Nico de Ellefen é um rapaz humilde do reino de Ertiron que nunca conheceu suas origens, grande e forte, é um verdadeiro lutador da Arena do Lustre de Ferro, embora não tenha se tornado tão bem sucedido quanto esperava no início. Millena Leviance compartilha não conhecer suas raízes, mas cresceu em um ambiente completamente oposto: no reino de Wendevel, que não só abriga imensas fortunas, como também conhecimentos que nenhuma outra civilização possui, o Nono Pilar é sua casa desde que consegue lembrar. Ambos entram em uma jornada perigosa e inesperada, onde podem descobrir a estranha ligação que parece existir entre eles, enquanto uma guerra se forma por revanchismo e ganância entre os reinos mais poderosos do continente. No meio disso tudo, terão de lidar com o passado que os assombra como fantasmas e perseguições das quais não veem escapatória, o Lobo de Dirt’alrus surge nessa história épica cheia de reviravoltas para causar ainda mais tragédias, uma maldição que precisa ser aniquilada.
Ler maisCaro leitor que descobriu essa história e misteriosamente se interessou, obrigado. Esse livro é a soma de muita dedicação, paciência e, sobretudo, revisão. Tanta revisão que uma versão definitiva parece muito distante de ser alcançada, mas todo trabalho termina e esse não pode ser diferente. Se você gostou do que leu ou está começando a apreciar os primeiros capítulos, eu realmente agradeço e trago boas notícias: mais duas partes desse livro aguardam bravos leitores para navegarem em suas palavras. A Maldição de Dirt'alrus já tem começo, meio e fim, só exige tempo para ser trabalhada.
Millena gritou de novo antes de cair, vários gritinhos seguiram o seu, vindos de dentro da porta metálica que ela não sabia que existia até o momento.— O que seria isso?— “O que seria?” — caçoou a voz. — Isso é. Estamos presos, garota. Se não tem peito para abrir essa porta, dê logo as chaves aqui!— Ah, Nico... — alguém suspirou lá dentro. — Saia daí, você não...— Vocês são ladrões — Millena se ergueu, recolhendo as chaves. — Vou devolver esse molho assim que encontrar as autoridades.Ao menos esperava que houvesse autoridades naquela cidade.— Que molho o quê? Está com fome? Passa as chaves, doida.— Não me chame de doida — ela começava a transferir sua raiva para ele.— Nico, saia daí.A mão sumiu abertura adentro e uma confusão de vozes se iniciou. O peito de Millena ardeu ao perceber que os seus perseguidores se aproximavam não só por um, mas pelos dois lados do beco.— Fique quieta, docinho — um deles sorria, os cabelos como uma nuvem negra de algodão. — Ou faremos você gritar
Atravessaram Thur Iniestre cedo pela manhã, deixando para trás as terras de Wendevel. Bervis conseguiu dar o impulso necessário com suas pernas e sobrevoaram tranquilos a paisagem à frente quando o vento soprou receptivo à presença deles no céu. Às suas costas, o Longo Rio das Raças se tornava apenas uma linha prateada de um horizonte ao outro, uma serpente imensa alimentando vidas por milhares de quilômetros. Adiante, os contornos sombrios da Floresta Áverimr se solidificavam no terreno ondulado, expressando a força que seus domínios possuía, indagava terna e silenciosa se teriam coragem de se aproximar das suas copas, erguidas por troncos imponentes, alimentadas por raízes profundas. Ainda mais distantes, as Montanhas Farynan exibiam suas primeiras silhuetas, acenos indiferentes sinalizando que entravam em terras novas. Terras que talvez não os quisessem.Até o anoitecer do dia seguinte, contornaram a Floresta Áverimr e ultrapassaram a larga passagem entre ela e as montanhas, passand
O ackaminoum não se encontrava no mesmo local. Millena olhou para cima, touros alados sobrevoavam baixo a cidade, mas nenhum deles era marrom como o seu amigo. Seu assobio agudo fez eco por Werimiton, tinha esperança de que ele escutasse, porém nenhum ruflar veio ao seu chamado. Viu-se obrigada a segurar as lágrimas, não podia se jogar sobre joelhos e esmurrar a areia como queria, precisava resolver o problema.— Lá — disse o taverneiro.O olhar de Millena seguiu para onde ele apontava. Centenas de metros à frente, uma confusão se iniciava. Pessoas corriam e gritavam ao mesmo tempo em que asas imensas derrubavam caixas e carroças, assustando cavalos que partiam em galope pelas ruas laterais, causando mais alvoroço. Bervis pulava e fazia círculos, tentando escapar de seu raptor, que era ocultado na poeira que subia. A ackamitzarin assobiou de novo e correu em direção à ele.Esbarrando em pessoas e tropeçando em destroços de madeira, ela chegou àquela cortina que obscurecia a luz do sol.
— Acorde e diga quem é — uma voz baixa a puxou dos seus sonhos, tão mansa que soube que não foi o único modo de despertá-la. Viu que estava certa ao sentir sua cabeça sobre uma pedra e não mais Bervis.Uma lanterna a óleo era posta diante do seu rosto, dificultando a identificação da figura de quem a chamava. A ackamitzarin se sentou, sua mão buscando a espada de forma tola. A silhueta de Bervis surgiu de pé a uma curta distância, observando a situação. Acalmou-se, sabia que ele agiria se fosse atacada.O ar gélido da madrugada a fez se encolher e se envolver nos seus braços, o pensamento de estar indefesa tentou dominá-la, mas ela o expulsou. Ignorou seus batimentos ao se lembrar de Nerissia, Argus e Sirius. Teria que manter o foco na atual situação, sobreviver ao presente. A lanterna se afastou e ela discerniu um garoto de treze anos.— Diga quem é você antes que seja tarde — ordenou, sem alterar o tom.— Meu nome é Scarlia — disse Millena, aceitando que esse seria seu novo nome enqu
A noção de loucura em atacar os guardas de Syafer se tornou em excitação quando o duelo mostrou sua face mais desafiadora: três contra um, exigindo triplicar sua atenção no que antes se acostumara a ter um único oponente. O primeiro foi surpreendido com o peso do seu golpe, segurando o cabo de forma displicente, por pouco a arma não escapou de suas mãos. Ao tentar retomar o controle, já era tarde, Millena atacou pela segunda vez, desarmando-o e botando-o para dormir ao acertar sua cabeça com a parte plana da espada.Os outros dois adversários não foram cavalheiros, nem ela terminava de abater aquele que a subestimara, atacavam com sangue nos olhos. Sua cabeça teria sido cortada ou seu peito, perfurado, se não se esquivasse do da direita e rolasse pelo chão durante a estocada do que vinha pela esquerda. Este permaneceu investindo com ânimo e dedicação crescente, como se derrotar uma garota fosse seu maior sonho de espadachim. Seu companheiro esperava sempre o momento certo para experime
O cinza pintava a manhã com dedos mornos, a claridade invadia o refeitório pelas grandes janelas de vidro do Nono Pilar. As mesas se enchiam aos poucos de funcionários do palácio: Mestres e aprendizes, Senhores dos Livros e pesquisadores, mas não só eles; havia também os que se entregavam às funções mais simples, desde enumerar ou separar livros, como Millena, e quem era contratado para carregar incontáveis volumes que um leitor ávido, ou um pesquisador, fosse buscar. As vozes brandas, risos quietos e o som dos talheres davam início ao desjejum. As engrenagens voltavam a girar, o mundo funcionava novamente, ela adorava apreciar esse despertar todas as manhãs.Serviu-se como de costume. Não obstante os ovos estivessem demasiados oleosos e os nognoas passados do ponto, era uma refeição da qual poderia repetir. Sua mente aos poucos levava a imagem aterrorizante do seu sonho para longe, sumia da luz das suas ideias, como se batesse as asas para espantar o machado em formato de morcego. Com
Ocorreram as conversas mais importantes desde a chegada dos novatos, que permitiram conhecer mais dos indivíduos que ali viviam. Segundo o que diziam, vinham de lugares diversos e eram esses lugares que sabiam em que não estavam presos, pois o transporte levara dias. Nico percebeu que foi o único a dormir durante esse processo. Eram todos trabalhadores: ferreiros, açougueiros, carregadores, construtores, todo tipo de serviço que exigia um tipo elevado de força. Exceto Tadeus.— Eu era um Mestre da área da matemática — dizia ele, para o riso de alguns. — Uma noite eu dormi com a mulher do homem que eu gerenciava a fortuna e acordei a caminho desse buraco. Dois meses se passaram desde então, eles não compensaram minha leviana aventura.Vários duvidaram da capacidade dele. Victorstic deu outro depoimento após diversos prisioneiros.— Eu trabalhava em uma mina de ouro desativada em Ristivia, uma das que Wendevel levou tudo. Procurava sem descanso para melhorar a vida da minha família e aju
Sussurros circulavam ao redor, mas eram ingredientes pequenos demais em uma sopa cheia de quietude. Demorou para perceber que estava acordado, então ele sentiu. A tontura, deitado em um chão duro que parecia balançar. O gosto amargo, tomando o seu paladar e se unindo à sede que arranhava a garganta. Estava sedento como um animal de rua que não encontrava água há dias. O odor de esgoto o fazia querer vomitar as suas entranhas. Decidiu se levantar e o fez rápido demais, sua cabeça encontrou uma superfície sólida. Tateou no escuro e se descobriu confinado em um espaço cúbico, como uma grande caixa de madeira.— Endrick — gritou.Nenhuma resposta veio. Sua enxaqueca o fez cair de bunda. Onde ele estava? Após instantes refletindo no ocioso silêncio, esmurrou seu cubículo, mais por raiva do que na intenção de se libertar, desvendando o que teria de enfrentar por seus atos. Abriu um espaço entre as tábuas de madeira e saiu, apenas para se ver em uma cela. Correu e agarrou as barras de ferro,