Lucian sentou-se na cabeceira da grande mesa do conselho, entediado antes mesmo da reunião começar.
O salão da Matilha Real estava repleto de anciões e líderes de matilhas menores que vieram para a reunião anual. Ele já sabia quais seriam os assuntos: Segurança das fronteiras, Alianças com outras matilhas e O futuro do trono – esse era o tema que ele mais odiava. — Majestade — começou o ancião Alaric, um dos mais velhos e respeitados do conselho. — Já está com 29 anos. A linhagem real precisa ser assegurada. Lucian bufou, sem esconder sua irritação. — Já falamos sobre isso antes. Não vou escolher uma parceira aleatoriamente. — Mas precisa haver um plano! — insistiu outro ancião. — Se não encontrar sua companheira, deve escolher uma loba adequada para acasalar e garantir a continuidade da linhagem real. Lucian cruzou os braços. — Eu vou encontrar minha companheira. — Tem certeza de que ela existe? — um ancião perguntou com cautela. Lucian rosnou, sua paciência se esgotando. Ele não tinha dúvidas. Desde que conheceu Erin, algo dentro dele gritava que ela era sua. Seu lobo não confirmou, mas ele sentia que havia algo errado com a loba dela. Talvez estivesse adormecida ou bloqueada de alguma forma. Mas isso não era assunto para o conselho. — A reunião está encerrada. Os anciões entreolharam-se, surpresos com sua brusquidão, mas ninguém ousou questioná-lo. Ao sair do salão, Lucian foi direto para seu escritório, onde encontrou Rylan, seu beta, já à espera. — Alguma novidade? — Lucian perguntou, sua voz mais ríspida do que pretendia. Rylan suspirou. — Nenhuma pista. É como se ela nunca tivesse existido. Lucian cerrou os punhos. Isso não fazia sentido. Ele sabia que Erin estava lá fora, em algum lugar. E ele ia encontrá-la. --- Erin piscou algumas vezes, sentindo o mundo voltar ao foco. Ela estava deitada em sua cama, mas não estava sozinha. Celeste, Isla, sua mãe Helena e um homem de expressão calma – o médico da matilha – estavam ao seu redor. — Graças à Lua, você acordou! — Isla exclamou, aliviada. Celeste pegou sua mão. — Você nos assustou. O médico sorriu gentilmente. — Preciso conversar com Erin em particular. Mas Erin balançou a cabeça. — Quero que minha mãe e minhas irmãs fiquem. Se for algo grave… elas precisam saber. Seu coração acelerou. Ela não queria morrer sem que soubessem. Helena franziu a testa. — Erin, querida… O médico ergueu as mãos, rindo baixinho. — Não é nada grave. Você não está doente. Erin soltou o ar em alívio. Mas então, as próximas palavras do médico fizeram o chão desaparecer sob seus pés: — Erin, você está grávida. O silêncio na sala foi absoluto. Erin sentiu como se tivesse sido atingida por um raio. — Eu… o quê? Celeste e Isla ficaram boquiabertas. Helena arregalou os olhos, mas sua expressão era de surpresa, não julgamento. O médico sorriu, compreendendo o choque. — Sim. Está grávida de cerca de um mês. Erin engoliu em seco. Ela só tinha dormido com um homem na vida. Lucian. O alfa poderoso e misterioso que a seduziu naquela noite no bar. Seu coração apertou ao pensar nele. Ele provavelmente já a esqueceu. Para ele, ela foi apenas uma noite qualquer. Um nó se formou em sua garganta. E agora… ela estava grávida. Sua mente girava com pensamentos sombrios. E se sua mãe e irmãs se envergonhassem dela? E se a rejeitassem? Ela abaixou a cabeça, sentindo-se indesejada antes mesmo de ouvirem sua explicação. Helena percebeu sua angústia imediatamente. Ela se aproximou, segurando o rosto de Erin com doçura. — Querida, por que essa tristeza? Erin hesitou antes de responder. — Eu… achei que vocês ficariam com vergonha de mim. Não conheço o pai do bebê… e… talvez vocês não queiram alguém assim aqui. Helena arregalou os olhos antes de abraçá-la com força. — Erin. Você é minha filha. Eu te amo. E vou amar esse bebê também. Lágrimas escorreram pelos olhos de Erin. Ela não estava sozinha. Ela nunca mais estaria.Erin ainda estava sentada na cama, processando a notícia de sua gravidez. Sua mente girava, e o peso da revelação deixava seu peito apertado.Celeste e Isla estavam sentadas ao seu lado, enquanto Helena permanecia perto da porta, observando-a com carinho e paciência.— Então… — Celeste começou, inclinando-se para frente. — Como você conheceu o pai do bebê?Erin engoliu em seco, sentindo suas bochechas queimarem.— Bom… — Ela olhou para as irmãs, hesitante. — Foi em um bar…Isla arregalou os olhos, animada.— Um bar? Isso já está ficando interessante!Helena franziu levemente a testa, mas não disse nada. Erin sabia que sua mãe não a julgaria, mas ainda se sentia estranha contando aquela história.— Eu… — Erin respirou fundo. — Eu estava trabalhando no bar onde servia drinks e ele apareceu. Um homem alto, forte, de presença marcante. Eu juro, assim que bati os olhos nele, foi como se o ar tivesse ficado pesado.Celeste sorriu de canto.— Atração instantânea?Erin revirou os olhos.— Mui
O escritório de Helena era um espaço acolhedor, repleto de livros, documentos e o aroma de chá de ervas. Erin estava sentada em uma poltrona confortável, acariciando distraidamente sua barriga arredondada de seis meses. A porta se abriu de repente, e Celeste e Isla entraram em meio a uma discussão animada. — Eu aposto que Erin vai querer as frutas que eu trouxe — Celeste disse, segurando um pratinho com pedaços coloridos de morango, manga e mirtilo. — Ah, por favor! — Isla revirou os olhos, segurando uma tigela de mingau de aveia fumegante. — Mingau é muito mais nutritivo! Helena, que estava sentada atrás da mesa, riu da pequena disputa. — Vocês duas agem como se pudessem prever os desejos de uma grávida — brincou. Erin, com um sorriso divertido, olhou para as irmãs e pegou as duas porções sem dizer nada. Em seguida, despejou as frutas dentro da tigela de mingau, misturando tudo. Celeste e Isla fizeram expressões de puro espanto. — Eca! — Isla fez uma careta. — Isso parece er
A lua cheia pairava sobre o céu límpido, iluminando o castelo da matilha real. Dentro dos muros de pedra imponentes, os preparativos para o grande baile estavam finalizados. O evento era aguardado com ansiedade por muitas fêmeas em busca de seus companheiros, mas para o rei, Lucian, aquilo era apenas uma formalidade exaustiva. Ele já sabia o que esperar: uma noite longa, cheia de lobas tentando seduzi-lo, esperando que fossem a escolhida de seu lobo.Mas aquela noite seria diferente.A uma hora dali, na matilha da Lua Escarlate, Erin e suas irmãs estavam quase prontas para partir. Isla resmungava enquanto prendia um grampo nos cabelos escuros.— Não é justo! Celeste e Erin já foram quando eram crianças, e eu nunca tive essa chance.— Isso porque você ainda não tinha nascido, sua tonta — Celeste zombou, ajeitando o vestido azul-claro que realçava seus olhos.— Na verdade, não é bem assim — Erin interveio, lançando um olhar curioso para a irmã mais nova. — Mamãe não sabia que estava grá
O caminho de volta para casa foi silencioso, apenas o som da respiração tranquila dos bebês preenchia o carro. Erin manteve os olhos fixos na estrada, mas seu coração estava inquieto. Isla, sentada ao seu lado, mantinha uma das mãos sobre a dela, um gesto simples, mas que transmitia todo o apoio de que Erin precisava.Quando finalmente chegaram à alcatéia, o sol já havia começado a se pôr, banhando tudo em tons dourados. Assim que a porta da casa se abriu, a emoção no rosto de sua mãe foi imediata. Os olhos marejaram, e um soluço escapou de seus lábios antes que ela pudesse conter a emoção.— Me perdoe, Erin — a voz dela era embargada. — Eu não estive ao seu lado quando você mais precisou...Erin engoliu em seco. Parte dela queria lembrar a mãe de todas as vezes que se sentiu sozinha, mas agora, olhando nos olhos dela, viu apenas arrependimento e amor. E isso bastava.— Você estará em todos os próximos momentos — Erin respondeu suavemente, puxando-a para um abraço apertado.A casa da
Seis meses haviam se passado desde o nascimento de Luke e Lucy, e a vida de Erin havia mudado completamente. Seus dias eram uma mistura de mamadeiras, fraldas, treinamentos e estudos. Ela sabia que viver entre lobos significava estar sempre alerta, e, como mãe, a prioridade máxima era proteger seus filhos.Seus treinamentos eram intensos. Ela aprimorava suas habilidades de combate, fortalecia seu vínculo com sua loba e aprendia mais sobre a política entre as matilhas. No entanto, por mais ocupada que estivesse, sua mente, de vez em quando, a traía.Lucian.O nome dele ecoava em sua mente nos momentos mais silenciosos da noite, quando os bebês finalmente dormiam e ela se permitia deitar, exausta. Será que ele pensava nela? Será que imaginava reencontrá-la algum dia? Será que ele sentia a falta deles do mesmo jeito que ela sentia?Sua loba, sempre atenta às suas emoções, decidiu se manifestar."A Deusa da Lua tem seus planos, Erin. No momento certo, ela trará nosso companheiro de volta
A Alcatéia do Rio Sombrio sempre foi pequena, mas resistente. Localizada em uma região isolada, era o lar de lobos que preferiam a tranquilidade ao caos político das grandes alcatéias. No entanto, a paz havia sido perturbada por ataques de renegados misteriosos. Alina e seu companheiro, o beta Rylan, haviam passado uma semana investigando, patrulhando dia e noite ao lado do alfa local, Darius, e seus guerreiros. Nenhum sinal dos invasores… até o último dia. O vento cortava a mata escura, farfalhando as folhas. Alina caminhava ao lado de Rylan, sentindo o cheiro úmido da floresta após a chuva da tarde. — Acho que voltaremos para o palácio sem respostas — comentou Alina, seu tom carregado de frustração. Rylan suspirou. — Se os renegados quiserem atacar, eles fazem isso de forma imprevisível. Pode ser que só estejamos um passo atrás deles. Alina assentiu, mas sua loba estava inquieta. Foi então que um estalo ecoou na floresta. Rylan parou de imediato, os olhos dourados br
A lua cheia pairava sobre a Alcatéia do Rio Sombrio quando Lucian e Caden chegaram com um grupo de guerreiros. A viagem foi silenciosa, pesada. Todos sabiam que não estavam apenas ali para exterminar renegados, mas para trazer Alina de volta para casa—mesmo que apenas seu corpo.O cheiro de sangue impregnava o ar. Corpos de renegados estavam espalhados pelo campo de batalha, suas carcaças dilaceradas sem piedade. Não havia sobreviventes.Lucian olhou para o caos ao redor, os olhos brilhando em fúria. Ele não precisou perguntar o que aconteceu.Rylan estava de pé no centro do massacre, coberto de sangue, a respiração pesada. Seus olhos, antes vivos, agora estavam vazios.Caden foi o primeiro a se aproximar, colocando a mão no ombro do beta.— Rylan…O lobo apenas fechou os olhos e soltou um suspiro trêmulo.— Eles se foram. Todos eles.— Você… os matou sozinho? — Lucian perguntou, cruzando os braços.Rylan assentiu lentamente.— Eles não mereciam viver.Nenhum dos guerreiros questionou
O sol matinal lançava raios dourados sobre a casa principal da Alcatéia da Lua Escarlate quando Helena abriu seu e-mail e seus olhos pousaram no convite oficial para o Baile dos Companheiros. O evento anual que tantas jovens lobas esperavam havia sido cancelado no ano anterior devido ao luto da matilha real, mas agora, depois de um período difícil, ele voltaria a acontecer.Seu coração acelerou. Sem hesitar, confirmou a presença da família e fechou o laptop.Respirando fundo, ela sorriu ao pensar na reação de suas filhas.Saindo apressada da sala, Helena percorreu a casa em busca das meninas, até encontrá-las no jardim. Erin estava sentada na grama brincando com Luke e Lucy, enquanto suas irmãs, Celeste e Isla, observavam, trocando risadas.— Meninas! — Helena chamou, sua voz carregada de emoção.Elas se viraram de imediato, notando o brilho nos olhos da mãe.— O que foi, mãe? — Celeste perguntou, curiosa.Sem dizer nada, Helena levantou o tablet e mostrou a tela.— Este ano, o Baile