Acordar com o calor de duas vidas tão pequenas e tão minhas aninhadas ao meu lado era um sentimento que eu jamais conseguiria descrever completamente.
Abri os olhos com a leve batida de Luke em meu braço. Ele mexia as mãozinhas e soltava sons quase inaudíveis, mas suficientes para me acordar. E, mesmo ainda meio sonolenta, um sorriso brotou no meu rosto antes mesmo de eu conseguir me sentar. Ao meu lado, Lucian já estava acordado, me observando com aquele olhar… aquele olhar que fazia meu coração bater forte toda vez. — Bom dia — sussurrei, tocando de leve o rosto dele. — Bom dia, meu amor — respondeu ele, os olhos brilhando. Lucy, como a princesinha cheia de personalidade que é, soltou um biquinho nada discreto, se remexendo entre os lençóis até encontrar meu colo. Peguei-a com cuidado, embalei devagar e beijei sua testa. Meu coração se apertava e se expandia ao mesmo tempo. Eu os tinha de volta. E agora eu também tinha Lucian. Houve uma batida suave na porta e ele se levantou. Instantes depois, voltou com Merla e duas mamadeiras. Ela nos desejou um bom dia e disse que voltaria mais tarde para ajudar no que fosse preciso. — Ela é um anjo — murmurei, pegando a mamadeira que Lucian me estendeu. Enquanto dávamos as mamadeiras, dividimos olhares cheios de carinho e sorrisos silenciosos. Aquele momento íntimo, tão simples e ao mesmo tempo tão mágico, era tudo o que eu sonhei nos últimos dois anos. Luke, sempre faminto, terminou primeiro, com os olhinhos brilhando e a barriguinha satisfeita. Depois de nos arrumarmos com calma, descemos para a sala de jantar principal. O aroma de pães quentes e café fresco preenchia o ambiente. Era uma cena que exalava aconchego. Caden e Lívia já estavam lá. Lucian nos apresentou com orgulho, e Lívia, com uma empolgação encantadora, praticamente arrancou Lucy dos braços dele. — Que perfeição de bebê! — disse ela, encantada. Rylan e Celeste chegaram logo em seguida, e ele não perdeu tempo em pegar Luke nos braços. O pequeno pareceu à vontade, como se já os conhecesse. Tudo acontecia tão naturalmente… e eu me senti parte dali, de verdade. Pela primeira vez, não como uma hóspede. Mas como alguém que pertencia. Lucian segurou minha mão e me conduziu até o lugar ao seu lado — o assento da rainha. Meu coração acelerou só de ver como ele fazia questão de deixar claro quem eu era para ele. Minha mãe e Isla já estavam à mesa. Nos cumprimentamos com sorrisos sinceros e trocamos algumas palavras. — Dormiram bem? — perguntei. — Como uma rocha — respondeu minha mãe, sorrindo. — Eu? Dormi como princesa. Aquele quarto é melhor que qualquer suíte de hotel cinco estrelas! — Isla exclamou. Rimos, é claro. Ela sempre iluminava qualquer ambiente com seu bom humor. Lucian também se divertiu com as piadinhas, e até minha mãe — que costumava manter a postura — teve que esconder o riso. — Em breve será você, Isla — disse minha mãe com um tom de esperança. — A deusa da lua tá me ignorando — respondeu Isla, fazendo drama. — Tenho dezoito anos e nem sinal de companheiro. — Talvez ela ainda esteja preparando alguém que aguente suas piadinhas — comentei, fazendo todos caírem na risada. Naquele momento, enquanto todos riam ao redor da mesa, percebi que a vida tinha finalmente nos colocado no lugar certo. Eu olhei para Lucian, que sorria ao ver os filhos recebendo carinho de todos. E, ali, rodeada por minha família — de sangue e de coração — senti a paz que por tanto tempo me foi negada. Após o café da manhã caloroso e cheio de risadas, minha mãe, com a serenidade de quem carrega anos de liderança nos ombros, pousou sua mão sobre a minha e da Celeste, e nos olhou com aquele jeito que só ela tem — sério, mas cheio de amor. — Meninas, preciso conversar com vocês. Se quiserem, seus companheiros podem acompanhar — disse ela, a voz gentil, mas firme. Olhei para Lucian e ele assentiu com um sorriso discreto. Rylan fez o mesmo com Celeste, e assim seguimos todos para o escritório de Lucian. Antes de sairmos, Merla se ofereceu para levar os bebês ao jardim para tomar um pouco de sol, junto com dois guardas de confiança, cuidadosamente escolhidos e treinados por Caden. Saber que Luke e Lucy estariam protegidos me deu tranquilidade. No escritório, o ambiente era calmo, e a presença de Lucian ao meu lado me dava força. Helena esperou todos se acomodarem antes de falar. — Ver vocês aqui… com seus companheiros ao lado, me enche de alegria — começou ela, o olhar percorrendo o rosto de cada um de nós. — A deusa da lua foi generosa. Não apenas por unir vocês a homens honrados, mas por colocá-los em caminhos que se cruzam com amizade e respeito. Meus olhos brilharam, e vi Celeste sorrir ao lado de Rylan, seu braço entrelaçado ao dele. — Agora, como suas jornadas se definem… — continuou mamãe — Selena será rainha, e Celeste, é a companheira do beta real. Isso significa que Isla… será quem herdará a liderança da Alcateia da Lua Escarlate. Isla arregalou os olhos, surpresa, e levou um segundo para reagir. — Eu? Mas… — ela começou, e parou. — Sim, minha filha — disse Helena com um sorriso. — Quando encontrar seu companheiro, vocês assumirão juntos. E até lá, começarei a te treinar. O sangue de alfas corre em você também. Houve um instante de silêncio. E então Isla soltou um riso abafado, claramente nervosa. — Bem… tomara que esse tal companheiro aguente meu jeito — brincou, e arrancou risadas suaves de todos na sala. Mas eu… eu senti algo apertar em meu peito. A ideia de minha mãe partir… novamente. Ela percebeu antes mesmo que eu dissesse qualquer coisa. Mãe sempre sabe. Ela se levantou e caminhou até mim, ajoelhando-se ao meu lado, com aquele olhar cheio de força e ternura. — Minha querida… — ela murmurou, segurando minhas mãos. — Eu sempre estarei com você. Sempre que precisar de mim, virei correndo. E saiba… o seu lugar à mesa da Lua Escarlate está guardado. Para sempre. Você é e sempre será minha filha, minha primogênita. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas o sorriso em meu rosto cresceu. Eu sabia que mesmo com a distância, nosso laço jamais se quebraria. Lucian tocou levemente minhas costas, como se me dissesse em silêncio que estava ali comigo — e sempre estaria. — Obrigada, mãe — sussurrei, abraçando-a forte. — Por tudo. Isla se juntou a nós, e ali, as três, por um instante, éramos apenas mãe e filhas, como nos velhos tempos. E mesmo com nossos caminhos se abrindo em direções diferentes, a essência da nossa união permanecia firme como a lua que nos guiava.Após a reunião no salão principal, Helena e Isla se despediram das filhas com abraços longos e emocionados. A matriarca da Matilha da Lua Escarlate passou a mão carinhosamente pelo cabelo de Selena, como fazia quando ela era pequena.— Você está pronta para isso, minha filha. E estamos todas muito orgulhosas de você — disse Helena com firmeza, mas os olhos marejados.Isla, a mais nova, foi quem tentou esconder a emoção com piadas.— Não se esqueçam da irmã caçula quando forem ricas e famosas, ok? E mandem fotos do bolo.Celeste riu e respondeu com um beijo na bochecha da irmã:— Só se você prometer não provocar a mamãe na viagem inteira de volta.— Sem promessas — Isla piscou, abraçando Selena em seguida.Após a despedida, Selena respirou fundo. Lucian apareceu ao seu lado e segurou sua mão.— Agora que você é oficialmente parte disso tudo... é hora de conhecer cada canto do que também é seu — disse ele, com aquele sorriso sereno que só ela conhecia.Celeste se juntou a eles, empolgad
O som suave da risada de Lucy encheu o quarto quando Selena a ergueu no colo, aninhando seu corpinho contra o peito. Luke, com seus olhos curiosos e atentos, já descansava nos braços de Lucian, observando tudo com a serenidade de quem parecia entender mais do que deveria para um bebê de dois anos.Selena se sentou na beirada da cama, afagando os cabelos da filha com delicadeza. Era em momentos como aquele que o mundo parecia parar, e tudo se resumia ao calor de sua família.— Eles estão crescendo tão rápido... — ela murmurou, sorrindo para Lucian.Lucian se aproximou e se sentou ao lado dela, encostando a bochecha no topo da cabeça de Selena.— Estão mesmo. E hoje, por algumas horas... você vai ter um tempinho só pra você. — Ele se afastou um pouco, o olhar carregando um brilho misterioso.— Como assim?— Tenho uma surpresa. — Seus olhos se fixaram nos dela. — E essa noite, os pequenos vão ficar com a Celeste e o Rylan. Eles ficaram felizes em cuidar deles.Selena arqueou uma sobrance
O "sim" ainda vibrava nos lábios de Selena quando Lucian a puxou para um beijo faminto, como se aquele simples som tivesse rompido qualquer controle que ele ainda tinha. Seus corpos se colaram, e o mundo ao redor desapareceu. Agora, só existia o calor — dele, dela — e o desejo pulsando entre os dois como um chamado primal.Lucian a conduziu até o quarto, as mãos não se separando das curvas dela nem por um instante. Assim que a porta se fechou atrás deles, ele a encostou ali mesmo, contra a madeira fria, o contraste fazendo Selena arfar.— Você tem ideia do que faz comigo? — ele murmurou contra o pescoço dela, a voz rouca e baixa como um trovão prestes a explodir.— Mostra pra mim... — ela sussurrou, cravando os dedos nos cabelos dele.Ele não precisou de mais incentivo. A boca dele desceu para o colo dela enquanto as mãos desfaziam o fecho do vestido com precisão e urgência. A peça deslizou por seu corpo como seda, revelando sua pele aos poucos, d
Selena descia lentamente os degraus da escada principal, sua mão entrelaçada à de Lucian. A luz da manhã filtrava pelas janelas do grande salão, iluminando os cabelos dourados dela como uma coroa natural. Lucian a observava com aquele sorriso que ela já começava a conhecer como exclusivo — reservado apenas para ela.Quando chegaram ao térreo, o som suave de risadas infantis os guiou até a sala da frente. Celeste estava sentada no chão, cercada por almofadas e brinquedos espalhados, enquanto Rylan equilibrava com cuidado uma das crianças nos ombros.— Bom dia, majestades sonolentos — brincou Celeste, levantando uma sobrancelha para a irmã. — Dormiram bem… ou nem dormiram?Selena corou imediatamente, dando um leve tapa no ombro da irmã.— Celeste!Lucian apenas riu, abraçando Selena pela cintura.— Se serve de consolo, a surpresa foi ideia minha.— Ah, nós sabemos — disse Rylan, pegando o bebê que tentava agarrar o cabelo
O salão estava voltando ao seu ritmo festivo após o breve susto, mas a energia não era mais a mesma. A presença do grupo recém-chegado pairava como uma nuvem escura sobre todos.Lucian se manteve em pé, a mão de Selena ainda entrelaçada à sua. Seus olhos estavam fixos na mulher que liderava o grupo.Alta, com cabelos longos e escuros presos em um coque elegante, seus olhos cinzentos varriam o salão como se tudo aquilo lhe pertencesse. Estava vestida com roupas finas demais para alguém que não havia sido convidada — como se soubesse que teria atenção.— Maedra... — disse Lucian, com um tom controlado, mas carregado de desprezo.A mulher sorriu de lado, como se o nome na boca do rei fosse uma melodia nostálgica.— Sobrinho — respondeu, com um leve aceno de cabeça. — Que cerimônia encantadora... embora um pouco simples para algo tão grandioso quanto a coroação de uma rainha.— Não me lembro de ter enviado um convite — rebateu Lucian
O bar estava lotado como sempre. Erin deslizava entre as mesas, equilibrando bandejas cheias de cerveja, ouvindo as risadas roucas e os comentários sussurrados dos clientes. O cheiro de álcool, fumaça e algo mais — algo selvagem — impregnava o ar. Ela se acostumara com isso. Trabalhar em um bar de lobisomens não era para qualquer um, mas Erin não conhecia outro lar.Então, ela sentiu.O olhar.Forte, intenso, queimando sua pele como fogo.Ela se virou, o coração batendo rápido. Encostado no balcão, um homem a observava com uma atenção que a deixou sem ar.Ele era alto, de ombros largos, a sombra da barba marcando seu maxilar. O cabelo escuro caía de forma rebelde sobre sua testa, e seus olhos dourados pareciam brilhantes demais sob as luzes fracas do bar. Um uísque repousava em sua mão, intocado.Mas ele só olhava para ela.Erin tentou ignorar. Continuou atendendo, rindo de piadas sem graça, desviando de clientes embriagados. Mas sempre que olhava para o balcão, lá estava ele.Na terc
O sol ainda não havia surgido completamente quando Erin abriu os olhos.Por um momento, ela não reconheceu onde estava. Lençóis macios, um colchão absurdamente confortável, um aroma amadeirado e masculino preenchendo o ar. Então, a memória da noite passada a atingiu como um raio.Lucian.Ela virou a cabeça devagar e viu o homem dormindo ao seu lado. Mesmo adormecido, ele exalava poder. O lençol cobria parte de seu corpo, mas ela podia ver os músculos definidos, os traços fortes, a pele quente contra a luz fraca do amanhecer.Seu coração acelerou.O que diabos ela tinha feito?Uma onda de pânico tomou conta dela. Ela nunca tinha feito algo assim. Passara a vida toda se protegendo, construindo barreiras para que ninguém se aproximasse. E agora… havia se entregado a um estranho.Um estranho que, claramente, era rico.Seus olhos percorreram o quarto luxuoso. O lustre no teto, os móveis de design sofisticado, a vista imponente da cidade. Ele não era um lobo comum. Não era um cliente qualqu
Rylan e Caden estavam sentados na luxuosa sala de estar da suíte do hotel, observando o rei com cautela.Lucian andava de um lado para o outro, visivelmente irritado.— Então… — Rylan começou, escolhendo as palavras com cuidado. — Quem é Erin?Lucian parou e lançou um olhar afiado para ele.— Isso não é da sua conta.Caden trocou um olhar rápido com Rylan antes de tentar outra abordagem.— Certo, mas… você quer que a encontremos. Isso significa que ela é importante. Só precisamos entender o quão importante.Lucian passou a mão pelos cabelos e respirou fundo, controlando a frustração.— Eu não sei quem ela é. Mas… ela é minha.Rylan e Caden franziram a testa ao mesmo tempo.— Sua… como? — Rylan perguntou, cruzando os braços.Lucian não respondeu de imediato. O silêncio prolongado apenas aumentou a tensão no ar.— Apenas encontrem-na — ele ordenou, a voz firme, deixando claro que não havia mais espaço para perguntas.Os dois assentiram, sabendo que o rei raramente ficava tão perturbado