“Eu ainda consigo vê-la claramente em seus olhos grandes e azuis a me fitar, o corpo está deitado sobre o gramado e as folhas já começaram a cair sobre si. Os pássaros estão à sua volta, alguns ousam passeios em suas pernas outros bicam seu cabelo louro dourado. A putrefação se inicia lentamente, o cheiro de seu corpo não é nítido. Veste azul que parece levemente combinar com seus lábios abertos. Seus lábios. Posso ver a estrutura de um animal ali dentro, lutando para sair, mas não consegue. É como se os dentes dela tivessem o prendido ali dentro, ele vai apodrecer junto à ela”.
Amalya tentava entender cada palavra dita e omitida, mas era como se os sonhos de Spencer fossem tamanhos enigmas que nem mesmo seu mestrado poderia compreender. Ela o mandou abrir os olhos e respirar fundo, calmamente o tiraria do transe.
— Você consegue ver onde está agora?
Seus olhos vagaram por cada canto do consultório até finalmente encontrar a psicóloga.
— Com você — disse finalmente.
Amalya o fitou seriamente.
—Você esteve comigo o tempo todo. Onde você está agora?
—Em seu consultório, localizado no lado sul do hospital — estava lúcido, mas seu corpo ainda não respondia inteiramente aos seus comandos. Estava em progresso. —O que pode me dizer hoje? — indagou-lhe enquanto ajeitava-se na poltrona.
— Seus sonhos envolvem sempre uma espécie de história contada nos pequenos detalhes, você percebe que fez uma reprodução do Pássaro à dois corações? O caso fora chocante e seu cérebro o gravou — prosseguiu —É comum isso acontecer.
—Você tem uma percepção diferente do comum — analisou em um sorriso sugestivo — Não há nada para me preocupar, é o que você diz todas as vezes.
—Você mantém uma mente frágil à esse tipo de acontecimento, sua mente grava cada detalhe de uma oração e a reproduz incansavelmente — Amalya levantou-se em um movimento quase automático —Está tomando o remédio de maneira correta?
— Certamente — levantou-se e foi acompanhado até a porta —Uma hora passa-se rápido quando conversamos.
Passou a caminhar em direção à saída do consultório, o corredor pareceu-lhe interminável. Eram quatro salas em cada lado e ao final um elevador, mas a cada passo que dava, Spencer parecia não sair do lugar, era como uma cena repetida. Rapidamente sua respiração passou a ofegar, encostou-se na parede e ao fechar os olhos, sentiu um momento de paz interior. O calor súbito que antes passeava por cada vértebra, recebia agora um vento forte, mas não forte o suficiente para lhe fazer estremecer. Quando enfim abriu os olhos, estava de volta à floresta.
Os troncos eram longos e finos, as folhas sobre o chão estalavam toda vez que eram pisoteadas pelo rapaz. Spencer olhou para trás, havia uma garota caminhando em sua direção.
Vestia um longo casaco azul, seus cabelos cor de avelã estavam dançando sobre o vento forte, emaranhando-se e caindo sobre a face, mas ela não parecia se importar. Continuou a caminhar na direção do rapaz que prendera a respiração a vê-la tão próxima de si, ela não o viu. Seus passos eram lentos e pesados e de repente começou a correr em desespero. Ele a seguiu.
Fazia curvas, olhava para trás a todo instante. Um instinto o dominou, sua corrida tornou-se algo mais rápido e bem pensado, virou à direita na estrada de pedra, subiu a colina e pendurou-se em um galho, saltou ligeiramente caindo de joelhos sobre um amontoado de folhas que amorteceram sua queda. A encontrou à sua frente, estava assustada.
A garota prendeu a respiração e fitou uma cabana próxima dali, voltou a encarar ao redor como se não estivesse fugindo de Spencer, como se nem ao menos estivesse o vendo. Levantou voltando a segui-la, mas dessa vez sem pressa. Ela já não usava azul. Estava com um vestido branco rendado, mangas longas o fazendo lembrar de uma camisola antiga, ela virou-se o chamando.
Sentiu calor sobre o corpo e a floresta antes repleta de folhas secas em tons de amarelo e laranja, ganhou uma espécie de estrada em folhas vermelhas, parecia um guia para dentro da cabana. Passou a caminhar outra vez, subindo o degrau típico e girando a maçaneta, mas estava travada. Spencer enfiou as mãos no bolso e retirou seu molho de chaves, fincou a primeira, segunda e a terceira, mas nenhuma delas parecia funcionar. Droga. Fitou ao redor irritado, enfiou as mãos debaixo do tapete, procurou pelas janelas e plantas, chutou a porta até conseguir abri-la.
O cheiro forte de madeira apodrecendo deixou seu corpo todo arrepiado, o líquen se espalhava por toda a extensão das paredes. Mais a frente pôde ver um único móvel, uma escrivaninha para ser exato. Um arranjo de flores mortas repousava em cima de um amontoado de folhas rabiscadas, não eram palavras nem desenhos, apenas rabiscos. Recolheu os papéis enquanto um som estranho vinha do segundo andar. Havia algo sobre aquela cabana que o fazia querer caminhar ainda mais, bastou subir um dos degraus para vê-los praticamente se desfazer com seu peso, ele tinha que correr e assim o fez. Logo no segundo andar, uma porta branca. O braço se esticou para abri-la, mas uma força quase sobre-humana o empurrou para trás fazendo suas costas se chocarem com a neve gélida e nada convidativa.
Esteve caminhando pela floresta? Como poderia...?
O hálito quente sobre as bochechas fez seus olhos se abrirem em súbito terror. O peso era quase que humano e as presas como grandes lanças recém afiadas, pareciam o desejar entre elas.
— Earl — a voz feminina começou a ecoar pela cena, até que enfim o cachorro soltou um grunhido baixo e se retirou de cima do rapaz.
Não obteve ajuda para levantar, pelo contrário. Enquanto cambaleava e tentava se pôr de pé, pôde observar a barra de um vestido branco de rendas. Esteve de pé por alguns momentos antes de cambalear novamente e receber o auxílio da estranha, esta segurava um balde repleto de carne vermelha e sangrenta e quando o largou para ajudar a desengonçada figura, imediatamente cinco ou talvez sete daqueles cães começaram a brigar pelo alimento.
— Você está bem? — dois passos para frente e as pernas pareceram adormecer, não poderia depositar todo o peso sobre a pobre garota. Era mais forte que aparentava, carregando o rapaz para dentro da residência, tendo seus cães de guarda a seguindo em cautela. Spencer quase sentia como se Earl, o maior deles, o dissesse para ter cuidado com os próximos movimentos.
O interior da cabana era feito de uma madeira bem polida e sólida, mas ainda sim, conseguia sentir o vento forte ultrapassando as pequenas frestas que o tempo havia lhe proporcionado. Seu corpo fora deixado sobre uma cadeira apertada e desconfortável apesar de sua mente não residir no mesmo ambiente.
Spencer percorreu o olhar sobre o que era nítido do imóvel, uma pia velha e mal cuidada, um fogão a lenha fervendo um grande caldeirão com algum líquido, no lugar dos armários, havia prateleiras com potes de vidro e alguns pratos de porcelana, um grande pote onde os talheres eram armazenados.
— Você gosta de biscoitos? — de repente a estranha estava a sua frente, o fitando em seus grandes olhos escuros como jabuticabas — Deveriam ser estrelas e todo o universo, mas incharam demais.
O biscoito era branco com algumas gotas de chocolates, alguns redondos, ovais e outros, pareciam um dia manter pontas, o que deveriam ser as estrelas inchadas. Não eram atrativos para se olhar, mas o sabor era mágico.
— Você gosta de chá, viajante?
Spencer poderia responder, mas a boca já estava repleta de biscoitos e ainda sim, a moça já estava desaparecendo sobre um novo cômodo. Earl adentrou o ambiente rosnando, os dentes afiados estavam sujos de sangue, assim como seu pescoço e patas. O cão o encarou em desdém e se enrolou deixando apenas os grandes olhos cinzentos à mostra. Pareciam duas estrelas reluzentes.
— Onde estou? — sua voz era como um eco, um conhecido distante de si mesmo.
Earl ergueu a cabeça para trás e uivou alto sobre o silêncio, logo seus irmãos fizeram o mesmo, como em um coro de igreja. Mas não era atormentador como nos filmes, assustador ou intimidador, era quase que uma canção de boas vindas.
— Um viajante que não conhece seus destinos de certo não é um viajante, é apenas um insígnia no tempo — a voz fora surgindo por dentre a madeira até a figura reaparecer por dentre uma cortina feita de tiras de pano branco e negro —Chá vermelho.
Bebericar o líquido deixou um gosto metálico sobre a língua, um azedo e em seguida, o doce da erva desconhecida. Aquele líquido estava o deixando entorpecido como em uma queda de pressão e quando tocou a madeira quente da mesa, seu corpo fora para frente e para trás, até despertar por completo.
— O viajante sabe o caminho de volta?
Spencer gostaria de responder, de gritar, mas sentia como se sua habilidade de linguagem havia falhado consigo. Apenas assentiu.
Se falar estava sendo difícil, levantar e encontrar a habilidade de locomoção fora pior. Seus pés estavam dançando sobre a madeira, era quase como uma anestesia. Ao ver a moça caminhar em direção a única saída visível da casa, Earl saltou sobre os irmãos e começou a acompanhá-la lado a lado com um olhar feroz.
A floresta de grandes pinheiros brancos de neve não passava de um grande amontoado de árvores que se estendia por, talvez, milhares de quilômetros. Não era majestosa como em seus sonhos. A estranha que caminhava ao seu lado mantinha um emaranhado de fios louros dourados e pontas queimadas de sol que dançava sobre o forte vento da madrugada. Madrugada?
Os cães pareciam impacientes com a caminhada de ambos, tão lenta e cautelosa. Spencer sentia o gelo afundando-se em seus sapatos feitos para o asfalto da cidade, sentia as pernas adormecendo a cada passo. Mais um amontoado de uivos distantes, Earl não abandonava a dona, mesmo com seus irmãos distantes. Era possível ouvi-los correndo por dentre as árvores, o barulho das folhas se quebrando sobre suas patas ágeis, o som assustado dos poucos pássaros que arriscavam um voo. Tudo isso fundido à ignorância que sentia ao caminhar pelo ambiente.
— A cidade fica próxima? — quis saber ao notar a grande estrada íngreme que estava adiante. Passaram por um pássaro em putrefação, de grandes olhos negros entreabertos, cruzaram um tronco retorcido e então a estrada havia começado.
— Estamos — a barra de seu longo vestido sumia entre a neve alva que, aos poucos, ia ganhando o aspecto comum de passos largos e fundos. A estrada ficava cada vez mais íngreme e difícil de descer, mas entre todos seus medos, cair não era um deles — Consegue ver?
Seu olhar se ergueu por alguns instantes sendo preciso um olhar minucioso para entender. Conseguia ver a parte de trás do hospital, distante, mas visível. Aquilo soou como um alívio.
Precisava apenas descer toda a estrada para enfim chegar ao primeiro sinal de civilização: asfalto. Mas diferente do que imaginava, a estrada já não parecia tão difícil de descer e a neve parecia menos densa naquele ponto.
—Você faz esse caminho sempre que vai à cidade? — perguntou virando-se para encarar a companheira de viagem, mas esta não estava consigo. Spencer encarou ao redor encontrando grandes pinheiros e troncos caídos, branco e silêncio — Não...
Fechando os olhos, contou até dez enquanto mantinha uma respiração sincronizada e profunda e quando seu olhar voltou à estrada de asfalto à sua frente, desatou a caminhar na direção contrária. De fato subir era uma tarefa bem mais complicada e a cada passo que dava, seus pés afundava ainda mais chegando a cobrir suas panturrilhas e quase o joelho.
Bastou um piscar de olhos mais atento para notar o quão íngreme aquela estrada se tornava a cada passo e quando tentou afastar uma mecha de cabelo dos olhos, notou que suas mãos estavam ocupadas. Olhar para baixo não era a saída mais inteligente, mas ao fazê-lo, ao entender o quão alto estava naquele pico, Spencer sentiu-se nauseado.
Viajante.
Não poderia parar ou descer, tinha que continuar. Cegamente, fez um movimento com a perna e subiu mais um pouco, sentiu a dura pedra sobre os sapatos feitos para asfalto, sentiu as mãos doendo sempre que tentava um movimento mais amplo. A parede de pedras não estava escorregadia como deveria estar apesar de toda aquela neve.
—Não? — a voz veio de longe como eco e aos poucos sua mente fora a transformando em uma série repetida de sussurros. —Você está bem?
Um uivo alto surgiu e logo depois mais um e outro até um cântico tornar-se audível. Spencer tornou a fechar os olhos respirando profundamente, tentou se livrar de um galho velho e pronto para arrebentar e sentiu seu corpo indo para baixo e para baixo.
O vento costumeiro da madrugada começava a surgir entre seus dedos, o cabelo dançava no ar e o corpo respondia em pêlos eriçados.
— Meus sapatos — de olhos fechados Spencer sentia o doce perfume de rosas que embebedava suas narinas dilatadas de frio —Não foram feitos para neve — os olhos se abriram devagar enquanto a respiração profunda parecia contar até cinco ou seis. A estranha estava a sua frente, próxima o suficiente para lhe contar um segredo absurdo.
— Seus sapatos foram feitos para calçadas e não montes de lama e neve — um passo e depois outro, estavam à três metros de altura — É aqui que lhe deixo — o uivo antes alto e distante havia parado e os cães mantinham-se em alerta, bem ao lado da dona — Adeus, Viajante.
— Adeus, Estranha — sua voz ecoou alta pela floresta silenciosa e seus passos, longos e desajeitados chegaram à superfície do asfalto em uma fração curta de segundos.
NADIA. O dia começou amargamente frio e cinzento e os cães não sentiam cheiro. A grande matilha de cães farejadores que um dia encontraram drogas dentro de troncos de árvores no meio da floresta, se aninhavam um com os outros na tentativa em vão de se aquecer um pouco mais. — Os melhores de todo o batalhão, você disse. — Até mesmo os melhores tem seus dias ruins — o tempo mantinha um vento cortante, deixando uma tarefa simples como falar se tornar miserável. — Está frio demais para caçar. Mas isso Nadia já sabia. Sabia que não era possível encontrar uma poça de sangue sobre tanta neve, um corpo perdido há dias não seria farejado. Mike, Furiosa
CATHERINE.Em algumas ocasiões sentia um buraco dentro de si. Não era como se estivesse com fome, era um ermo, um buraco enorme onde o coração estivera e sua cabeça também doía. Em alguns dias ou noites — era difícil distinguir — Cat não queria acordar. Gostaria de se aninhar ao velho manto e adormecer mais um pouco, ter a pouca paz que o silêncio lhe proporcionava poucas vezes.Dividia espaço com um pequeno rato albino que insista em roubar os poucos grãos de comida lhe davam. A princípio tentara matá-lo de fome, escondendo o pão amanhecido sobre as roupas, mas bastou dois dias isolada para aquele roedor torna-se seu melhor amigo. “Venha pequeno Alfred”, chamava vez ou outra, mas o pequeno albino que tanto assemelhava à si, tendia a i
SPENCERO dia era uma escuridão cinzenta onde névoa pálida erguia-se sobre o cheiro de musgo e morte.E ali onde suas narinas captavam o cheiro metálico, a umidade sob a língua se tornava cada vez mais nítida. Uma grande linha curva se intensificou uma vez que os dedos puderam sentir toda textura grossa do amontoado de fios negros como petróleo. Fora uma margarida em cada pálpebra deixando teu olhar antes de ao ávido e azul, completamente branco.Os passos ficavam cada vez mais pesados e o nariz escorria em uma cachoeira sem sabor ou cheiros, o Viajante e sua longa capa negra foram caminhando pela estrada de terra, pelos rastros que vários caminhões de construção haviam deixado ao longo dos anos. Aquela era a parte feia da floresta, a parte desmatada pelo homem e sua ganância.
HENRY.Os longos fios avermelhados pareciam uma longa e bem produzida pintura emoldurada perfeitamente sobre a tela caucasiana e levemente rosada que sempre parecia-lhe doente. O nariz fino e sem projeção no torso estava sempre avermelhado e as bochechas nem precisavam de maquiagem.— Definitivamente esse é meu melhor look para casamento — disse ao entrar no carro.Henry captou o momento em que o tecido fino e rendado se movimentou sobre o corpo feminino, a forma com que o casaco preto e tão pesado caia aos ombros e as botas eram tão longas e brilhosas.Mas aquele não era casamento onde roupas sociais eram aceitáveis, sendo assim, Henry viu-se vestindo a velha jaqueta de couro de seu pai, um jeans levemente destruído no joelho e coturnos. Sentia-se fantasiado até demais.A grande e gótica decoração do jardim estava razoável ape
A maioria dos pássaros de pequeno porte não sobreviviam à passagem de ano naquela região. Os pequenos eram sempre vistos sob o solo úmido pelas fortes chuvas, gelados e sem vida. Os pequenos olhos ficavam abertos, porém vazios e as asas que antes o arremessaram a tantos lugares jazia encolhida sob o corpo em leve putrefação. As flores começavam a surgir na parte menos montanhosa da floresta, mas ainda sim a maior parte da floresta era um amontoado de branco gélido e marrom. As chuvas não tinham parado totalmente e apesar de todos os malditos casacos, Hanna sentia-se pronta para congelar. — Porque a floresta? — limpou um amontoado de lama das botas de serviço em um suspiro — Porque nunca em uma linda casa no centro? — Parece que ninguém vê graça em cadáveres apodrecendo em casas. MAGNUSAs folhas em putrefação formavam um grande tapete natural mostrando um caminho não cruzado por pés humanos havia tanto. Magnus sentia o odor de musgo, a umidade da terra deixava um cheiro tênue no ar e a vontade de correr pela floresta era tão grande.Mesmo distante era possível ouvir as vozes agudas sobre o mundo, o nome comum sendo proferido tantas vezes. Durante toda a busca, ninguém conseguiu ouvir sequer uma menção de esperança. Foram três dias completos de pesquisa onde grupos grandes se revezavam pela grande floresta gritando o nome comum.Magnus sentia os pés em leve dor pelo esforço da caminhada e vez ou outra, sentia a necessidade de sentar e descansar. Mas não tardou mais que um próximo dia para as buscas se tornarem mais escassas. As pessoas não se moviam como antes, o nome comum se tornava mais escasso à cada hora e a polícia menos pacientCAPÍTULO SEIS
SPENCERAs luzes ora azuladas ora avermelhadas deixava sua visão levemente confusa, como se o festival fosse uma tortura sem fim. O grande espetáculo estava prestes a começar. Era possível ouví-los cantando e batendo palmas, mas estava distante demais para entender.Tambores, fleches de celulares, vozes unidas a uma única canção, antiga demais para ser compreendida pelos mais novos, mas mesmo assim, com papéis em mãos, tentavam acompanhar.— Você sabe que língua é essa? — indagou observando o papel que havia ganho de uma senhora gentil — Nossa, parece de outro mundo. Olha só!Mas a letra da canção não era mais importante que a falta de dançarinos. A melodia era lenta apesar dos tambores serem anima
RITAHavia algo triste na forma com que seu corpo fora deixado a beira do lago. Talvez o tecido branco de sua camisola de verão que estava submerso deixando uma doce transparência passar por suas pernas e quadris, os mostrando tão ossudos e pálidos, como se o líquido rubro não fosse mais parte de si. Era uma figura tristonha pousando seu cansaço sobre um velho tronco grosso e putrefo, escuro pela liquefação. Talvez fosse o emaranhado de fios negros que cobriam parte de sua face vazia de expressões, talvez Rita visse tristeza em cada parte daquela cena.Dale retirara o corpo após uma análise minuciosa e parcial, captara cada evidência e se pudesse, teria pego também o tronco e toda a água do lago para analisar. Rita fizera toda a inspeção do lugar, analisara cada centímetro quadrado e mesmo assim ainda sentia como se esque