(Perspectiva de Lucian)

O dia começou como qualquer outro. Acordei cedo, treinei um pouco antes do café da manhã e segui para a sala de refeições do palácio. Como de costume, Caden e sua companheira já estavam lá, e, para minha surpresa, Rylan também. Ele parecia um pouco melhor do que nos dias anteriores.

— Bom dia. — Cumprimentei, sentando-me à mesa.

— Bom dia, Majestade. — Caden respondeu com um leve sorriso.

— Lucian. — Corrigi, sem paciência para formalidades entre amigos.

Rylan apenas assentiu, pegando um pedaço de pão.

— Você está melhor hoje. — Observei, pegando minha xícara de café.

Ele suspirou, olhando para a bebida quente à sua frente.

— Alguns dias são mais fáceis que outros.

Ninguém o pressionou. Era bom vê-lo participando, mesmo que com poucas palavras. Caden e sua companheira conversavam sobre os preparativos para o baile, enquanto Rylan apenas ouvia, de vez em quando fazendo algum comentário breve. Era um começo.

O restante do dia passou com as responsabilidades de sempre. Meu escritório estava abarrotado de papéis, e passei boa parte da tarde discutindo as patrulhas da noite. Mesmo sendo um baile, não baixávamos a guarda. A segurança da alcatéia vinha em primeiro lugar.

— Você está se esforçando demais para algo que é sempre igual. — Caden comentou, enquanto revisávamos os turnos dos guardas.

— Talvez. Mas quero que tudo esteja perfeito e seguro.

Ele me lançou um olhar divertido.

— Ou talvez esteja esperando que algo diferente aconteça este ano.

Não respondi de imediato. Eu sabia que os bailes sempre seguiam o mesmo padrão: alcatéias chegando, alianças reforçadas, lobas se atirando para cima de mim… Esse último detalhe era o que eu mais queria evitar.

— Sonhar demais nunca fez mal a ninguém. — Respondi, terminando de assinar um documento.

— Hah! Você esperando um baile sem lobas disputando sua atenção? Isso sim é um sonho impossível. — Ele riu.

Ignorei o comentário e voltei ao trabalho.

Quando o sol começou a se pôr, fui para meus aposentos me preparar. O traje já estava separado, e me vesti rapidamente. No espelho, a imagem que me encarava era a de sempre: um rei alfa, carregado de responsabilidades e segredos que poucos podiam imaginar.

Antes de ir para o salão, decidi fazer uma visita ao meu beta. Queria saber como ele estava lidando com tudo isso.

A ala de Rylan estava silenciosa quando cheguei. Ele me recebeu sem surpresa, como se já esperasse minha visita.

— Posso entrar?

— Claro.

Sentei-me na poltrona perto da lareira, observando-o.

— Como está se sentindo?

Ele soltou um suspiro longo, apoiando os cotovelos nos joelhos.

— Tive um sonho com Alina essa noite.

Meus músculos ficaram tensos. Rylan raramente falava sobre Alina desde sua morte.

— O que aconteceu no sonho?

Ele olhou para o fogo, o olhar distante.

— Ela parecia em paz. Disse que estava bem… E que hoje eu conheceria minha segunda chance.

Fiquei em silêncio. O conceito de uma segunda chance era raro, mas não impossível. Lobos que perdiam seus companheiros, às vezes, eram abençoados com outra alma gêmea.

— Ela pediu para eu me permitir ser feliz.

Minhas mãos se fecharam em punhos, pensando no que aquilo significava para ele. Para nós, os companheiros eram parte da nossa alma. Perder Alina quase destruiu Rylan.

Levantei-me e o puxei para um abraço firme.

— Você merece ser feliz, meu amigo. Se esse for o desejo de Alina, honre isso.

Rylan assentiu, mas não disse nada.

Eu não conseguia deixar de pensar que minha própria história era diferente. Minha companheira ainda estava viva. Meus bebês estavam com ela. Era esse pensamento que me fazia levantar todos os dias, que me impedia de cair no mesmo abismo de dor que Rylan enfrentou.

Se eu tivesse perdido minha companheira para sempre… Não sei o que teria acontecido comigo.

Mas essa noite não era sobre mim. Era sobre ele. Sobre as alcatéias. Sobre o baile.

E, talvez, sobre um destino que eu ainda não conseguia enxergar.