Erin sentia sua mente girar.
O silêncio no quarto era quase palpável enquanto ela absorvia o que acabara de ouvir. — Você… está dizendo que sou sua irmã? — sua voz saiu hesitante, como se o simples ato de falar as palavras tornasse tudo mais real. Celeste assentiu, seus olhos brilhando com emoção. — Não apenas minha irmã… minha irmã gêmea. O coração de Erin martelava em seu peito. — E você é minha mãe? — Ela olhou para Helena, que sorriu suavemente, com os olhos marejados. — Sim, minha querida. Você é minha filha. Isla, a mais nova, se aproximou com um sorriso caloroso. — E eu sou sua irmã caçula. Erin piscou algumas vezes, tentando processar tudo. Por anos, ela se perguntou quem eram seus pais, de onde veio… e agora, a verdade estava bem diante dela. Helena suspirou e pegou a mão de Erin com delicadeza. — Vou te contar tudo. Ela respirou fundo antes de continuar. — Quando você e Celeste tinham quatro anos, houve uma guerra. Nossa matilha, a Matilha da Lua Escarlate, foi chamada para defender o rei e sua família. Éramos a maior e mais poderosa matilha depois da Matilha Real… mas não foi o suficiente para proteger a todos. Erin sentiu um arrepio percorrer sua espinha. — O que aconteceu? — Seu pai, nosso alfa… — Helena fechou os olhos por um momento, como se tentasse afastar a dor. — Ele morreu protegendo o herdeiro do trono. Celeste assentiu, sua mandíbula tensa. — Enquanto nossa matilha lutava, você foi levada de nós como refém. Buscamos por você, lutamos para te encontrar… mas nunca conseguimos. Helena apertou a mão de Erin. — Durante muito tempo, pensei que você estivesse morta. Mas agora… aqui está você. Viva. Linda. Os olhos de Helena se encheram de lágrimas. — Seu pai ficaria tão orgulhoso. A emoção atingiu Erin como uma onda. Por anos, ela se sentiu sozinha. Perdida. Sem um lugar para chamar de lar. Agora, ela tinha uma família. Ela olhou para Helena, para Celeste, para Isla… e então as abraçou. As três a envolveram em um abraço apertado, absorvendo a presença uma da outra, como se tentassem compensar todos os anos perdidos. Finalmente, Erin pertencia a algum lugar. Mas, no fundo de sua mente, sua loba permanecia inquieta. Algo não estava certo… --- Lucian estava furioso. Um mês inteiro. Um mês procurando por Erin sem nenhuma pista. Como era possível? Ele tinha recursos, informantes, rastreadores… e, ainda assim, ela desapareceu como se nunca tivesse existido. Rylan e Caden estavam sentados diante dele na suíte luxuosa, tensos diante de sua irritação. — Nada? — Lucian rosnou. Caden limpou a garganta. — Fizemos o possível, meu rei. Mas é como se ela tivesse evaporado. Lucian cerrou os punhos. Ele nunca se sentira assim antes. Uma mulher nunca o fez perder o controle. Nunca o fez desejá-la tanto a ponto de não suportar sua ausência. Mas Erin… Ele fechou os olhos, lembrando-se da noite que passaram juntos. O jeito como ela se entregou a ele, como se fossem feitos um para o outro. Ele não podia simplesmente deixá-la ir. Levantou-se abruptamente. — Voltamos para casa ao amanhecer. Os betas se entreolharam, surpresos com a decisão repentina. — Você vai desistir? — Rylan perguntou. Lucian olhou para ele com fogo nos olhos. — Nunca. Ele voltaria para sua matilha, mas continuaria sua busca. Ele precisava encontrá-la. Descobrir por que desapareceu. E, principalmente, entender por que ninguém conseguia encontrá-la. --- O mês passou em um piscar de olhos. Erin mergulhou de cabeça no mundo dos lobisomens. Ela aprendeu sobre matilhas, sobre a história de sua família e sobre tudo que sua mãe fez para proteger a Matilha da Lua Escarlate. Após perder o companheiro e alfa, Helena decidiu isolar sua alcateia do resto do mundo. Foi sua forma de manter todos a salvo, de evitar que outra tragédia acontecesse. Mas Erin também precisava entender a si mesma. Passou dias tentando se conectar com sua loba, mas algo estava errado. Sua loba estava quieta. Demais. Era como se estivesse escondendo algo. Algo importante. E isso a deixava inquieta. Naquela noite, durante o jantar, Erin sentiu uma onda de náusea repentina. Ela franziu a testa, levando a mão ao estômago. — Erin? — Isla perguntou, notando sua expressão. — Eu… acho que não estou me sentindo bem. Ela se levantou, mas antes que pudesse dar um passo, tudo escureceu. A última coisa que ouviu foram as vozes de Celeste e Isla gritando seu nome antes de tudo se apagar.Lucian sentou-se na cabeceira da grande mesa do conselho, entediado antes mesmo da reunião começar.O salão da Matilha Real estava repleto de anciões e líderes de matilhas menores que vieram para a reunião anual. Ele já sabia quais seriam os assuntos: Segurança das fronteiras, Alianças com outras matilhas e O futuro do trono – esse era o tema que ele mais odiava.— Majestade — começou o ancião Alaric, um dos mais velhos e respeitados do conselho. — Já está com 29 anos. A linhagem real precisa ser assegurada.Lucian bufou, sem esconder sua irritação.— Já falamos sobre isso antes. Não vou escolher uma parceira aleatoriamente.— Mas precisa haver um plano! — insistiu outro ancião. — Se não encontrar sua companheira, deve escolher uma loba adequada para acasalar e garantir a continuidade da linhagem real.Lucian cruzou os braços.— Eu vou encontrar minha companheira.— Tem certeza de que ela existe? — um ancião perguntou com cautela.Lucian rosnou, sua paciência se esgotando.Ele não tin
Erin ainda estava sentada na cama, processando a notícia de sua gravidez. Sua mente girava, e o peso da revelação deixava seu peito apertado.Celeste e Isla estavam sentadas ao seu lado, enquanto Helena permanecia perto da porta, observando-a com carinho e paciência.— Então… — Celeste começou, inclinando-se para frente. — Como você conheceu o pai do bebê?Erin engoliu em seco, sentindo suas bochechas queimarem.— Bom… — Ela olhou para as irmãs, hesitante. — Foi em um bar…Isla arregalou os olhos, animada.— Um bar? Isso já está ficando interessante!Helena franziu levemente a testa, mas não disse nada. Erin sabia que sua mãe não a julgaria, mas ainda se sentia estranha contando aquela história.— Eu… — Erin respirou fundo. — Eu estava trabalhando no bar onde servia drinks e ele apareceu. Um homem alto, forte, de presença marcante. Eu juro, assim que bati os olhos nele, foi como se o ar tivesse ficado pesado.Celeste sorriu de canto.— Atração instantânea?Erin revirou os olhos.— Mui
O escritório de Helena era um espaço acolhedor, repleto de livros, documentos e o aroma de chá de ervas. Erin estava sentada em uma poltrona confortável, acariciando distraidamente sua barriga arredondada de seis meses. A porta se abriu de repente, e Celeste e Isla entraram em meio a uma discussão animada. — Eu aposto que Erin vai querer as frutas que eu trouxe — Celeste disse, segurando um pratinho com pedaços coloridos de morango, manga e mirtilo. — Ah, por favor! — Isla revirou os olhos, segurando uma tigela de mingau de aveia fumegante. — Mingau é muito mais nutritivo! Helena, que estava sentada atrás da mesa, riu da pequena disputa. — Vocês duas agem como se pudessem prever os desejos de uma grávida — brincou. Erin, com um sorriso divertido, olhou para as irmãs e pegou as duas porções sem dizer nada. Em seguida, despejou as frutas dentro da tigela de mingau, misturando tudo. Celeste e Isla fizeram expressões de puro espanto. — Eca! — Isla fez uma careta. — Isso parece er
A lua cheia pairava sobre o céu límpido, iluminando o castelo da matilha real. Dentro dos muros de pedra imponentes, os preparativos para o grande baile estavam finalizados. O evento era aguardado com ansiedade por muitas fêmeas em busca de seus companheiros, mas para o rei, Lucian, aquilo era apenas uma formalidade exaustiva. Ele já sabia o que esperar: uma noite longa, cheia de lobas tentando seduzi-lo, esperando que fossem a escolhida de seu lobo.Mas aquela noite seria diferente.A uma hora dali, na matilha da Lua Escarlate, Erin e suas irmãs estavam quase prontas para partir. Isla resmungava enquanto prendia um grampo nos cabelos escuros.— Não é justo! Celeste e Erin já foram quando eram crianças, e eu nunca tive essa chance.— Isso porque você ainda não tinha nascido, sua tonta — Celeste zombou, ajeitando o vestido azul-claro que realçava seus olhos.— Na verdade, não é bem assim — Erin interveio, lançando um olhar curioso para a irmã mais nova. — Mamãe não sabia que estava grá
O caminho de volta para casa foi silencioso, apenas o som da respiração tranquila dos bebês preenchia o carro. Erin manteve os olhos fixos na estrada, mas seu coração estava inquieto. Isla, sentada ao seu lado, mantinha uma das mãos sobre a dela, um gesto simples, mas que transmitia todo o apoio de que Erin precisava.Quando finalmente chegaram à alcatéia, o sol já havia começado a se pôr, banhando tudo em tons dourados. Assim que a porta da casa se abriu, a emoção no rosto de sua mãe foi imediata. Os olhos marejaram, e um soluço escapou de seus lábios antes que ela pudesse conter a emoção.— Me perdoe, Erin — a voz dela era embargada. — Eu não estive ao seu lado quando você mais precisou...Erin engoliu em seco. Parte dela queria lembrar a mãe de todas as vezes que se sentiu sozinha, mas agora, olhando nos olhos dela, viu apenas arrependimento e amor. E isso bastava.— Você estará em todos os próximos momentos — Erin respondeu suavemente, puxando-a para um abraço apertado.A casa da
Seis meses haviam se passado desde o nascimento de Luke e Lucy, e a vida de Erin havia mudado completamente. Seus dias eram uma mistura de mamadeiras, fraldas, treinamentos e estudos. Ela sabia que viver entre lobos significava estar sempre alerta, e, como mãe, a prioridade máxima era proteger seus filhos.Seus treinamentos eram intensos. Ela aprimorava suas habilidades de combate, fortalecia seu vínculo com sua loba e aprendia mais sobre a política entre as matilhas. No entanto, por mais ocupada que estivesse, sua mente, de vez em quando, a traía.Lucian.O nome dele ecoava em sua mente nos momentos mais silenciosos da noite, quando os bebês finalmente dormiam e ela se permitia deitar, exausta. Será que ele pensava nela? Será que imaginava reencontrá-la algum dia? Será que ele sentia a falta deles do mesmo jeito que ela sentia?Sua loba, sempre atenta às suas emoções, decidiu se manifestar."A Deusa da Lua tem seus planos, Erin. No momento certo, ela trará nosso companheiro de volta
A Alcatéia do Rio Sombrio sempre foi pequena, mas resistente. Localizada em uma região isolada, era o lar de lobos que preferiam a tranquilidade ao caos político das grandes alcatéias. No entanto, a paz havia sido perturbada por ataques de renegados misteriosos. Alina e seu companheiro, o beta Rylan, haviam passado uma semana investigando, patrulhando dia e noite ao lado do alfa local, Darius, e seus guerreiros. Nenhum sinal dos invasores… até o último dia. O vento cortava a mata escura, farfalhando as folhas. Alina caminhava ao lado de Rylan, sentindo o cheiro úmido da floresta após a chuva da tarde. — Acho que voltaremos para o palácio sem respostas — comentou Alina, seu tom carregado de frustração. Rylan suspirou. — Se os renegados quiserem atacar, eles fazem isso de forma imprevisível. Pode ser que só estejamos um passo atrás deles. Alina assentiu, mas sua loba estava inquieta. Foi então que um estalo ecoou na floresta. Rylan parou de imediato, os olhos dourados br
A lua cheia pairava sobre a Alcatéia do Rio Sombrio quando Lucian e Caden chegaram com um grupo de guerreiros. A viagem foi silenciosa, pesada. Todos sabiam que não estavam apenas ali para exterminar renegados, mas para trazer Alina de volta para casa—mesmo que apenas seu corpo.O cheiro de sangue impregnava o ar. Corpos de renegados estavam espalhados pelo campo de batalha, suas carcaças dilaceradas sem piedade. Não havia sobreviventes.Lucian olhou para o caos ao redor, os olhos brilhando em fúria. Ele não precisou perguntar o que aconteceu.Rylan estava de pé no centro do massacre, coberto de sangue, a respiração pesada. Seus olhos, antes vivos, agora estavam vazios.Caden foi o primeiro a se aproximar, colocando a mão no ombro do beta.— Rylan…O lobo apenas fechou os olhos e soltou um suspiro trêmulo.— Eles se foram. Todos eles.— Você… os matou sozinho? — Lucian perguntou, cruzando os braços.Rylan assentiu lentamente.— Eles não mereciam viver.Nenhum dos guerreiros questionou