O tempo foi fragmentado em pequenas emoções humanas resultantes de uma linha do tempo caótica e repleta de confusão. A emoção humana transformou uma semana em lamentos de um mês, uma tênue sensação de frio com o congelar os ossos.Tudo que lhes ronda é uma melancolia incomum trazida pelo tempo gelado, as sopas e o molho pardo. Enquanto uma série de assassinatos incomuns rondam uma cidade que antes fora sempre tão calma, Spencer navega entre delírios e remédios mal intencionados, acordando em cenas de crime e encontrando muitas vezes conforto em um sonho antigo sobre cabanas e garotas mortas. Conversando com uma garota que parece ser fruto de sua imaginação, o Viajante se sente distante de tudo, procurando um sentido para todos os sonhos que o acercam e todas as garotas mortas que perseguiu pela floresta. Dentre todos seus demônios escondidos há sete chaves, Nadia encontra uma relação comum com um rapaz perturbado, revelando fazer parte de algo tão maior para ambos.
Ler maisTERESA SE TORNA UMA SEMELHANTE. A noite era escura e cheia de mentirinhas. Sempre que encarava ao redor, Teresa conseguia enxergar todos os olhos que a floresta mantinha sobre si, todo o pesar e as fofocas. Não precisava ouvir para saber de quem falavam ou do quê. Era sempre do mesmo. E com suas capas de inverno e lanternas, adentraram a floresta assombrada. Eram pinheiros sentinelas com seus dentes de gelo, a Lua grande e redonda pronta para engolir todo o planeta e o silêncio. Sempre que alguém pisava em alguma folha seca fazendo as meninas se assustarem, Teresa imaginava qual seria a sensação. Não lembrava de se quer ouvir qualquer som, por menor que fosse. Quando ela e Magnus eram apenas crianças bobas, ele costumava gritar ao seu ouvido ou arremessar coisas no chão, quebrar pratos e bater a madeira de lenha no piso da sala comum. Nada ouvia. Ela também não conseguia se lembrar de um único dia em que não estavam juntos. Sempre que
SPENCER. Por detrás das cortinas o vento dançava em sua melancolia comum. O tecido alvo que mantinha certa transparência estava escondendo seu corpo erguido por lençóis de sangue e seus pés estavam machucados. Sempre que se aproximava um pouco mais absorvendo toda a energia pesada e ficando de frente as pombas brancas que voavam ao redor e tomavam um pouco daquele líquido rubro intenso que caía para a tigela de vez em quando, Spencer sentia que suas pernas travavam. Talvez fosse todo o suor e a sensação dominando seu cérebro por completo o fazendo acordar sempre. A garota ao seu lado ofegava baixinho com cabelos negros grudando ao crânio enquanto ele sentia seus corpos colados de forma levemente desconfortável. Spencer odiava transar de lado. — Fique surpresa quando você me ligou — ela disse ao se separarem e subitamente cada um ir para seu lado da cama. Ela estava se levantando para se limpar — As vezes eu acho que você esquece que
TERESA. Quando o sol se punha atrás das árvores e todo o mundo comum se tornava escuro por alguns instantes curtos, Teresa sentia a forte brisa da primavera sobre os cabelos. Era estranho caminhar sobre a floresta assombrada com um carrinho de mãos cheio de terra Negra e sementes, com uma garrafa mediana de água e medo. Aquele lugar era capaz de destruir a mente mundana. Diziam as lendas que todas as bruxas da floresta moravam naquele lugar onde as árvores se inclinavam para frente abraçando seus donos com tanto louvor e fora lá, onde as árvores tinham espinhos e olhos vermelhos que ela foi parar. Quando olhava para o céu poderia enxergar toda a escuridão pincelada pelas poucas estrelas com a Lua tão pequena que mais parecia uma lanterna velha e quase sem bateria. Ela cruzou todo o caminho estreito e as linhas ingremes a frente, encontrou plantas vermelhas como sangue e algumas outras quase transparentes, os dedos de gelo começavam a se forma
O SONHO FRANCÊS. Quando o céu estava limpo e as estrelas dominavam o mundo comum, grilos começavam seu coro da madrugada e ela sabia que iria chover. Mesmo quando algum lobo uivava longe ou quando as corujas insistiam em piar em cima do telhado, ela sabia que iria chover. Era como um passe comum naquela estação onde todos os animais do mundo se uniam para avisar um ato natural por mais simples que parecesse. Quando os pássaros voltavam a fazer seus ninhos próximos ao bosque ela sabia que já era primavera, que já não estavam transitando entre o mundo gelado e um mais quente, harmonioso. Quando Tessa voltava às aulas ela sabia também que o pior havia passado. Ela se lembrava de fazer tudo sozinha desde sempre. Quando criança costumava acordar cedo e preparar seu café da manhã, de passar sua roupa e queimar a ponta dos dedos para testar a temperatura do ferro, de nunca saber se tinha lavado o cabelo no dia certo ou sequer se havia lavado direito
Nadia. Quando não estava totalmente escuro ou neblinoso, a cidade de Truskaw não parecia tão ruim. Nadia poderia encontrar o canto de pássaros pela floresta assombrada, o intenso verde das folhas e o marrom da terra, as formigas caminhando entre tronco e lebres. Nadia sentia falta de caçar lebres. Lembrava de quando era nova e tudo que tinha que fazer da vida era estudar e brincar. Seus pais costumavam lhe dizer que seria a mulher mais inteligente do mundo quando crescesse, poderia até ser verdade, mas ela nunca sentiu-se nem ao menos esperta. Rita estava caminhando muito mais à frente. Esta era uma garota cautelosa, havia aprendido tanto nos últimos anos. — Estamos quase lá — quis anunciar mesmo Nadia tento a total consciência de onde iriam. Talvez o fato de não ser totalmente moradora de lá fizesse as pessoas acharem que ela não conhecia a cidade. Quando subiram uma grande elevação encontrando o ponto de partida, uma grande
FAYE. Mesmo quando caminhava pelo grande vale profundo, Faye sentia como se ainda houvesse uma saída. Em seus poucos Sonhos de Lua, procurava pela energia do Sol, pela sabedoria das constelações que tanto viram em seus dias de vida. Se conseguisse energia o suficiente, poderia virar o jogo. Sempre que encarava ao redor, o mundo comum parecia mais distante. Era como se as paredes brancas fossem apenas peças de vidro e tudo que a acercava era o vazio de um mundo atópico. Como se todos os móveis velhos e manchados de sangue, poeira e tristeza fossem toda a humanidade que a acercava. Earl havia lhe contado sobre o rapaz da Inglaterra. — Ele está nos alimentando todas as manhãs e noites com carne mundana — lhe disse na língua dos lobos. Faye estava com o grande lobo no colo, ou pelo menos toda a parte que cabia em seu colo, ela gostava de passar as mãos sobre a cabeça do animal como fizera anos antes. Grande parte de si gostaria d
HENRY. A lua havia se tornado uma coisa pequena em meio a tela azul clara que ia se multiplicando até se transformar em um dia comum. Poucos poderiam vê-la partindo à cada instante seguindo em direção à outra parte do globo, para deixar uma noite de lua cheia para muitos outros. Sempre que estava acordado por volta daquele horário, poderia ouvir os pequenos grilos e seu canto, um galo em qualquer lugar, mas nunca a voz mundana. A floresta assombrada estava estranhamente quente naquela ocasião. Henry sentiu todo o suor escorrendo por entre as costas enquanto caminhava dentre pinheiros e sequoias, alguns dos troncos eram largos indicando outras espécies. Então o chão ficava mais úmido por conta do pequeno riacho que se formava próximo as rochas e a caverna e era por ali que ele caminhava. Henry sabia que aquela era uma água mortal onde vida alguma era capaz de aguentar por tanto, sabia que a fonte que se jogava para cima estava envenenada há tanto.
O DEMÔNIO ESCONDIDO NO NOSSO PLANO. Quando o sol descia e a lua se tornava tão grande como se estivesse pronta para engolir toda a terra, os antigos demônios reinavam. Estavam sobre o uivo de um lobo gigante, o cantar da coruja e o vento que sussurrava na língua antiga, sobre os móveis que estalavam as três da manhã. Quando os pinheiros da grande floresta assombrada se contorciam e formavam a passagem para os familiares, elesubia ao plano mundano e causava caos e destruição. Nenhuma alma humana ousava o fitar por muito tempo, pois todos sabiam que era impossível aguentar, mas havia alguns segredos. Quando a criatura abriu a boca seus caninos pareceram muito maiores graças à projeção que seu maxilar conseguia fazer por ser apenas de ossos. Era apenas o esqueleto de um bode que jazeu há tanto, mas ainda sim era a coisa mais assustadora do mundo. Em volta da cabeça havia um amontoado de fios negros que dançavam mesmo sem vento alg
SEXTO POTENCIAL.Quando estava dentro de sua caixinha confortável, ele sentia como se fosse a pessoa mais importante do mundo, mas quando estava no mundo gelado que era aquela cidade, sentia-se inútil, perdido sem ela.O grande prédio à frente era daqueles espelhados, tão cumpridos ao ponto de tocar o céu e as nuvens. As vezes se perguntava o que veria lá de cima, se o reino dos Céus estaria ali, onde ele pudesse ver e quem sabe tocar. Filip sentia como se pudesse ser o homem mais poderoso do mundo.— Mas você não é — ela lhe disse baixinho como em um pensamento alto. Lena ainda mantinha aquela ironia no olhar como antes — Você sabe que ela vai mandar você voltar para casa, não sabe?Ele a fitou por momento curto antes de balançar a cabeça e mandá-la para longe. Mas ela nunca ia de fato.Filipe tinha