Após um divórcio doloroso, Cíntia se vê em busca de um recomeço. Morando sozinha na fazenda do ex-marido, ela luta para reconstruir sua vida enquanto enfrenta as cicatrizes de um relacionamento traiçoeiro. Quando Henrique, o ex-namorado de sua amiga Carol e um advogado talentoso, surge em Minas Gerais para ajudar em questões de partilha de bens, suas vidas se cruzam de maneira inesperada.
Ler mais— Cindy, estou precisando de uma arquiteta para auxiliar na decoração do novo escritório. — A voz de Henrique soou enquanto eu saía do banheiro, ainda enrolada no roupão. Já era manhã, mas o dia ainda começava devagar. A luz suave invadia o quarto pelas frestas da cortina, e o cheiro do café que Henrique havia pedido subia pelo ar. Eu precisava voltar para a fazenda; hoje era um dia importante para a reforma do casarão, com a chegada de materiais que eu precisava conferir. Ainda assim, a proposta dele ficou martelando na minha mente enquanto eu caminhava em direção à cama. Henrique já estava perfeitamente arrumado. Ele vestia uma camisa social azul clara, levemente ajustada, que destacava os ombros largos e a postura confiante. Era como se ele tivesse saído de uma daquelas capas de revista que eu sempre achava exageradas, mas nele fazia sentido. Ele parecia… natural. — O que foi? — perguntou, com um sorriso discreto nos lábios, percebendo meu olhar. — Nada — respondi, balançan
Quando voltei à cozinha, peguei o sal e mostrei para a Carol onde ele estava. Fernando estava ao seu lado, e lembrei que ele queria me dizer algo mais cedo na fazenda, mas eu estava tão exasperada com ele e com o Felipe discutindo sobre a reforma que não quis ouvir. — Era sobre a minha mãe que você queria me avisar, não era, Fernando? — Perguntei, tentando soar tranquila enquanto o olhava. Ele assentiu, a expressão dele mais séria. — Sim, Cindy. Eu queria te avisar que minha tia estava na cidade, mas não sabia que ela ia te procurar. Me desculpe por não ter falado antes. Eu respirei fundo, tentando processar o que ele estava dizendo. A culpa não era dele, mas me vi refletindo sobre como as coisas poderiam ter sido diferentes, talvez se eu tivesse dado mais atenção a ele. — Está tudo bem. Eu é que não quis te ouvir. Talvez, se eu tivesse prestado mais atenção, teria me preparado psicologicamente para esse reencontro. — Falei, mais para mim mesma do que para ele, enquanto tenta
Quando sai do quarto, já havia tomado banho. Estava vestida, arrumada e recomposta. Minha mãe havia aparecido e queria fazer parte da minha agora, era dificil, ainda mais por eu já ter aprendido a conviver sem ela. Era doloroso também, mas eu não podia me debulhar em lágrimas. Então tratei de sorrir e desci as escadas encontrando todos na cozinha, a Ana e o Felipe, a Carol e o Fernando e demorei apenas alguns segundos pra ver o Felipe conversando com o Henrique também. Meu coração quase sai pela boca. O Henrique estava ali. — Cíntia. — Ele disse, caminhando em minha direção. E, sem pensar, encurtei a distância entre nós, passando os braços ao redor de seu pescoço quando ele finalmente chegou perto.— Não consigo acreditar que você está aqui. Quando chegou? — Perguntei, minha voz refletindo uma mistura de surpresa e alívio. Ele sorriu e, com um movimento suave, passou os braços ao redor de minha cintura, me puxando para um abraço apertado.— Eu cheguei mais cedo em BH, estava resolve
Ver minha mãe ali era estranho. Eu aprendi a conviver sem eles. A escolha não havia sido minha.— Aconteceu alguma coisa com o meu pai? — Perguntei instintivamente, sentindo meu coração acelerar.Por um momento, a ideia de algo grave passou pela minha mente, mas rapidamente afastei esses pensamentos. Se algo tivesse acontecido, eu saberia. Minha tia Irene me contaria. Afinal, ela e minha mãe eram irmãs, e minha tia nunca apoiou o exílio emocional que meus pais me impuseram. Mas também, não tocava nesse assunto, ela sabia que era algo que me feria. Minha mãe balançou a cabeça devagar, os olhos dela brilhando com algo que parecia culpa misturada com saudade.— Não, seu pai está bem. — A voz dela era baixa, quase hesitante. — Eu só… precisava te ver.Eu me sentia dividida. Parte de mim queria sair dali, evitar esse confronto que eu nunca havia pedido. Outra parte queria respostas, ainda que eu não soubesse se estava pronta para ouvi-las.— Anos sem notícias, sem nenhum esforço para me p
Os dias foram passando, e como combinado, após entregar a obra do Gustavo e da Marina, começaria a trabalhar na fazenda, no casarão da família Belmonte. Fernando, Felipe e tia Irene estavam lá, todos com suas personalidades fortes, envolvidos na rotina da propriedade. A fazenda, com seu casarão imponente, já era um lugar de lembranças. As grandes janelas que iam do chão ao teto, a vista dos campos verdes, e a calma que reinava no ar, sempre me deram uma sensação de pertencimento.Apesar de crescer ali, agora, com a reforma em andamento para modernizar o ambiente sem perder a essência, algo parecia diferente. O casarão, que sempre teve aquele charme antigo, agora começava a ganhar uma nova cara. Algumas paredes, antes com madeira escura, agora estavam mais claras, os móveis mais contemporâneos, mas ainda mantendo o toque rústico da fazenda.Enquanto Fernando e Felipe se alternavam nas discussões sobre as melhorias e os ajustes na obra, tia Irene parecia gostar da ideia de modernizar se
O quarto estava meio escuro, mas a luz da manhã já começava a se esgueirar pelas frestas das cortinas. Henrique ainda estava ao meu lado no sofá, respirando devagar, como quem dorme profundamente. Em algum momento da noite, ele apagou, mas eu não consegui fechar os olhos. Não depois de tudo o que tinha rolado. Levantei devagar para não acordá-lo e fui até a janela. Afastei as cortinas só um pouco, o suficiente para enxergar o horizonte. O céu de Vegas estava mudando, as luzes piscantes da cidade dando espaço para aquele tom azul suave. O sol surgia, tímido, no meio da paisagem. Era raro essa cidade desacelerar, mas parecia que, naquele instante, o mundo tinha parado comigo. — Você devia ter me acordado — Henrique murmurou atrás de mim, a voz rouca e cheia de sono. Virei, meio surpresa, e o vi em pé, esfregando os olhos enquanto vinha até mim. Ele parou ao meu lado e ficou encarando o mesmo espetáculo que tinha me feito ir até a janela. — Achei que você precisava descansar. — Dei u
A noite caiu, mas Vegas parecia só ganhar mais vida. O grupo se reuniu na entrada do hotel, todos vestidos para aproveitar a última noite com estilo. Carmem usava um vestido dourado que brilhava tanto quanto as luzes da cidade, enquanto Ana optou por algo mais casual, mas igualmente vibrante. Henrique, como sempre, estava impecável, e seu sorriso tranquilo me fez sentir que a noite seria especial. — Então, qual o plano, pessoal? — Carol perguntou, animada. — Cassino! — Rogério anunciou, erguendo os braços como se fosse um mantra sagrado. — Depois, precisamos passar na placa do “Welcome to Las Vegas”. — Ana sugeriu, sacudindo o celular. — Precisamos de fotos pra lembrar disso tudo. — Isso se o Rogério não perder todo o dinheiro primeiro. — Felipe brincou, arrancando risadas de todos. Caminhamos até um dos cassinos mais movimentados da cidade, onde as luzes piscavam como se estivessem convidando cada pessoa a entrar. O som das máquinas de caça-níqueis, as risadas e o tilintar
Enquanto caminhávamos pela Strip, o grupo acabou se dividindo. Ana e Carmem desapareceram em uma loja de souvenirs lotada, enquanto Fernando e Carol ficaram discutindo sobre qual seria a melhor opção para o jantar e Felipe havia ido em alguma loja, ou cassino com o Rogério. Henrique e eu seguimos juntos, andando lado a lado, aproveitando o clima da cidade.Depois de nos separarmos do grupo, Henrique e eu decidimos explorar uma rua menos movimentada. A Strip ainda estava lotada, mas parecia mais tranquila sob a luz suave do final da tarde.— Achei que Rogério ia nos arrastar para outro cassino. — Brinquei, enquanto caminhávamos lado a lado.— Acho que meu pai está tentando ganhar de volta o que perdeu ontem. — Henrique respondeu, rindo. — Mas, para ser honesto, estou feliz que ficamos só nós dois.Eu o olhei por um momento, surpresa pela confissão. Ele sempre tinha um jeito contido, mas, ultimamente, parecia mais aberto comigo.— Eu também. — Confessei, sem desviar o olhar.Paramos em
Depois de nos vestirmos, descemos juntos para o restaurante do hotel. O buffet era tentador, com panquecas, frutas frescas, ovos mexidos e café quentinho. Preparamos nossos pratos e caminhamos até a mesa onde nossos amigos já estavam.O som de risadas e conversas animadas enchia o ambiente, e era impossível não se contagiar pela energia deles.— Finalmente! — Carol comentou com um sorriso acolhedor, acenando quando nos sentamos. — Dormiram bem?— Bem demais até. — Respondi, ajustando a xícara de café à minha frente. — Achei que acordaria péssima depois de ontem.— E quem não achou? — Carmem riu, balançando a cabeça. — Mas acho que é o charme de Vegas, né? Exageros são quase regra.— Só quase? — Rogério completou, com uma risada. — Ontem foi um festival, e acho que ninguém saiu ileso.— Ei, eu saí! — Ana protestou, erguendo a mão com uma expressão orgulhosa acariciando a barriga. — E o Henrique também. Estamos na lista dos sobreviventes.Henrique deu um sorriso discreto enquanto tomava