luz da manhã começou a tocar as cortinas do nosso quarto, filtrando-se em feixes dourados que pareciam abençoar tudo o que alcançavam.
Acordei primeiro, como sempre. Ainda meio deitado, apoiei meu corpo sobre o braço esquerdo e me permiti observar minha família. Meu mundo. Selena dormia com um dos braços estendido por cima de Lucy, o rosto sereno, os cabelos bagunçados pela noite, espalhados sobre o travesseiro. Os lábios entreabertos e a expressão tranquila a faziam parecer ainda mais bonita do que qualquer lembrança que eu guardei. Se eu já não estivesse perdido de amor por ela, tenho certeza que nesse exato momento, observando esse sorriso suave mesmo dormindo… eu teria me apaixonado de novo. Ao meu lado, Luke começou a se remexer, os olhinhos piscando devagar até que as mãozinhas começaram a se mover no ar, como se ele quisesse pegar a luz. Um de seus bracinhos bateu levemente em Selena. Ela resmungou baixinho antes de abrir os olhos com lentidão. E quando o fez… aquele sorriso. Aquele sorriso que me desarmava. — Bom dia — murmurei, quase num sussurro. Ela olhou pra mim e esticou a mão, tocando meu rosto de leve. — Bom dia, meu rei. Antes que eu pudesse responder, um biquinho dramático surgiu no rostinho de Lucy. A pequena princesa virou-se resmungando em busca da mãe. Selena se sentou com cuidado, pegando Lucy nos braços. Uma batida suave na porta interrompeu aquele momento. Me levantei, ainda com um sorriso no rosto, e fui atender. Era Merla, com um sorriso maternal e duas mamadeiras mornas nas mãos. — Achei que talvez precisassem disso — disse ela, olhando para os pequenos em nossos braços. — Você leu meus pensamentos, Merla. Obrigado — agradeci, pegando as mamadeiras. Fechei a porta com o pé e voltei para a cama. Entreguei uma das mamadeiras para Selena, que já embalava Lucy com carinho, e me sentei com Luke no colo. — Vamos lá, meu garotão — murmurei, e ele logo se agarrou à mamadeira com entusiasmo. Enquanto dávamos as mamadeiras e trocávamos olhares ternos, um sentimento profundo me atingiu. Aquela cena… aquilo era tudo. Era o que eu nem sabia que precisava até tê-lo. Depois da mamada e da higiene matinal, nos aprontamos e descemos juntos até o grande salão de jantar. As mesas já estavam postas, repletas de frutas, pães frescos e pratos quentes, e vários membros da corte e convidados circulavam ali, trocando cumprimentos e risadas. Acompanhei Selena até onde estavam meu gama e sua companheira. — Caden, Lívia, quero que conheçam minha companheira… Selena. E nossos filhos, Luke e Lucy. Lívia, com seus olhos brilhando e um sorriso largo no rosto, rapidamente tomou Lucy de meus braços, como se tivesse esperado por isso desde a noite anterior. — Ela é perfeita! — exclamou, aninhando Lucy com tanta naturalidade que parecia ter nascido para cuidar de bebês. Logo em seguida, Rylan entrou com Celeste e, como se tivessem combinado, ele caminhou direto até Selena, pegando Luke nos braços com um sorriso encantado. — Já estou pegando prática com bebês, hein? — disse, piscando para Selena, que apenas riu. Aproveitei a leve distração e segurei a mão de Selena, conduzindo-a até seu lugar ao meu lado — no assento destinado à rainha. Porque era isso que ela era. A minha rainha. Não por título. Mas por essência. Helena e Isla já estavam à mesa. Cumprimentei-as com carinho e perguntei como haviam passado a noite. — Dormi como uma pedra — respondeu Helena, tranquila. — A cama era deliciosa. — Eu amei tudo! — disse Isla, entusiasmada. — O quarto parecia de princesa! Nunca vi uma banheira tão grande! Eu queria morar aqui, inclusive. Já falei. Se tiver um castelo sobrando... me avisa! Todos riram, inclusive Selena, que segurava o riso com a mão. — Isla, você passou uma noite e já está se sentindo da realeza — brinquei. — Ora, eu sou da realeza por tabela, não sou? — respondeu ela com uma piscadela. Helena apenas suspirou e balançou a cabeça, mesmo sorrindo. — Veremos quando você encontrar seu companheiro — comentou, com esperança nos olhos. Isla bufou, teatral como sempre. — A deusa da lua tá me deixando de castigo, mãe. — Talvez ela ainda esteja procurando alguém disponível para ser atropelado — respondeu Selena, provocando risos gerais. A mesa se encheu de conversa e gargalhadas, e naquele instante, olhando para cada um deles, senti uma paz tão profunda que quase me emocionou. Observei meus filhos sendo mimados por todos, ouvi as risadas, senti a mão de Selena sobre a minha. Era tudo real. E, por um momento, fechei os olhos, como quem grava uma memória com o coração. Hoje, pela primeira vez em anos, eu me sentia completo. Se isso for um sonho... que eu nunca acorde.Acordar com o calor de duas vidas tão pequenas e tão minhas aninhadas ao meu lado era um sentimento que eu jamais conseguiria descrever completamente.Abri os olhos com a leve batida de Luke em meu braço. Ele mexia as mãozinhas e soltava sons quase inaudíveis, mas suficientes para me acordar. E, mesmo ainda meio sonolenta, um sorriso brotou no meu rosto antes mesmo de eu conseguir me sentar.Ao meu lado, Lucian já estava acordado, me observando com aquele olhar… aquele olhar que fazia meu coração bater forte toda vez.— Bom dia — sussurrei, tocando de leve o rosto dele.— Bom dia, meu amor — respondeu ele, os olhos brilhando.Lucy, como a princesinha cheia de personalidade que é, soltou um biquinho nada discreto, se remexendo entre os lençóis até encontrar meu colo. Peguei-a com cuidado, embalei devagar e beijei sua testa.Meu coração se apertava e se expandia ao mesmo tempo.Eu os tinha de volta. E agora eu também tinha Lucian.Houve uma batida suave na porta e ele se levantou. Insta
Após a reunião no salão principal, Helena e Isla se despediram das filhas com abraços longos e emocionados. A matriarca da Matilha da Lua Escarlate passou a mão carinhosamente pelo cabelo de Selena, como fazia quando ela era pequena.— Você está pronta para isso, minha filha. E estamos todas muito orgulhosas de você — disse Helena com firmeza, mas os olhos marejados.Isla, a mais nova, foi quem tentou esconder a emoção com piadas.— Não se esqueçam da irmã caçula quando forem ricas e famosas, ok? E mandem fotos do bolo.Celeste riu e respondeu com um beijo na bochecha da irmã:— Só se você prometer não provocar a mamãe na viagem inteira de volta.— Sem promessas — Isla piscou, abraçando Selena em seguida.Após a despedida, Selena respirou fundo. Lucian apareceu ao seu lado e segurou sua mão.— Agora que você é oficialmente parte disso tudo... é hora de conhecer cada canto do que também é seu — disse ele, com aquele sorriso sereno que só ela conhecia.Celeste se juntou a eles, empolgad
O som suave da risada de Lucy encheu o quarto quando Selena a ergueu no colo, aninhando seu corpinho contra o peito. Luke, com seus olhos curiosos e atentos, já descansava nos braços de Lucian, observando tudo com a serenidade de quem parecia entender mais do que deveria para um bebê de dois anos.Selena se sentou na beirada da cama, afagando os cabelos da filha com delicadeza. Era em momentos como aquele que o mundo parecia parar, e tudo se resumia ao calor de sua família.— Eles estão crescendo tão rápido... — ela murmurou, sorrindo para Lucian.Lucian se aproximou e se sentou ao lado dela, encostando a bochecha no topo da cabeça de Selena.— Estão mesmo. E hoje, por algumas horas... você vai ter um tempinho só pra você. — Ele se afastou um pouco, o olhar carregando um brilho misterioso.— Como assim?— Tenho uma surpresa. — Seus olhos se fixaram nos dela. — E essa noite, os pequenos vão ficar com a Celeste e o Rylan. Eles ficaram felizes em cuidar deles.Selena arqueou uma sobrance
O "sim" ainda vibrava nos lábios de Selena quando Lucian a puxou para um beijo faminto, como se aquele simples som tivesse rompido qualquer controle que ele ainda tinha. Seus corpos se colaram, e o mundo ao redor desapareceu. Agora, só existia o calor — dele, dela — e o desejo pulsando entre os dois como um chamado primal.Lucian a conduziu até o quarto, as mãos não se separando das curvas dela nem por um instante. Assim que a porta se fechou atrás deles, ele a encostou ali mesmo, contra a madeira fria, o contraste fazendo Selena arfar.— Você tem ideia do que faz comigo? — ele murmurou contra o pescoço dela, a voz rouca e baixa como um trovão prestes a explodir.— Mostra pra mim... — ela sussurrou, cravando os dedos nos cabelos dele.Ele não precisou de mais incentivo. A boca dele desceu para o colo dela enquanto as mãos desfaziam o fecho do vestido com precisão e urgência. A peça deslizou por seu corpo como seda, revelando sua pele aos poucos, d
Selena descia lentamente os degraus da escada principal, sua mão entrelaçada à de Lucian. A luz da manhã filtrava pelas janelas do grande salão, iluminando os cabelos dourados dela como uma coroa natural. Lucian a observava com aquele sorriso que ela já começava a conhecer como exclusivo — reservado apenas para ela.Quando chegaram ao térreo, o som suave de risadas infantis os guiou até a sala da frente. Celeste estava sentada no chão, cercada por almofadas e brinquedos espalhados, enquanto Rylan equilibrava com cuidado uma das crianças nos ombros.— Bom dia, majestades sonolentos — brincou Celeste, levantando uma sobrancelha para a irmã. — Dormiram bem… ou nem dormiram?Selena corou imediatamente, dando um leve tapa no ombro da irmã.— Celeste!Lucian apenas riu, abraçando Selena pela cintura.— Se serve de consolo, a surpresa foi ideia minha.— Ah, nós sabemos — disse Rylan, pegando o bebê que tentava agarrar o cabelo
O salão estava voltando ao seu ritmo festivo após o breve susto, mas a energia não era mais a mesma. A presença do grupo recém-chegado pairava como uma nuvem escura sobre todos.Lucian se manteve em pé, a mão de Selena ainda entrelaçada à sua. Seus olhos estavam fixos na mulher que liderava o grupo.Alta, com cabelos longos e escuros presos em um coque elegante, seus olhos cinzentos varriam o salão como se tudo aquilo lhe pertencesse. Estava vestida com roupas finas demais para alguém que não havia sido convidada — como se soubesse que teria atenção.— Maedra... — disse Lucian, com um tom controlado, mas carregado de desprezo.A mulher sorriu de lado, como se o nome na boca do rei fosse uma melodia nostálgica.— Sobrinho — respondeu, com um leve aceno de cabeça. — Que cerimônia encantadora... embora um pouco simples para algo tão grandioso quanto a coroação de uma rainha.— Não me lembro de ter enviado um convite — rebateu Lucian
O bar estava lotado como sempre. Erin deslizava entre as mesas, equilibrando bandejas cheias de cerveja, ouvindo as risadas roucas e os comentários sussurrados dos clientes. O cheiro de álcool, fumaça e algo mais — algo selvagem — impregnava o ar. Ela se acostumara com isso. Trabalhar em um bar de lobisomens não era para qualquer um, mas Erin não conhecia outro lar.Então, ela sentiu.O olhar.Forte, intenso, queimando sua pele como fogo.Ela se virou, o coração batendo rápido. Encostado no balcão, um homem a observava com uma atenção que a deixou sem ar.Ele era alto, de ombros largos, a sombra da barba marcando seu maxilar. O cabelo escuro caía de forma rebelde sobre sua testa, e seus olhos dourados pareciam brilhantes demais sob as luzes fracas do bar. Um uísque repousava em sua mão, intocado.Mas ele só olhava para ela.Erin tentou ignorar. Continuou atendendo, rindo de piadas sem graça, desviando de clientes embriagados. Mas sempre que olhava para o balcão, lá estava ele.Na terc
O sol ainda não havia surgido completamente quando Erin abriu os olhos.Por um momento, ela não reconheceu onde estava. Lençóis macios, um colchão absurdamente confortável, um aroma amadeirado e masculino preenchendo o ar. Então, a memória da noite passada a atingiu como um raio.Lucian.Ela virou a cabeça devagar e viu o homem dormindo ao seu lado. Mesmo adormecido, ele exalava poder. O lençol cobria parte de seu corpo, mas ela podia ver os músculos definidos, os traços fortes, a pele quente contra a luz fraca do amanhecer.Seu coração acelerou.O que diabos ela tinha feito?Uma onda de pânico tomou conta dela. Ela nunca tinha feito algo assim. Passara a vida toda se protegendo, construindo barreiras para que ninguém se aproximasse. E agora… havia se entregado a um estranho.Um estranho que, claramente, era rico.Seus olhos percorreram o quarto luxuoso. O lustre no teto, os móveis de design sofisticado, a vista imponente da cidade. Ele não era um lobo comum. Não era um cliente qualqu