O sol matinal lançava raios dourados sobre a casa principal da Alcatéia da Lua Escarlate quando Helena abriu seu e-mail e seus olhos pousaram no convite oficial para o Baile dos Companheiros. O evento anual que tantas jovens lobas esperavam havia sido cancelado no ano anterior devido ao luto da matilha real, mas agora, depois de um período difícil, ele voltaria a acontecer.
Seu coração acelerou. Sem hesitar, confirmou a presença da família e fechou o laptop. Respirando fundo, ela sorriu ao pensar na reação de suas filhas. Saindo apressada da sala, Helena percorreu a casa em busca das meninas, até encontrá-las no jardim. Erin estava sentada na grama brincando com Luke e Lucy, enquanto suas irmãs, Celeste e Isla, observavam, trocando risadas. — Meninas! — Helena chamou, sua voz carregada de emoção. Elas se viraram de imediato, notando o brilho nos olhos da mãe. — O que foi, mãe? — Celeste perguntou, curiosa. Sem dizer nada, Helena levantou o tablet e mostrou a tela. — Este ano, o Baile dos Companheiros vai acontecer. Por um instante, o silêncio dominou o ambiente. Como se nenhuma delas acreditasse no que haviam acabado de ouvir. Então, Isla soltou um gritinho animado. — Nós vamos mesmo?! — Já confirmei nossa presença. A notícia caiu como uma bomba de felicidade. Celeste abraçou Erin, enquanto Isla rodopiava ao redor delas. Mas enquanto suas irmãs comemoravam, Erin sentiu um aperto no peito. Ela sempre teve esperanças de participar do baile e, quem sabe, encontrar o pai de seus bebês, mas agora, a ansiedade tomava conta. E se ele não estivesse lá? E se ele já tivesse seguido em frente? Ela não conseguia evitar esses pensamentos. Helena notou o brilho diferente nos olhos da filha e se aproximou, segurando sua mão. — Você vai, Erin. E se a Deusa da Lua quiser, seu companheiro estará esperando por você. Erin respirou fundo e assentiu. — Dessa vez, eu vou. Celeste sorriu e abraçou a irmã. — E nós vamos garantir que você esteja deslumbrante. — Temos dois meses para escolher vestidos, sapatos e maquiagem! — Isla acrescentou, já animada com os preparativos. Helena sorriu, observando suas filhas se empolgarem. Após tudo que passaram, era bom vê-las felizes novamente. — E enquanto vocês se divertem, eu e os ômegas ficamos com os bebês. Erin riu. — Tem certeza, mãe? Eles são dois pequenos furacões. — Eu criei quatro filhos. Acho que posso lidar com dois netos por uma noite. As risadas tomaram conta do ambiente, enquanto a expectativa do baile crescia. --- Palácio Real No castelo, a movimentação era intensa. Criados iam e vinham, cuidando dos preparativos para o Baile dos Companheiros. Lívia, a gama feminina, era responsável por toda a decoração. Ela estava no grande salão, observando os ajudantes montarem os arranjos de flores e os lustres de cristal. Apesar da grandiosidade do evento, havia um clima de melancolia no ar. A ausência de Alina ainda era sentida. Enquanto isso, no escritório real, Lucian analisava a lista de confirmações no computador. Seus olhos passaram rapidamente pelos nomes, até que um em particular prendeu sua atenção. Alcatéia da Lua Escarlate - Presença confirmada. Ele sentiu um aperto no peito. Seu primeiro pensamento foi sobre Helena, a Luna do falecido Alfa, que havia dado sua vida para salvá-lo. Ele devia ter ido vê-la antes, agradecido por seu sacrifício, mas evitou, talvez por culpa, talvez por medo de encarar mais uma perda. Mas… havia algo mais. Uma inquietação estranha se instalou em seu peito. Por que aquilo o afetava tanto? — Está tudo bem, Lucian? — Caden, seu gama e melhor amigo, entrou no escritório, notando a expressão fechada do rei. Lucian fechou o laptop e suspirou, recostando-se na cadeira. — Recebemos a confirmação da Alcatéia da Lua Escarlate para o baile. Caden franziu a testa. — A Luna deles vai estar lá? Lucian assentiu. — Imagino que sim. Eu deveria ter ido falar com ela antes. O gama o observou por um momento, cruzando os braços. — Se fosse só isso, você não estaria assim. Lucian ficou em silêncio. Caden se aproximou da mesa, apoiando as mãos no tampo de madeira. — O que realmente está te incomodando? Lucian passou a mão pelo rosto, inquieto. — Eu não sei. É como se algo estivesse para acontecer. Algo que eu não consigo explicar. O silêncio se prolongou entre os dois, até Caden dar um pequeno sorriso de lado. — Talvez seja apenas ansiedade. O baile sempre foi um evento importante. Lucian soltou uma risada sem humor. — Não para mim. Eu nunca me importei com esse baile. Mas desta vez… algo está diferente. Caden inclinou a cabeça. — Talvez a Deusa da Lua esteja preparando uma surpresa para você. Lucian ergueu o olhar para o amigo, seus olhos dourados brilhando por um instante. — Ou talvez esteja me preparando para algo que eu não quero enfrentar. Caden deu de ombros. — De qualquer forma, você descobrirá em dois meses. Lucian bufou, mas não respondeu. A única certeza que tinha era que, naquele baile, seu destino iria mudar para sempre.Erin / SelenaO sol mal havia tocado a janela do meu quarto quando os primeiros resmungos de Luke me despertaram. Sorri. Dois anos. Meus pequenos estavam completando dois anos hoje, e parecia que foi ontem que os segurei pela primeira vez nos braços, sem saber o que fazer, sem saber se conseguiria... mas aqui estávamos nós.Levantei e peguei Luke no colo, beijando sua bochecha quente e bagunçando seu cabelo escuro. Logo depois, Lucy também acordou, e com aquele jeitinho doce e esperto, estendeu os bracinhos pedindo colo. Nossa rotina matinal começou com mamadeiras, trocas de fraldas, roupinhas limpas e brinquedos espalhados. Eu fazia tudo isso com o coração cheio. Era exaustivo, sim. Mas era nosso.Assim que consegui deixar os dois felizes brincando com seus bichinhos, desci até a cozinha onde minha mãe, Helena, já preparava o café da manhã. A mesa estava posta, e o cheiro de pão assado e chá de hortelã preenchia o ar. Sentei-me ao seu lado com um suspiro de alívio.— Hoje... além do
O salão estava impecável. As enormes portas douradas se abriram, e fomos conduzidas para dentro por um dos organizadores do baile. Lustres majestosos iluminavam o espaço, enquanto uma orquestra tocava uma melodia suave e elegante. Cada detalhe da decoração exalava sofisticação — flores brancas e douradas enfeitavam as mesas, e um tapete aveludado percorria o centro do salão até o trono real, onde em breve o rei alfa faria sua entrada.Ao nosso lado, Isla soltou um assobio baixo.— Isso é muito mais bonito do que eu imaginava. Vocês têm certeza que a gente pertence a esse lugar? — brincou, com um sorriso malicioso.— Isla, comporte-se. — Celeste revirou os olhos, tentando conter o riso.Seguimos até nossa mesa, localizada em uma posição de destaque, bem próxima da mesa real. Isso chamou nossa atenção. Por que estávamos sentadas ali? Antes que pudéssemos comentar, os murmúrios começaram ao nosso redor.— Olhe, são elas!— A filha perdida da Luna Helena e do Alfa Luke… eu achava que ela
(Perspectiva de Lucian)O dia começou como qualquer outro. Acordei cedo, treinei um pouco antes do café da manhã e segui para a sala de refeições do palácio. Como de costume, Caden e sua companheira já estavam lá, e, para minha surpresa, Rylan também. Ele parecia um pouco melhor do que nos dias anteriores.— Bom dia. — Cumprimentei, sentando-me à mesa.— Bom dia, Majestade. — Caden respondeu com um leve sorriso.— Lucian. — Corrigi, sem paciência para formalidades entre amigos.Rylan apenas assentiu, pegando um pedaço de pão.— Você está melhor hoje. — Observei, pegando minha xícara de café.Ele suspirou, olhando para a bebida quente à sua frente.— Alguns dias são mais fáceis que outros.Ninguém o pressionou. Era bom vê-lo participando, mesmo que com poucas palavras. Caden e sua companheira conversavam sobre os preparativos para o baile, enquanto Rylan apenas ouvia, de vez em quando fazendo algum comentário breve. Era um começo.O restante do dia passou com as responsabilidades de se
(Perspectiva de Lucian)O salão do baile estava iluminado com lustres dourados, refletindo um brilho quente sobre os convidados que conversavam e brindavam. O cheiro de perfumes caros e especiarias se misturava ao ar, enquanto a música suave tocava ao fundo.Ao lado de Rylan, entrei no salão com a postura ereta, como um rei deveria. Mas no momento em que meus olhos percorreram a multidão, senti algo diferente.Meu lobo rugiu dentro de mim.Era um chamado primitivo, uma necessidade que quase me fez perder o fôlego.E então, eu a vi.No instante em que nossos olhares se cruzaram, tudo ao meu redor desapareceu. A música, as vozes, as luzes, nada mais existia. Apenas ela.O tempo não havia apagado sua beleza. Pelo contrário, parecia que a lua havia banhado cada traço seu, tornando-a ainda mais deslumbrante. Seu vestido realçava suas curvas, e seus olhos brilhavam com algo que eu não sabia decifrar.Depois de quase três anos.Depois de noites em claro, me perguntando onde ela estava.Depoi
(Perspectiva de Rylan e Celeste) O salão de baile fervilhava com murmúrios e olhares curiosos. O retorno da filha perdida da Luna Helena já era um evento marcante, mas outra cena chamava a atenção de alguns convidados. Rylan parou no meio do caminho para sua mesa, o coração acelerado como se tivesse levado um golpe invisível. Seus olhos haviam se fixado na mulher sentada à mesa próxima, e algo dentro dele rugiu em reconhecimento. A mulher o encarava de volta, a incerteza dançando em seus olhos castanhos. Sem perceber que havia prendido a respiração, ele viu quando ela se levantou hesitante e caminhou em sua direção. Rylan não precisou perguntar. Seu lobo já sabia. Companheira. A palavra ecoou em sua mente como um trovão. Ela parou diante dele, os lábios se entreabrindo, como se quisesse falar algo, mas não soubesse por onde começar. Tomando cuidado para não assustá-la, Rylan estendeu a mão e tocou seu braço levemente. — Gostaria de conversar? A sós? — Sua voz saiu baixa, sua
Perspectiva de SelenaO ar frio do jardim mordeu a pele de Selena quando ela atravessou as portas de vidro do salão. O barulho da festa ficou para trás, mas seu coração continuava batendo como se estivesse cercada por mil olhos. A sensação de estar sendo observada persistia — até que braços firmes a envolveram por trás, com uma delicadeza que só ele tinha.Lucian.Ela queria resistir, dizer que precisava de espaço, que ainda estava tentando entender o que estava sentindo. Mas seu corpo cedeu antes que sua mente pudesse protestar. Ela relaxou contra ele, ainda que a confusão queimasse em seu peito.— Você me seguiu, — murmurou, tentando manter a voz estável.— É claro que segui — respondeu ele, próximo ao seu ouvido. — Você saiu como se tivesse visto um fantasma. E de certa forma... eu entendo.Selena se virou, encarando seus olhos dourados à luz do luar.— Eu não sei se foi o susto... ver você ali, como o rei. Ou se foi medo de que... agora que sabe quem eu sou, ache que não sou boa o
A sala estava silenciosa, exceto pelo crepitar da lareira. O calor das chamas se espalhava suavemente pelo ambiente, mas Selena sentia como se estivesse em um turbilhão. O olhar de Lucian sobre ela era firme, mas não havia julgamento ali.Ela inspirou fundo, tentando organizar os pensamentos. As emoções vinham em ondas desordenadas: o susto de descobrir que o pai dos seus filhos era ninguém menos que o rei, o medo de ser rejeitada, e aquele sentimento inegável de conexão com ele — algo que nunca desaparecera, mesmo com o passar do tempo.— Você é o rei — disse finalmente, sua voz baixa, mas firme.Lucian a fitou com os olhos intensos, mas havia suavidade em seu tom ao responder:— E você… é a filha perdida do alfa Luke. O lobo que morreu salvando minha vida.Ela assentiu devagar.— Eu sou.Por um momento, ficaram em silêncio. Até que Lucian deu um passo à frente.— Selena... O que aconteceu naquela manhã? No hotel? Por que você fugiu de mim sem dizer nada? — Ele franziu o cenho. — E..
Selena havia contado tudo. A dor, a fuga, os anos de ausência. Agora, era a vez de Lucian.Ele ajeitou um dos bebês nos braços, olhando para os pequenos olhos sonolentos com um carinho silencioso. Então, com a voz baixa, começou a falar:— Foram dois anos longos demais sem você — ele começou, a voz baixa, quase rouca. — No início, eu me recusei a aceitar que você tinha partido. Passava dias e noites procurando rastros, tentando entender o que havia acontecido. Mas era como tentar tocar fumaça.Selena apertou os lábios, sentindo o coração se apertar ao ver a dor nos olhos dele.— Perdi Alina pouco depois — ele continuou. — Minha beta, minha amiga mais leal. Ela foi como uma irmã, especialmente depois que você desapareceu naquela manhã. Me ajudou a manter a cabeça no lugar…Lucian fez uma pausa, os olhos perdidos por um instante.— Me joguei no trabalho pra manter a sanidade. O reino precisava de estabilidade. A alcatéia, de liderança. Eu me tornei... alguém que respirava dever e sufoca