A lua cheia pairava sobre a Alcatéia do Rio Sombrio quando Lucian e Caden chegaram com um grupo de guerreiros. A viagem foi silenciosa, pesada. Todos sabiam que não estavam apenas ali para exterminar renegados, mas para trazer Alina de volta para casa—mesmo que apenas seu corpo.
O cheiro de sangue impregnava o ar. Corpos de renegados estavam espalhados pelo campo de batalha, suas carcaças dilaceradas sem piedade. Não havia sobreviventes. Lucian olhou para o caos ao redor, os olhos brilhando em fúria. Ele não precisou perguntar o que aconteceu. Rylan estava de pé no centro do massacre, coberto de sangue, a respiração pesada. Seus olhos, antes vivos, agora estavam vazios. Caden foi o primeiro a se aproximar, colocando a mão no ombro do beta. — Rylan… O lobo apenas fechou os olhos e soltou um suspiro trêmulo. — Eles se foram. Todos eles. — Você… os matou sozinho? — Lucian perguntou, cruzando os braços. Rylan assentiu lentamente. — Eles não mereciam viver. Nenhum dos guerreiros questionou. Eles entendiam. Quem já teve uma companheira sabia que perder uma significava perder metade da própria alma. Lucian olhou para o alfa da Alcatéia do Rio Sombrio, Darius, que observava a cena em silêncio. — Obrigado por cuidar dele. Agora nós o levamos para casa. Darius apenas assentiu. A tensão no ar era palpável quando Caden e outros guerreiros carregaram o corpo de Alina, coberto por um manto escuro. O luto era visível em cada olhar. Sem mais palavras, partiram. De Volta à Alcatéia Real O funeral aconteceu sob a luz da lua, com apenas os mais próximos presentes. A pedido de Rylan, a cerimônia foi íntima. Lívia, a gama feminina, permaneceu ao lado de Caden em silêncio, enquanto a família de Rylan chorava sua perda. Quando a cerimônia terminou, Lucian se afastou para enviar um comunicado a todas as alcatéias. O e-mail era direto e sem rodeios: "Estamos em luto pela perda de Alina, beta da Alcatéia Real. Sua morte é um lembrete do perigo que espreita nas sombras. Qualquer sinal de ataque de renegados deve ser imediatamente comunicado à Alcatéia Real. A segurança de todos depende disso." Lucian enviou a mensagem e olhou pela janela. Alcatéia da Lua Escarlate... Na sala de estar da casa principal, Helena lia os e-mails em seu tablet, os olhos marejando discretamente. Ao terminar, suspirou profundamente, deixando o aparelho sobre a mesa. — Alina… — murmurou. — Que a Deusa da Lua guie sua alma. Celeste e Isla estavam por perto quando ouviram o tom grave da mãe. Erin entrou logo depois com Lucy no colo e Luke cochilando no carrinho. Ela notou o clima estranho no ambiente. — O que houve, mãe? Helena passou a mão pelo rosto e se recompôs antes de responder. — Acabei de ler um comunicado da Alcatéia Real. Alina, a beta, faleceu num ataque de renegados. Erin arregalou os olhos, chocada. — Eu… eu não sabia. Que tristeza… Helena assentiu com pesar. — Não tive a chance de conhecê-la. Mas Rylan… — ela sorriu levemente, saudosa — conheci quando ele ainda era filhote. Cresceu ao lado de Lucian, os dois inseparáveis. Eram como irmãos. Ele sempre teve um coração gentil, mesmo sendo forte demais para a idade. Saber que ele perdeu sua companheira assim… parte o coração. Celeste pegou Luke no colo e se sentou ao lado de Erin, tentando amenizar o clima pesado. — Eles vão superar. De alguma forma, vão. Erin ficou em silêncio, acariciando os cabelinhos de Lucy enquanto pensava em Lucian. Um Mês Depois… Na manhã ensolarada de um domingo calmo, Helena abriu o e-mail com o selo dourado da Alcatéia Real. Após ler, chamou as filhas com um leve pesar na voz. — Meninas, chegaram novas notícias da corte. As três irmãs pararam o que estavam fazendo e se aproximaram. — Não teremos o Baile dos Companheiros este ano — anunciou, com um olhar compreensivo. — O luto pela beta Alina ainda está recente, e a família pediu que o evento fosse adiado. Erin suspirou, forçando um pequeno sorriso. — Eu entendo… só que… — hesitou por um segundo — eu tinha uma pontinha de esperança, sabe? Talvez esse fosse o ano em que eu o reencontraria. O pai dos meus filhos. Celeste abraçou a irmã pelos ombros, enquanto Isla segurava sua mão. Helena, com um sorriso cheio de carinho, se aproximou e tocou o rosto da filha. — Não perca a fé, minha querida. A Deusa da Lua tem seus próprios caminhos e tempos. No próximo ano você irá, e sei que será abençoada. — E quem sabe — completou Isla com um sorriso brincalhão — no próximo baile, você vá com Luke e Lucy nos braços e eles encantem meio salão antes do pai deles sequer chegar perto. Erin riu, o coração mais leve. — Eu só quero que, onde quer que ele esteja, ele pense na gente às vezes… Lá longe, no palácio real, Lucian montava silenciosamente mais uma pequena estante no quarto dos bebês. E embora não soubesse o motivo exato, ele sentia... que precisava estar preparado. Para quando os visse pela primeira vez. Para quando finalmente os tivesse nos braços.O sol matinal lançava raios dourados sobre a casa principal da Alcatéia da Lua Escarlate quando Helena abriu seu e-mail e seus olhos pousaram no convite oficial para o Baile dos Companheiros. O evento anual que tantas jovens lobas esperavam havia sido cancelado no ano anterior devido ao luto da matilha real, mas agora, depois de um período difícil, ele voltaria a acontecer.Seu coração acelerou. Sem hesitar, confirmou a presença da família e fechou o laptop.Respirando fundo, ela sorriu ao pensar na reação de suas filhas.Saindo apressada da sala, Helena percorreu a casa em busca das meninas, até encontrá-las no jardim. Erin estava sentada na grama brincando com Luke e Lucy, enquanto suas irmãs, Celeste e Isla, observavam, trocando risadas.— Meninas! — Helena chamou, sua voz carregada de emoção.Elas se viraram de imediato, notando o brilho nos olhos da mãe.— O que foi, mãe? — Celeste perguntou, curiosa.Sem dizer nada, Helena levantou o tablet e mostrou a tela.— Este ano, o Baile
Erin / SelenaO sol mal havia tocado a janela do meu quarto quando os primeiros resmungos de Luke me despertaram. Sorri. Dois anos. Meus pequenos estavam completando dois anos hoje, e parecia que foi ontem que os segurei pela primeira vez nos braços, sem saber o que fazer, sem saber se conseguiria... mas aqui estávamos nós.Levantei e peguei Luke no colo, beijando sua bochecha quente e bagunçando seu cabelo escuro. Logo depois, Lucy também acordou, e com aquele jeitinho doce e esperto, estendeu os bracinhos pedindo colo. Nossa rotina matinal começou com mamadeiras, trocas de fraldas, roupinhas limpas e brinquedos espalhados. Eu fazia tudo isso com o coração cheio. Era exaustivo, sim. Mas era nosso.Assim que consegui deixar os dois felizes brincando com seus bichinhos, desci até a cozinha onde minha mãe, Helena, já preparava o café da manhã. A mesa estava posta, e o cheiro de pão assado e chá de hortelã preenchia o ar. Sentei-me ao seu lado com um suspiro de alívio.— Hoje... além do
O salão estava impecável. As enormes portas douradas se abriram, e fomos conduzidas para dentro por um dos organizadores do baile. Lustres majestosos iluminavam o espaço, enquanto uma orquestra tocava uma melodia suave e elegante. Cada detalhe da decoração exalava sofisticação — flores brancas e douradas enfeitavam as mesas, e um tapete aveludado percorria o centro do salão até o trono real, onde em breve o rei alfa faria sua entrada.Ao nosso lado, Isla soltou um assobio baixo.— Isso é muito mais bonito do que eu imaginava. Vocês têm certeza que a gente pertence a esse lugar? — brincou, com um sorriso malicioso.— Isla, comporte-se. — Celeste revirou os olhos, tentando conter o riso.Seguimos até nossa mesa, localizada em uma posição de destaque, bem próxima da mesa real. Isso chamou nossa atenção. Por que estávamos sentadas ali? Antes que pudéssemos comentar, os murmúrios começaram ao nosso redor.— Olhe, são elas!— A filha perdida da Luna Helena e do Alfa Luke… eu achava que ela
(Perspectiva de Lucian)O dia começou como qualquer outro. Acordei cedo, treinei um pouco antes do café da manhã e segui para a sala de refeições do palácio. Como de costume, Caden e sua companheira já estavam lá, e, para minha surpresa, Rylan também. Ele parecia um pouco melhor do que nos dias anteriores.— Bom dia. — Cumprimentei, sentando-me à mesa.— Bom dia, Majestade. — Caden respondeu com um leve sorriso.— Lucian. — Corrigi, sem paciência para formalidades entre amigos.Rylan apenas assentiu, pegando um pedaço de pão.— Você está melhor hoje. — Observei, pegando minha xícara de café.Ele suspirou, olhando para a bebida quente à sua frente.— Alguns dias são mais fáceis que outros.Ninguém o pressionou. Era bom vê-lo participando, mesmo que com poucas palavras. Caden e sua companheira conversavam sobre os preparativos para o baile, enquanto Rylan apenas ouvia, de vez em quando fazendo algum comentário breve. Era um começo.O restante do dia passou com as responsabilidades de se
(Perspectiva de Lucian)O salão do baile estava iluminado com lustres dourados, refletindo um brilho quente sobre os convidados que conversavam e brindavam. O cheiro de perfumes caros e especiarias se misturava ao ar, enquanto a música suave tocava ao fundo.Ao lado de Rylan, entrei no salão com a postura ereta, como um rei deveria. Mas no momento em que meus olhos percorreram a multidão, senti algo diferente.Meu lobo rugiu dentro de mim.Era um chamado primitivo, uma necessidade que quase me fez perder o fôlego.E então, eu a vi.No instante em que nossos olhares se cruzaram, tudo ao meu redor desapareceu. A música, as vozes, as luzes, nada mais existia. Apenas ela.O tempo não havia apagado sua beleza. Pelo contrário, parecia que a lua havia banhado cada traço seu, tornando-a ainda mais deslumbrante. Seu vestido realçava suas curvas, e seus olhos brilhavam com algo que eu não sabia decifrar.Depois de quase três anos.Depois de noites em claro, me perguntando onde ela estava.Depoi
(Perspectiva de Rylan e Celeste) O salão de baile fervilhava com murmúrios e olhares curiosos. O retorno da filha perdida da Luna Helena já era um evento marcante, mas outra cena chamava a atenção de alguns convidados. Rylan parou no meio do caminho para sua mesa, o coração acelerado como se tivesse levado um golpe invisível. Seus olhos haviam se fixado na mulher sentada à mesa próxima, e algo dentro dele rugiu em reconhecimento. A mulher o encarava de volta, a incerteza dançando em seus olhos castanhos. Sem perceber que havia prendido a respiração, ele viu quando ela se levantou hesitante e caminhou em sua direção. Rylan não precisou perguntar. Seu lobo já sabia. Companheira. A palavra ecoou em sua mente como um trovão. Ela parou diante dele, os lábios se entreabrindo, como se quisesse falar algo, mas não soubesse por onde começar. Tomando cuidado para não assustá-la, Rylan estendeu a mão e tocou seu braço levemente. — Gostaria de conversar? A sós? — Sua voz saiu baixa, sua
Perspectiva de SelenaO ar frio do jardim mordeu a pele de Selena quando ela atravessou as portas de vidro do salão. O barulho da festa ficou para trás, mas seu coração continuava batendo como se estivesse cercada por mil olhos. A sensação de estar sendo observada persistia — até que braços firmes a envolveram por trás, com uma delicadeza que só ele tinha.Lucian.Ela queria resistir, dizer que precisava de espaço, que ainda estava tentando entender o que estava sentindo. Mas seu corpo cedeu antes que sua mente pudesse protestar. Ela relaxou contra ele, ainda que a confusão queimasse em seu peito.— Você me seguiu, — murmurou, tentando manter a voz estável.— É claro que segui — respondeu ele, próximo ao seu ouvido. — Você saiu como se tivesse visto um fantasma. E de certa forma... eu entendo.Selena se virou, encarando seus olhos dourados à luz do luar.— Eu não sei se foi o susto... ver você ali, como o rei. Ou se foi medo de que... agora que sabe quem eu sou, ache que não sou boa o
A sala estava silenciosa, exceto pelo crepitar da lareira. O calor das chamas se espalhava suavemente pelo ambiente, mas Selena sentia como se estivesse em um turbilhão. O olhar de Lucian sobre ela era firme, mas não havia julgamento ali.Ela inspirou fundo, tentando organizar os pensamentos. As emoções vinham em ondas desordenadas: o susto de descobrir que o pai dos seus filhos era ninguém menos que o rei, o medo de ser rejeitada, e aquele sentimento inegável de conexão com ele — algo que nunca desaparecera, mesmo com o passar do tempo.— Você é o rei — disse finalmente, sua voz baixa, mas firme.Lucian a fitou com os olhos intensos, mas havia suavidade em seu tom ao responder:— E você… é a filha perdida do alfa Luke. O lobo que morreu salvando minha vida.Ela assentiu devagar.— Eu sou.Por um momento, ficaram em silêncio. Até que Lucian deu um passo à frente.— Selena... O que aconteceu naquela manhã? No hotel? Por que você fugiu de mim sem dizer nada? — Ele franziu o cenho. — E..