O caminho de volta para casa foi silencioso, apenas o som da respiração tranquila dos bebês preenchia o carro. Erin manteve os olhos fixos na estrada, mas seu coração estava inquieto. Isla, sentada ao seu lado, mantinha uma das mãos sobre a dela, um gesto simples, mas que transmitia todo o apoio de que Erin precisava.
Quando finalmente chegaram à alcatéia, o sol já havia começado a se pôr, banhando tudo em tons dourados. Assim que a porta da casa se abriu, a emoção no rosto de sua mãe foi imediata. Os olhos marejaram, e um soluço escapou de seus lábios antes que ela pudesse conter a emoção. — Me perdoe, Erin — a voz dela era embargada. — Eu não estive ao seu lado quando você mais precisou... Erin engoliu em seco. Parte dela queria lembrar a mãe de todas as vezes que se sentiu sozinha, mas agora, olhando nos olhos dela, viu apenas arrependimento e amor. E isso bastava. — Você estará em todos os próximos momentos — Erin respondeu suavemente, puxando-a para um abraço apertado. A casa da matilha estava repleta de sorrisos e olhares encantados. Os ômegas que trabalhavam ali se reuniram para ver os bebês, soltando exclamações sobre o quão adoráveis eram Luke e Lucy. Erin sorriu de leve, mas o cansaço a puxava para longe daquela cena calorosa. — Precisamos descansar — disse, segurando os bebês com firmeza. Isla assentiu, e juntas subiram para o quarto. Lá, Erin deitou os gêmeos no berço duplo e passou um longo tempo apenas observando-os respirar. Seu coração doía e se aquecia ao mesmo tempo. Eles eram pequenos demais para entender tudo o que acontecia ao redor, mas mesmo assim pareciam tão fortes. — Eu vou protegê-los — sussurrou, antes de finalmente se permitir deitar ao lado de Isla, que já tinha caído no sono. --- Enquanto isso, do outro lado do território, Lucian afundava-se em um copo de whisky. Seu escritório estava escuro, iluminado apenas pela luz fraca de uma lâmpada e pelo brilho âmbar do álcool girando no copo. Ele não queria ver ninguém. Não queria falar. Só queria afogar o peso esmagador que apertava seu peito. Mas sua solidão foi interrompida quando a porta se abriu abruptamente. — Eu disse que não queria ser incomodado! — rosnou, sem olhar para os invasores. — E nós decidimos ignorar isso — respondeu seu beta, cruzando os braços. Ao lado dele, o gama também entrou, fechando a porta atrás de si. Ambos o encaravam com preocupação e um toque de incredulidade. Lucian suspirou e passou a mão pelos cabelos. — Ela estava aqui — ele murmurou. Os dois trocaram olhares confusos. — Quem? Lucian ergueu os olhos vermelhos de emoção. — Erin. O beta e o gama ficaram em silêncio, absorvendo a informação. — Como você tem certeza? — perguntou o gama, hesitante. — Eu apenas sei — Lucian respondeu, a voz carregada de convicção. Ele então soltou um riso amargo. — Eu não toquei em outra mulher há mais de um ano. E ela… ela deu à luz. Os dois ficaram imóveis. — O quê? — o beta perguntou, chocado. — Dois bebês — continuou Lucian, sua voz falhando um pouco. — Um menino… Luke. E uma menina… Lucy. Seu beta arregalou os olhos. — Lucy? Como a sua mãe? Lucian congelou. Ele não tinha parado para pensar nisso. O nome da sua filha… Ele se apoiou na mesa, fechando os olhos com força. — Ela… ela colocou o nome da minha filha de Lucy… O silêncio que se seguiu foi pesado. — Isso significa que ela ainda pensa em você — o gama disse calmamente. Lucian deixou escapar um suspiro trêmulo. — Mas onde eles estão? Meus filhos… eles estão por aí, longe de mim. E essa era a pior parte. Ele tinha uma família. Mas não estava ao lado dela. E isso o destruía um pouco mais a cada dia.Seis meses haviam se passado desde o nascimento de Luke e Lucy, e a vida de Erin havia mudado completamente. Seus dias eram uma mistura de mamadeiras, fraldas, treinamentos e estudos. Ela sabia que viver entre lobos significava estar sempre alerta, e, como mãe, a prioridade máxima era proteger seus filhos.Seus treinamentos eram intensos. Ela aprimorava suas habilidades de combate, fortalecia seu vínculo com sua loba e aprendia mais sobre a política entre as matilhas. No entanto, por mais ocupada que estivesse, sua mente, de vez em quando, a traía.Lucian.O nome dele ecoava em sua mente nos momentos mais silenciosos da noite, quando os bebês finalmente dormiam e ela se permitia deitar, exausta. Será que ele pensava nela? Será que imaginava reencontrá-la algum dia? Será que ele sentia a falta deles do mesmo jeito que ela sentia?Sua loba, sempre atenta às suas emoções, decidiu se manifestar."A Deusa da Lua tem seus planos, Erin. No momento certo, ela trará nosso companheiro de volta
A Alcatéia do Rio Sombrio sempre foi pequena, mas resistente. Localizada em uma região isolada, era o lar de lobos que preferiam a tranquilidade ao caos político das grandes alcatéias. No entanto, a paz havia sido perturbada por ataques de renegados misteriosos. Alina e seu companheiro, o beta Rylan, haviam passado uma semana investigando, patrulhando dia e noite ao lado do alfa local, Darius, e seus guerreiros. Nenhum sinal dos invasores… até o último dia. O vento cortava a mata escura, farfalhando as folhas. Alina caminhava ao lado de Rylan, sentindo o cheiro úmido da floresta após a chuva da tarde. — Acho que voltaremos para o palácio sem respostas — comentou Alina, seu tom carregado de frustração. Rylan suspirou. — Se os renegados quiserem atacar, eles fazem isso de forma imprevisível. Pode ser que só estejamos um passo atrás deles. Alina assentiu, mas sua loba estava inquieta. Foi então que um estalo ecoou na floresta. Rylan parou de imediato, os olhos dourados br
A lua cheia pairava sobre a Alcatéia do Rio Sombrio quando Lucian e Caden chegaram com um grupo de guerreiros. A viagem foi silenciosa, pesada. Todos sabiam que não estavam apenas ali para exterminar renegados, mas para trazer Alina de volta para casa—mesmo que apenas seu corpo.O cheiro de sangue impregnava o ar. Corpos de renegados estavam espalhados pelo campo de batalha, suas carcaças dilaceradas sem piedade. Não havia sobreviventes.Lucian olhou para o caos ao redor, os olhos brilhando em fúria. Ele não precisou perguntar o que aconteceu.Rylan estava de pé no centro do massacre, coberto de sangue, a respiração pesada. Seus olhos, antes vivos, agora estavam vazios.Caden foi o primeiro a se aproximar, colocando a mão no ombro do beta.— Rylan…O lobo apenas fechou os olhos e soltou um suspiro trêmulo.— Eles se foram. Todos eles.— Você… os matou sozinho? — Lucian perguntou, cruzando os braços.Rylan assentiu lentamente.— Eles não mereciam viver.Nenhum dos guerreiros questionou
O sol matinal lançava raios dourados sobre a casa principal da Alcatéia da Lua Escarlate quando Helena abriu seu e-mail e seus olhos pousaram no convite oficial para o Baile dos Companheiros. O evento anual que tantas jovens lobas esperavam havia sido cancelado no ano anterior devido ao luto da matilha real, mas agora, depois de um período difícil, ele voltaria a acontecer.Seu coração acelerou. Sem hesitar, confirmou a presença da família e fechou o laptop.Respirando fundo, ela sorriu ao pensar na reação de suas filhas.Saindo apressada da sala, Helena percorreu a casa em busca das meninas, até encontrá-las no jardim. Erin estava sentada na grama brincando com Luke e Lucy, enquanto suas irmãs, Celeste e Isla, observavam, trocando risadas.— Meninas! — Helena chamou, sua voz carregada de emoção.Elas se viraram de imediato, notando o brilho nos olhos da mãe.— O que foi, mãe? — Celeste perguntou, curiosa.Sem dizer nada, Helena levantou o tablet e mostrou a tela.— Este ano, o Baile
Erin / SelenaO sol mal havia tocado a janela do meu quarto quando os primeiros resmungos de Luke me despertaram. Sorri. Dois anos. Meus pequenos estavam completando dois anos hoje, e parecia que foi ontem que os segurei pela primeira vez nos braços, sem saber o que fazer, sem saber se conseguiria... mas aqui estávamos nós.Levantei e peguei Luke no colo, beijando sua bochecha quente e bagunçando seu cabelo escuro. Logo depois, Lucy também acordou, e com aquele jeitinho doce e esperto, estendeu os bracinhos pedindo colo. Nossa rotina matinal começou com mamadeiras, trocas de fraldas, roupinhas limpas e brinquedos espalhados. Eu fazia tudo isso com o coração cheio. Era exaustivo, sim. Mas era nosso.Assim que consegui deixar os dois felizes brincando com seus bichinhos, desci até a cozinha onde minha mãe, Helena, já preparava o café da manhã. A mesa estava posta, e o cheiro de pão assado e chá de hortelã preenchia o ar. Sentei-me ao seu lado com um suspiro de alívio.— Hoje... além do
O salão estava impecável. As enormes portas douradas se abriram, e fomos conduzidas para dentro por um dos organizadores do baile. Lustres majestosos iluminavam o espaço, enquanto uma orquestra tocava uma melodia suave e elegante. Cada detalhe da decoração exalava sofisticação — flores brancas e douradas enfeitavam as mesas, e um tapete aveludado percorria o centro do salão até o trono real, onde em breve o rei alfa faria sua entrada.Ao nosso lado, Isla soltou um assobio baixo.— Isso é muito mais bonito do que eu imaginava. Vocês têm certeza que a gente pertence a esse lugar? — brincou, com um sorriso malicioso.— Isla, comporte-se. — Celeste revirou os olhos, tentando conter o riso.Seguimos até nossa mesa, localizada em uma posição de destaque, bem próxima da mesa real. Isso chamou nossa atenção. Por que estávamos sentadas ali? Antes que pudéssemos comentar, os murmúrios começaram ao nosso redor.— Olhe, são elas!— A filha perdida da Luna Helena e do Alfa Luke… eu achava que ela
(Perspectiva de Lucian)O dia começou como qualquer outro. Acordei cedo, treinei um pouco antes do café da manhã e segui para a sala de refeições do palácio. Como de costume, Caden e sua companheira já estavam lá, e, para minha surpresa, Rylan também. Ele parecia um pouco melhor do que nos dias anteriores.— Bom dia. — Cumprimentei, sentando-me à mesa.— Bom dia, Majestade. — Caden respondeu com um leve sorriso.— Lucian. — Corrigi, sem paciência para formalidades entre amigos.Rylan apenas assentiu, pegando um pedaço de pão.— Você está melhor hoje. — Observei, pegando minha xícara de café.Ele suspirou, olhando para a bebida quente à sua frente.— Alguns dias são mais fáceis que outros.Ninguém o pressionou. Era bom vê-lo participando, mesmo que com poucas palavras. Caden e sua companheira conversavam sobre os preparativos para o baile, enquanto Rylan apenas ouvia, de vez em quando fazendo algum comentário breve. Era um começo.O restante do dia passou com as responsabilidades de se
(Perspectiva de Lucian)O salão do baile estava iluminado com lustres dourados, refletindo um brilho quente sobre os convidados que conversavam e brindavam. O cheiro de perfumes caros e especiarias se misturava ao ar, enquanto a música suave tocava ao fundo.Ao lado de Rylan, entrei no salão com a postura ereta, como um rei deveria. Mas no momento em que meus olhos percorreram a multidão, senti algo diferente.Meu lobo rugiu dentro de mim.Era um chamado primitivo, uma necessidade que quase me fez perder o fôlego.E então, eu a vi.No instante em que nossos olhares se cruzaram, tudo ao meu redor desapareceu. A música, as vozes, as luzes, nada mais existia. Apenas ela.O tempo não havia apagado sua beleza. Pelo contrário, parecia que a lua havia banhado cada traço seu, tornando-a ainda mais deslumbrante. Seu vestido realçava suas curvas, e seus olhos brilhavam com algo que eu não sabia decifrar.Depois de quase três anos.Depois de noites em claro, me perguntando onde ela estava.Depoi