(Perspectiva de Lucian)
O salão do baile estava iluminado com lustres dourados, refletindo um brilho quente sobre os convidados que conversavam e brindavam. O cheiro de perfumes caros e especiarias se misturava ao ar, enquanto a música suave tocava ao fundo. Ao lado de Rylan, entrei no salão com a postura ereta, como um rei deveria. Mas no momento em que meus olhos percorreram a multidão, senti algo diferente. Meu lobo rugiu dentro de mim. Era um chamado primitivo, uma necessidade que quase me fez perder o fôlego. E então, eu a vi. No instante em que nossos olhares se cruzaram, tudo ao meu redor desapareceu. A música, as vozes, as luzes, nada mais existia. Apenas ela. O tempo não havia apagado sua beleza. Pelo contrário, parecia que a lua havia banhado cada traço seu, tornando-a ainda mais deslumbrante. Seu vestido realçava suas curvas, e seus olhos brilhavam com algo que eu não sabia decifrar. Depois de quase três anos. Depois de noites em claro, me perguntando onde ela estava. Depois de revirar cada canto do continente em busca daquela mulher. A mulher daquela noite. A mãe dos meus filhos. Lembro-me exatamente da primeira vez que a vi, naquela noite sob a lua cheia, quando meu lobo soube, antes mesmo de mim, que ela era minha. O destino a colocou no meu caminho, mas antes que eu pudesse reivindicá-la, ela desapareceu sem deixar rastros. A dor da perda foi insuportável, a frustração de não encontrá-la corroeu minha alma. Mas agora ela estava aqui. E eu não pretendia perdê-la de novo. Sem dizer uma palavra a ninguém, caminhei em sua direção. Não me importei com os olhares surpresos, com os murmúrios crescendo ao redor. O protocolo, o falatório… tudo isso poderia ser lidado depois. Nada mais importava além dela. Ao me aproximar da mesa onde ela estava sentada, Selena se levantou. Mas ao contrário do que eu esperava, ela não veio até mim. Seus olhos se fixaram nos meus por um breve instante, e então, sem uma palavra, ela virou-se e saiu em direção ao jardim. Meu corpo ficou tenso. O que diabos acabou de acontecer? Meu lobo rosnou dentro de mim, inquieto. Isso não era como eu imaginava. Sem hesitar, segui seus passos, o coração martelando no peito. As surpresas dessa noite estavam apenas começando. O ar fresco da noite envolvia o jardim, carregado com o perfume das flores e o sutil aroma da terra úmida. Meus passos eram firmes, determinados, enquanto avançava entre as sombras criadas pela iluminação suave do baile. E então, eu a vi. Erin—ou Selena, como agora era chamada—estava ali, parada de costas para mim. Seus ombros estavam tensos, sua respiração sutilmente alterada, como se já soubesse que eu a havia seguido. Aproximei-me devagar, absorvendo cada detalhe dela. Mesmo depois de tanto tempo, seu cheiro era inconfundível para mim, um misto de baunilha e flores silvestres. — Erin. — Suaquele nome escapou dos meus lábios antes que eu pudesse me conter. Ela virou-se lentamente, os olhos arregalados, a boca entreaberta como se quisesse dizer algo, mas nenhuma palavra saiu. A emoção no olhar dela foi a única resposta que precisei. Antes que ela pudesse reagir, fechei o espaço entre nós e a abracei com força. Ela era real. Ela estava aqui. Meu lobo uivou dentro de mim, finalmente sentindo-se completo após tanto tempo de vazio e incerteza. Eu não precisava de explicações. Não precisava de palavras. Tudo que importava era que, depois de anos de procura, ela estava em meus braços novamente. Selena não resistiu ao abraço. Pelo contrário, senti seus dedos se fecharem ao redor da minha camisa, como se temesse que eu desaparecesse de novo. O momento foi interrompido por um som discreto de tosse, como se alguém quisesse lembrar que não estávamos sozinhos. Minha postura ficou rígida. Olhei ao redor, meus sentidos já alertas, até que meus olhos pousaram em uma mulher um pouco mais velha do que me lembrava, mas ainda assim inconfundível. Helena. O choque percorreu meu corpo. Os cabelos dela tinham fios prateados agora, mas o rosto era o mesmo da mulher que sempre vi como uma lenda—a Luna que perdeu seu companheiro para salvar minha vida. Mas o que diabos ela estava fazendo aqui? E, mais importante… como ela conhecia Erin? Meu olhar voltou para Selena, e a pergunta estava evidente em meus olhos. — Vocês… se conhecem? — Minha voz soou mais áspera do que eu pretendia, carregada de confusão e expectativa. Selena desviou o olhar, mordendo o lábio inferior como se ponderasse o que dizer. Helena, por outro lado, sustentou meu olhar com firmeza. — Ela é minha filha. O choque me atingiu como um soco. Minha mente parecia incapaz de processar aquelas palavras. Filha? Erin—Selena—era a filha de Helena e Luke? O mesmo Luke que morreu para salvar minha vida? Eu a encarei, o coração batendo mais forte. A mulher que eu passei anos procurando, a mãe dos meus filhos, era a herdeira da Alcatéia da Lua Escarlate.(Perspectiva de Rylan e Celeste) O salão de baile fervilhava com murmúrios e olhares curiosos. O retorno da filha perdida da Luna Helena já era um evento marcante, mas outra cena chamava a atenção de alguns convidados. Rylan parou no meio do caminho para sua mesa, o coração acelerado como se tivesse levado um golpe invisível. Seus olhos haviam se fixado na mulher sentada à mesa próxima, e algo dentro dele rugiu em reconhecimento. A mulher o encarava de volta, a incerteza dançando em seus olhos castanhos. Sem perceber que havia prendido a respiração, ele viu quando ela se levantou hesitante e caminhou em sua direção. Rylan não precisou perguntar. Seu lobo já sabia. Companheira. A palavra ecoou em sua mente como um trovão. Ela parou diante dele, os lábios se entreabrindo, como se quisesse falar algo, mas não soubesse por onde começar. Tomando cuidado para não assustá-la, Rylan estendeu a mão e tocou seu braço levemente. — Gostaria de conversar? A sós? — Sua voz saiu baixa, sua
Perspectiva de SelenaO ar frio do jardim mordeu a pele de Selena quando ela atravessou as portas de vidro do salão. O barulho da festa ficou para trás, mas seu coração continuava batendo como se estivesse cercada por mil olhos. A sensação de estar sendo observada persistia — até que braços firmes a envolveram por trás, com uma delicadeza que só ele tinha.Lucian.Ela queria resistir, dizer que precisava de espaço, que ainda estava tentando entender o que estava sentindo. Mas seu corpo cedeu antes que sua mente pudesse protestar. Ela relaxou contra ele, ainda que a confusão queimasse em seu peito.— Você me seguiu, — murmurou, tentando manter a voz estável.— É claro que segui — respondeu ele, próximo ao seu ouvido. — Você saiu como se tivesse visto um fantasma. E de certa forma... eu entendo.Selena se virou, encarando seus olhos dourados à luz do luar.— Eu não sei se foi o susto... ver você ali, como o rei. Ou se foi medo de que... agora que sabe quem eu sou, ache que não sou boa o
A sala estava silenciosa, exceto pelo crepitar da lareira. O calor das chamas se espalhava suavemente pelo ambiente, mas Selena sentia como se estivesse em um turbilhão. O olhar de Lucian sobre ela era firme, mas não havia julgamento ali.Ela inspirou fundo, tentando organizar os pensamentos. As emoções vinham em ondas desordenadas: o susto de descobrir que o pai dos seus filhos era ninguém menos que o rei, o medo de ser rejeitada, e aquele sentimento inegável de conexão com ele — algo que nunca desaparecera, mesmo com o passar do tempo.— Você é o rei — disse finalmente, sua voz baixa, mas firme.Lucian a fitou com os olhos intensos, mas havia suavidade em seu tom ao responder:— E você… é a filha perdida do alfa Luke. O lobo que morreu salvando minha vida.Ela assentiu devagar.— Eu sou.Por um momento, ficaram em silêncio. Até que Lucian deu um passo à frente.— Selena... O que aconteceu naquela manhã? No hotel? Por que você fugiu de mim sem dizer nada? — Ele franziu o cenho. — E..
Selena havia contado tudo. A dor, a fuga, os anos de ausência. Agora, era a vez de Lucian.Ele ajeitou um dos bebês nos braços, olhando para os pequenos olhos sonolentos com um carinho silencioso. Então, com a voz baixa, começou a falar:— Foram dois anos longos demais sem você — ele começou, a voz baixa, quase rouca. — No início, eu me recusei a aceitar que você tinha partido. Passava dias e noites procurando rastros, tentando entender o que havia acontecido. Mas era como tentar tocar fumaça.Selena apertou os lábios, sentindo o coração se apertar ao ver a dor nos olhos dele.— Perdi Alina pouco depois — ele continuou. — Minha beta, minha amiga mais leal. Ela foi como uma irmã, especialmente depois que você desapareceu naquela manhã. Me ajudou a manter a cabeça no lugar…Lucian fez uma pausa, os olhos perdidos por um instante.— Me joguei no trabalho pra manter a sanidade. O reino precisava de estabilidade. A alcatéia, de liderança. Eu me tornei... alguém que respirava dever e sufoca
O castelo estava mais silencioso agora, como se respirasse aliviado por tantas verdades finalmente terem vindo à tona. Rylan guiava Celeste por um dos longos corredores da ala beta, o braço dela entrelaçado ao seu com naturalidade.— Essa é a ala que Alina e eu ocupávamos — ele disse, com a voz baixa, enquanto caminhavam por entre portas e janelas envidraçadas que revelavam um jardim interno iluminado por pequenas lanternas mágicas.Celeste apertou levemente o braço dele, respeitando o silêncio que se seguiu.Rylan mostrou os cômodos com um sorriso discreto, apontando a sala de reuniões particular, a biblioteca da ala, o pequeno salão de chá, e por fim parou em frente a uma porta maior.— Esse… era o nosso quarto.Ele tocou a maçaneta, mas não girou. Ficou ali, parado. A mão firme, mas o olhar distante. Celeste sentiu o peso do momento e agiu com a delicadeza que o coração dela conhecia bem.Com ternura, ela segurou a mão dele e afastou-a da porta.— Você não precisa entrar aí agora,
O beijo ainda pairava no ar, quente e suave, quando uma batida leve na porta os fez se afastar devagar. Selena sorriu timidamente, os lábios ainda entreabertos e o coração acelerado. Lucian riu baixinho, sua testa encostando brevemente na dela antes de virar-se em direção à porta.— Pode entrar — disse ele, recuperando a postura, mas mantendo sua mão entrelaçada à de Selena.A porta se abriu revelando uma senhora de cabelos grisalhos cuidadosamente presos em um coque. Seus olhos eram de um azul profundo e bondoso, e seu sorriso era caloroso como o de uma avó que reencontra netos há muito perdidos.— Alteza — disse ela, com uma leve reverência. — Perdoe-me por interromper.Lucian se aproximou dela com carinho visível no olhar.— Selena, essa é Merla. Ela trabalha no castelo desde antes de eu nascer. Foi uma figura constante na minha infância. E ficou muito feliz em saber que poderia ajudar com as crianças.Merla curvou-se levemente para Selena.— É uma honra conhecer a senhora, companh
luz da manhã começou a tocar as cortinas do nosso quarto, filtrando-se em feixes dourados que pareciam abençoar tudo o que alcançavam. Acordei primeiro, como sempre. Ainda meio deitado, apoiei meu corpo sobre o braço esquerdo e me permiti observar minha família. Meu mundo. Selena dormia com um dos braços estendido por cima de Lucy, o rosto sereno, os cabelos bagunçados pela noite, espalhados sobre o travesseiro. Os lábios entreabertos e a expressão tranquila a faziam parecer ainda mais bonita do que qualquer lembrança que eu guardei. Se eu já não estivesse perdido de amor por ela, tenho certeza que nesse exato momento, observando esse sorriso suave mesmo dormindo… eu teria me apaixonado de novo. Ao meu lado, Luke começou a se remexer, os olhinhos piscando devagar até que as mãozinhas começaram a se mover no ar, como se ele quisesse pegar a luz. Um de seus bracinhos bateu levemente em Selena. Ela resmungou baixinho antes de abrir os olhos com lentidão. E quando o fez… aquele sorri
Acordar com o calor de duas vidas tão pequenas e tão minhas aninhadas ao meu lado era um sentimento que eu jamais conseguiria descrever completamente.Abri os olhos com a leve batida de Luke em meu braço. Ele mexia as mãozinhas e soltava sons quase inaudíveis, mas suficientes para me acordar. E, mesmo ainda meio sonolenta, um sorriso brotou no meu rosto antes mesmo de eu conseguir me sentar.Ao meu lado, Lucian já estava acordado, me observando com aquele olhar… aquele olhar que fazia meu coração bater forte toda vez.— Bom dia — sussurrei, tocando de leve o rosto dele.— Bom dia, meu amor — respondeu ele, os olhos brilhando.Lucy, como a princesinha cheia de personalidade que é, soltou um biquinho nada discreto, se remexendo entre os lençóis até encontrar meu colo. Peguei-a com cuidado, embalei devagar e beijei sua testa.Meu coração se apertava e se expandia ao mesmo tempo.Eu os tinha de volta. E agora eu também tinha Lucian.Houve uma batida suave na porta e ele se levantou. Insta