A sala estava silenciosa, exceto pelo crepitar da lareira. O calor das chamas se espalhava suavemente pelo ambiente, mas Selena sentia como se estivesse em um turbilhão. O olhar de Lucian sobre ela era firme, mas não havia julgamento ali.
Ela inspirou fundo, tentando organizar os pensamentos. As emoções vinham em ondas desordenadas: o susto de descobrir que o pai dos seus filhos era ninguém menos que o rei, o medo de ser rejeitada, e aquele sentimento inegável de conexão com ele — algo que nunca desaparecera, mesmo com o passar do tempo. — Você é o rei — disse finalmente, sua voz baixa, mas firme. Lucian a fitou com os olhos intensos, mas havia suavidade em seu tom ao responder: — E você… é a filha perdida do alfa Luke. O lobo que morreu salvando minha vida. Ela assentiu devagar. — Eu sou. Por um momento, ficaram em silêncio. Até que Lucian deu um passo à frente. — Selena... O que aconteceu naquela manhã? No hotel? Por que você fugiu de mim sem dizer nada? — Ele franziu o cenho. — E... você sabia quem eu era naquele dia? Ela balançou a cabeça, sentindo as palavras se acumularem na garganta. — Não. Eu só sabia seu nome, Lucian. Nada além disso. Eu… eu não sabia nem quem eu era. Ela respirou fundo e abaixou o olhar por um segundo antes de encará-lo novamente. — Aquela noite, no bar, eu senti uma atração absurda por você. Como se algo dentro de mim me puxasse para você. Foi mais do que desejo. Eu nunca tinha sentido nada parecido. Mas eu não sabia que era uma loba, não entendia o que estava acontecendo comigo. — Ela corou, desviando o olhar. — Minha loba… mesmo adormecida, reconheceu o que você era. E eu... me entreguei. — E depois? — ele perguntou, a voz mais baixa. Selena mordeu o lábio. — No dia seguinte, eu acordei confusa. Achei que tinha sido só uma noite pra você. Achei que você me dispensaria assim que abrisse os olhos. Então... eu fugi. Ela respirou fundo. — Saí do hotel às pressas. E, sem olhar para a rua, acabei sendo atropelada. Lucian arregalou os olhos, dando um passo instintivo mais perto. — Atropelada? — Sim... por uma garota, minha irmã mais nova, Isla. Ela me reconheceu imediatamente. Disse que eu era idêntica à Celeste. Então me levou para a Alcatéia da Lua Escarlate. Fiquei desacordada por um tempo... E quando acordei, minha mãe me contou tudo. Sobre a guerra, sobre meu pai... sobre mim. Ela fez uma pausa, o olhar perdido entre as lembranças. — Eram tantas revelações que, por um tempo, eu parei de pensar em você. Mas... um mês depois, descobri que estava grávida. De um caso que, até então, eu acreditava ser só uma noite. Lucian franziu o cenho. — E foi aí que percebeu que... — Que não era apenas uma noite — completou ela. — Minha mãe me explicou que, por sermos de uma linhagem alfa, era quase impossível engravidar de alguém que não fosse nosso verdadeiro companheiro. Foi quando tudo fez sentido. Ela o olhou, com os olhos brilhando em meio à emoção contida. — Minha mãe também me falou do baile, da possibilidade de te reencontrar aqui. Quase todas as alcatéias participam. Eu... eu tive esperança. Esperança de que você estivesse aqui. E que talvez... me aceitasse. Que pudéssemos criar nossos filhos juntos, em um lar cheio de amor. Lucian a observava em silêncio, a respiração pesada, como se absorvesse cada palavra. — No primeiro baile depois disso, eu já estava no fim da gestação. Acabei entrando em trabalho de parto no meio da festa e fui levada às pressas ao hospital da sua matilha. Pela manhã, recebemos alta e voltamos para minha alcatéia. E depois disso... Ela sorriu com doçura. — Depois disso, meus dias foram cheios de mamadas, choros, sorrisos… comecei a estudar tudo sobre lobos, matilhas, hierarquias… treinei muito. Tinha medo de que algo acontecesse e eu não pudesse proteger meus bebês. Lucian parecia prestes a dizer algo, mas Selena ergueu uma mão, pedindo silêncio. Ainda havia mais. — No ano seguinte, não teve baile. Por causa do luto pela sua beta feminina. Ela olhou com compaixão para Rylan, que agora estava de mãos dadas com Celeste, ainda visivelmente abalado, mas com um brilho diferente nos olhos. Ele retribuiu o olhar de Selena com um pequeno aceno, respeitoso e grato. Selena voltou a olhar para Lucian, e seu coração bateu mais forte. — E agora... aqui estamos. Finalmente. Neste baile. Eu só... queria muito reencontrar o pai dos meus filhos. E... quem sabe... se ele nos aceitasse, pudéssemos dar a Luke e Lucy um lar. Um lar com todo o amor que eles merecem. Lucian deu um passo à frente, as mãos segurando as dela com firmeza. — Você me deu um presente que eu nem sabia que existia, Selena. Você é tudo o que eu procurava... e não sabia que tinha perdido. Ela sentiu o mundo girar devagar, como se o tempo tivesse parado só para eles dois. Ali, naquela sala aconchegante com seu companheiro, Selena sentiu a esperança que carregava há dois anos finalmente se transformar em algo real.Selena havia contado tudo. A dor, a fuga, os anos de ausência. Agora, era a vez de Lucian.Ele ajeitou um dos bebês nos braços, olhando para os pequenos olhos sonolentos com um carinho silencioso. Então, com a voz baixa, começou a falar:— Foram dois anos longos demais sem você — ele começou, a voz baixa, quase rouca. — No início, eu me recusei a aceitar que você tinha partido. Passava dias e noites procurando rastros, tentando entender o que havia acontecido. Mas era como tentar tocar fumaça.Selena apertou os lábios, sentindo o coração se apertar ao ver a dor nos olhos dele.— Perdi Alina pouco depois — ele continuou. — Minha beta, minha amiga mais leal. Ela foi como uma irmã, especialmente depois que você desapareceu naquela manhã. Me ajudou a manter a cabeça no lugar…Lucian fez uma pausa, os olhos perdidos por um instante.— Me joguei no trabalho pra manter a sanidade. O reino precisava de estabilidade. A alcatéia, de liderança. Eu me tornei... alguém que respirava dever e sufoca
O castelo estava mais silencioso agora, como se respirasse aliviado por tantas verdades finalmente terem vindo à tona. Rylan guiava Celeste por um dos longos corredores da ala beta, o braço dela entrelaçado ao seu com naturalidade.— Essa é a ala que Alina e eu ocupávamos — ele disse, com a voz baixa, enquanto caminhavam por entre portas e janelas envidraçadas que revelavam um jardim interno iluminado por pequenas lanternas mágicas.Celeste apertou levemente o braço dele, respeitando o silêncio que se seguiu.Rylan mostrou os cômodos com um sorriso discreto, apontando a sala de reuniões particular, a biblioteca da ala, o pequeno salão de chá, e por fim parou em frente a uma porta maior.— Esse… era o nosso quarto.Ele tocou a maçaneta, mas não girou. Ficou ali, parado. A mão firme, mas o olhar distante. Celeste sentiu o peso do momento e agiu com a delicadeza que o coração dela conhecia bem.Com ternura, ela segurou a mão dele e afastou-a da porta.— Você não precisa entrar aí agora,
O beijo ainda pairava no ar, quente e suave, quando uma batida leve na porta os fez se afastar devagar. Selena sorriu timidamente, os lábios ainda entreabertos e o coração acelerado. Lucian riu baixinho, sua testa encostando brevemente na dela antes de virar-se em direção à porta.— Pode entrar — disse ele, recuperando a postura, mas mantendo sua mão entrelaçada à de Selena.A porta se abriu revelando uma senhora de cabelos grisalhos cuidadosamente presos em um coque. Seus olhos eram de um azul profundo e bondoso, e seu sorriso era caloroso como o de uma avó que reencontra netos há muito perdidos.— Alteza — disse ela, com uma leve reverência. — Perdoe-me por interromper.Lucian se aproximou dela com carinho visível no olhar.— Selena, essa é Merla. Ela trabalha no castelo desde antes de eu nascer. Foi uma figura constante na minha infância. E ficou muito feliz em saber que poderia ajudar com as crianças.Merla curvou-se levemente para Selena.— É uma honra conhecer a senhora, companh
luz da manhã começou a tocar as cortinas do nosso quarto, filtrando-se em feixes dourados que pareciam abençoar tudo o que alcançavam. Acordei primeiro, como sempre. Ainda meio deitado, apoiei meu corpo sobre o braço esquerdo e me permiti observar minha família. Meu mundo. Selena dormia com um dos braços estendido por cima de Lucy, o rosto sereno, os cabelos bagunçados pela noite, espalhados sobre o travesseiro. Os lábios entreabertos e a expressão tranquila a faziam parecer ainda mais bonita do que qualquer lembrança que eu guardei. Se eu já não estivesse perdido de amor por ela, tenho certeza que nesse exato momento, observando esse sorriso suave mesmo dormindo… eu teria me apaixonado de novo. Ao meu lado, Luke começou a se remexer, os olhinhos piscando devagar até que as mãozinhas começaram a se mover no ar, como se ele quisesse pegar a luz. Um de seus bracinhos bateu levemente em Selena. Ela resmungou baixinho antes de abrir os olhos com lentidão. E quando o fez… aquele sorri
Acordar com o calor de duas vidas tão pequenas e tão minhas aninhadas ao meu lado era um sentimento que eu jamais conseguiria descrever completamente.Abri os olhos com a leve batida de Luke em meu braço. Ele mexia as mãozinhas e soltava sons quase inaudíveis, mas suficientes para me acordar. E, mesmo ainda meio sonolenta, um sorriso brotou no meu rosto antes mesmo de eu conseguir me sentar.Ao meu lado, Lucian já estava acordado, me observando com aquele olhar… aquele olhar que fazia meu coração bater forte toda vez.— Bom dia — sussurrei, tocando de leve o rosto dele.— Bom dia, meu amor — respondeu ele, os olhos brilhando.Lucy, como a princesinha cheia de personalidade que é, soltou um biquinho nada discreto, se remexendo entre os lençóis até encontrar meu colo. Peguei-a com cuidado, embalei devagar e beijei sua testa.Meu coração se apertava e se expandia ao mesmo tempo.Eu os tinha de volta. E agora eu também tinha Lucian.Houve uma batida suave na porta e ele se levantou. Insta
Após a reunião no salão principal, Helena e Isla se despediram das filhas com abraços longos e emocionados. A matriarca da Matilha da Lua Escarlate passou a mão carinhosamente pelo cabelo de Selena, como fazia quando ela era pequena.— Você está pronta para isso, minha filha. E estamos todas muito orgulhosas de você — disse Helena com firmeza, mas os olhos marejados.Isla, a mais nova, foi quem tentou esconder a emoção com piadas.— Não se esqueçam da irmã caçula quando forem ricas e famosas, ok? E mandem fotos do bolo.Celeste riu e respondeu com um beijo na bochecha da irmã:— Só se você prometer não provocar a mamãe na viagem inteira de volta.— Sem promessas — Isla piscou, abraçando Selena em seguida.Após a despedida, Selena respirou fundo. Lucian apareceu ao seu lado e segurou sua mão.— Agora que você é oficialmente parte disso tudo... é hora de conhecer cada canto do que também é seu — disse ele, com aquele sorriso sereno que só ela conhecia.Celeste se juntou a eles, empolgad
O som suave da risada de Lucy encheu o quarto quando Selena a ergueu no colo, aninhando seu corpinho contra o peito. Luke, com seus olhos curiosos e atentos, já descansava nos braços de Lucian, observando tudo com a serenidade de quem parecia entender mais do que deveria para um bebê de dois anos.Selena se sentou na beirada da cama, afagando os cabelos da filha com delicadeza. Era em momentos como aquele que o mundo parecia parar, e tudo se resumia ao calor de sua família.— Eles estão crescendo tão rápido... — ela murmurou, sorrindo para Lucian.Lucian se aproximou e se sentou ao lado dela, encostando a bochecha no topo da cabeça de Selena.— Estão mesmo. E hoje, por algumas horas... você vai ter um tempinho só pra você. — Ele se afastou um pouco, o olhar carregando um brilho misterioso.— Como assim?— Tenho uma surpresa. — Seus olhos se fixaram nos dela. — E essa noite, os pequenos vão ficar com a Celeste e o Rylan. Eles ficaram felizes em cuidar deles.Selena arqueou uma sobrance
O "sim" ainda vibrava nos lábios de Selena quando Lucian a puxou para um beijo faminto, como se aquele simples som tivesse rompido qualquer controle que ele ainda tinha. Seus corpos se colaram, e o mundo ao redor desapareceu. Agora, só existia o calor — dele, dela — e o desejo pulsando entre os dois como um chamado primal.Lucian a conduziu até o quarto, as mãos não se separando das curvas dela nem por um instante. Assim que a porta se fechou atrás deles, ele a encostou ali mesmo, contra a madeira fria, o contraste fazendo Selena arfar.— Você tem ideia do que faz comigo? — ele murmurou contra o pescoço dela, a voz rouca e baixa como um trovão prestes a explodir.— Mostra pra mim... — ela sussurrou, cravando os dedos nos cabelos dele.Ele não precisou de mais incentivo. A boca dele desceu para o colo dela enquanto as mãos desfaziam o fecho do vestido com precisão e urgência. A peça deslizou por seu corpo como seda, revelando sua pele aos poucos, d