1.2

O calor do fogo na lareira tornava a cabana aconchegante enquanto Helena mexia uma panela de ferro sobre as chamas. O cheiro de ervas e legumes cozinhando preenchia o ar, e o suor já umedecia sua nuca. Cozinhar era uma tarefa simples, mas necessária, e ela se permitia aproveitar o momento em silêncio.

Foi então que ouviu os animais. O balido alto das cabras, o mugido aflito de Branca e os grunhidos nervosos dos porcos. Seu coração acelerou. Esse tipo de alarde nunca era bom sinal.

Limpando as mãos no avental, Helena se dirigiu à porta, o corpo tenso. Pegou uma faca que sempre deixava por perto—não que ela soubesse lutar, mas a mera sensação de ter algo nas mãos lhe dava uma falsa segurança. Respirou fundo antes de puxar a tranca e abrir a porta.

O que viu fez seu estômago se revirar.

Um homem estava parado ali, oscilando entre um passo e outro, como se o próprio corpo estivesse prestes a ceder. Ele era imenso—assustadoramente alto e absurdamente forte, mesmo com a armadura rachada e os ferimentos cobrindo sua pele. Sangue escorria de cortes profundos, misturando-se à sujeira e ao suor. Os cabelos escuros estavam embaraçados, grudados ao rosto pálido e marcado pela exaustão.

Helena sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Um aviso? Um presságio? Não soube dizer. Tudo o que sabia era que algo dentro dela reconhecia aquele homem antes mesmo que ele dissesse uma palavra.

Mas ele não disse nada.

Antes que ela pudesse reagir, os joelhos do guerreiro cederam e ele tombou para frente. O impacto sacudiu o chão, levantando poeira e fazendo a terra tremer sob seus pés.

Helena recuou um passo, os olhos arregalados.

O que, em nome dos deuses, ela faria agora?

Helena ficou paralisada por um instante, o coração martelando no peito. O homem parecia mais uma montanha caída do que um ser humano. A luz bruxuleante da lareira iluminava sua expressão tensa enquanto ela hesitava entre dar meia-volta e se trancar dentro de casa ou se aproximar daquela massa de músculos e sangue estirada à sua porta.

— Maldição… — murmurou, ainda sem saber exatamente para quem a praga era dirigida.

Ela olhou ao redor, como se esperasse que alguma força invisível lhe dissesse o que fazer. Mas não havia ninguém. Só ela e aquele gigante desacordado.

Suspirando, Helena se abaixou ao lado dele, tocando com hesitação seu ombro. A armadura estava fria e úmida de sangue.

— Pelo menos não fede a morte… ainda — murmurou, franzindo o nariz.

Ele precisava de ajuda, e ela sabia disso. Mas como, pelos deuses, ela levaria aquele monstro de homem para dentro?

Helena se levantou, passou as mãos nos quadris e inspirou fundo.

— Certo, Monstro, ou seja lá qual for o seu nome, vamos tirar você daqui antes que algum lobo decida que encontrou um banquete fácil.

Com um suspiro resignado, ela pegou os braços dele e tentou puxá-lo. Não conseguiu nem movê-lo um centímetro.

— Mas que droga… você é feito de pedra?!

Soltando um resmungo, ela se abaixou de novo e tentou empurrá-lo de lado, na esperança de pelo menos tirá-lo da posição completamente esparramada no chão. Nada.

— Eu consertei um teto inteiro sozinha, cavei um poço, construí essa cerca… e agora um homem me vence sem nem estar consciente? — resmungou, ofegante.

Helena parou, as mãos nos joelhos, e olhou para ele. Se tentasse arrastar o guerreiro pela armadura, provavelmente acabaria arrancando um dos próprios braços antes de movê-lo.

Uma ideia terrível lhe ocorreu.

— Isso vai ser humilhante…

Bufando, Helena correu até o curral e voltou com um pedaço de corda resistente. Amarrou as extremidades nos punhos do guerreiro e fez um laço grande o suficiente para passar pelos próprios ombros.

— Muito bem, grandalhão… agora somos um só nessa desgraça.

Ela se inclinou para frente e começou a puxar com toda a força. Suas botas se cravaram na terra enquanto ela avançava centímetro por centímetro, arrastando Monstro aos trancos e barrancos.

— Anda, seu brutamontes ingrato! — resmungava, sentindo os músculos queimarem. — Podia pelo menos colaborar e ser um pouco menos... pesado?!

Foi então que a corda escorregou de seu ombro e ela caiu de cara no peito dele.

— ARG! — Helena se afastou rápido, resmungando. — Ótimo. Agora eu estou me jogando em cima de homens inconscientes.

Finalmente, depois de mais esforço e reclamações, conseguiu arrastá-lo para dentro.

Helena caiu sentada ao lado dele, ofegante, suada e coberta de poeira.

— Se sobreviver, você me deve uma cabra nova.

Ela se levantou, jogou a corda de lado e se inclinou para olhar o rosto dele. Agora que a luz da lareira o iluminava, pôde ver melhor os traços dele. Mesmo ferido e sujo, era… bonito. Perigosamente bonito.

— Isso não vai acabar bem para mim… — murmurou, antes de buscar os panos e ervas para começar a cuidar dele.

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