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Gabriel - Capítulo 2

         — Pode entrar.

         — Com licença, senhor.

         Uma mulher alta e elegante entrou em minha sala com passos firmes, exalando discrição e compostura. Seu currículo, mandando pela melhor agência do país, estava em minhas mãos e informava que tinha vinte e oito anos, mas sua postura madura transmitia uma experiência que parecia ir além dessa idade. Os cabelos castanhos, presos de forma impecável, reforçavam sua imagem de profissionalismo, e seus olhos atentos, carregavam um ar sereno. Apesar de sua beleza natural, sua expressão mantinha-se séria e reservada, refletindo um autocontrole que inspirava confiança — exatamente o que eu procurava.

        Joana era uma boa funcionária, mas tinha um grande defeito: enchia a cabeça da minha filha com brincadeiras, filmes e outras distrações inúteis. Sofia não precisava disso. Ela precisava de disciplina, de estrutura, e não de fantasias. Por isso, decidi realocar Joana para outra família. Lá, ela se encaixaria melhor. Sofia precisava de uma tutora tradicional.

       As referências da mulher à minha frente eram promissoras, mas, se ela tivesse a mesma visão de criação de Joana, não haveria chance de contratá-la.

        Fiz um gesto para que se sentasse, mantendo meus olhos fixos nos dela. Por um instante, encarei-a analisando cada detalhe. Ela não desviou o olhar, nem demonstrou qualquer sinal de desconforto. Sua expressão permaneceu serena e firme, o que me causou uma boa impressão. Então, comecei a entrevista.

        — Celina Nogueira, correto?

        — Sim, senhor.

        — Muito bem. Gabriel Monteiro. Podemos começar, Celina?

        — Sim, senhor.

       — Qual é a sua visão sobre o estudo infantil?

      — Sou bastante tradicional nesse aspecto, senhor. Acredito que as crianças devam seguir rotinas rigorosas de estudo, sem exceções.

      — Excelente! Concordo. No entanto, algumas pessoas dizem que sou muito rígido, que deveria deixar minha filha de sete anos brincar mais e estudar menos. O que a pensa sobre isso?

      — O mundo é extremamente competitivo, senhor. Quanto antes a criança aprender a importância de disciplina e esforço, melhor será para o futuro dela.

       — Concordo mais uma vez, Celina. E qual é a sua opinião sobre o uso de telas?

       — Telas? O senhor se refere às de janelas? Acho que são essenciais para a segurança.

     — Não. Refiro-me a televisores, celulares e outros dispositivos eletrônicos. A senhora é a favor do uso desses aparelhos pelas crianças?

     — Perdoe-me, senhor. Acredito que não. Esses dispositivos não devem estar presentes no ambiente infantil.

        — E sobre filmes? A permite ou recomendaria?

       — Somente filmes educativos, senhor. Acho que eles podem ter um papel positivo quando bem escolhidos.

      — E sobre fantasia infantil? Acha saudável estimular as crianças a acreditarem em seres mágicos? Coisas assim?

     — Com certeza, não, senhor. A criança sofrerá um grande desilusão quando descobrir a verdade, se tornando um episódio negativo.

      — Perfeito. Você acha que o papel do pai é estar ao lado de seu filho nas pequenas tarefas diárias ou garantir a segurança e futuro deles?

       — Definitivamente a segunda opção, senhor.

     — Interessante. E sobre as atividades extracurriculares? Minha filha tem aulas de pianos quatro vezes por semana. A acredita que são necessários no desenvolvimento infantil?

   — Sim, senhor. As atividades extracurriculares, como a música, não só desenvolvem habilidades cognitivas e disciplina, mas também ajudam as crianças a expressarem sua criatividade.

       — E se a criança demonstrar resistência em participar das aulas?

      — É natural, senhor. Mas é dever dos pais e cuidadores ensinar a importância de enfrentar desafios e persistir, mesmo diante de dificuldades.

     — Muito bem, Celina. Última pergunta: você acredita que uma babá pode influenciar o futuro de uma criança?

       — Sem dúvidas, senhor. A babá molda muitos aspectos do comportamento da criança. Por isso, é essencial que seja um exemplo de disciplina e valores corretos.

       — Acho que já sei de tudo. Está contratada.

       — Perfeito senhor.

        Acompanhei Celina até o corredor onde minha filha aguardava com Joana.

       — Esta é Celina, sua nova babá, Sofia.

    Sofia ergueu os olhos para olhá-la, mas não se levantou. Lancei-lhe um olhar para que entendesse que deveria cumprimentar a nova babá de maneira adequada. Quando Sofia se levantou, um papel caiu no chão, e ela se apressou para pegá-lo, escondendo-o atrás das costas com sua pequena mão.

      — O que está escondendo na mão, Sofia? — perguntei, tentando soar calmo, mas firme.

      Sofia abaixou os olhos, evitando me encarar, e apertou ainda mais o punho fechado.

      — Sofia, mostre-me agora. Não me faça repetir. — Minha voz saiu mais séria desta vez.

      — Por favor, papai. É só um saquinho com meu dente e um bilhete para a fada do dente me trazer uma moeda. Veja, ele caiu.

       — Sofia, fadas do dente não existem. Jogue esse bilhete fora.

   Sofia tentou resistir, mas acabou jogando o bilhete no lixo. Eu sabia que ela ficaria magoada, mas acreditar em algo que não existia só lhe traria mais dor quando descobrisse a verdade. Ainda assim, não consegui evitar o nó na garganta ao vê-la virar o rosto, lutando para não chorar. Mas o que eu fazia era para o bem dela. A vida era cruel e nos tirava tudo sem aviso, sem piedade. Quanto mais cedo ela entendesse isso, mais forte se tornaria.

       Olhei para Joana, que mantinha os olhos no chão. Ela sabia que aquele era seu último dia de trabalho, mas, mesmo assim,  continuava incentivando Sofia a acreditar naquelas histórias tolas. Um alívio percorreu meu peito ao pensar que, a partir de amanhã, a Celina assumiria seu lugar. Com um tom controlado, chamei a antiga babá para o escritório. Precisávamos acertar os detalhes da sua rescisão.

      — Uma palavrinha, Joana. Pode ficar com Sofia por um momento, Celina?

       — Claro.

       Enquanto caminhava em direção ao escritório, olhei para trás. Sofia estava conversando com a Celina. Ela havia se abaixado até a altura de Sofia e parecia estar lhe dizendo algo. Não consegui ouvir o que era, mas vi Sofia sorrir de canto e relaxar os ombros.

       Por um instante, uma dúvida passou pela minha mente. Será que a Celina era tão rígida e tradicional quanto parecia? Mas, balançando a cabeça, descartei o pensamento. Não, suas referências eram impecáveis, e suas respostas haviam sido perfeitas na entrevista. Eu tinha certeza de que ela era o que Sofia precisava.

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