cada vez que a luz da janela o tocava.Ela estava sozinha, mas o som do tear que ela usava para dar os últimos toques ao vestido parecia preencher a cabana com um tipo de paz que el
Tristan e o rapaz seguiram em silêncio pelo caminho até a cabana. O som das rodas da carroça cortando a trilha de terra era o único som que preenchia o ar, enquanto os dois homens se moviam com a missão cumprida. Quando chegaram em frente à porta da cabana, o jovem rapaz começou a descarregar as coisas de dentro da carroça, empilhando-as ao lado da entrada.Tristan observava o trabalho, e ao ver que tudo estava sendo colocado no lugar, tirou uma bolsa de couro de seu cinto, retirou uma boa quantidade de ouro e entregou ao rapaz.— Aqui — disse ele, colocando as moedas nas mãos do jovem. — Você fez um bom trabalho. Pode ir agora, e que a sorte esteja ao seu lado.O rapaz olhou as moedas com os olhos arregalados, claramente surpreso
Tristan cavalgou até a vila, a determinação firme em seus passos. O vento gelado cortava seu rosto enquanto ele se aproximava da imponente igreja, onde sabia que encontraria o padre Mathias e, muito provavelmente, Lorde Edric. Ambos os homens eram peças-chave do vilarejo e compartilhavam o mesmo preconceito contra Helena, embora nem soubessem seu nome, muito menos que ele estava profundamente envolvido com ela.Ao entrar na igreja, Tristan foi imediatamente recebido por uma atmosfera sombria, como se a própria estrutura estivesse impregnada de uma energia tensa. O padre Mathias, que estava ali para orar, levantou o olhar assim que Tristan cruzou a porta. Ele se aproximou rapidamente, seu semblante imutável, mas com uma aura de alerta.— Tristan, o que o traz à casa de Deus? — O padre perguntou, com uma leve tensão na voz. Tristan saiu da casa carregando um último baú pesado e o colocou na carroça onde o jovem rapaz da vila aguardava, segurando as rédeas do cavalo com paciência. Todas as suas roupas, armas extras, alguns utensílios e pertences estavam ali. Ele nunca teve muito, mas agora não precisava de nada além da cabana e de Helena.Limpou as mãos na calça de linho escura e virou-se para encarar a casa que por tanto tempo fora sua. Um tempo que agora parecia uma outra vida, distante, insignificante. Sem hesitar, puxou a porta, fechando-a com firmeza, e ajeitou a chave no bolso.O comprador o esperava um pouco mais à frente, debaixo da sombra de um grande carvalho, observando-o com curiosidade. Tristan caminhou até ele, seu porte forte e imponente atraindo olhares de alguns aldeões que pa8.3