Fazia meses que eu não pisava naquela casa. Eu encontrava com Gabriel na empresa e falava com Celina em reuniões on line frequentemente. Mas eu nunca mais tinha voltado à mansão desde o dia em que Matheus foi desmascarado. Ele está preso. Acontece que chantagem é crime, chama extorsão.Mesmo sabendo que agora tudo era diferente, meu coração ainda acelerava ao atravessar os portões imponentes. Quando parti, deixei para trás uma Sofia frágil e um Gabriel frio e distante. Agora, voltava para encontrar algo completamente novo. A mansão parecia mais viva, como se, de alguma forma, as paredes antes tão rígidas e silenciosas tivessem finalmente aprendido a respirar. Flores novas decoravam a entrada, e até o ar ali parecia mais leve. Subi os degraus com um aperto no peito, mas antes que pudesse bater, a porta se abriu de repente. — Jojo!Um torpedo de cabelos castanhos e vestidinho azul se lançou contra mim. — Minha menina! — Senti Sofia se agarrar ao meu pescoço com tanta força que quase
Ouvi o som do carro estacionando na garagem e meu coração deu um pulo! Larguei minha boneca e saí correndo para a porta. Mas, desta vez, Jojo não estava ali para me dizer que eu não devia esperar um abraço.Dessa vez, eu sabia que ia ganhar um. Assim que a porta se abriu, vi meu papai. Ele ainda usava terno, mas a gravata já estava afrouxada, e ele segurava uma sacola na mão. Seu rosto cansado se iluminou ao me ver. — Sofia!— Papai!Corri para ele e, sem esperar, me joguei em seus braços. Senti seus braços me envolverem com força, e minha bochecha encostou no tecido frio de seu paletó. — Como foi seu dia, princesa? — ele perguntou, me soltando só o suficiente para olhar nos meus olhos. — Foi muito legal! Celina me ajudou na lição de casa, e eu fiz um desenho da nossa família. Olha! Peguei o papel que deixei na mesa e mostrei. Tinha eu, a mamãe Celina, o papai e até Jojo! Todos de mãos dadas. Ele olhou por um momento e sorriu, um sorriso de verdade, não daqueles apressados que e
Dois anos depoisA casa estava diferente, cheia de flores e sorrisos, como se todo o amor do mundo tivesse sido espalhado por cada cantinho. Hoje era um dia de festa, mas a casa estava silenciosa. Simone estava ao meu lado me lembrando que eu não deveria gritar quando papai e Celina entrassem pela porta. Mas será que eu ia conseguir? Eu estava tão animada, meu coração não parava de bater rápido.Papai e a Celina estavam mais felizes do que nunca, e eu também estava, claro. Eles me contaram que o meu irmãozinho estava a caminho, e hoje, finalmente ele chegou.Era tudo muito novo, mas também parecia tão certo. Eu me lembro de quando a Celina me disse que ia ter um bebê. Eu fiquei tão empolgada que quase não consegui entender direito o que ela estava falando. Como assim, um bebê? E agora, ali estava eu, esperando, com o coração cheio de expectativa, sentada no sofá da sala, olhando fixamente para a porta. Queria ver meu irmãozinho.Sempre quis ter um irmãozinho. Alguém com quem brincar…
Ouvi o som do carro estacionando na garagem e meu coração deu um pulo! Larguei o biscoito que estava comendo, minha boneca, a comidinha de massinha que fazia e saí correndo para a porta. Jojo me olhou com tristeza e falou: — Sofia, querida, lembra do que conversamos? Seu pai não gosta de abraços. Joana era minha babá, mas fingi que não escutei o aviso. Papai estava em casa! Fazia tanto tempo que eu esperava por ele. Fiquei na ponta dos pés para espiar pela janela. Quando a porta se abriu, meu peito quase explodiu de alegria. Queria correr e pular nos braços dele, mas tive medo que brigasse comigo. Então, fiquei ali, parada, quietinha, perto da porta. Talvez, se ele me visse, me desse um sorriso. Ele entrou, estava no celular, falando daquele jeito sério: — Preciso que o relatório esteja pronto amanhã cedo. Sem desculpas, entendeu? Depois, ele desligou o celular, e eu tentei chamá-lo: — Papai? Mas ele só fez um gesto com a mão, como se pedisse
— Pode entrar. — Com licença, senhor. Uma mulher alta e elegante entrou em minha sala com passos firmes, exalando discrição e compostura. Seu currículo, mandando pela melhor agência do país, estava em minhas mãos e informava que tinha vinte e oito anos, mas sua postura madura transmitia uma experiência que parecia ir além dessa idade. Os cabelos castanhos, presos de forma impecável, reforçavam sua imagem de profissionalismo, e seus olhos atentos, carregavam um ar sereno. Apesar de sua beleza natural, sua expressão mantinha-se séria e reservada, refletindo um autocontrole que inspirava confiança — exatamente o que eu procurava. Joana era uma boa funcionária, mas tinha um grande defeito: enchia a cabeça da minha filha com brincadeiras, filmes e outras distrações inúteis. Sofia não precisava disso. Ela precisava de disciplina, de estrutura, e não de fantasias. Por isso, decidi realocar Joana para outra família. Lá, ela se encaixaria melhor. Sofia preci
Eu ainda tentava entender aquele homem. Será que ele realmente acreditava que essa abordagem era o melhor para a Sofia? Ou seria apenas uma forma de se proteger do mundo, de não ter que lidar com algo que ele não pudesse controlar? As perguntas dele eram tão diretas e objetivas que, por um momento, me senti como se estivesse em uma entrevista para um cargo corporativo, e não para cuidar de uma criança. Ele queria respostas práticas, sem espaço para sonhos ou fantasias — nem mesmo para uma fada do dente. Respondi como Joana me treinou. Será que era mesmo certo fazer isso? Eu acreditava na disciplina e no esforço mas não acreditava na ideia de que o papel do pai não era estar ao lado de filho nas pequenas tarefas diárias mas sim se preocupar em apenas garantir a segurança e futuro deles. E esse era todo o conflito aqui. Aquele homem não sabia que Sofia podia ter as duas coisas. Eu não negava que sua aparência era intimidadora. Ele era alto, imponente, cabelos e b
Estava quase na hora de Celina chegar, e Sofia ainda dormia. Eu já tinha me despedido no dia anterior. Agora sairia assim que Celina chegasse; não queria que Sofia me visse partir e ficasse triste outra vez. O novo emprego era maravilhoso, e eu já conhecia a família. Mas ficar lá e deixar Sofia com alguém que eu não conhecia significaria quebrar minha promessa. Mas com Celina ali, daria tudo certo. Ela é a única pessoa além de mim, que seria capaz de amar tanto Sofia quanto eu. Olhei para a casa onde tinha morado nos últimos doze meses. A avó de Sofia, Regina, havia imposto ao senhor Gabriel que me contratasse e garantiu que eu continuasse ali. Mas fazia dois meses que ela tinha morrido, e isso era tudo o que o senhor CEO precisava para me colocar para fora. Ele nunca concordou com os meus métodos. Achava que eu mimava Sofia demais. E eu? Não soube lidar com ele. Não soube me impor, me defender e, principalmente, defender Sofia. Mas Celina conseguiria. Para c
Assim que Joana deixou a casa, me vi nervosa. Não passava um dia sem que eu pensasse naquela noite que tudo mudou. Eu sei como Joana se sentia, eu me sentia igual. Eu sei que laços de amor nos prendiam e era por isso que eu ia cuidar da pequena Sofia. Mas eu não sei como iria conseguir. Se Joana com toda sua gentileza e carinho não conseguiu, eu não tinha chance. Eu não era doce e nem sabia iluminar a vida das pessoas ao meu redor. Eu só tinha… inteligência. Inteligência que eu passei a vida toda tentando esconder. No meu programa de mestrado, eu era sempre vista como arrogante e mandona, só por questionar as coisas. E agora estava em um lugar onde eu não poderia questionar. Precisava ser exatamente o que Gabriel queria. Fiquei sentada relembrando o passado com a minha mala na mão. Divagando, não perguntei a governanta onde era meu quarto e quando me lembrei, já era tarde demais. Pequenos passos interromperam meus pensamentos. Olhei para o lado e vi