O salão estava impecável. As enormes portas douradas se abriram, e fomos conduzidas para dentro por um dos organizadores do baile. Lustres majestosos iluminavam o espaço, enquanto uma orquestra tocava uma melodia suave e elegante. Cada detalhe da decoração exalava sofisticação — flores brancas e douradas enfeitavam as mesas, e um tapete aveludado percorria o centro do salão até o trono real, onde em breve o rei alfa faria sua entrada.
Ao nosso lado, Isla soltou um assobio baixo. — Isso é muito mais bonito do que eu imaginava. Vocês têm certeza que a gente pertence a esse lugar? — brincou, com um sorriso malicioso. — Isla, comporte-se. — Celeste revirou os olhos, tentando conter o riso. Seguimos até nossa mesa, localizada em uma posição de destaque, bem próxima da mesa real. Isso chamou nossa atenção. Por que estávamos sentadas ali? Antes que pudéssemos comentar, os murmúrios começaram ao nosso redor. — Olhe, são elas! — A filha perdida da Luna Helena e do Alfa Luke… eu achava que ela nunca voltaria. — Dizem que ela cresceu entre humanos. — Não é só isso! Ela tem filhos! Dois bebês! — Mas e o companheiro? — Não tem. — Como assim? Os sussurros aumentavam a cada passo que dávamos. Meu peito se apertou. O olhar de todos pesava sobre mim. Mantive a cabeça erguida, tentando ignorar os cochichos, mas era impossível não ouvir. — Ela voltou com dois filhos, mas sem o companheiro? Estranho… — Talvez ele tenha morrido. — Ou… talvez ele nunca tenha existido. — Será que a Luna Helena vai contar a história completa? Minha mãe, que caminhava ao meu lado, apertou levemente meu braço em um gesto de apoio. Ela não demonstrava incômodo, mas eu sabia que também ouvia tudo. Celeste, percebendo minha expressão tensa, inclinou-se para mim e sussurrou: — Respira fundo. Não deixe que isso te abale. Isla, por outro lado, cruzou os braços e revirou os olhos. — Nossa, que povo fofoqueiro! Eles nunca viram uma mulher criar filhos sozinha, não? — Eles só não entendem… — murmurei, sentindo um nó se formar em minha garganta. Minha mãe, sempre serena, finalmente decidiu intervir. Ela se virou para mim e sorriu suavemente. — Eles vão entender, Selena. Hoje, todos vão saber quem você é. O nome me pegou desprevenida. Era a primeira vez que ela me chamava de Selena em público. Meus olhos se voltaram para ela, e a vi com uma expressão firme e cheia de orgulho. — Você está pronta? — perguntou ela. Engoli em seco, mas então assenti. — Sim. Nos sentamos à mesa, e notei que a mesa real ainda estava vazia. O rei ainda não havia aparecido, o que apenas aumentava a tensão no ar. Todos pareciam ansiosos pela sua chegada. Isla olhou para a mesa vazia e sorriu de lado. — E eu achando que ia ter que me comportar agora que estamos tão perto da realeza… mas nem rei tem ali ainda. Celeste deu uma risada baixa. — Você acha mesmo que ele ia chegar cedo? Aposto que o rei faz uma entrada dramática. — Será que ele é tão charmoso quanto dizem? — Isla apoiou o rosto nas mãos, fingindo um suspiro sonhador. Eu revirei os olhos e tentei focar no jantar que logo seria servido. Mas, no fundo, não pude evitar de pensar no rei. No alfa supremo. No homem que, sem saber, era o pai dos meus filhos. O que aconteceria quando ele finalmente aparecesse? Os cochichos ainda corriam pelo salão, mas, para minha surpresa, uma alcatéia sentada em uma mesa próxima se levantou e caminhou em nossa direção. Diferente da maioria dos presentes, que apenas nos observavam de longe, eles pareciam genuinamente felizes em nos ver. Um homem alto, com cabelos escuros e olhos penetrantes, liderava o grupo. Ele carregava uma aura de autoridade, mas seu sorriso era amigável. Ao seu lado, uma mulher de postura elegante, com longos cabelos castanhos e olhar acolhedor, parecia igualmente satisfeita com nossa presença. Minha mãe foi a primeira a reconhecê-los e se levantou para cumprimentá-los com um sorriso caloroso. — Alfa Tobias, Luna Camille, é uma honra revê-los. — O prazer é nosso, Luna Helena. — Tobias respondeu, fazendo uma leve reverência. Seus olhos se voltaram para mim, Celeste e Isla. — E, claro, em finalmente conhecer suas filhas. — É uma alegria ver sua família completa novamente. — Camille acrescentou gentilmente. Meu peito se aqueceu ao perceber a sinceridade em suas palavras. Tobias olhou para os bebês e sorriu. — E esses são seus netos, certo? Minha mãe assentiu com orgulho. — Sim, meus pequenos milagres. Camille se abaixou um pouco para olhar melhor as crianças, que estavam aconchegadas em nossos braços. — Eles são adoráveis. — Ela olhou para mim com um olhar compreensivo. — Imagino que sua jornada até aqui não tenha sido fácil. Senti um nó na garganta, mas retribuí o sorriso. — Não foi, mas estou feliz por estar aqui agora. Camille assentiu, como se entendesse exatamente o que eu queria dizer. Tobias, por sua vez, se virou para minha mãe. — Se precisar de qualquer coisa, nossa alcatéia está à disposição. A Lua Escarlate sempre foi uma grande aliada, e ficamos felizes em poder recebê-las como parte de nossa história também. O gesto deles, tão diferente da curiosidade e julgamento que havíamos recebido até agora, me fez relaxar um pouco. Celeste e Isla também pareciam mais confortáveis, e Isla, claro, não perdeu a oportunidade de brincar: — Acho que finalmente encontramos algumas pessoas normais por aqui. Camille riu suavemente. — Sempre há aqueles que julgam antes de compreender. Mas tenho certeza de que, com o tempo, todos verão a força de vocês. Aquelas palavras, vindas de uma Luna respeitada, significavam muito. Eu sorri para ela, sentindo que, pela primeira vez desde que entrei no salão, não estava sendo vista apenas como um mistério ou objeto de fofoca. A conversa continuou por alguns minutos, até que um burburinho ainda maior tomou conta do salão. Todos começaram a olhar para a entrada, e meu coração acelerou. A mesa real não estava mais vazia. O rei alfa Lucian havia finalmente chegado.(Perspectiva de Lucian)O dia começou como qualquer outro. Acordei cedo, treinei um pouco antes do café da manhã e segui para a sala de refeições do palácio. Como de costume, Caden e sua companheira já estavam lá, e, para minha surpresa, Rylan também. Ele parecia um pouco melhor do que nos dias anteriores.— Bom dia. — Cumprimentei, sentando-me à mesa.— Bom dia, Majestade. — Caden respondeu com um leve sorriso.— Lucian. — Corrigi, sem paciência para formalidades entre amigos.Rylan apenas assentiu, pegando um pedaço de pão.— Você está melhor hoje. — Observei, pegando minha xícara de café.Ele suspirou, olhando para a bebida quente à sua frente.— Alguns dias são mais fáceis que outros.Ninguém o pressionou. Era bom vê-lo participando, mesmo que com poucas palavras. Caden e sua companheira conversavam sobre os preparativos para o baile, enquanto Rylan apenas ouvia, de vez em quando fazendo algum comentário breve. Era um começo.O restante do dia passou com as responsabilidades de se
(Perspectiva de Lucian)O salão do baile estava iluminado com lustres dourados, refletindo um brilho quente sobre os convidados que conversavam e brindavam. O cheiro de perfumes caros e especiarias se misturava ao ar, enquanto a música suave tocava ao fundo.Ao lado de Rylan, entrei no salão com a postura ereta, como um rei deveria. Mas no momento em que meus olhos percorreram a multidão, senti algo diferente.Meu lobo rugiu dentro de mim.Era um chamado primitivo, uma necessidade que quase me fez perder o fôlego.E então, eu a vi.No instante em que nossos olhares se cruzaram, tudo ao meu redor desapareceu. A música, as vozes, as luzes, nada mais existia. Apenas ela.O tempo não havia apagado sua beleza. Pelo contrário, parecia que a lua havia banhado cada traço seu, tornando-a ainda mais deslumbrante. Seu vestido realçava suas curvas, e seus olhos brilhavam com algo que eu não sabia decifrar.Depois de quase três anos.Depois de noites em claro, me perguntando onde ela estava.Depoi
(Perspectiva de Rylan e Celeste) O salão de baile fervilhava com murmúrios e olhares curiosos. O retorno da filha perdida da Luna Helena já era um evento marcante, mas outra cena chamava a atenção de alguns convidados. Rylan parou no meio do caminho para sua mesa, o coração acelerado como se tivesse levado um golpe invisível. Seus olhos haviam se fixado na mulher sentada à mesa próxima, e algo dentro dele rugiu em reconhecimento. A mulher o encarava de volta, a incerteza dançando em seus olhos castanhos. Sem perceber que havia prendido a respiração, ele viu quando ela se levantou hesitante e caminhou em sua direção. Rylan não precisou perguntar. Seu lobo já sabia. Companheira. A palavra ecoou em sua mente como um trovão. Ela parou diante dele, os lábios se entreabrindo, como se quisesse falar algo, mas não soubesse por onde começar. Tomando cuidado para não assustá-la, Rylan estendeu a mão e tocou seu braço levemente. — Gostaria de conversar? A sós? — Sua voz saiu baixa, sua
Perspectiva de SelenaO ar frio do jardim mordeu a pele de Selena quando ela atravessou as portas de vidro do salão. O barulho da festa ficou para trás, mas seu coração continuava batendo como se estivesse cercada por mil olhos. A sensação de estar sendo observada persistia — até que braços firmes a envolveram por trás, com uma delicadeza que só ele tinha.Lucian.Ela queria resistir, dizer que precisava de espaço, que ainda estava tentando entender o que estava sentindo. Mas seu corpo cedeu antes que sua mente pudesse protestar. Ela relaxou contra ele, ainda que a confusão queimasse em seu peito.— Você me seguiu, — murmurou, tentando manter a voz estável.— É claro que segui — respondeu ele, próximo ao seu ouvido. — Você saiu como se tivesse visto um fantasma. E de certa forma... eu entendo.Selena se virou, encarando seus olhos dourados à luz do luar.— Eu não sei se foi o susto... ver você ali, como o rei. Ou se foi medo de que... agora que sabe quem eu sou, ache que não sou boa o
A sala estava silenciosa, exceto pelo crepitar da lareira. O calor das chamas se espalhava suavemente pelo ambiente, mas Selena sentia como se estivesse em um turbilhão. O olhar de Lucian sobre ela era firme, mas não havia julgamento ali.Ela inspirou fundo, tentando organizar os pensamentos. As emoções vinham em ondas desordenadas: o susto de descobrir que o pai dos seus filhos era ninguém menos que o rei, o medo de ser rejeitada, e aquele sentimento inegável de conexão com ele — algo que nunca desaparecera, mesmo com o passar do tempo.— Você é o rei — disse finalmente, sua voz baixa, mas firme.Lucian a fitou com os olhos intensos, mas havia suavidade em seu tom ao responder:— E você… é a filha perdida do alfa Luke. O lobo que morreu salvando minha vida.Ela assentiu devagar.— Eu sou.Por um momento, ficaram em silêncio. Até que Lucian deu um passo à frente.— Selena... O que aconteceu naquela manhã? No hotel? Por que você fugiu de mim sem dizer nada? — Ele franziu o cenho. — E..
Selena havia contado tudo. A dor, a fuga, os anos de ausência. Agora, era a vez de Lucian.Ele ajeitou um dos bebês nos braços, olhando para os pequenos olhos sonolentos com um carinho silencioso. Então, com a voz baixa, começou a falar:— Foram dois anos longos demais sem você — ele começou, a voz baixa, quase rouca. — No início, eu me recusei a aceitar que você tinha partido. Passava dias e noites procurando rastros, tentando entender o que havia acontecido. Mas era como tentar tocar fumaça.Selena apertou os lábios, sentindo o coração se apertar ao ver a dor nos olhos dele.— Perdi Alina pouco depois — ele continuou. — Minha beta, minha amiga mais leal. Ela foi como uma irmã, especialmente depois que você desapareceu naquela manhã. Me ajudou a manter a cabeça no lugar…Lucian fez uma pausa, os olhos perdidos por um instante.— Me joguei no trabalho pra manter a sanidade. O reino precisava de estabilidade. A alcatéia, de liderança. Eu me tornei... alguém que respirava dever e sufoca
O castelo estava mais silencioso agora, como se respirasse aliviado por tantas verdades finalmente terem vindo à tona. Rylan guiava Celeste por um dos longos corredores da ala beta, o braço dela entrelaçado ao seu com naturalidade.— Essa é a ala que Alina e eu ocupávamos — ele disse, com a voz baixa, enquanto caminhavam por entre portas e janelas envidraçadas que revelavam um jardim interno iluminado por pequenas lanternas mágicas.Celeste apertou levemente o braço dele, respeitando o silêncio que se seguiu.Rylan mostrou os cômodos com um sorriso discreto, apontando a sala de reuniões particular, a biblioteca da ala, o pequeno salão de chá, e por fim parou em frente a uma porta maior.— Esse… era o nosso quarto.Ele tocou a maçaneta, mas não girou. Ficou ali, parado. A mão firme, mas o olhar distante. Celeste sentiu o peso do momento e agiu com a delicadeza que o coração dela conhecia bem.Com ternura, ela segurou a mão dele e afastou-a da porta.— Você não precisa entrar aí agora,
O beijo ainda pairava no ar, quente e suave, quando uma batida leve na porta os fez se afastar devagar. Selena sorriu timidamente, os lábios ainda entreabertos e o coração acelerado. Lucian riu baixinho, sua testa encostando brevemente na dela antes de virar-se em direção à porta.— Pode entrar — disse ele, recuperando a postura, mas mantendo sua mão entrelaçada à de Selena.A porta se abriu revelando uma senhora de cabelos grisalhos cuidadosamente presos em um coque. Seus olhos eram de um azul profundo e bondoso, e seu sorriso era caloroso como o de uma avó que reencontra netos há muito perdidos.— Alteza — disse ela, com uma leve reverência. — Perdoe-me por interromper.Lucian se aproximou dela com carinho visível no olhar.— Selena, essa é Merla. Ela trabalha no castelo desde antes de eu nascer. Foi uma figura constante na minha infância. E ficou muito feliz em saber que poderia ajudar com as crianças.Merla curvou-se levemente para Selena.— É uma honra conhecer a senhora, companh