A tarde caía devagar quando voltaram à cabana. Lá fora, o céu se tingia de tons rosados, e o cheiro da terra molhada do lago ainda impregnava as roupas e a pele deles.
Dentro da casa, o ambiente era acolhedor e familiar — as ervas penduradas, os livros empilhados, os objetos espalhados de forma caótica, mas viva. Helena se sentou perto da janela com sua cesta de costura, puxando uma túnica que estava desfiada na bainha. Tristan ficou à mesa, afiando sua espada com movimentos calmos e ritmados, o som do aço raspando preenchendo os silêncios entre eles.
— Sabe... — Helena falou, sem levantar os olhos da agulha — às vezes eu penso se caberíamos mais aqui dentro.
Tristan olhou para ela, curioso.
A noite caía devagar, e a cabana estava iluminada apenas pela luz morna das velas e da lareira. Helena costurava um pequeno pano de prato com bordados de flores tortas — era mais um passatempo do que necessidade. Tristan, por outro lado, estava inquieto, andando de um lado para o outro como quem preparava uma emboscada.De repente, ele foi até um cantinho onde guardava uma velha flauta de madeira — desafinada, mas ainda capaz de arrancar uma melodia rústica. Quando Helena ergueu os olhos, ele já tinha dado o primeiro sopro, desafinado o suficiente pra fazê-la rir.— O que você está fazendo? — perguntou, cobrindo a boca com a mão, divertida.Ele largou a flauta num gesto teatral.— N&atild
O sol filtrava-se por entre as árvores altas da floresta, lançando sombras dançantes sobre o chão coberto de folhas secas. O ar estava fresco, com aquele cheiro de madeira úmida e terra viva. Helena caminhava ao lado de Tristan, o arco pendurado nas costas, os olhos curiosos atentos a tudo ao redor.— Você está certa de que quer fazer isso? — ele perguntou, com aquele meio sorriso provocador. — Não é como preparar unguento, minha bruxinha.Ela lançou um olhar de canto, desafiadora.— E você acha que eu sou frágil demais pra puxar uma cordinha?— Eu só não queria ferir o orgulho de alguém que mal consegue matar uma aranha sem fazer um esc&ac
O sol já começava a se deitar atrás das colinas quando Tristan apareceu no alto da trilha, com um sorriso de menino e um buquê de flores silvestres nas mãos. Os cabelos desgrenhados pela brisa, a camisa aberta no peito e as botas sujas de barro denunciavam a trilha que havia cruzado, só para agradar Helena.Ela o viu pela janela da cozinha e apoiou o queixo nas mãos, sorrindo como quem assiste ao retorno de um sonho bom.— Trouxe um pedaço do campo pra você — ele disse ao entrar, erguendo as flores como um troféu.Helena enxugou as mãos no avental e foi até ele.— Achou que eu ia desmaiar com um buquê de ervas e margaridas? — provocou, pegando as flores com car
Tristan a empurrou devagar até o quarto, os corpos colados, os beijos cada vez mais famintos. As mãos dele agarravam sua cintura como se o mundo estivesse desmoronando ao redor e ela fosse a única âncora.— Eu tô morrendo de desejo por você — ele murmurou contra seus lábios, a voz rouca, carregada de fome e sentimento. — Você não faz ideia do que me causa, bruxa…Helena riu contra a boca dele, o som abafado e cúmplice. O riso logo virou suspiro quando ele a ergueu nos braços e a jogou sobre a cama com um cuidado bruto, como quem segura algo precioso demais pra deixar cair, mas urgente demais para esperar.Ela o puxou pela camisa, rasgando o tecido com uma pressa que ele adorou. Ele retribuiu, livrando-a das roupas em se
A noite caía pesada sobre o vilarejo, as sombras dançando nas paredes de madeira da pequena casa onde Helena se escondia. O vento uivava através das frestas da pequena casa de pedra, carregando consigo o cheiro de chuva e medo. Helena, encolhida atrás de um baú de madeira, pressionava as mãos pequenas contra os ouvidos, tentando abafar as vozes que ecoavam pela casa. Mas era impossível não ouvir.— Não podemos continuar assim, Wilhelm! — A voz da mãe soava cortante, desesperada. — Essa marca... Essa maldição... Ela vai trazer desgraça para todos nós!— Ela é só uma criança — retrucou o pai, mas a hesitação em sua voz era evidente. — Não sabemos se... se é mesmo o que dizem.— Abra os olhos! — A mãe interrompeu, a voz embargada pelo medo. — Todos sabem o que aquela marca significa. O padre Mathias viu! Ele mesmo disse que é obra do demônio. Como podemos manter isso sob nosso teto?Helena apertou ainda mais as mãos contra os ouvidos, como se pudesse afastar aquelas palavras. Os olhos ar
O sol nascente tingia o céu com tons dourados e alaranjados quando Helena abriu a pequena janela de madeira, deixando a brisa fresca da manhã invadir a cabana. O ar carregava o cheiro úmido da terra e o canto distante dos pássaros que despertavam junto com o dia.Durante anos, aquele lugar que fora um refúgio miserável se tornara seu lar. A estrutura que antes ameaçava desmoronar agora estava reforçada com tábuas novas e musgo removido das paredes. O teto, antes perfurado pela chuva, fora consertado com cuidado, impedindo que as águas tempestuosas invadissem seu abrigo. O chão de terra batida dera lugar a um revestimento de madeira rústica, e o cheiro de mofo foi substituído pelo aroma das ervas secando em pequenos feixes pendurados no teto.A lareira crepitava suavemente no canto da cabana, aquecendo a chaleira de ferro onde a água fervia para o chá da manhã. Em uma mesa simples, porém bem cuidada, repousavam pequenos potes de barro contendo ervas e unguentos que ela mesma preparava.
O calor do fogo na lareira tornava a cabana aconchegante enquanto Helena mexia uma panela de ferro sobre as chamas. O cheiro de ervas e legumes cozinhando preenchia o ar, e o suor já umedecia sua nuca. Cozinhar era uma tarefa simples, mas necessária, e ela se permitia aproveitar o momento em silêncio.Foi então que ouviu os animais. O balido alto das cabras, o mugido aflito de Branca e os grunhidos nervosos dos porcos. Seu coração acelerou. Esse tipo de alarde nunca era bom sinal.Limpando as mãos no avental, Helena se dirigiu à porta, o corpo tenso. Pegou uma faca que sempre deixava por perto—não que ela soubesse lutar, mas a mera sensação de ter algo nas mãos lhe dava uma falsa segurança. Respirou fundo antes de puxar a tranca e abrir a porta.O que viu fez seu estômago se revirar.Um homem estava parado ali, oscilando entre um passo e outro, como se o próprio corpo estivesse prestes a ceder. Ele era imenso—assustadoramente alto e absurdamente forte, mesmo com a armadura rachada e o
Helena ainda estava sentada no chão, recuperando o fôlego, quando seus olhos caíram sobre a armadura do guerreiro. Era um emaranhado de ferro pesado, rachado e coberto de sujeira e sangue seco. Se ele precisava de cuidados urgentes, a primeira coisa a fazer era se livrar daquilo.— Ótimo, mais trabalho para mim… — murmurou, passando a mão no rosto.Ela se aproximou e começou a desfazer as correias de couro que mantinham as peças unidas. Algumas estavam tão apertadas e rígidas que seus dedos doíam ao tentar afrouxá-las.— Quem foi que te vestiu, homem? Um ferreiro com raiva da humanidade?Depois de alguns minutos de luta, a primeira peça caiu com um baque surdo no chão de madeira. Seguiram-se os ombreiros e a couraça, revelando um peitoral coberto de hematomas, arranhões e cortes abertos. A pele quente, marcada por cicatrizes antigas, se esticava sobre músculos firmes.Helena parou. Engoliu em seco.Seu rosto esquentou no mesmo instante.— Isso não importa — murmurou para si mesma, vol