Me viro na cama ao som insistente do celular. Atendo sem olhar quem é.
— Alô? — Laura, desculpa te acordar. — A voz de Diogo ressoa do outro lado da linha. Meu cérebro ainda está despertando, mas algo no tom dele me faz sentar na cama, alerta. — O que aconteceu? — É a Helena… Você é psicóloga e nossa amiga. Eu preciso de você aqui. Estou vendo meu casamento desmoronar e não sei o que fazer. Minha mente ainda luta para processar as palavras. — Diogo, o que exatamente está acontecendo? — Vou viajar para a pecuária, e não quero deixar a Helena sozinha. A fazenda tem funcionários, claro, mas ela precisa de alguém próximo. Solto um suspiro, coço os olhos. Não faz sentido discutir pelo telefone. — Ok. Quando eu chegar, entendo melhor. — Obrigado, Laura. O silêncio se instala depois que a ligação é encerrada. Olho as horas no celular. 5h25. Muito cedo. Tento deitar novamente, mas o peso do pedido de Diogo não me deixa relaxar. Ele não é o tipo de pessoa que pede ajuda à toa. Levanto, tomo um banho rápido e visto uma roupa confortável. Sem saber quanto tempo ficarei lá, jogo várias peças na mala, junto com sapatos, produtos de higiene e maquiagem. Quando termino, já são 7h30. Pego o celular e mando uma mensagem para Nicolas avisando que passarei na sua empresa. Meia hora depois, estaciono e vejo Nicolas sair do carro ao mesmo tempo. Ele é bonito, loiro, alto, olhos escuros — o sonho de consumo de qualquer mulher. Mas definitivamente, não era o meu. — Laura, acabei de ver sua mensagem. — Ele enfia as mãos nos bolsos, recostando-se no carro. Nenhuma intenção de um abraço, um beijo. — Só passei para avisar que estou indo para Minas. Não sei quando volto. Ele me observa por um instante, pensativo. — Você não precisava ter vindo só para isso. — Eu sei… — Laura, esse tempo longe vai ser bom para a gente. Franzo a testa. — Hã? — Acho que você está confundindo as coisas. O que temos é legal, mas você está se apegando. Fico séria por um segundo antes de soltar uma risada curta. — Nicolas, eu não estou me apegando. Só quis avisar porque achei necessário. Mas se você quer terminar por causa da sua paranoia… — Dou de ombros. Ele continua impassível. — Bom, pelo visto já decidiu. Entro no carro e saio dali sem olhar para trás. A estrada se estendia à minha frente, cortando o verde intenso das fazendas e das montanhas ao fundo. O céu nublado parecia refletir a névoa dos meus próprios pensamentos. Dirigir por horas a fio me dava uma sensação estranha de liberdade e isolamento ao mesmo tempo. Talvez fosse essa a minha essência: livre demais para pertencer a alguém, distante demais para ser verdadeiramente alcançada. Nicolas. Pensei nele por um instante e ri sozinha. De onde ele tirou essa ideia de que eu estava me apegando? Homens são engraçados. Passam a vida fugindo de sentimentos, com medo de serem capturados, mas são os primeiros a levantar uma barreira imaginária contra algo que nem sequer existe. Eu e Nicolas? Aquilo nunca foi nada além de sexo, uma distração conveniente. Ele era bonito, gostoso, sabia o que fazia na cama e, acima de tudo, não exigia nada além disso. Era uma troca simples, sem demandas, sem expectativas, sem o peso emocional que arrasta tantas pessoas para a ruína. Mas agora ele decidiu acabar com tudo porque supostamente eu estava me apegando. Como se isso fosse possível. Como se eu, Laura, estivesse suscetível a essa farsa chamada amor. Amor… Suspirei, apertando o volante entre os dedos. Se eu tivesse que definir o amor, diria que ele é um truque sujo da mente. Uma ilusão criada por um cérebro desesperado por conexão, por propósito. Uma muleta emocional para os fracos. Sempre vi pessoas ao meu redor se destruindo por esse sentimento – ou pela falta dele. Minha mãe, por exemplo, passou anos sendo a esposa perfeita, acreditando que tinha um casamento sólido, até meu pai decidir que preferia homens. Foi um escândalo, uma tragédia familiar, e no fim, ela ficou com as sobras emocionais de algo que nunca foi real. Eu aprendi muito com isso. O destino. Outra piada sem graça. As pessoas adoram dizer que as coisas acontecem por um motivo, que tudo está escrito. Que patético. Se tudo estivesse escrito, por que gastaríamos anos estudando, trabalhando, tentando moldar o nosso próprio caminho? Quem acredita que um único ser humano foi feito exclusivamente para si não passa de um egoísta em busca de um conto de fadas para justificar suas próprias decisões erradas. E então havia Helena. Minha prima. Helena, que largou tudo para viver uma história de amor. Passei os últimos anos sem manter muito contato com ela. Apenas visitas ocasionais. Nossa infância foi marcada por cumplicidade, segredos compartilhados e risadas intermináveis, mas crescemos. Ela decidiu seguir um caminho que eu jamais seguiria. Amor, casamento, fazenda, família. Um roteiro previsível que tantas mulheres aceitam sem questionar. E agora, depois de quatro anos, algo estava errado. O próprio Diogo me ligou às cinco da manhã pedindo ajuda. O que aconteceu com o conto de fadas dela? Paro o carro em frente ao enorme casarão da Fazenda Bela Vista e saio, sentindo o ar pesado de chuva prestes a cair. A paisagem continua bonita, como sempre, mas tudo parece diferente. Talvez fosse apenas um pressentimento. Ou talvez fosse mais uma prova de que, no final das contas, o amor nunca vence. Desliguei o motor e saí do carro, os saltos afundando levemente no chão de terra batida. Nunca entendi como Helena se acostumou a viver aqui. A cidade sempre me pareceu um lugar mais lógico, mais coerente com a vida moderna. Mas para ela, essa fazenda era um sonho. O cenário perfeito para sua história de amor. Quando cheguei à varanda, a porta da frente se abriu, e uma funcionária que eu reconheci de outras visitas apareceu. Uma mulher robusta, de avental e cabelos presos em um coque apertado. — Dona Laura, que surpresa! — Ela limpou as mãos no avental e me lançou um olhar curioso. — Oi, Rosa. A Helena está? Ela balançou a cabeça. — Ela foi no povoado, mas deve estar a caminho. O patrão também saiu cedo para a transportadora. Só estamos nós por aqui. - Oh, certo. - Falo observando o movimento da fazenda, os funcionários, a hípica, trabalhadores no cafezal que ficava na propriedade. A fazenda estava viva com sua rotina de sempre. Funcionários iam e vinham, alguns lidando com os cavalos na hípica, outros concentrados no cafezal ao longe, onde o trabalho nunca parava. O sol já começava a descer no horizonte, lançando sombras compridas sobre o terreiro. — Quer que eu prepare um café? — Rosa perguntou, puxando minha atenção de volta. — Não precisa, obrigada. Acho que só vou esperar por aqui. Ajeitei a bolsa no ombro e caminhei um pouco pela varanda, observando tudo ao redor. Havia algo quase reconfortante naquela movimentação—diferente da agitação da cidade, era um ritmo próprio, constante, como se cada pessoa ali soubesse exatamente seu papel. Aproximei-me do parapeito e apoiei as mãos na madeira lisa. Um dos funcionários guiava um cavalo castanho pelo cercado, e mais adiante, um grupo de trabalhadores conversava perto dos galpões. — A senhora quer entrar? Virei-me para Rosa, que continuava na porta, esperando. Ela era sempre muito gentil e simpática, muito agradável. — Pare de me chamar de dona e de senhora, Rosa. - Reclamo e ela sorri. - Apenas Laura, okay? E sim, vou entrar. Ela abriu espaço para que eu passasse, e entrei no casarão com passos tranquilos, sentindo o cheiro familiar da madeira e do café fresco. A casa parecia a mesma de sempre—impecável, acolhedora, com o som distante de alguma rádio tocando na cozinha. Tirei os óculos de sol e os deixei sobre a mesa de centro antes de me sentar. Agora era só esperar Helena chegar. Fiquei ali por alguns minutos, observando a decoração da sala, que misturava móveis rústicos de madeira com peças modernas. A casa era imponente, mas aconchegante, carregando um pouco da personalidade de Helena—e, claro, o toque impecável de quem administrava tudo aquilo. O barulho de um carro parando do lado de fora me tirou dos pensamentos. Levantei-me no instante em que ouvi passos na varanda, seguidos pelo som da porta se abrindo. Helena entrou. E, como sempre, estava impecável. Seus cabelos escuros e lisos estavam soltos, caindo suavemente sobre os ombros. Os óculos escuros davam um ar sofisticado ao rosto de traços bem definidos. Vestia um macacão bege de linho, elegante e minimalista, com sandálias discretas e uma bolsa pequena pendurada no antebraço. Se eu não a conhecesse bem, diria que nada poderia abalar sua postura impecável. Assim que me viu, um leve espanto cruzou seu olhar antes de ser rapidamente substituído por um sorriso caloroso. — Laura! — Ela tirou os óculos e veio na minha direção. — Oi, Helena. — Sorri também, recebendo o abraço apertado que ela me deu. — O que faz aqui? — Ela perguntou, se afastando um pouco para me olhar melhor. — Diogo me ligou de manhã e pediu que eu viesse. Disse que você precisava de uma amiga. O sorriso dela vacilou por um instante, mas logo se recompôs. — Ele sempre exagera… — murmurou, balançando a cabeça. Depois suspirou, um pouco mais sincera. — Mas fico feliz que tenha vindo. — Achei que estava na hora de aparecer. Helena me observou por um momento, inclinando a cabeça de leve. — E como você está? — Eu? Ótima. — Dei de ombros. — Mas e você? Você parece… cansada. Ela soltou um riso curto, passando a mão pelo cabelo. — Bem, a vida na fazenda pode ser exaustiva às vezes. — Não me engana, Helena. — Cruzei os braços, encarando-a com atenção. — O que está acontecendo? Ela hesitou por um momento antes de dar um meio sorriso. — Vamos conversar direito mais tarde. Agora, me deixa aproveitar um pouco a sua companhia antes de estragar o clima com os meus problemas. Assenti, respeitando o tempo dela. — Justo. Como foi no povoado? — Agitado, como sempre. Fui resolver umas coisas na cooperativa e acabei passando na confeitaria. — Ah, aquele lugar ainda existe? — Existe. E continua com os melhores biscoitos amanteigados da região. Sorri com a lembrança. — Bom saber que algumas coisas não mudam.Helena e eu decidimos ir conversar na varanda e aproveitar um pouco do ar fresco.Ela me falava sobre sua rotina na fazenda quando o som de um carro se aproximando chamou nossa atenção. O motor desligou, e em poucos segundos a porta do veículo se abriu. Diogo foi o primeiro a sair, ajeitando a aba do chapéu enquanto subia os degraus da varanda com a postura rígida de sempre. O olhar atento percorreu a cena diante dele antes de se fixar em mim. — Olha só quem resolveu aparecer — comentou, e sorriu - estou feliz que tenha vindo, Laura. A Lena sempre comenta o quanto sente sua falta.Antes que eu pudesse responder, a outra porta se abriu.E então eu o vi.O homem que desceu do carro tinha uma presença marcante, algo difícil de ignorar. Era alto, de ombros largos e porte elegante, mas sem a rigidez do irmão. Sua expressão trazia um ar de confiança descontraída, como alguém acostumado a ser notado sem fazer esforço.O cabelo escuro, ligeiramente bagunçado, dava a impressão de que ele n
Queridas, vocês me fizeram algumas perguntas e estou aqui para responder. Primeiro, estou esperando o contrato do livro, mas demora de 15 a 20 dias pra eles me enviarem, então eu estou aguardando e não pretendo ficar publicando por aqui mesmo, é apenas para vocês irem conhecendo a história. Segundo, o nome do livro: Contrato de Amor com o Fazendeiro. Segue a sinopse. Espero que gostem. Contrato de Amor com o Fazendeiro Laura é uma psicóloga renomada, inteligente e determinada, mas com uma visão peculiar sobre o amor: para ela, não passa de uma ilusão, uma necessidade emocional que pode ser explicada – e até diagnosticada – como uma falha psicológica. Após anos analisando os sentimentos alheios, ela tem certeza de que nunca será vítima dessa “doença”. Mas tudo muda quando ela aceita passar uma temporada na fazenda da prima e conhece Bernardo, um fazendeiro charmoso e provocador, que parece gostar de testar seus limites. Com um sorriso fácil e um olhar que a desconcerta mais do que
Olá, queridas. Estou publicando aqui mais um capítulo do próximo livro pq já pedi a conclusão deste aqui e acredito que o novo contrato chegará em alguns dias. Obrigada por tudo, espero vocês no próximo livro.O tempo passou sem que eu percebesse. Depois de um banho revigorante e um tempo para me organizar, desci para o jantar, sentindo o aroma reconfortante da comida caseira se espalhando pela casa.A mesa estava posta na sala de jantar, e Helena conversava animadamente com Diogo sobre algum problema na fazenda. Bernardo, ao lado do irmão, participava ocasionalmente da conversa, mas parecia mais interessado na comida do que em qualquer outra coisa.— Você vai gostar do ritmo daqui, Laura. O Rio de Janeiro é muito barulhento — Helena comentou, lançando-me um olhar cúmplice.Dei de ombros, tentando manter a neutralidade.— Ainda estou me acostumando. Mas é um lugar agradável.— Não é a sua primeira vez aqui, Laura, mas acredito que será a primeira vez que passará mais do que um fim de
PrólogoA luz da manhã entrava pela janela, mas eu não conseguia sentir seu calor. Sentada na cama desfeita, o silêncio da casa parecia ecoar as palavras que eu não conseguia pronunciar. O coração ainda pulsava acelerado, e a imagem dele, a expressão de desespero e culpa, se repetia em minha mente.“Cíntia, eu nunca quis que você soubesse assim.” As palavras soavam como uma lâmina, cortando o que restava da confiança que construímos ao longo dos anos. A traição não era apenas um ato; era um golpe na alma, uma reviravolta que eu nunca poderia ter imaginado.Levantei-me e fui até a janela, observando a fazenda que agora era tudo o que eu tinha. A terra que um dia parecia um lar agora era um campo de batalha entre o que fui e o que precisava me tornar. Eu fui a esposa obediente e boazinha, mas isso não tinha me levado a lugar nenhum.Lembrei-me das promessas feitas, das risadas compartilhadas. A lembrança do meu ex-marido me enchia de raiva. Por muitas vezes, me questionei onde eu havia
A cidade de Belo Horizonte parecia mais caótica do que nunca naquela manhã. Eu dirigia, tentando ignorar os pensamentos que me atormentavam, quando um carro preto surgiu do nada, fechando meu caminho. — Que idiota! — gritei, o coração acelerado pela raiva. Olhei para o motorista, um homem com expressão confusa, e não pude deixar de me sentir insultada. A última coisa que eu precisava era de mais um estresse. Ele não me viu, mas o olhar que lancei em sua direção foi suficiente para saber que aquele cara não tinha ideia do que estava fazendo. Dirigi em frente, segurando o volante com força, tentando acalmar a tempestade dentro de mim. Um segundo depois, avistei um estacionamento e parei lá. Ao estacionar, respirei fundo e saí do carro. O ateliê da Carol estava logo à frente, e a ideia de vê-la me deixou animada. Ela também mencionara que o advogado que poderia me auxiliar na partilha dos bens chegaria hoje. Era hora de esquecer a raiva por alguns minutos. Empurrei a porta do ate
HenriqueA viagem para Belo Horizonte não era algo que eu esperava fazer tão cedo. Receber o convite da Carol para ajudar uma amiga sua foi uma surpresa, mas recusar? Isso não estava em meus planos. Eu devia isso a ela. Ao mesmo tempo, havia uma inquietação que eu não podia negar, um nó no estômago que me acompanhava desde que recebi a mensagem.Carol e eu tínhamos terminado há muito tempo, mas estar na mesma cidade que ela, sabendo que ela tinha seguido em frente, era algo que eu ainda precisava processar. Afinal, nem sempre um término é tão simples. Ainda mais quando nem houve um relacionamento de fato. Não era o que ela queria; mais tarde eu percebi que ela gostava do Fernando, e essa revelação ainda doía, mesmo que eu tentasse ignorar.Quando ela me pediu ajuda com questões legais, minha primeira reação foi hesitar. Aquelas antigas emoções ainda persistiam, como sombras que eu pensava ter deixado para trás. Talvez orgulho, ou apenas o incômodo de saber que ela estava bem e seguind
Sinto minha cabeça latejar e mal posso acreditar que isso esteja acontecendo comigo. — Saia daqui agora! — falo, tentando manter a compostura, embora minhas mãos estejam tremendo de forma incontrolável. Olho para a mulher à minha frente que exibe um sorriso cínico no rosto, mas sabia que a única coisa que ela estava fazendo era tentar me desestabilizar. Ela sabia exatamente onde atacar. — Cíntia, é egoísmo da sua parte querer ficar com uma propriedade deste tamanho quando o Alonso e eu só queremos construir nossa família juntos. E é claro que esse é o lugar mais adequado para isso. — Júlia olha ao redor, como se já pudesse visualizar tudo. — Já até imagino os filhos que teremos, frutos de muito amor, correndo por essa sala gigantesca. Meu coração parece apertar no peito. Não sabia como Júlia havia conseguido entrar dentro da propriedade, mas também não era tão difícil. Eu não possuía um sistema de proteção com seguranças como a fazenda Belmonte, mas sabia que precisaria da ajuda
— Quer conversar sobre o que aconteceu? — Henrique perguntou, sua voz calma, quase cuidadosa, como se temesse ultrapassar um limite invisível. Minhas mãos se apertaram involuntariamente no volante, e pela primeira vez me perguntei: Será que posso confiar nele? Havia algo em seu tom que soava genuíno, mas, depois de tudo o que passei, confiança era algo que eu já não distribuía tão facilmente. Eu sabia muito pouco sobre ele. Ele era apenas alguém de confiança da Carol, o que deveria ser o suficiente. Deveria. No entanto, havia algo nele, algo que me deixava intrigada. Talvez fosse o jeito como ele mantinha a calma diante de todo o caos da minha vida, ou o fato de que, mesmo sendo meu advogado, ele parecia enxergar além das questões legais. Mesmo assim, eu tentava lembrar a mim mesma: ele está aqui apenas para me ajudar, Cíntia. Só para isso. Mas, no fundo, sentia que era mais do que isso. — A Júlia é a mulher com quem o Alonso me traiu, eles vivem uma relação pública desde então… — s