- Os búrios sempre foram pastores na velha Suábia, vivíamos na retaguarda dos suevos protegendo-os contra os marcomanos. Possuíamos um território em que cada homem e a sua família não tinha que dar satisfações a ninguém, cada um tinha o seu rebanho e se decidisse juntar-se a outro burio para apascentar o gado, fazia-se isso, não pagávamos impostos a ninguém e só nos juntávamos, caso alguém invadisse o nosso território, e nesse caso…
- Tinham um caudillho de ocasião. – complementa Julião.
- Sim padre, agora tudo está diferente, somos servos na nossa própria terra em favor de um sistema que só favorece alguns. Pagamos impostos, mas para quê? Para protecção? De quem? Sobre o peso dos teus tios langobardos uns empobrecem outros enriquecem e os que enriquecem são os seus favoritos.
- Ou seja, tu e os teus búrios têm empobrecido com os meus tios.
- Não é isto que está em causa. - diz Otix, levantando a mão. - Se tudo fosse segundo a velha lei, sem estes laç
- Deus pai vos conserve unidos no mútuo amor, para que a paz de Cristo habite em vós e permaneça abundante em vossa casa. - Amén - Sêde abençoados no filhos, ajudados pelos amigos e vivei com todos em verdadeira paz. - Amén. - Aplaudimos todos no fim, muitos se abraçaram. Foi de facto emocionante ver a união e a solidariedade entre todos. Mais tarde, assistimos a um simples baptizado no qual nos pediram para sermos testemunhas. Fizemos todos um sinal da cruz entre a cabeça, a barriga e os ombros. Renunciamos vivamente a Satanás, água nova foi imposta, celebração de renovação, uma veste branca o menino vestiu, chorando aos quatro ventos. Agastado pelas cerimónias, sentei-me juntamente com búrios e narbassos nas mesas onde cairiam os respastos. Sardenna pede-me licença para se retirar para o forte. Eu, como provavelmente isto iria ser a última festa da minha vida, deixei-me ficar. Os gaiteiros, o tambor e a pandeireta começaram a encher o ar, os
– depois decido retornar à festa, receoso. Sento-me no meu lugar.- Raios, estais amarelo! – o pastor põe-me a mão no ombro. - Bebe, come e esqueçe, amanhã lutaremos, hoje festejaremos. - fiquei catatonico por momentos, depois decido tornar a comer e a beber a cevada fermentada quente que já saía dos alambiques. Ocorre-me pedir perdão a Odro, mas que se lixe. Cambaleio, alguém me ampara e me torna a sentar, acho que a baba escorre-me pelo peito, tou todo a suar… devo ter a cara de me ter passado uma quadriga em cima. Não me situo nem na mesa nem no acampamento, perdi o meu norte e parece que tudo rodopia. Tenho um búrio à minha frente, é alto e jovem e tem o cabelo apanhado num tufo.- Tu existes?- Quê?- Que tás aqui a fazer?- O tipo ri-se e pergunta-me:- E tu? Que tás aqui a fazer?- Se s
- Vai-nos mandar mau olhado! - diz Otix, tocando em seu amuleto. O feiticeiro desmonta do garrano e vai ter com meu tio e meu primo e o homem de negro. Discutem arduamente, o eco das suas vozes chega até nós imperceptível. Uma brisa sopra do sul, trazendo um agradável ar húmido. Um milhafre plana, um rouxinol canta a trinta passos de nós, as nuvens passam lá no alto e tudo está bem no velho reino do norte.Vemos o velho runamal subindo. Velho?! ele já era velho, quando eu era novo. Bebeu na raiz da grande árvore a água da sabedoria dada pelo gigante. Ser sabedor é ser velho. Subia a encosta encurvado e ajudado pelo seu bastão, evitando os estrepes e as cordas esticadas ocultas por entre o penedio e a urze, como se possuísse um sexto sentido que o alertasse das armadilhas. Parou meio agastado, mas aquilo é dissimulação, o grande feiticeiro tem a for&cced
- Estai atento ao que os espíritos vos disserem, eu serei apenas um meio. – informa Ario ordenando silêncio absoluto. Começa a gritar, um grito agudo e estridente que parou tudo. Até o rebuliço dos nossos sitiantes, lá em baixo. Aponta o céu e invoca os espíritos numa linguagem estranha, numa linguagem secreta acessível a poucos mortais. As narbassas possessas erguem seus braços para o círculo e começam a abaná-los. Que estaria Arioax a invocar? As forças arcaicas da natureza? A própria deusa Freya arrancada do âmago da terra? Não! Ninguém conseguria evocar Freya, a rainha das estações, seria tudo muito pesado para ele e depois como pagaríamos a Freya, com que sangue regaríamos a terra para pagar o favor que ela nos concederá? O retrocesso no tempo de Fabilda, o repor da ordem natural das coisas. Arioax pára de re
- Atinge-o! – o miúdo faz mira, roda violentamente as duas correias de couro que embalam a pedra estriada e dispara atingindo-me no olho com uma correia desgovernada. Com um olho fechado vejo a pedra a bater no peito de ferro de meu tio, mas o canalha balança e segura-se forte nas rédeas do cavalo branco renascido. Em fúria, resvalo pela lama da falésia ao seu encontro, ouvindo Odro: - Boríngio, não! - No poço fétido estou, alguém enlameado à minha frente brande-me um machado, tentando-me cortar a meio. Espeto-lhe, antecipando-me a seu movimento, furando as tripas do suevo, a lâmina perfura os orgãos, resvala na coluna e sai nas costas, ergo-o no ar, gritando a minha fúria. - Boríngio, toma! – Odro berra-me de cima e atira-me uma lança. Deixo cair o corpo empalado negro do suevo. Apanho a lança e recebo uma mocada que me faz saltar os dentes. Atontado, vacilo e caio, recebo alguém em cima que me quer apunhalar. Amparo o seu punho, a ponta furadora da lâmina raz
304ª olimpíada ....os suevos confirmam a paz consertada com a parte do povo da Galécia com a qual estavam em guerra. O rei Hermenico acabrunhado pela doença, entrega o poder real a seu filho Réquila… Crónica de Idácio
Levanto-me da rede, essa conversa ocorreu já há um ano, lembro-me da queda dos Alanos e dos últimos navios vândalos partirem, a noiva ainda não chegou, penso em Cibelle e desferrolho a pesada porta, dando um pontapé a Frumário e recebendo o gélido vento, protejo-me com a capa e empunho um archote, procurando o jovem Camalo, encolhido na garita, surpreendo-o gritando: - Raios mestre Langobardo! Por momentos pensei que fosse um demónio. - As sombras tem-te apoquentado? – pergunto-lhe, tremendo com as pernas de frio. Camalo tira a cabeça da guarita, amarelo e enregelado e com olhos dormentes, tinha o cabelo em forma de malga, de facto foi Cassiano, o padre que lhe cortou o cabelo à tesourada, pondo-lhe uma malga de barro de vinho tinto em cima da cabeça. Camalo perscruta as muralhas para sul e para norte, apontando-me com a sua manga felpuda de ovelha: - Além. - miro atentamente e parece que as sombras em forma de homens e cavalos pulavam a muralha, tornando-a a
Rodeado de húmido matagal, encontro um caminho de folhas secas dos teixos, freixos, carvalhos e aveleiras que ladeiam o mesmo. Percorro-o durante meia hora olhando para todos os lados e vendo os fumos saídos da fortaleza que coroa o monte Gerião[1], baptizei-o assim em nome do monte do norte onde a minha grei assentou. Uma elevação granítica estava à minha frente, salpicada de declinados carvalhos e oliveiras, dois corvos desciam e subiam uma dessas árvores e eu achei aquilo um bom presságio. Começo a subir o penedio monte, calcando as caganitas das cabras, encontro as fendas xistosas e embrenho-me nelas a medo entoando cânticos contra os duendes do ferro, um anão estava à minha frente de gorro vermelho e varapau. - O teu mestre está? – pergunto-lhe dando-lhe uma moeda com a esfinge do Imperador Teodósio. O anãozinho, de cara enrugada, toma o peso do metal e trinca-o avaliando o seu valor, depois dá-me passagem pela fenda, eu passo por ele e quando lhe ia agradecer o mesmo j