TERESA SE TORNA UMA SEMELHANTE.
A noite era escura e cheia de mentirinhas. Sempre que encarava ao redor, Teresa conseguia enxergar todos os olhos que a floresta mantinha sobre si, todo o pesar e as fofocas. Não precisava ouvir para saber de quem falavam ou do quê. Era sempre do mesmo. E com suas capas de inverno e lanternas, adentraram a floresta assombrada.
Eram pinheiros sentinelas com seus dentes de gelo, a Lua grande e redonda pronta para engolir todo o planeta e o silêncio. Sempre que alguém pisava em alguma folha seca fazendo as meninas se assustarem, Teresa imaginava qual seria a sensação. Não lembrava de se quer ouvir qualquer som, por menor que fosse.
Quando ela e Magnus eram apenas crianças bobas, ele costumava gritar ao seu ouvido ou arremessar coisas no chão, quebrar pratos e bater a madeira de lenha no piso da sala comum. Nada ouvia. Ela também não conseguia se lembrar de um único dia em que não estavam juntos.
Sempre que
Em Os Demônios de Truskaw, a confusão momentânea e o devaneio constante fazem parte da memória da vida onde cada uma das pessoas citadas têm alguma importância ou tampouco importam. Cada um é protagonista de sua própria história e assim como cada indivíduo da espécie costuma associar, alguns deles são bastidores, peças extras ou totalmente indiferentes. Iniciamos nossa jornada com um vislumbre do passado, presente e futuro, onde todas as ações de Spencer parecem partir de uma confusão, um devaneio ou lembrança. Junto à narrativa somos apresentados a uma figura cumprida, rodeada por cães de caça e biscoitos de estrelinha. Como contrapartida, temos a apresentação frustrante de Nadia Jaworska, uma sargento procurando algum tipo de redenção, uma missão não cumprida e uma promoção tão aguardada. Dentro de seus núcleos podemos caminhar sobre seu subconsciente onde
“Eu ainda consigo vê-la claramente em seus olhos grandes e azuis a me fitar, o corpo está deitado sobre o gramado e as folhas já começaram a cair sobre si. Os pássaros estão à sua volta, alguns ousam passeios em suas pernas outros bicam seu cabelo louro dourado. A putrefação se inicia lentamente, o cheiro de seu corpo não é nítido. Veste azul que parece levemente combinar com seus lábios abertos. Seus lábios. Posso ver a estrutura de um animal ali dentro, lutando para sair, mas não consegue. É como se os dentes dela tivessem o prendido ali dentro, ele vai apodrecer junto à ela”. Amalya tentava entender cada palavra dita e omitida, mas era como se os sonhos de Spencer fossem tamanhos enigmas que nem mesmo seu mestrado poderia compreender. Ela o mandou abrir os olhos e respirar fundo, calmamente o tiraria do transe. — Você consegue ver onde está agora?
NADIA. O dia começou amargamente frio e cinzento e os cães não sentiam cheiro. A grande matilha de cães farejadores que um dia encontraram drogas dentro de troncos de árvores no meio da floresta, se aninhavam um com os outros na tentativa em vão de se aquecer um pouco mais. — Os melhores de todo o batalhão, você disse. — Até mesmo os melhores tem seus dias ruins — o tempo mantinha um vento cortante, deixando uma tarefa simples como falar se tornar miserável. — Está frio demais para caçar. Mas isso Nadia já sabia. Sabia que não era possível encontrar uma poça de sangue sobre tanta neve, um corpo perdido há dias não seria farejado. Mike, Furiosa
CATHERINE.Em algumas ocasiões sentia um buraco dentro de si. Não era como se estivesse com fome, era um ermo, um buraco enorme onde o coração estivera e sua cabeça também doía. Em alguns dias ou noites — era difícil distinguir — Cat não queria acordar. Gostaria de se aninhar ao velho manto e adormecer mais um pouco, ter a pouca paz que o silêncio lhe proporcionava poucas vezes.Dividia espaço com um pequeno rato albino que insista em roubar os poucos grãos de comida lhe davam. A princípio tentara matá-lo de fome, escondendo o pão amanhecido sobre as roupas, mas bastou dois dias isolada para aquele roedor torna-se seu melhor amigo. “Venha pequeno Alfred”, chamava vez ou outra, mas o pequeno albino que tanto assemelhava à si, tendia a i
SPENCERO dia era uma escuridão cinzenta onde névoa pálida erguia-se sobre o cheiro de musgo e morte.E ali onde suas narinas captavam o cheiro metálico, a umidade sob a língua se tornava cada vez mais nítida. Uma grande linha curva se intensificou uma vez que os dedos puderam sentir toda textura grossa do amontoado de fios negros como petróleo. Fora uma margarida em cada pálpebra deixando teu olhar antes de ao ávido e azul, completamente branco.Os passos ficavam cada vez mais pesados e o nariz escorria em uma cachoeira sem sabor ou cheiros, o Viajante e sua longa capa negra foram caminhando pela estrada de terra, pelos rastros que vários caminhões de construção haviam deixado ao longo dos anos. Aquela era a parte feia da floresta, a parte desmatada pelo homem e sua ganância.
HENRY.Os longos fios avermelhados pareciam uma longa e bem produzida pintura emoldurada perfeitamente sobre a tela caucasiana e levemente rosada que sempre parecia-lhe doente. O nariz fino e sem projeção no torso estava sempre avermelhado e as bochechas nem precisavam de maquiagem.— Definitivamente esse é meu melhor look para casamento — disse ao entrar no carro.Henry captou o momento em que o tecido fino e rendado se movimentou sobre o corpo feminino, a forma com que o casaco preto e tão pesado caia aos ombros e as botas eram tão longas e brilhosas.Mas aquele não era casamento onde roupas sociais eram aceitáveis, sendo assim, Henry viu-se vestindo a velha jaqueta de couro de seu pai, um jeans levemente destruído no joelho e coturnos. Sentia-se fantasiado até demais.A grande e gótica decoração do jardim estava razoável ape
A maioria dos pássaros de pequeno porte não sobreviviam à passagem de ano naquela região. Os pequenos eram sempre vistos sob o solo úmido pelas fortes chuvas, gelados e sem vida. Os pequenos olhos ficavam abertos, porém vazios e as asas que antes o arremessaram a tantos lugares jazia encolhida sob o corpo em leve putrefação. As flores começavam a surgir na parte menos montanhosa da floresta, mas ainda sim a maior parte da floresta era um amontoado de branco gélido e marrom. As chuvas não tinham parado totalmente e apesar de todos os malditos casacos, Hanna sentia-se pronta para congelar. — Porque a floresta? — limpou um amontoado de lama das botas de serviço em um suspiro — Porque nunca em uma linda casa no centro? — Parece que ninguém vê graça em cadáveres apodrecendo em casas. MAGNUSAs folhas em putrefação formavam um grande tapete natural mostrando um caminho não cruzado por pés humanos havia tanto. Magnus sentia o odor de musgo, a umidade da terra deixava um cheiro tênue no ar e a vontade de correr pela floresta era tão grande.Mesmo distante era possível ouvir as vozes agudas sobre o mundo, o nome comum sendo proferido tantas vezes. Durante toda a busca, ninguém conseguiu ouvir sequer uma menção de esperança. Foram três dias completos de pesquisa onde grupos grandes se revezavam pela grande floresta gritando o nome comum.Magnus sentia os pés em leve dor pelo esforço da caminhada e vez ou outra, sentia a necessidade de sentar e descansar. Mas não tardou mais que um próximo dia para as buscas se tornarem mais escassas. As pessoas não se moviam como antes, o nome comum se tornava mais escasso à cada hora e a polícia menos pacientCAPÍTULO SEIS