2.2

O fogão era simples, construído em pedra e argila, com um espaço para acomodar a lenha que mantinha o fogo aceso. Pequenas rachaduras nas laterais testemunhavam os anos de uso, mas ainda cumpria bem seu papel. Acima dele, uma grade de ferro envelhecido servia de suporte para panelas e chaleiras. O calor irradiava do braseiro, iluminando o ambiente com um brilho alaranjado e lançando sombras dançantes pelas paredes da cabana.

Helena mexeu o mingau mais uma vez, apenas por hábito, antes de se virar. Seu olhar pousou no guerreiro ainda estirado no colchão improvisado. O cenho dela se franziu.

Ele continuava deitado, a expressão fechada e tensa. Foi então que se deu conta: ele não conseguia se mexer. O leite de papoula ainda fazia efeito, impedindo que seu corpo respondesse como deveria.

Helena bufou, cruzando os braços.

— Então você vai me dar trabalho até para comer? — resmungou, sem esconder a irritação.

O guerreiro lançou-lhe um olhar carregado de fúria e constrangimento, mas nada disse.

Ela suspirou, pegou a tigela e se ajoelhou ao lado dele.

— Se eu sou uma bruxa, talvez devesse envenenar você agora mesmo. — Um sorriso zombeteiro curvou seus lábios enquanto ela mergulhava a colher no mingau quente. — Mas sou uma alma generosa, então abra a boca.

O homem virou o rosto para o lado, obstinado.

Helena revirou os olhos.

— Ah, pelo amor dos deuses… Prefere morrer de fome?

Ele permaneceu em silêncio. O maxilar cerrado e o olhar flamejante demonstravam claramente seu orgulho ferido.

Ela ergueu uma sobrancelha, impaciente.

— Você pode ser enorme e assustador, mas, no momento, não passa de um bebê gigante. Agora coma, ou juro que enfio essa colher goela abaixo.

O guerreiro soltou um grunhido baixo, claramente humilhado pela situação. Mas, no fim, abriu a boca—de má vontade.

Helena sorriu, vitoriosa.

— Bom menino.

E lhe deu a primeira colherada.

Helena continuou alimentando o guerreiro, sem pressa. O silêncio entre eles era denso, carregado de ressentimento por parte dele e de divertimento disfarçado por parte dela. Cada colherada parecia um golpe em seu orgulho, e Helena se deliciava um pouco com isso.

Depois de alguns minutos, decidiu quebrar o silêncio.

— Qual o seu nome, afinal? — perguntou, soprando a colher antes de levá-la à boca dele.

O homem apenas rosnou e desviou o olhar.

Helena revirou os olhos.

— Certo. Guerreiro imenso, mal-humorado e ingrato. Um nome um tanto longo, mas acho que serve.

Ele bufou.

— Tristan. — A palavra saiu entre os dentes, quase forçada.

Helena sorriu.

— Ah, então pode falar. Já é um progresso. E por que um Tristan tão imenso e assustador veio parar desmaiado na porta de uma bruxa?

Ele a fuzilou com o olhar.

— Isso não é da sua conta.

— Ah, então você invade minha casa, cai desmaiado no meu chão, me faz gastar meus suprimentos para te salvar, mas não posso nem perguntar o que diabos aconteceu? Interessante.

Ele fechou os olhos, exalando o ar pelo nariz, claramente tentando conter a irritação.

— Fui emboscado. — Disse, enfim, a voz áspera.

Helena arqueou uma sobrancelha.

— Emboscado por quem?

— Isso também não é da sua conta.

Ela soltou uma risada nasal.

— Certo. Então foi uma gangue de coelhos ferozes? Talvez um bando de patos violentos? Só pode ser isso, já que é tão difícil dizer.

Tristan cerrou os dentes, os punhos fechando-se contra o tecido gasto do colchão.

— Você fala demais.

— E você é mal-agradecido. Mas eu sou uma mulher paciente. — Ela lhe deu mais uma colherada, ignorando o olhar mortal que recebeu.

O silêncio voltou a se instalar por um momento, até que Helena decidiu continuar.

— Você tem família?

Tristan não respondeu de imediato. Quando o fez, sua voz veio mais baixa.

— Não mais.

O tom fez Helena hesitar. Pela primeira vez, não havia apenas grosseria nele, mas algo mais profundo. Algo que ela reconhecia.

Solidão.

Decidiu não pressioná-lo mais—por enquanto. Apenas ergueu a colher mais uma vez e, com um tom mais suave, disse:

— Então coma. Você precisa ficar forte se quiser continuar me tratando mal amanhã.

Helena deu a última colherada a Tristan e se levantou, levando consigo a tigela vazia.

— Pronto. Agora durma. Quando acordar, vai conseguir se mexer de novo — disse, sem muita cerimônia.

Ele apenas resmungou algo ininteligível, mas seus olhos já pesavam de sono. O efeito do leite de papoula ainda o deixava sonolento, e logo sua respiração ficou mais lenta e profunda.

Helena suspirou e foi até o pequeno balde de água no canto da cabana. Molhou um pano e limpou os restos de comida da colher e da tigela. Não era um grande trabalho, mas manteve as mãos ocupadas enquanto sua mente vagava.

Precisava encontrar um jeito de conseguir algumas moedas. Suas ervas medicinais sempre eram úteis para os aldeões, mas ultimamente poucos vinham até ela, e os que vinham traziam apenas trocas, nunca dinheiro. Se conseguisse algumas moedas, poderia comprar galinhas. Seria um alívio ter ovos frescos todos os dias, uma fonte de alimento confiável.

Mas como?

Vender unguentos na vila era arriscado—cada vez que ia até lá, sentia os olhares e os sussurros. Alguns apenas evitavam seu caminho, outros cochichavam às suas costas. Não era uma presença bem-vinda.

Talvez pudesse fazer algum trato com o ferreiro? Ou com a mulher que cuidava do moinho? As duas eram menos hostis que o resto do vilarejo.

Enquanto secava a tigela, mordeu o lábio, pensativa.

Haveria um jeito. Sempre havia.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App