1.3

Helena ainda estava sentada no chão, recuperando o fôlego, quando seus olhos caíram sobre a armadura do guerreiro. Era um emaranhado de ferro pesado, rachado e coberto de sujeira e sangue seco. Se ele precisava de cuidados urgentes, a primeira coisa a fazer era se livrar daquilo.

— Ótimo, mais trabalho para mim… — murmurou, passando a mão no rosto.

Ela se aproximou e começou a desfazer as correias de couro que mantinham as peças unidas. Algumas estavam tão apertadas e rígidas que seus dedos doíam ao tentar afrouxá-las.

— Quem foi que te vestiu, homem? Um ferreiro com raiva da humanidade?

Depois de alguns minutos de luta, a primeira peça caiu com um baque surdo no chão de madeira. Seguiram-se os ombreiros e a couraça, revelando um peitoral coberto de hematomas, arranhões e cortes abertos. A pele quente, marcada por cicatrizes antigas, se esticava sobre músculos firmes.

Helena parou. Engoliu em seco.

Seu rosto esquentou no mesmo instante.

— Isso não importa — murmurou para si mesma, voltando a mexer na armadura.

Cada peça removida revelava mais do corpo dele, e Helena se via constantemente desviando o olhar, o rosto queimando. Quando finalmente chegou às proteções das pernas, hesitou. Não era como se ela quisesse olhar… ali. Mas e se houvesse ferimentos?

Apertou os lábios, tentando ignorar a forma ridícula como sua mente lutava contra isso.

— É só um exame médico… — murmurou.

Ela deslizou as mãos com cuidado pela lateral da calça de couro, pressionando suavemente em busca de inchaços ou ferimentos. Quando seus dedos roçaram a parte interna da coxa dele, o guerreiro soltou um som rouco, quase um gemido abafado.

Helena congelou.

Seu coração saltou no peito, e ela afastou as mãos como se tivesse tocado fogo puro.

— Pelos deuses… — sussurrou, sentindo o rosto queimar como brasa.

Olhou para ele. Continuava desacordado, oscilando entre a inconsciência e algum delírio febril. Talvez o som tivesse sido apenas um reflexo da dor.

Engolindo em seco, Helena inspirou fundo, tentando acalmar sua respiração acelerada.

— Você vai me matar antes mesmo de acordar…

Ela ajeitou as roupas dele da melhor maneira possível, mantendo a compostura que ainda lhe restava. Então, limpou as mãos, pegou seus panos e ervas, e começou a preparar-se para tratar os ferimentos do guerreiro.

Helena afastou qualquer pensamento desnecessário e concentrou-se na tarefa à sua frente. O guerreiro estava ferido, e ela não podia perder tempo com tolices.

Levantou-se rapidamente e foi até uma pequena prateleira onde guardava seus suprimentos. Pegou uma bacia de madeira, encheu-a com água limpa e separou alguns panos. Também reuniu algumas ervas curativas e um pequeno frasco de leite de papoula, um analgésico forte que ajudaria a aliviar a dor quando ele acordasse.

Voltando para o lado do homem, ajoelhou-se ao lado dele e começou o trabalho. Primeiro, molhou um pano na água e passou delicadamente pelo rosto dele, limpando a sujeira e o suor. Era um rosto forte, marcado por cicatrizes antigas, e apesar da expressão relaxada pelo desmaio, havia algo nele que transparecia uma luta constante, como se nem mesmo a inconsciência pudesse afastar os fantasmas que o atormentavam.

Suspirando, ela continuou.

A água na bacia rapidamente se tingiu de vermelho conforme limpava os cortes profundos no peito e nos braços dele. Helena pegou uma pequena faca e cortou a camisa ensanguentada que restava em seu corpo, expondo ainda mais ferimentos espalhados por sua pele.

— Você é um verdadeiro imã para problemas, não é? — murmurou, trabalhando com mãos ágeis e experientes.

Moendo algumas ervas com os dedos, preparou uma pasta medicinal e a aplicou sobre os cortes mais graves, antes de cobri-los com bandagens limpas. Quando pressionou um dos ferimentos perto da costela, o guerreiro se mexeu levemente, soltando um grunhido de dor.

Helena franziu a testa. Ele estava começando a reagir.

Sabia que, quando acordasse, a dor seria insuportável. Com um suspiro resignado, pegou o pequeno frasco de leite de papoula e abriu a tampa, aproximando-o dos lábios dele.

— Sei que provavelmente vai odiar isso, mas precisa dormir um pouco mais — sussurrou, inclinando levemente a cabeça dele e despejando algumas gotas do líquido amargo em sua boca.

O guerreiro engoliu instintivamente, embora franzisse a testa, como se sua consciência tentasse lutar contra a substância. Helena o observou por um momento, esperando que o efeito calmante do medicamento fizesse efeito.

Se tudo corresse bem, ele permaneceria inconsciente por tempo suficiente para que ela terminasse de cuidar de seus ferimentos sem mais interrupções.

Respirando fundo, limpou as mãos e continuou seu trabalho. Ainda havia muito a ser feito, e algo lhe dizia que sua vida não voltaria à tranquilidade tão cedo.

Helena trabalhou em silêncio, focada em terminar os cuidados antes que a noite caísse por completo. Depois de enfaixar os ferimentos, pegou um pano limpo e umedecido e começou a limpar o restante do corpo do guerreiro.

Não poderia dar-lhe um banho, mas ao menos tiraria o suor, o sangue seco e a poeira da estrada. Passou o pano com delicadeza sobre seu peito forte e marcado por cicatrizes antigas, deslizou pelos braços musculosos e cuidou para limpar cada ferida com o máximo de atenção.

Quando chegou à linha do abdômen, hesitou.

Seu rosto esquentou ao perceber que precisava verificar se havia mais ferimentos abaixo da cintura. Respirou fundo, tentando afastar qualquer constrangimento. Era uma curandeira, e isso era apenas parte do trabalho. Com dedos ágeis, correu os olhos por ali rapidamente, constatando que não havia ferimentos graves—apenas alguns hematomas que sumiriam com o tempo.

Satisfeita, molhou outro pano com água morna e limpou qualquer resquício de sujeira no corpo dele. No fim, sentia-se exausta, mas o homem já não parecia mais tão miserável quanto quando chegou.

Ergueu-se e esticou os braços doloridos antes de pegar um cobertor de lã e cobri-lo. As noites eram frias na floresta, e apesar do tamanho imponente dele, um corpo debilitado poderia facilmente sucumbir ao frio.

— Pelo menos agora você não vai congelar — murmurou, ajeitando a manta sobre ele.

Olhou pela janela. O céu já escurecia, tingido de tons azulados e violetas. A floresta ao redor da cabana ganhava um aspecto sombrio à medida que a luz desaparecia, e Helena sentiu o velho temor familiar apertar seu peito.

Foi até a porta e começou a trancar tudo. Primeiro a tranca de madeira, depois a barra pesada que reforçava a entrada e, por fim, os pequenos ferrolhos adicionais que instalara ao longo dos anos. Sua cabana era uma fortaleza em miniatura—não por causa das feras da floresta, mas por causa das pessoas do vilarejo.

Eles a temiam, e ela nunca soube até onde o medo poderia levá-los.

Com tudo devidamente fechado, apagou a maioria das velas, deixando apenas uma pequena chama tremulando na mesa.

Deitou-se em sua cama, um pouco afastada do guerreiro inconsciente, mas ainda próxima o suficiente para ouvir qualquer movimento.

O silêncio da cabana era profundo, interrompido apenas pelo crepitar fraco da lareira e pela respiração lenta e pesada do homem.

Fechou os olhos, exausta. Amanhã, ele acordaria.

E então, sua vida poderia mudar para sempre.

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