Tristan acordou antes do sol nascer, um hábito que a guerra gravou em seus ossos. O silêncio dentro da cabana era profundo, apenas quebrado pelo crepitar fraco das brasas na lareira.Virou-se e seus olhos pousaram sobre a pequena bruxa.Helena dormia profundamente, o rosto pálido contra as peles que ele jogara sobre ela na noite anterior. Seu nariz ainda estava avermelhado, e seus lábios entreabertos deixavam escapar uma respiração ligeiramente rouca.Ele franziu o cenho.Frágil demais.Isso o incomodava mais do que deveria.Tristan suspirou, passando a mão pelo rosto. Sentia fome, e sabia que ela também sentir
Já fazia uma lua desde que Tristan chegara à cabana.No início, ele era apenas um guerreiro ferido, bruto e desconfiado, e ela, a bruxa teimosa e irritante que o tratava sem pedir nada em troca. Mas, com o passar dos dias, as provocações entre eles haviam se tornado parte da rotina. Ele resmungava sobre a comida, e ela retrucava que ele era um ingrato. Ela o chamava de brutamontes, e ele respondia chamando-a de bruxa.Só que agora... agora não parecia mais uma afronta.Helena estava no pequeno sofá improvisado, feito de troncos cobertos por peles costuradas à mão. A chaleira de ferro chiava no fogão, espalhando um aroma de ervas pela cabana. Seus dedos apertavam distraidamente um pedaço de linha solta no tecido do vestido enquanto su
As ruas de paralelepípedos estavam movimentadas, repletas de mercadores e aldeões que iam e vinham, carregando cestos e sacos de estopa. O cheiro de pão fresco e carne assada misturava-se ao aroma forte de estrume e terra molhada.Tristan caminhava à frente, imponente, como se nada ao redor fosse digno de sua atenção. Helena, por outro lado, mantinha o capuz do manto puxado sobre o rosto, tentando não atrair olhares indesejados. Mas, mesmo assim, sentia os cochichos ao seu redor.— É ela… — A bruxa… — O que aquele homem está fazendo com ela?Seu coração acelerou, mas ela se manteve firme. Era assustador estar lá, em lugar que ela sabe que todos a odeiam, sem nem ter um bom motivo para isso! Fazia tempo que ela não sentia essa dor tão forte e claramente, a dor da rejeição, do abandono, Helena odiava viver essa vida, mas foi a vida que os deuses deram para ela.Tristan parou diante de uma grande tenda de madeira, coberta por um tecido grosso e gasto pelo tempo. Era o açougueiro da vi
Depois das barracas de alimento, Tristan continuou marchando pelo mercado como um rei em seu domínio. Helena o seguiu, ainda atônita com a quantidade de coisas que ele estava pegando para ela.Eles passaram por uma barraca de ervas e temperos. Pequenos feixes de alecrim, tomilho e sálvia estavam pendurados ao lado de potes de barro cheios de pimenta, cravo e canela. Ela sentiu o coração aquecer. Fazia tanto tempo que não cozinhava com algo além de sal e alho-poró.— Pegue o que precisar, mulher — Tristan ordenou.Helena piscou, surpresa, mas não discutiu. Escolheu ervas secas e frescas, um punhado de pimenta e um pequeno frasco de óleo de noz.A próxima parada foi em uma barraca de gr
Tristan empilhou os sacos de grãos, os fardos de palha e as caixas de suprimentos na carroça, os músculos contraídos sob o peso da carga. O jovem contratado para levar tudo até a cabana observava com olhos arregalados, claramente intimidado pela presença do guerreiro.Quando a carroça estava cheia, Tristan voltou-se para o rapaz, segurando-o pelo colarinho com uma facilidade assustadora.— Escute bem, moleque — sua voz era baixa, mas carregada de ameaça. — Você vai levar isso até a cabana sem reclamar, sem bisbilhotar e, principalmente, sem abrir a boca sobre o que viu aqui hoje.O rapaz engoliu em seco, assentindo freneticamente.— S-Sim, senhor! A noite já havia caído quando Tristan entrou na cabana, sacudindo o frio do lado de fora. O cheiro de ervas secas e pão recém-assado preenchia o ar, e ele encontrou Helena de costas para ele, organizando os mantimentos que haviam comprado.Ela havia trabalhado sem parar, ajeitando cada saco de grãos, cada pedaço de carne salgada e cada garrafa de mel na cozinha improvisada. Agora, com mais suprimentos do que jamais teve, seu pequeno espaço parecia abarrotado, mas de uma forma que trazia conforto.Tristan se encostou no batente da porta, observando-a por um instante antes de pigarrear.— Amanhã começamos os currais.Helena virou-se, limpando as mãos no avental, e piscou algumas vezes, como se prec4.5
Duas luas haviam se passado.Helena observava ao redor, ainda sentindo um aperto no peito. Tanta coisa havia mudado. Sua cabana simples, antes pequena e frágil, agora era uma casa de verdade. Mas o que mais a assustava não era a transformação das paredes de madeira ou dos currais bem-feitos — era o fato de que, durante semanas, aquele lugar estivera cheio de homens que ela não conhecia.Pedreiros, ferreiros, carpinteiros… Tristan havia trazido todos eles, dando ordens, coordenando cada detalhe da construção como se fosse um comandante em uma batalha. No início, ela se encolhia dentro da casa, desconfortável com tantos olhares desconhecidos. Não gostava de ser observada, não gostava da lembrança do vilarejo e de como sempre foi tratada. Mas Tristan esteve lá o
Tristan soltou um suspiro exagerado, como se estivesse lidando com uma criança teimosa. Sem qualquer hesitação, levou as mãos às fivelas do cinto e puxou as calças para baixo, revelando as pernas musculosas.Helena arregalou os olhos, virando-se rápido para o outro lado. O calor em seu rosto aumentou, e ela segurou ainda mais forte o tecido de seu vestido contra o corpo, como se aquilo fosse impedir que a vergonha a dominasse.— Para com isso! — exclamou, sem ousar encarar a cena atrás de si.Tristan riu baixo, o som profundo e divertido.— Pare de drama, bruxa. Já me viu sem camisa tantas vezes, o que tem demais?Helena sentiu a boca se abrir pa