Perspectiva de Selena
O ar frio do jardim mordeu a pele de Selena quando ela atravessou as portas de vidro do salão. O barulho da festa ficou para trás, mas seu coração continuava batendo como se estivesse cercada por mil olhos. A sensação de estar sendo observada persistia — até que braços firmes a envolveram por trás, com uma delicadeza que só ele tinha. Lucian. Ela queria resistir, dizer que precisava de espaço, que ainda estava tentando entender o que estava sentindo. Mas seu corpo cedeu antes que sua mente pudesse protestar. Ela relaxou contra ele, ainda que a confusão queimasse em seu peito. — Você me seguiu, — murmurou, tentando manter a voz estável. — É claro que segui — respondeu ele, próximo ao seu ouvido. — Você saiu como se tivesse visto um fantasma. E de certa forma... eu entendo. Selena se virou, encarando seus olhos dourados à luz do luar. — Eu não sei se foi o susto... ver você ali, como o rei. Ou se foi medo de que... agora que sabe quem eu sou, ache que não sou boa o suficiente. Lucian franziu o cenho, os olhos se estreitando. — Boa o suficiente? Selena, você é a mãe dos meus filhos. A minha companheira. Eu te procurei por dois anos. — A voz dele falhou um pouco. — Nunca, nem por um segundo, passou pela minha cabeça que você não fosse boa o suficiente. Você é tudo que eu procurava... e mais. A respiração dela se prendeu por um momento. Os olhos se desviaram para o canto do jardim onde sua mãe, Helena, estava em silêncio, observando os netos dormirem no carrinho de bebê. Lucian a seguiu com o olhar. — Eu os reconheci no hospital — disse ele, com suavidade. — Não os vi, mas... senti o cheiro. Assim que entrei no quarto e senti o cheiro de bebê misturado ao seu... eu soube. — Ele engoliu em seco. — Eram meus. E eu soube que tinha perdido algo... precioso. Selena se aproximou, os olhos brilhando. — Então... você sabia? Lucian assentiu, se ajoelhando ao lado do carrinho. Ele observou os dois pequenos dormindo, com os rostinhos serenos e os cabelos escuros. Um deles resmungou baixinho e se remexeu, puxando o cobertor com os punhos gordinhos. — Perfeitos — sussurrou Lucian. — Eles são perfeitos. Ele não tentou esconder as lágrimas que caíram. E, por um instante, Selena sentiu o mundo parar. O homem que ela amava — o rei, o guerreiro, o lobo mais temido do continente — estava de joelhos, chorando diante dos próprios filhos. — Eles merecem saber quem você é. — Ela disse, quase sem pensar. Lucian se levantou devagar e assentiu. — E nós precisamos conversar com calma. Está frio aqui fora... não é seguro para eles. Venham. Vamos entrar. Helena se aproximou, colocando a mão no ombro da filha. — Eu fico com o carrinho — disse com um sorriso brando. — Vocês duas andem na frente. Estou aqui. Selena e Lucian seguiram pela trilha de pedras, mas logo pararam diante de uma cena inesperada. À sombra de uma das colunas do jardim, Celeste estava abraçada com um homem alto de cabelos castanhos escuros. Selena piscou, surpresa — ela conhecia aquele lobo. E Lucian também. — Rylan? — murmurou o rei, pigarreando alto logo em seguida. Os dois se afastaram rapidamente, mas Celeste não pareceu nem um pouco envergonhada. Muito pelo contrário. Ela virou-se para a irmã com um sorriso cheio de luz e emoção. — Sel... — disse ela, rindo nervosa — eu encontrei. Meu companheiro. É ele. Selena arregalou os olhos. — O beta do rei é o seu companheiro? Celeste deu de ombros, sorrindo ainda mais. — O universo tem senso de humor. Rylan pareceu tão surpreso quanto feliz, mas mantinha a postura firme. Lucian arqueou uma sobrancelha, ainda processando tudo. — Bem, essa noite está cheia de revelações. — Ele olhou para Selena e depois para os dois. — Vamos para uma sala mais reservada. Temos muito o que discutir. E vocês dois também podem vir. Celeste segurou a mão de Rylan com firmeza, e juntos seguiram com o grupo para uma das entradas laterais do castelo, longe dos olhares curiosos e dos sussurros do salão principal. Selena, caminhando ao lado de Lucian, sentia-se como se estivesse prestes a atravessar um portal. De volta à sua vida. De volta a ele. Mas agora... com toda a verdade exposta.A sala estava silenciosa, exceto pelo crepitar da lareira. O calor das chamas se espalhava suavemente pelo ambiente, mas Selena sentia como se estivesse em um turbilhão. O olhar de Lucian sobre ela era firme, mas não havia julgamento ali.Ela inspirou fundo, tentando organizar os pensamentos. As emoções vinham em ondas desordenadas: o susto de descobrir que o pai dos seus filhos era ninguém menos que o rei, o medo de ser rejeitada, e aquele sentimento inegável de conexão com ele — algo que nunca desaparecera, mesmo com o passar do tempo.— Você é o rei — disse finalmente, sua voz baixa, mas firme.Lucian a fitou com os olhos intensos, mas havia suavidade em seu tom ao responder:— E você… é a filha perdida do alfa Luke. O lobo que morreu salvando minha vida.Ela assentiu devagar.— Eu sou.Por um momento, ficaram em silêncio. Até que Lucian deu um passo à frente.— Selena... O que aconteceu naquela manhã? No hotel? Por que você fugiu de mim sem dizer nada? — Ele franziu o cenho. — E..
Selena havia contado tudo. A dor, a fuga, os anos de ausência. Agora, era a vez de Lucian.Ele ajeitou um dos bebês nos braços, olhando para os pequenos olhos sonolentos com um carinho silencioso. Então, com a voz baixa, começou a falar:— Foram dois anos longos demais sem você — ele começou, a voz baixa, quase rouca. — No início, eu me recusei a aceitar que você tinha partido. Passava dias e noites procurando rastros, tentando entender o que havia acontecido. Mas era como tentar tocar fumaça.Selena apertou os lábios, sentindo o coração se apertar ao ver a dor nos olhos dele.— Perdi Alina pouco depois — ele continuou. — Minha beta, minha amiga mais leal. Ela foi como uma irmã, especialmente depois que você desapareceu naquela manhã. Me ajudou a manter a cabeça no lugar…Lucian fez uma pausa, os olhos perdidos por um instante.— Me joguei no trabalho pra manter a sanidade. O reino precisava de estabilidade. A alcatéia, de liderança. Eu me tornei... alguém que respirava dever e sufoca
O castelo estava mais silencioso agora, como se respirasse aliviado por tantas verdades finalmente terem vindo à tona. Rylan guiava Celeste por um dos longos corredores da ala beta, o braço dela entrelaçado ao seu com naturalidade.— Essa é a ala que Alina e eu ocupávamos — ele disse, com a voz baixa, enquanto caminhavam por entre portas e janelas envidraçadas que revelavam um jardim interno iluminado por pequenas lanternas mágicas.Celeste apertou levemente o braço dele, respeitando o silêncio que se seguiu.Rylan mostrou os cômodos com um sorriso discreto, apontando a sala de reuniões particular, a biblioteca da ala, o pequeno salão de chá, e por fim parou em frente a uma porta maior.— Esse… era o nosso quarto.Ele tocou a maçaneta, mas não girou. Ficou ali, parado. A mão firme, mas o olhar distante. Celeste sentiu o peso do momento e agiu com a delicadeza que o coração dela conhecia bem.Com ternura, ela segurou a mão dele e afastou-a da porta.— Você não precisa entrar aí agora,
O beijo ainda pairava no ar, quente e suave, quando uma batida leve na porta os fez se afastar devagar. Selena sorriu timidamente, os lábios ainda entreabertos e o coração acelerado. Lucian riu baixinho, sua testa encostando brevemente na dela antes de virar-se em direção à porta.— Pode entrar — disse ele, recuperando a postura, mas mantendo sua mão entrelaçada à de Selena.A porta se abriu revelando uma senhora de cabelos grisalhos cuidadosamente presos em um coque. Seus olhos eram de um azul profundo e bondoso, e seu sorriso era caloroso como o de uma avó que reencontra netos há muito perdidos.— Alteza — disse ela, com uma leve reverência. — Perdoe-me por interromper.Lucian se aproximou dela com carinho visível no olhar.— Selena, essa é Merla. Ela trabalha no castelo desde antes de eu nascer. Foi uma figura constante na minha infância. E ficou muito feliz em saber que poderia ajudar com as crianças.Merla curvou-se levemente para Selena.— É uma honra conhecer a senhora, companh
luz da manhã começou a tocar as cortinas do nosso quarto, filtrando-se em feixes dourados que pareciam abençoar tudo o que alcançavam. Acordei primeiro, como sempre. Ainda meio deitado, apoiei meu corpo sobre o braço esquerdo e me permiti observar minha família. Meu mundo. Selena dormia com um dos braços estendido por cima de Lucy, o rosto sereno, os cabelos bagunçados pela noite, espalhados sobre o travesseiro. Os lábios entreabertos e a expressão tranquila a faziam parecer ainda mais bonita do que qualquer lembrança que eu guardei. Se eu já não estivesse perdido de amor por ela, tenho certeza que nesse exato momento, observando esse sorriso suave mesmo dormindo… eu teria me apaixonado de novo. Ao meu lado, Luke começou a se remexer, os olhinhos piscando devagar até que as mãozinhas começaram a se mover no ar, como se ele quisesse pegar a luz. Um de seus bracinhos bateu levemente em Selena. Ela resmungou baixinho antes de abrir os olhos com lentidão. E quando o fez… aquele sorri
Acordar com o calor de duas vidas tão pequenas e tão minhas aninhadas ao meu lado era um sentimento que eu jamais conseguiria descrever completamente.Abri os olhos com a leve batida de Luke em meu braço. Ele mexia as mãozinhas e soltava sons quase inaudíveis, mas suficientes para me acordar. E, mesmo ainda meio sonolenta, um sorriso brotou no meu rosto antes mesmo de eu conseguir me sentar.Ao meu lado, Lucian já estava acordado, me observando com aquele olhar… aquele olhar que fazia meu coração bater forte toda vez.— Bom dia — sussurrei, tocando de leve o rosto dele.— Bom dia, meu amor — respondeu ele, os olhos brilhando.Lucy, como a princesinha cheia de personalidade que é, soltou um biquinho nada discreto, se remexendo entre os lençóis até encontrar meu colo. Peguei-a com cuidado, embalei devagar e beijei sua testa.Meu coração se apertava e se expandia ao mesmo tempo.Eu os tinha de volta. E agora eu também tinha Lucian.Houve uma batida suave na porta e ele se levantou. Insta
Após a reunião no salão principal, Helena e Isla se despediram das filhas com abraços longos e emocionados. A matriarca da Matilha da Lua Escarlate passou a mão carinhosamente pelo cabelo de Selena, como fazia quando ela era pequena.— Você está pronta para isso, minha filha. E estamos todas muito orgulhosas de você — disse Helena com firmeza, mas os olhos marejados.Isla, a mais nova, foi quem tentou esconder a emoção com piadas.— Não se esqueçam da irmã caçula quando forem ricas e famosas, ok? E mandem fotos do bolo.Celeste riu e respondeu com um beijo na bochecha da irmã:— Só se você prometer não provocar a mamãe na viagem inteira de volta.— Sem promessas — Isla piscou, abraçando Selena em seguida.Após a despedida, Selena respirou fundo. Lucian apareceu ao seu lado e segurou sua mão.— Agora que você é oficialmente parte disso tudo... é hora de conhecer cada canto do que também é seu — disse ele, com aquele sorriso sereno que só ela conhecia.Celeste se juntou a eles, empolgad
O som suave da risada de Lucy encheu o quarto quando Selena a ergueu no colo, aninhando seu corpinho contra o peito. Luke, com seus olhos curiosos e atentos, já descansava nos braços de Lucian, observando tudo com a serenidade de quem parecia entender mais do que deveria para um bebê de dois anos.Selena se sentou na beirada da cama, afagando os cabelos da filha com delicadeza. Era em momentos como aquele que o mundo parecia parar, e tudo se resumia ao calor de sua família.— Eles estão crescendo tão rápido... — ela murmurou, sorrindo para Lucian.Lucian se aproximou e se sentou ao lado dela, encostando a bochecha no topo da cabeça de Selena.— Estão mesmo. E hoje, por algumas horas... você vai ter um tempinho só pra você. — Ele se afastou um pouco, o olhar carregando um brilho misterioso.— Como assim?— Tenho uma surpresa. — Seus olhos se fixaram nos dela. — E essa noite, os pequenos vão ficar com a Celeste e o Rylan. Eles ficaram felizes em cuidar deles.Selena arqueou uma sobrance