Após a trágica perda da mãe, a pequena Sofia vê seu pai, Gabriel, um poderoso e implacável CEO, se isolar em uma bolha de trabalho, tristeza e rigidez. A alegria que iluminava o rosto dele se apaga, e Sofia, com a pureza de seus sete anos, toma uma decisão inusitada: pedir à fada do dente que troque seu dente caído pelo sorriso perdido do pai. O que Sofia não podia imaginar era que seu desejo seria atendido de uma maneira surpreendente. A chegada de Celina, uma nova babá envolta em mistério, promete abalar o mundo frio e metódico de Gabriel. Com uma postura firme, mas uma empatia desconcertante, Celina não apenas desafia as regras inquebráveis de Gabriel, mas também começa a reacender a chama de uma família quase apagada. Porém, nem tudo é o que parece. Celina guarda segredos que podem transformar ainda mais a vida dos dois. Resta saber se o amor de uma criança e a força de um coração resiliente serão suficientes para curar feridas tão profundas e trazer de volta o sorriso que parecia perdido para sempre.
Ler maisOlhei ao redor, tentando apenas respirar, como se o ar tivesse ficado mais denso de repente. Aquele homem estava à minha frente, falando comigo, e eu me sentia... desconectada do que era real. Era como se o tempo tivesse desacelerado, e eu estivesse presa em um momento que eu não sabia como processar. Cada palavra que ele dizia parecia ressoar dentro de mim, como se estivesse tocando algo que eu mesma nem sabia que existia. — Você é um mistério. Sei que há algo que não me conta. — V-você sabe? — A Celina da entrevista não me disse tudo. Sei que há mais versões de você. Eu a observo. — Me observa? — Sinto que tenta esconder quem é. Eu consigo ver a sua essência, eu consigo ver do que você é feita, independente dos seus segredos. E eu gosto do que vejo. — Você é o primeiro a dizer isso... e o primeiro a me fazer querer acreditar. — Então acredite. Porque eu reafirmo: você não deveria se diminuir. Só precisa de alguém que te entenda. Um
Não tive tempo de responder. Ele se levantou de repente, puxando-me para perto antes de me guiar até a pista de dança, onde apenas alguns casais se moviam suavemente ao ritmo da música. A melodia era suave, romântica, algo clássico e envolvente, mas, por mais que tentasse, eu não conseguia me concentrar na canção. Tudo o que eu sentia era a proximidade de Gabriel, a força gentil de sua mão segurando a minha e a outra repousando firme, mas delicada em minha cintura. Nossos passos se sincronizaram com facilidade, e foi como se o mundo ao nosso redor tivesse desaparecido. Apenas o som da música e a intensidade do olhar dele pareciam existir. Eu podia sentir o calor que emanava de seu corpo, e cada movimento que ele guiava fazia meu coração bater mais rápido. — Está nervosa? — ele perguntou, a voz baixa, quase um sussurro, enquanto inclinava levemente a cabeça para me olhar nos olhos. — Talvez um pouco — admiti, sorrindo. — Não precisa ficar. É s
No começo estava nervosa mas depois de saber como essas pessoas eram, me enchi de uma coragem de rebatê-las. De repente, uma vontade inesperada brotou em mim, como se eu tivesse algo a provar, não para elas, mas para mim mesma. A ideia de recuar, de deixar que me intimidassem, se tornou inaceitável. E naquele momento, eu decidi: se era para estar naquele jogo, então eu jogaria – e jogaria bem. E a minha primeira prova já estava a caminho, avançando em minha direção como uma tempestade anunciada. Penélope, aproveitando a oportunidade de Gabriel ter me deixado sozinha, vinha acompanhada de duas madames tão altivas quanto ela. Sem a menor cerimônia, Penélope se acomodou na cadeira à minha frente, ocupando o espaço com a confiança de quem estava em seu território. Suas seguidoras se sentaram logo depois, como se cumprissem um ritual ensaiado. Levantei o olhar e percebi Gabriel a certa distância. Ele tinha interrompido a conversa para nos observar, seu olhar fixo
— Não precisa temer nada, Celina. — Senhor Gabriel, eu… não sei se consigo fazer isso. — Minha voz saiu quase em um sussurro, trêmula. — Você vai conseguir, Celina. Porque, se não o fizer, elas serão cruéis e tentarão te rebaixar. Não permita isso. Eu não vou permitir. Levantei o olhar para ele e percebi que aquilo não era apenas sobre mim. Gabriel queria me proteger, sim, mas parecia carregar um peso antigo, uma culpa que o seguia. Arrisquei perguntar: — Tentaram fazer isso com a mãe da Sofia?Ele engasgou, como se não esperasse a pergunta, e respondeu com a voz carregada de amargura: — Sim. Sempre faziam isso com ela. Depois do que aquela mulher disse hoje, imagino que tenha ficado claro para você que minha esposa não fazia parte do mesmo círculo social que eu. Lívia sofria muito tentando se adaptar mas não davam a ela nenhuma chance. Ele suspirou profundamente, o peso da lembrança evidente em sua expressão. — No início, eu acha
Gabriel estava impecável, o corte do tecido ajustando-se perfeitamente aos ombros largos e à postura altiva. A gravata borboleta adicionava um toque clássico, enquanto os cabelos levemente despenteados pareciam um contraste deliberado, quase desafiador. Havia algo nele que ia além da aparência. Talvez fosse a confiança tranquila com que ele se movia, ou o olhar penetrante que parecia enxergar além de qualquer máscara. Por um momento, me senti vulnerável, como se ele pudesse ver através de mim, mas mantive a compostura. Quando me aproximei, eu disse: — Me perdoe, senhor. Estou atrasada. — Você está linda! — Ele pigarreou e completou — Quero dizer, as duas estão. Quanto ao atraso, não há problema. Nunca é bom chegar no horário nessas festas. Nunca é bom o quê? O que aconteceu com o senhor pontualidade? — Espero que tenha gostado do vestido. — É realmente maravilhoso! — Eu tinha esse… costume… de trazer uma rosa para Sofia em ocasiões es
Quando deixei o escritório, minha mente ainda estava inquieta. Cheguei em casa, subi direto para o meu quarto, tomei um banho e vesti meu smoking, ajeitando a gravata no espelho com mais cuidado do que o habitual. Algo estava diferente naquela noite, embora eu ainda não soubesse exatamente o quê. Fui até a sala, mas a Celina ainda não tinha aparecido. Caminhei até o sofá, checando o relógio mais vezes do que gostaria de admitir. Quando levantei os olhos, ouvi o som de passos leves na escada. Lá estava ela: minha princesa. Sofia descia as escadas com a delicadeza de uma bailarina, envolta em um vestido rosa com detalhes em pérola que pareciam brilhar sob a luz suave do lustre. Ela era o rosto do amor. O tecido fluía como um sonho, com pequenas flores bordadas na saia que balançavam a cada passo. Ela segurava a barra do vestido com as mãos delicadas, um sorriso tímido iluminando seu rosto enquanto seus cachos dourados molduravam sua expressão de pura alegria.
— Basta usar o pincel assim e você verá como as árvores ganham vida. Sua vez — me explicou Celina, diante da tela cheia de cores com uma paisagem de arvore que eu tentava pintar. Eu dei batidinhas rápidas com o pincel com o verde-claro e a árvore pareceu ganhar vida. Fiquei radiante. — Celina, deu certo! Deu certo! Eu adorava esse momento com ela. Sempre que o papai saía, a gente corria para o quarto dela para pintar. Celina escondia tudo na outra sala do quarto, onde só a gente entrava. Papai nunca ia lá, e mesmo que fosse, não ia notar os desenhos que a gente deixava na parede da antessala. O quarto dela era enorme, com um lustre gigante e móveis bonitos, mas o que eu mais gostava era esse cantinho escondido, onde parecia que só existia a gente duas. — Será que papai me deixaria ter essas coisas de pintura que você tem?— perguntei à Celina. — Hum… podemos tentar falar com ele. Mas até lá pode usar meus pincéis e tintas. — Ah, obrigada
Celina seria massacrada naquela festa. Eu sabia que ela era inteligente, mas, como minha babá, jamais seria vista como igual por aquelas mulheres da alta sociedade. Elas a devorariam com sorrisos falsos, olhares refinados e indiretas angustiantes. Já tinha visto isso acontecer antes: com Lívia. Minha esposa nunca pertenceu ao nosso círculo, e por mais que tentasse, sempre a trataram com condescendência. Comentários sutis, risadas contidas, olhares que a mediam como se nunca fossem suficientes. Eu sabia o peso disso. Eu vi o brilho nos olhos dela se apagar aos poucos. Não deixaria que acontecesse de novo. Peguei o celular, deslizei o dedo até a agenda e, com um clique, fiz a chamada. Do outro lado da linha, a voz de Madalena atendeu. — Senhor Gabriel, como posso ajudá-lo? — Sei que está tarde, Madalena. Mas preciso de um vestido. E é para amanhã, no máximo até as dezessete horas. — Ora, Senhor Gabriel! Nunca é tarde para o senhor! — Excel
Finalmente, a véspera da festa havia chegado. Sofia estava ansiosa, e eu já tinha separado um lindo vestido do armário dela para o grande dia. Ao me dirigir para o meu quarto, a governanta me chamou, apressada, informando que Penélope, mãe de Maria – a amiga de escola de Sofia –, estava ao telefone. Um aperto surgiu no meu peito. Será que a festa tinha sido cancelada? — Sim? — Celina? É a senhora Penélope, mãe de Maria. — Muito prazer. — Estou entrando em contato porque a presença de Sofia foi confirmada, e, como a pobrezinha não tem mãe, né? E o pai... bem, acho que não preciso dizer nada sobre isso. Você deve saber bem o quanto ele é difícil. Enfim, gostaria de saber se Gabriel vai comparecer. Seria muito bom se ele viesse… — Ele é muito ocupado, provavelmente não poderá. — Entendo. Só queria dizer que o traje é gala, está bem? — Certo. Obrigada. Desliguei e liguei para Joana, aquela mulher estava tentando pregar uma peça em mim? Tr