2.1

Helena acordou com um sobressalto ao ouvir um gemido grave e raivoso preencher a cabana. Antes que pudesse reagir, um grito ecoou pelo cômodo.

— O que diabos você fez comigo?! — a voz do guerreiro saiu carregada de fúria. Ele tentou se mexer, mas seu corpo recusava-se a obedecer. — Meu corpo…! Eu não consigo me mover! O que você fez, m*****a bruxa?!

Os olhos dele ardiam com uma mistura de ódio e desespero. Helena cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha, impassível.

— Leite de papoula — respondeu, com um sorriso sarcástico. — Você estava choramingando de dor, achei que um grande guerreiro como você não fosse tão sensível.

Ele rosnou, os músculos se retesando apesar da dormência.

— Veneno. Você me envenenou.

Helena soltou uma risada curta, sacudindo a cabeça.

— Sim, claro. Minha estratégia brilhante foi arrastar um homem do tamanho de um cavalo para dentro da minha casa, limpar seu sangue imundo do meu chão e depois matá-lo lentamente. Faz todo o sentido.

Os olhos do guerreiro se estreitaram, faíscas de raiva queimando em seu olhar.

— Eu devia arrancar sua cabeça por isso.

Helena bufou.

— Engraçado. Para alguém tão bravo, você ainda está aí, deitado feito um saco de batatas.

Os punhos dele se fecharam, mas seu corpo recusava-se a responder. Ele cerrou os dentes, visivelmente frustrado.

— M*****a bruxa.

Helena sorriu, inclinando-se ligeiramente.

— Se tem tanto medo de uma bruxa, por que veio parar na casa de uma?

A mandíbula do guerreiro travou, mas ele não respondeu.

O guerreiro bufou, os olhos faiscando de irritação enquanto tentava, sem sucesso, mover os braços.

Helena revirou os olhos.

— Ingrato — murmurou, balançando a cabeça. — Eu salvo sua vida, cuido dos seus ferimentos, e tudo o que recebo em troca são ameaças e resmungos. Devia ter deixado você sangrar no chão.

Ele abriu a boca para retrucar, mas Helena já estava se afastando. Com passos decididos, foi até a porta e começou a destrancá-la. O som metálico das trancas ecoou pela cabana — e continuou ecoando. Uma, duas, três, quatro… O guerreiro a observou em silêncio enquanto ela removia cada uma das travas.

Quantas malditas trancas aquela mulher tinha?

Ainda assim, ele nada disse. Apenas observou, registrando a informação.

Helena abriu a porta e saiu, voltando instantes depois para pegar uma trouxa de roupas limpas.

— Vou me banhar — anunciou, sem se preocupar em dar mais explicações. — Tente não morrer de ódio sozinho.

O guerreiro franziu o cenho, mas ela já estava saindo pela porta, deixando-o preso à própria frustração.

Do lado de fora, Helena inspirou o ar fresco da manhã e seguiu pelo caminho familiar até o lago. O sol ainda não estava completamente alto, e a neblina pairava sobre a água cristalina. Um banho decente era exatamente o que precisava para aliviar o cansaço… e a irritação.

Helena mergulhou mais uma vez nas águas geladas do lago, sentindo o choque refrescante contra sua pele. Depois do estresse da manhã, o banho era um alívio bem-vindo. Com movimentos ágeis, esfregou os braços e o pescoço, removendo qualquer resquício de suor e sujeira.

Depois de se lavar, pegou as roupas sujas e começou a esfregá-las contra as pedras lisas à beira do lago. A espuma se misturava com a correnteza leve, levando embora a poeira e o cheiro do dia anterior. Assim que terminou, torceu bem os tecidos e os estendeu sobre os galhos baixos de uma árvore próxima, deixando-os secar ao sol da manhã.

Suspirou, sentindo-se revigorada.

No caminho de volta para a cabana, passou pelo cercado dos animais. As cabras baliram ao vê-la, Lita quase escalando a cerca na ansiedade por comida.

— Impacientes como sempre — murmurou, pegando um punhado de vegetais e jogando para elas.

Branca mugiu, e Helena sorriu, passando a mão pelo focinho da vaca antes de servi-la com um balde de água fresca. Os porcos grunhiram satisfeitos ao receberem sua porção de restos de comida.

Satisfeita por ter cumprido sua rotina, Helena voltou para dentro da cabana.

O guerreiro ainda estava lá, deitado onde ela o deixara, com o cenho franzido e um olhar intenso que parecia querer queimá-la viva.

Ela, no entanto, passou direto por ele. Nem um olhar. Nem uma palavra.

Simplesmente o ignorou.

Helena abriu a pequena despensa e soltou um suspiro desanimado. Suas reservas estavam escassas. Havia um pouco de aveia, algumas raízes que colhera dias atrás e um pedaço de pão já endurecido. Nada que sustentasse um homem do tamanho daquele guerreiro.

Ela mordeu o lábio, preocupada. Ele precisava de comida de verdade para se recuperar. Carne, caldos ricos, pão fresco… mas tudo isso estava além do que ela podia oferecer.

Por um instante, pensou em simplesmente dividir o pouco que tinha, mas sabia que sua porção não faria diferença para ele. Então, resignada, tomou a decisão mais óbvia: faria algo apenas para ele.

Helena não esperava gratidão. O homem era um bruto resmungão, mas não era isso que importava. Ela não ajudava esperando algo em troca.

Com mãos ágeis, separou a aveia e começou a fervê-la em um pouco de água, jogando algumas ervas para dar sabor. Pegou o pão duro e cortou-o em pedaços menores, deixando-os ao lado para que ele os amolecesse no mingau. Não era muito, mas era o melhor que podia oferecer.

Enquanto cozinhava, sentiu uma leve tristeza pesar em seu peito. Viver sozinha significava não precisar de muito, mas agora havia outra boca para alimentar, e ela não sabia até quando ele ficaria ali.

Ainda assim, não hesitou.

Quando o mingau ficou pronto, ela pegou uma colher de madeira, misturou um pouco e se dirigiu ao guerreiro, deixando a tigela perto dele.

— Coma. Não é um banquete, mas vai impedir que morra de fome.

Sem esperar resposta, ela se afastou e voltou para o fogão. Não havia cozinhado para si. Mas estava acostumada a abrir mão de certas coisas.

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