(Perspectiva de Rylan e Celeste)
O salão de baile fervilhava com murmúrios e olhares curiosos. O retorno da filha perdida da Luna Helena já era um evento marcante, mas outra cena chamava a atenção de alguns convidados. Rylan parou no meio do caminho para sua mesa, o coração acelerado como se tivesse levado um golpe invisível. Seus olhos haviam se fixado na mulher sentada à mesa próxima, e algo dentro dele rugiu em reconhecimento. A mulher o encarava de volta, a incerteza dançando em seus olhos castanhos. Sem perceber que havia prendido a respiração, ele viu quando ela se levantou hesitante e caminhou em sua direção. Rylan não precisou perguntar. Seu lobo já sabia. Companheira. A palavra ecoou em sua mente como um trovão. Ela parou diante dele, os lábios se entreabrindo, como se quisesse falar algo, mas não soubesse por onde começar. Tomando cuidado para não assustá-la, Rylan estendeu a mão e tocou seu braço levemente. — Gostaria de conversar? A sós? — Sua voz saiu baixa, suave, como se não quisesse quebrar o momento. Celeste hesitou por um segundo. Ele sentiu seu nervosismo, o cheiro leve da ansiedade misturado ao aroma floral doce que emanava dela. Mas, mesmo com o medo evidente, ela assentiu. — Sim. Saíram do salão juntos, ignorando os olhares que os seguiam. Os murmúrios aumentaram, mas nenhum dos dois se importou. No jardim, a lua iluminava as flores e lançava sombras suaves pelo caminho. Caminharam em silêncio até um banco de pedra afastado, onde se sentaram lado a lado. Rylan segurou a mão dela sem pensar, sentindo a suavidade da pele dela contra a sua. Ele precisava desse contato. Celeste, no entanto, interpretou errado o gesto. Ela puxou a mão de volta e se levantou bruscamente, os olhos cheios de uma tristeza resignada. — Não precisa me dizer nada. Eu entendo. — Sua voz tremeu levemente, mas ela manteve a cabeça erguida. — Sei que já teve uma companheira antes. Sei o que aconteceu. Se você quiser me rejeitar, eu aceito. Não precisa me dar explicações. Ela virou-se para sair. O pânico atravessou Rylan. — Não! Movendo-se por puro instinto, ele se levantou e segurou seu pulso com delicadeza, puxando-a para perto antes que ela fosse embora. Ele não pensou. Apenas agiu. Seu braço envolveu a cintura dela, e ele a puxou contra seu peito, inalando seu cheiro viciante. Celeste ficou rígida, surpresa, mas não recuou. — Eu não tenho intenção de rejeitar você. — Sua voz estava rouca, carregada de emoção. — Eu só… queria conversar. Explicar que, desde que perdi minha primeira companheira, não sou mais o mesmo. Estou tentando me reencontrar, tentando seguir em frente. Ele respirou fundo, segurando-a firme como se temesse que ela desaparecesse. — Só quero que tenha paciência comigo. Se eu disser ou fizer algo que a desagrade, não é porque não quero você. É porque ainda estou me ajustando. Celeste não respondeu imediatamente. Mas, depois de um momento, seus braços subiram lentamente e o abraçaram de volta. Seu toque foi hesitante no início, mas logo ela se permitiu relaxar em seus braços. — Tudo bem. — Ela sussurrou contra seu peito. — Eu espero. Rylan fechou os olhos por um segundo, deixando que o peso daquela promessa aliviasse a dor que carregava há tanto tempo. Talvez, só talvez, Alina estivesse certa. Talvez fosse a hora de se permitir ser feliz de novo. Rylan recuou levemente, apenas o suficiente para olhar Celeste nos olhos. O abraço tinha sido intenso, cheio de emoção, mas agora ele precisava saber mais sobre ela. — Então, minha companheira… quem é você? De onde vem? — Sua voz estava mais suave do que ele imaginava, carregada de um sentimento que ele ainda não sabia nomear. Celeste sorriu de leve, como se ainda estivesse processando tudo aquilo. — Sou Celeste. Filha de Helena e Luke. Minha mãe é Luna da Lua Escarlate. Rylan arqueou uma sobrancelha, absorvendo a informação. O nome de Helena era bem conhecido entre os líderes de alcatéia, mas ele ainda estava assimilando o que aquilo significava. — E suas irmãs? — Ele perguntou, curioso. Celeste relaxou um pouco e riu baixinho. — Bom, tem Isla, a caçula… Ela é um furacão ambulante. E Selene… — Ela hesitou e corrigiu-se rapidamente. — Quero dizer, Erin. O nome atingiu Rylan como um choque. Seus olhos se arregalaram, e ele sentiu sua respiração falhar por um momento. — Erin? Você disse Erin? — Sua voz gaguejou levemente, um traço incomum para ele. Celeste franziu a testa, surpresa pela reação dele. — Sim… Quer dizer, agora ela decidiu usar seu nome de nascimento, Selena. Mas por que—? Ela parou ao ver a expressão atordoada de Rylan. Na mente do beta, as peças finalmente começaram a se encaixar. O desaparecimento repentino de Erin. A busca interminável de Lucian. A falta de qualquer vestígio dela, como se tivesse sumido no ar. E onde tudo isso aconteceu? Em frente a um hotel de luxo. O mesmo hotel onde Erin, agora Selena, estava com Lucian aquela noite. Rylan sentiu seu coração disparar.Perspectiva de SelenaO ar frio do jardim mordeu a pele de Selena quando ela atravessou as portas de vidro do salão. O barulho da festa ficou para trás, mas seu coração continuava batendo como se estivesse cercada por mil olhos. A sensação de estar sendo observada persistia — até que braços firmes a envolveram por trás, com uma delicadeza que só ele tinha.Lucian.Ela queria resistir, dizer que precisava de espaço, que ainda estava tentando entender o que estava sentindo. Mas seu corpo cedeu antes que sua mente pudesse protestar. Ela relaxou contra ele, ainda que a confusão queimasse em seu peito.— Você me seguiu, — murmurou, tentando manter a voz estável.— É claro que segui — respondeu ele, próximo ao seu ouvido. — Você saiu como se tivesse visto um fantasma. E de certa forma... eu entendo.Selena se virou, encarando seus olhos dourados à luz do luar.— Eu não sei se foi o susto... ver você ali, como o rei. Ou se foi medo de que... agora que sabe quem eu sou, ache que não sou boa o
A sala estava silenciosa, exceto pelo crepitar da lareira. O calor das chamas se espalhava suavemente pelo ambiente, mas Selena sentia como se estivesse em um turbilhão. O olhar de Lucian sobre ela era firme, mas não havia julgamento ali.Ela inspirou fundo, tentando organizar os pensamentos. As emoções vinham em ondas desordenadas: o susto de descobrir que o pai dos seus filhos era ninguém menos que o rei, o medo de ser rejeitada, e aquele sentimento inegável de conexão com ele — algo que nunca desaparecera, mesmo com o passar do tempo.— Você é o rei — disse finalmente, sua voz baixa, mas firme.Lucian a fitou com os olhos intensos, mas havia suavidade em seu tom ao responder:— E você… é a filha perdida do alfa Luke. O lobo que morreu salvando minha vida.Ela assentiu devagar.— Eu sou.Por um momento, ficaram em silêncio. Até que Lucian deu um passo à frente.— Selena... O que aconteceu naquela manhã? No hotel? Por que você fugiu de mim sem dizer nada? — Ele franziu o cenho. — E..
Selena havia contado tudo. A dor, a fuga, os anos de ausência. Agora, era a vez de Lucian.Ele ajeitou um dos bebês nos braços, olhando para os pequenos olhos sonolentos com um carinho silencioso. Então, com a voz baixa, começou a falar:— Foram dois anos longos demais sem você — ele começou, a voz baixa, quase rouca. — No início, eu me recusei a aceitar que você tinha partido. Passava dias e noites procurando rastros, tentando entender o que havia acontecido. Mas era como tentar tocar fumaça.Selena apertou os lábios, sentindo o coração se apertar ao ver a dor nos olhos dele.— Perdi Alina pouco depois — ele continuou. — Minha beta, minha amiga mais leal. Ela foi como uma irmã, especialmente depois que você desapareceu naquela manhã. Me ajudou a manter a cabeça no lugar…Lucian fez uma pausa, os olhos perdidos por um instante.— Me joguei no trabalho pra manter a sanidade. O reino precisava de estabilidade. A alcatéia, de liderança. Eu me tornei... alguém que respirava dever e sufoca
O castelo estava mais silencioso agora, como se respirasse aliviado por tantas verdades finalmente terem vindo à tona. Rylan guiava Celeste por um dos longos corredores da ala beta, o braço dela entrelaçado ao seu com naturalidade.— Essa é a ala que Alina e eu ocupávamos — ele disse, com a voz baixa, enquanto caminhavam por entre portas e janelas envidraçadas que revelavam um jardim interno iluminado por pequenas lanternas mágicas.Celeste apertou levemente o braço dele, respeitando o silêncio que se seguiu.Rylan mostrou os cômodos com um sorriso discreto, apontando a sala de reuniões particular, a biblioteca da ala, o pequeno salão de chá, e por fim parou em frente a uma porta maior.— Esse… era o nosso quarto.Ele tocou a maçaneta, mas não girou. Ficou ali, parado. A mão firme, mas o olhar distante. Celeste sentiu o peso do momento e agiu com a delicadeza que o coração dela conhecia bem.Com ternura, ela segurou a mão dele e afastou-a da porta.— Você não precisa entrar aí agora,
O beijo ainda pairava no ar, quente e suave, quando uma batida leve na porta os fez se afastar devagar. Selena sorriu timidamente, os lábios ainda entreabertos e o coração acelerado. Lucian riu baixinho, sua testa encostando brevemente na dela antes de virar-se em direção à porta.— Pode entrar — disse ele, recuperando a postura, mas mantendo sua mão entrelaçada à de Selena.A porta se abriu revelando uma senhora de cabelos grisalhos cuidadosamente presos em um coque. Seus olhos eram de um azul profundo e bondoso, e seu sorriso era caloroso como o de uma avó que reencontra netos há muito perdidos.— Alteza — disse ela, com uma leve reverência. — Perdoe-me por interromper.Lucian se aproximou dela com carinho visível no olhar.— Selena, essa é Merla. Ela trabalha no castelo desde antes de eu nascer. Foi uma figura constante na minha infância. E ficou muito feliz em saber que poderia ajudar com as crianças.Merla curvou-se levemente para Selena.— É uma honra conhecer a senhora, companh
luz da manhã começou a tocar as cortinas do nosso quarto, filtrando-se em feixes dourados que pareciam abençoar tudo o que alcançavam. Acordei primeiro, como sempre. Ainda meio deitado, apoiei meu corpo sobre o braço esquerdo e me permiti observar minha família. Meu mundo. Selena dormia com um dos braços estendido por cima de Lucy, o rosto sereno, os cabelos bagunçados pela noite, espalhados sobre o travesseiro. Os lábios entreabertos e a expressão tranquila a faziam parecer ainda mais bonita do que qualquer lembrança que eu guardei. Se eu já não estivesse perdido de amor por ela, tenho certeza que nesse exato momento, observando esse sorriso suave mesmo dormindo… eu teria me apaixonado de novo. Ao meu lado, Luke começou a se remexer, os olhinhos piscando devagar até que as mãozinhas começaram a se mover no ar, como se ele quisesse pegar a luz. Um de seus bracinhos bateu levemente em Selena. Ela resmungou baixinho antes de abrir os olhos com lentidão. E quando o fez… aquele sorri
Acordar com o calor de duas vidas tão pequenas e tão minhas aninhadas ao meu lado era um sentimento que eu jamais conseguiria descrever completamente.Abri os olhos com a leve batida de Luke em meu braço. Ele mexia as mãozinhas e soltava sons quase inaudíveis, mas suficientes para me acordar. E, mesmo ainda meio sonolenta, um sorriso brotou no meu rosto antes mesmo de eu conseguir me sentar.Ao meu lado, Lucian já estava acordado, me observando com aquele olhar… aquele olhar que fazia meu coração bater forte toda vez.— Bom dia — sussurrei, tocando de leve o rosto dele.— Bom dia, meu amor — respondeu ele, os olhos brilhando.Lucy, como a princesinha cheia de personalidade que é, soltou um biquinho nada discreto, se remexendo entre os lençóis até encontrar meu colo. Peguei-a com cuidado, embalei devagar e beijei sua testa.Meu coração se apertava e se expandia ao mesmo tempo.Eu os tinha de volta. E agora eu também tinha Lucian.Houve uma batida suave na porta e ele se levantou. Insta
Após a reunião no salão principal, Helena e Isla se despediram das filhas com abraços longos e emocionados. A matriarca da Matilha da Lua Escarlate passou a mão carinhosamente pelo cabelo de Selena, como fazia quando ela era pequena.— Você está pronta para isso, minha filha. E estamos todas muito orgulhosas de você — disse Helena com firmeza, mas os olhos marejados.Isla, a mais nova, foi quem tentou esconder a emoção com piadas.— Não se esqueçam da irmã caçula quando forem ricas e famosas, ok? E mandem fotos do bolo.Celeste riu e respondeu com um beijo na bochecha da irmã:— Só se você prometer não provocar a mamãe na viagem inteira de volta.— Sem promessas — Isla piscou, abraçando Selena em seguida.Após a despedida, Selena respirou fundo. Lucian apareceu ao seu lado e segurou sua mão.— Agora que você é oficialmente parte disso tudo... é hora de conhecer cada canto do que também é seu — disse ele, com aquele sorriso sereno que só ela conhecia.Celeste se juntou a eles, empolgad