Selena descia lentamente os degraus da escada principal, sua mão entrelaçada à de Lucian. A luz da manhã filtrava pelas janelas do grande salão, iluminando os cabelos dourados dela como uma coroa natural. Lucian a observava com aquele sorriso que ela já começava a conhecer como exclusivo — reservado apenas para ela.
Quando chegaram ao térreo, o som suave de risadas infantis os guiou até a sala da frente. Celeste estava sentada no chão, cercada por almofadas e brinquedos espalhados, enquanto Rylan equilibrava com cuidado uma das crianças nos ombros. — Bom dia, majestades sonolentos — brincou Celeste, levantando uma sobrancelha para a irmã. — Dormiram bem… ou nem dormiram? Selena corou imediatamente, dando um leve tapa no ombro da irmã. — Celeste! Lucian apenas riu, abraçando Selena pela cintura. — Se serve de consolo, a surpresa foi ideia minha. — Ah, nós sabemos — disse Rylan, pegando o bebê que tentava agarrar o cabelo dele. — Dava pra ouvir os risos e os barulhos da música até aqui. Selena cobriu o rosto, rindo. — Que vergonha. Celeste sorriu com ternura. — Fico feliz por você, irmã. Ver você feliz… é tudo o que eu sempre quis. Lucian estendeu os braços para pegar os bebês, e cada um correu na direção dele com gritinhos animados. Ele se ajoelhou no tapete, abraçando os dois com facilidade, o sorriso derretendo qualquer traço da frieza que um dia o cercou como rei. Nesse momento, Caden entrou na sala com a companheira, Lívia, de braços dados. — Interrompemos a sessão matinal de fofocas? — brincou o gama, erguendo uma sobrancelha. — Ouvi dizer que as paredes aqui andam ouvindo mais do que deveriam. — Vocês dois também? — perguntou Selena, rindo. — Devo começar a considerar reforçar a segurança sonora deste castelo. — Só se quiser que a gente perca essas pérolas — disse Lívia, sorrindo e indo até os bebês para dar um beijo na testa de cada um. Todos riram juntos, e por um momento, parecia que o tempo tinha parado. Ali, entre risos, companheirismo e amor, Selena sentia que, finalmente, tudo estava como deveria estar. --- Um mês depois… O salão estava deslumbrante. As paredes de pedra haviam sido decoradas com tapeçarias novas, com o símbolo da alcatéia bordado em fios dourados. Candelabros flutuavam suavemente, e as tochas dançavam ao ritmo da música baixa que preenchia o ambiente. Era o dia da coroação de Selena — e o anúncio oficial do retorno da rainha ao trono do Vale Silencioso. Ela se encontrava em seus aposentos, diante do espelho, usando um vestido longo e elegante em tons de verde-escuro e prata. Celeste ajustava os últimos detalhes em sua capa, sorrindo com os olhos marejados. — Você está maravilhosa, Lena. Selena a olhou pelo espelho, segurando sua mão. — Obrigada por ficar comigo. Por tudo. — E ainda tem mais — disse Celeste, os olhos brilhando. — Rylan e eu… vamos nos casar no próximo mês. Selena se virou de uma vez. — O quê? Sério?! — Sim. Eu sou a segunda chance dele. E... acho que sempre fomos parte um do outro, mesmo quando não sabíamos. Selena a abraçou forte. — Estou tão feliz por vocês! Do lado de fora, os convidados começavam a se reunir. Lucian, vestido com um traje cerimonial impecável, já aguardava com os filhos ao seu lado, todos sorridentes e prontos. Caden, Lívia, Rylan — agora também vestido com insígnias formais — e toda a alcatéia aguardavam a nova rainha. E quando Selena desceu as escadas, sob os olhos atentos de sua família, amigos e seu povo, a luz do entardecer caiu sobre ela como um sinal. O salão se silenciou, reverente. Ela não era apenas a herdeira perdida. Era a rainha escolhida. E a Alcatéia Real enfim, estava completo. novamente. Os anciãos estavam posicionados ao centro do grande salão. À frente do trono de pedra adornado com runas antigas, Lucian e Selena se aproximaram. O salão, decorado com tapeçarias verde-escuras e tochas acesas, estava lotado. Todos aguardavam em silêncio. Thaddeus, o mais velho entre os anciãos, deu um passo à frente com a coroa de prata e pedras do vale em mãos. Havia solenidade em sua voz ao falar: — Hoje, diante da alcatéia e das forças ancestrais que nos regem, coroamos a rainha ao lado de nosso rei. Selena, companheira destinada de Lucian, soberano do Vale Silencioso, você aceita reinar ao lado dele, guiando nosso povo com sabedoria, coragem e lealdade? Selena respirou fundo, sentindo o peso do momento. — Sim. Aceito. Thaddeus sorriu com reverência e colocou a coroa sobre sua cabeça. — Que o laço sagrado entre rei e rainha fortaleça o Vale, e que o destino que os uniu seja nossa proteção e guia. A multidão aplaudiu e uivou em celebração. Lucian segurou a mão de Selena, e juntos se voltaram para seu povo. Ela agora era a rainha do Vale Silencioso — não por sangue, mas por amor, por destino e pelo vínculo eterno que unia suas almas. --- Mais tarde naquela noite... O salão de banquetes estava repleto de música, conversas e taças tilintando. A longa mesa principal reunia os mais próximos do casal real: Lucian e Selena ao centro; Rylan e Celeste à direita; Caden e Lívia à esquerda. Risos vinham de todos os lados, e o clima era leve, acolhedor. Celeste ainda exibia um sorriso radiante. Seu anúncio havia emocionado muitos: ela era a segunda chance de Rylan, e o casamento dos dois aconteceria no mês seguinte. — Você viu o rosto dele quando eu contei? — Celeste cochichou para Selena, rindo. — Quase derrubou a taça. —Não foi só a taça — comentou Rylan, com um meio sorriso. — Meu lobo rugiu mais alto do que eu. Todos à mesa riram, até que as portas principais do salão se abriram com um estalo seco. O som ecoou entre as colunas de pedra, abafando a música. Um grupo entrou sem cerimônia. As roupas eram escuras, os semblantes frios. Os passos, lentos e carregados de intenção. A energia mudou imediatamente. Rylan e Caden pararam de sorrir. Ambos se levantaram levemente em alerta, os olhos fixos nos recém-chegados. Um rosnado baixo e ameaçador escapou do peito de cada um, instintivo. — Eles... — murmurou Caden, estreitando os olhos. — Não deveriam estar aqui — completou Rylan, se colocando sutilmente à frente de Celeste. Lucian se levantou com imponência. O salão todo silenciou. — Vocês não foram convidados — declarou ele, sua voz firme como pedra. — O que estão fazendo aqui? O homem à frente do grupo deu um passo adiante, vestindo um sorriso que não chegava aos olhos. — Viemos apenas para parabenizar o rei e sua nova rainha. Um gesto de... cortesia. Selena ficou de pé ao lado de Lucian, sua expressão calma, mas vigilante. — Cortesia seria enviar um recado — disse ela, com um olhar firme. — Não invadir uma celebração sagrada da alcatéia. Rylan rangeu os dentes. O lobo dentro dele se debatia sob a pele. Caden rosnou novamente, visivelmente incomodado. — Vocês têm dois minutos — disse Lucian, descendo um degrau da plataforma com a aura de rei em alerta. — Falem o que vieram dizer… ou serão escoltados para fora. O grupo hesitou. A tensão era quase palpável no ar. E todos sabiam: a paz daquela noite tinha sido quebrada.O salão estava voltando ao seu ritmo festivo após o breve susto, mas a energia não era mais a mesma. A presença do grupo recém-chegado pairava como uma nuvem escura sobre todos.Lucian se manteve em pé, a mão de Selena ainda entrelaçada à sua. Seus olhos estavam fixos na mulher que liderava o grupo.Alta, com cabelos longos e escuros presos em um coque elegante, seus olhos cinzentos varriam o salão como se tudo aquilo lhe pertencesse. Estava vestida com roupas finas demais para alguém que não havia sido convidada — como se soubesse que teria atenção.— Maedra... — disse Lucian, com um tom controlado, mas carregado de desprezo.A mulher sorriu de lado, como se o nome na boca do rei fosse uma melodia nostálgica.— Sobrinho — respondeu, com um leve aceno de cabeça. — Que cerimônia encantadora... embora um pouco simples para algo tão grandioso quanto a coroação de uma rainha.— Não me lembro de ter enviado um convite — rebateu Lucian
O bar estava lotado como sempre. Erin deslizava entre as mesas, equilibrando bandejas cheias de cerveja, ouvindo as risadas roucas e os comentários sussurrados dos clientes. O cheiro de álcool, fumaça e algo mais — algo selvagem — impregnava o ar. Ela se acostumara com isso. Trabalhar em um bar de lobisomens não era para qualquer um, mas Erin não conhecia outro lar.Então, ela sentiu.O olhar.Forte, intenso, queimando sua pele como fogo.Ela se virou, o coração batendo rápido. Encostado no balcão, um homem a observava com uma atenção que a deixou sem ar.Ele era alto, de ombros largos, a sombra da barba marcando seu maxilar. O cabelo escuro caía de forma rebelde sobre sua testa, e seus olhos dourados pareciam brilhantes demais sob as luzes fracas do bar. Um uísque repousava em sua mão, intocado.Mas ele só olhava para ela.Erin tentou ignorar. Continuou atendendo, rindo de piadas sem graça, desviando de clientes embriagados. Mas sempre que olhava para o balcão, lá estava ele.Na terc
O sol ainda não havia surgido completamente quando Erin abriu os olhos.Por um momento, ela não reconheceu onde estava. Lençóis macios, um colchão absurdamente confortável, um aroma amadeirado e masculino preenchendo o ar. Então, a memória da noite passada a atingiu como um raio.Lucian.Ela virou a cabeça devagar e viu o homem dormindo ao seu lado. Mesmo adormecido, ele exalava poder. O lençol cobria parte de seu corpo, mas ela podia ver os músculos definidos, os traços fortes, a pele quente contra a luz fraca do amanhecer.Seu coração acelerou.O que diabos ela tinha feito?Uma onda de pânico tomou conta dela. Ela nunca tinha feito algo assim. Passara a vida toda se protegendo, construindo barreiras para que ninguém se aproximasse. E agora… havia se entregado a um estranho.Um estranho que, claramente, era rico.Seus olhos percorreram o quarto luxuoso. O lustre no teto, os móveis de design sofisticado, a vista imponente da cidade. Ele não era um lobo comum. Não era um cliente qualqu
Rylan e Caden estavam sentados na luxuosa sala de estar da suíte do hotel, observando o rei com cautela.Lucian andava de um lado para o outro, visivelmente irritado.— Então… — Rylan começou, escolhendo as palavras com cuidado. — Quem é Erin?Lucian parou e lançou um olhar afiado para ele.— Isso não é da sua conta.Caden trocou um olhar rápido com Rylan antes de tentar outra abordagem.— Certo, mas… você quer que a encontremos. Isso significa que ela é importante. Só precisamos entender o quão importante.Lucian passou a mão pelos cabelos e respirou fundo, controlando a frustração.— Eu não sei quem ela é. Mas… ela é minha.Rylan e Caden franziram a testa ao mesmo tempo.— Sua… como? — Rylan perguntou, cruzando os braços.Lucian não respondeu de imediato. O silêncio prolongado apenas aumentou a tensão no ar.— Apenas encontrem-na — ele ordenou, a voz firme, deixando claro que não havia mais espaço para perguntas.Os dois assentiram, sabendo que o rei raramente ficava tão perturbado
Erin sentia sua mente girar.O silêncio no quarto era quase palpável enquanto ela absorvia o que acabara de ouvir.— Você… está dizendo que sou sua irmã? — sua voz saiu hesitante, como se o simples ato de falar as palavras tornasse tudo mais real.Celeste assentiu, seus olhos brilhando com emoção.— Não apenas minha irmã… minha irmã gêmea.O coração de Erin martelava em seu peito.— E você é minha mãe? — Ela olhou para Helena, que sorriu suavemente, com os olhos marejados.— Sim, minha querida. Você é minha filha.Isla, a mais nova, se aproximou com um sorriso caloroso.— E eu sou sua irmã caçula.Erin piscou algumas vezes, tentando processar tudo. Por anos, ela se perguntou quem eram seus pais, de onde veio… e agora, a verdade estava bem diante dela.Helena suspirou e pegou a mão de Erin com delicadeza.— Vou te contar tudo.Ela respirou fundo antes de continuar.— Quando você e Celeste tinham quatro anos, houve uma guerra. Nossa matilha, a Matilha da Lua Escarlate, foi chamada para
Lucian sentou-se na cabeceira da grande mesa do conselho, entediado antes mesmo da reunião começar.O salão da Matilha Real estava repleto de anciões e líderes de matilhas menores que vieram para a reunião anual. Ele já sabia quais seriam os assuntos: Segurança das fronteiras, Alianças com outras matilhas e O futuro do trono – esse era o tema que ele mais odiava.— Majestade — começou o ancião Alaric, um dos mais velhos e respeitados do conselho. — Já está com 29 anos. A linhagem real precisa ser assegurada.Lucian bufou, sem esconder sua irritação.— Já falamos sobre isso antes. Não vou escolher uma parceira aleatoriamente.— Mas precisa haver um plano! — insistiu outro ancião. — Se não encontrar sua companheira, deve escolher uma loba adequada para acasalar e garantir a continuidade da linhagem real.Lucian cruzou os braços.— Eu vou encontrar minha companheira.— Tem certeza de que ela existe? — um ancião perguntou com cautela.Lucian rosnou, sua paciência se esgotando.Ele não tin
Erin ainda estava sentada na cama, processando a notícia de sua gravidez. Sua mente girava, e o peso da revelação deixava seu peito apertado.Celeste e Isla estavam sentadas ao seu lado, enquanto Helena permanecia perto da porta, observando-a com carinho e paciência.— Então… — Celeste começou, inclinando-se para frente. — Como você conheceu o pai do bebê?Erin engoliu em seco, sentindo suas bochechas queimarem.— Bom… — Ela olhou para as irmãs, hesitante. — Foi em um bar…Isla arregalou os olhos, animada.— Um bar? Isso já está ficando interessante!Helena franziu levemente a testa, mas não disse nada. Erin sabia que sua mãe não a julgaria, mas ainda se sentia estranha contando aquela história.— Eu… — Erin respirou fundo. — Eu estava trabalhando no bar onde servia drinks e ele apareceu. Um homem alto, forte, de presença marcante. Eu juro, assim que bati os olhos nele, foi como se o ar tivesse ficado pesado.Celeste sorriu de canto.— Atração instantânea?Erin revirou os olhos.— Mui
O escritório de Helena era um espaço acolhedor, repleto de livros, documentos e o aroma de chá de ervas. Erin estava sentada em uma poltrona confortável, acariciando distraidamente sua barriga arredondada de seis meses. A porta se abriu de repente, e Celeste e Isla entraram em meio a uma discussão animada. — Eu aposto que Erin vai querer as frutas que eu trouxe — Celeste disse, segurando um pratinho com pedaços coloridos de morango, manga e mirtilo. — Ah, por favor! — Isla revirou os olhos, segurando uma tigela de mingau de aveia fumegante. — Mingau é muito mais nutritivo! Helena, que estava sentada atrás da mesa, riu da pequena disputa. — Vocês duas agem como se pudessem prever os desejos de uma grávida — brincou. Erin, com um sorriso divertido, olhou para as irmãs e pegou as duas porções sem dizer nada. Em seguida, despejou as frutas dentro da tigela de mingau, misturando tudo. Celeste e Isla fizeram expressões de puro espanto. — Eca! — Isla fez uma careta. — Isso parece er