"Que Fazemos quando nos tiram tudo? quando reduzem a cinzas nosso castelo, nossa aldeia e chacinam nossos protegidos? procuramos vingança! um Rei destronado, um guerreiro e uma criança procuram derrotar um exército inteiro. mas com que meios? isto é uma história de fio-de-espada, sangue e vingança, conseguirirão eles os seus intentos?
Ler mais- Atinge-o! – o miúdo faz mira, roda violentamente as duas correias de couro que embalam a pedra estriada e dispara atingindo-me no olho com uma correia desgovernada. Com um olho fechado vejo a pedra a bater no peito de ferro de meu tio, mas o canalha balança e segura-se forte nas rédeas do cavalo branco renascido. Em fúria, resvalo pela lama da falésia ao seu encontro, ouvindo Odro: - Boríngio, não! - No poço fétido estou, alguém enlameado à minha frente brande-me um machado, tentando-me cortar a meio. Espeto-lhe, antecipando-me a seu movimento, furando as tripas do suevo, a lâmina perfura os orgãos, resvala na coluna e sai nas costas, ergo-o no ar, gritando a minha fúria. - Boríngio, toma! – Odro berra-me de cima e atira-me uma lança. Deixo cair o corpo empalado negro do suevo. Apanho a lança e recebo uma mocada que me faz saltar os dentes. Atontado, vacilo e caio, recebo alguém em cima que me quer apunhalar. Amparo o seu punho, a ponta furadora da lâmina raz
- Estai atento ao que os espíritos vos disserem, eu serei apenas um meio. – informa Ario ordenando silêncio absoluto. Começa a gritar, um grito agudo e estridente que parou tudo. Até o rebuliço dos nossos sitiantes, lá em baixo. Aponta o céu e invoca os espíritos numa linguagem estranha, numa linguagem secreta acessível a poucos mortais. As narbassas possessas erguem seus braços para o círculo e começam a abaná-los. Que estaria Arioax a invocar? As forças arcaicas da natureza? A própria deusa Freya arrancada do âmago da terra? Não! Ninguém conseguria evocar Freya, a rainha das estações, seria tudo muito pesado para ele e depois como pagaríamos a Freya, com que sangue regaríamos a terra para pagar o favor que ela nos concederá? O retrocesso no tempo de Fabilda, o repor da ordem natural das coisas. Arioax pára de re
- Vai-nos mandar mau olhado! - diz Otix, tocando em seu amuleto. O feiticeiro desmonta do garrano e vai ter com meu tio e meu primo e o homem de negro. Discutem arduamente, o eco das suas vozes chega até nós imperceptível. Uma brisa sopra do sul, trazendo um agradável ar húmido. Um milhafre plana, um rouxinol canta a trinta passos de nós, as nuvens passam lá no alto e tudo está bem no velho reino do norte.Vemos o velho runamal subindo. Velho?! ele já era velho, quando eu era novo. Bebeu na raiz da grande árvore a água da sabedoria dada pelo gigante. Ser sabedor é ser velho. Subia a encosta encurvado e ajudado pelo seu bastão, evitando os estrepes e as cordas esticadas ocultas por entre o penedio e a urze, como se possuísse um sexto sentido que o alertasse das armadilhas. Parou meio agastado, mas aquilo é dissimulação, o grande feiticeiro tem a for&cced
– depois decido retornar à festa, receoso. Sento-me no meu lugar.- Raios, estais amarelo! – o pastor põe-me a mão no ombro. - Bebe, come e esqueçe, amanhã lutaremos, hoje festejaremos. - fiquei catatonico por momentos, depois decido tornar a comer e a beber a cevada fermentada quente que já saía dos alambiques. Ocorre-me pedir perdão a Odro, mas que se lixe. Cambaleio, alguém me ampara e me torna a sentar, acho que a baba escorre-me pelo peito, tou todo a suar… devo ter a cara de me ter passado uma quadriga em cima. Não me situo nem na mesa nem no acampamento, perdi o meu norte e parece que tudo rodopia. Tenho um búrio à minha frente, é alto e jovem e tem o cabelo apanhado num tufo.- Tu existes?- Quê?- Que tás aqui a fazer?- O tipo ri-se e pergunta-me:- E tu? Que tás aqui a fazer?- Se s
- Deus pai vos conserve unidos no mútuo amor, para que a paz de Cristo habite em vós e permaneça abundante em vossa casa. - Amén - Sêde abençoados no filhos, ajudados pelos amigos e vivei com todos em verdadeira paz. - Amén. - Aplaudimos todos no fim, muitos se abraçaram. Foi de facto emocionante ver a união e a solidariedade entre todos. Mais tarde, assistimos a um simples baptizado no qual nos pediram para sermos testemunhas. Fizemos todos um sinal da cruz entre a cabeça, a barriga e os ombros. Renunciamos vivamente a Satanás, água nova foi imposta, celebração de renovação, uma veste branca o menino vestiu, chorando aos quatro ventos. Agastado pelas cerimónias, sentei-me juntamente com búrios e narbassos nas mesas onde cairiam os respastos. Sardenna pede-me licença para se retirar para o forte. Eu, como provavelmente isto iria ser a última festa da minha vida, deixei-me ficar. Os gaiteiros, o tambor e a pandeireta começaram a encher o ar, os
- Os búrios sempre foram pastores na velha Suábia, vivíamos na retaguarda dos suevos protegendo-os contra os marcomanos. Possuíamos um território em que cada homem e a sua família não tinha que dar satisfações a ninguém, cada um tinha o seu rebanho e se decidisse juntar-se a outro burio para apascentar o gado, fazia-se isso, não pagávamos impostos a ninguém e só nos juntávamos, caso alguém invadisse o nosso território, e nesse caso… - Tinham um caudillho de ocasião. – complementa Julião. - Sim padre, agora tudo está diferente, somos servos na nossa própria terra em favor de um sistema que só favorece alguns. Pagamos impostos, mas para quê? Para protecção? De quem? Sobre o peso dos teus tios langobardos uns empobrecem outros enriquecem e os que enriquecem são os seus favoritos. - Ou seja, tu e os teus búrios têm empobrecido com os meus tios. - Não é isto que está em causa. - diz Otix, levantando a mão. - Se tudo fosse segundo a velha lei, sem estes laç
Vejo, por debaixo das minhas repas molhadas, Sardenna embalando o bebé junto ao fogo. Mira-me e informa-me:- Dormiste que nem uma pedra, caíste no sono e parece que morreste. – não lhe respondo ainda não sei como lidar com ela. Não tenho confiança nela, deveríamos falar calmamente e durante muito tempo, mas lá fora o meu exército de pastores me chama. Saio do forte espreguiçando-me e comendo queijo.- Padre Julião, há noticias das sentinelas?- Não capitão, ainda estamos todos a acordar da noite de cão que tivemos. – os homens iam acordando estremunhados e escarrando as agruras da noite, as lonas estavam ensopadas mas ainda se mantinham em pé. Sentia-se um cheiro de papas de aveia aquecidas nas panelas.- Que raios estará a acontecer, porque é que eles não aparecem? o melhor é mandarmos um espião?
- Sim, a empatá-los, a feri-los, a matá-los, que importa? É a única maneira de os enfrentar, só se vossa exª tiver melhor ideia. - Jogar com a vida do rei. As vossas terras em troca da vida do rei. - Meus tios não aceitariam isso e, como toda a gente diz, os langobardos influenciam muito. Têm a faca e o queijo na mão. Já temos sentinelas à beira da Geira? - Já. – responde Brigote. Começa a chover, lentamente, uma chuva miudinha… as fogueiras acendem-se. - Amanhã, construiremos as estacas com os sobreiros lá de baixo. Descansemos, pois. – ordeno, mandando dispersar e ficando só, sem saber muito bem para onde me dirigir, se procurava uma fogueira reconfortante ou não. Odro toma-me o braço e os dois entrámos no forte. As pedras calarias estavam todas negras e musgentas. Uma lucerna estava acesa, enfaixada nas pedras. Pego nela e noto uma cela com umas grades onde Rex Hermeric dormia. Seu longo cabelo solto descaía-lhe pelo pescoço, ombro, p
A figura elegante de cogula negra armada de gladio à cinta acerca-se de nós. Cabelo negro curto para a frente como um senador romano, barba entremeada com brancas até ao queixo untada com um óleo aromático. - Deus vos abençoe, nobre búrio Boríngio Langobardo, chefe dos búrios, os austeros pastores dos suevos, herdeiros por sangue do teu pai. – saúda-me, reconhecendo-me como chefe, Os narbassos reconhecem-me como chefe! O velhote deita as mãos à cabeça. Odro acena positivamente, segurando na trela de escravo de Rex Hermerich. - Regicídio não, por favor. – pede-nos o padre Julião, o padre guerreiro. - Quem vos mandou? Arcebispo Balcónio? - Não, foi um movimento espontâneo das populações, eu apenas sou a sua voz. – replica-me Julião, mentindo-me e abrindo os braços como o redentor. E realmente ele era o nosso redentor. - Não planeamos matar o rei, pelo menos para já. Queremos uma assembleia como nos velhos tempos. - Assembleia! Esta