Erin / Selena

O sol mal havia tocado a janela do meu quarto quando os primeiros resmungos de Luke me despertaram. Sorri. Dois anos. Meus pequenos estavam completando dois anos hoje, e parecia que foi ontem que os segurei pela primeira vez nos braços, sem saber o que fazer, sem saber se conseguiria... mas aqui estávamos nós.

Levantei e peguei Luke no colo, beijando sua bochecha quente e bagunçando seu cabelo escuro. Logo depois, Lucy também acordou, e com aquele jeitinho doce e esperto, estendeu os bracinhos pedindo colo. Nossa rotina matinal começou com mamadeiras, trocas de fraldas, roupinhas limpas e brinquedos espalhados. Eu fazia tudo isso com o coração cheio. Era exaustivo, sim. Mas era nosso.

Assim que consegui deixar os dois felizes brincando com seus bichinhos, desci até a cozinha onde minha mãe, Helena, já preparava o café da manhã. A mesa estava posta, e o cheiro de pão assado e chá de hortelã preenchia o ar. Sentei-me ao seu lado com um suspiro de alívio.

— Hoje... além do baile, é o aniversário dos meus bebês. — comentei, mexendo lentamente meu chá. — E queria te pedir uma coisa.

Minha mãe me olhou com carinho, esperando.

— Você viria comigo? Ao baile? Quero que esteja lá... com os bebês. Não só para me ajudar com eles, mas para... nos apresentar. A todos.

Helena sorriu, com os olhos brilhando de orgulho.

— Eu adoraria. E seria uma honra apresentar a todos minha filha perdida... — ela então segurou minha mão com delicadeza. — Mas eu queria te perguntar uma coisa antes... você quer continuar sendo chamada de Erin? Ou quer voltar a usar o nome que te demos no nascimento... Selena?

Fiquei em silêncio por um momento. Selena. O nome ecoou dentro de mim como um sussurro antigo, algo que sempre esteve lá, adormecido. Era estranho e familiar ao mesmo tempo.

— Eu... acho que é hora de honrar quem eu sou. — respondi, com um sorriso suave. — Hoje, quero ser chamada de Selena.

Helena assentiu com um leve brilho nos olhos.

Minhas irmãs chegaram pouco depois, rindo e falando alto como sempre. Celeste pegou Lucy no colo, fazendo-a rir com cócegas, enquanto Isla foi direto até Luke, que já apontava pra ela todo empolgado.

— Não acredito que hoje já é o baile! — Isla comentou, com os olhos brilhando. — Agora que fiz dezoito... será que vou encontrar meu companheiro?

— E se for igual ao meu primeiro baile? — Celeste falou, suspirando. — Não encontrei ninguém e voltei pra casa frustrada.

— Hoje é diferente — eu disse, olhando para elas. — A deusa da lua tem seus planos. Talvez hoje seja o nosso momento.

Passamos o resto da manhã entre brincadeiras e risadas. Após o almoço, a casa ficou cheia de vozes, perfumes e agulhas — as estilistas chegaram, junto com as maquiadoras e cabelereiras. O quarto virou um salão improvisado. Roupas para lá, maquiagens para cá. Cada uma de nós foi se transformando aos poucos, como borboletas saindo do casulo.

Me olhei no espelho quando tudo estava pronto. O vestido fluía ao redor do meu corpo como se tivesse sido feito por mãos divinas. Meu cabelo preso em um penteado delicado, com algumas mechas soltas moldando meu rosto. Não era só o visual — era a mulher que eu me tornei que estava refletida ali. Mãe. Filha. Loba. Selena.

Minhas irmãs estavam deslumbrantes, e minha mãe, com um vestido de cor suave, carregava Luke nos braços enquanto Isla segurava Lucy com cuidado.

Respirei fundo. O carro já nos esperava.

— Prontas? — perguntei, com um meio sorriso.

Celeste sorriu de volta.

— Mais do que nunca.

E com isso, partimos em direção ao que poderia ser o começo de tudo.