- Deus pai vos conserve unidos no mútuo amor, para que a paz de Cristo habite em vós e permaneça abundante em vossa casa.
- Amén
- Sêde abençoados no filhos, ajudados pelos amigos e vivei com todos em verdadeira paz.
- Amén.
- Aplaudimos todos no fim, muitos se abraçaram. Foi de facto emocionante ver a união e a solidariedade entre todos.
Mais tarde, assistimos a um simples baptizado no qual nos pediram para sermos testemunhas. Fizemos todos um sinal da cruz entre a cabeça, a barriga e os ombros. Renunciamos vivamente a Satanás, água nova foi imposta, celebração de renovação, uma veste branca o menino vestiu, chorando aos quatro ventos. Agastado pelas cerimónias, sentei-me juntamente com búrios e narbassos nas mesas onde cairiam os respastos. Sardenna pede-me licença para se retirar para o forte. Eu, como provavelmente isto iria ser a última festa da minha vida, deixei-me ficar. Os gaiteiros, o tambor e a pandeireta começaram a encher o ar, os
– depois decido retornar à festa, receoso. Sento-me no meu lugar.- Raios, estais amarelo! – o pastor põe-me a mão no ombro. - Bebe, come e esqueçe, amanhã lutaremos, hoje festejaremos. - fiquei catatonico por momentos, depois decido tornar a comer e a beber a cevada fermentada quente que já saía dos alambiques. Ocorre-me pedir perdão a Odro, mas que se lixe. Cambaleio, alguém me ampara e me torna a sentar, acho que a baba escorre-me pelo peito, tou todo a suar… devo ter a cara de me ter passado uma quadriga em cima. Não me situo nem na mesa nem no acampamento, perdi o meu norte e parece que tudo rodopia. Tenho um búrio à minha frente, é alto e jovem e tem o cabelo apanhado num tufo.- Tu existes?- Quê?- Que tás aqui a fazer?- O tipo ri-se e pergunta-me:- E tu? Que tás aqui a fazer?- Se s
- Vai-nos mandar mau olhado! - diz Otix, tocando em seu amuleto. O feiticeiro desmonta do garrano e vai ter com meu tio e meu primo e o homem de negro. Discutem arduamente, o eco das suas vozes chega até nós imperceptível. Uma brisa sopra do sul, trazendo um agradável ar húmido. Um milhafre plana, um rouxinol canta a trinta passos de nós, as nuvens passam lá no alto e tudo está bem no velho reino do norte.Vemos o velho runamal subindo. Velho?! ele já era velho, quando eu era novo. Bebeu na raiz da grande árvore a água da sabedoria dada pelo gigante. Ser sabedor é ser velho. Subia a encosta encurvado e ajudado pelo seu bastão, evitando os estrepes e as cordas esticadas ocultas por entre o penedio e a urze, como se possuísse um sexto sentido que o alertasse das armadilhas. Parou meio agastado, mas aquilo é dissimulação, o grande feiticeiro tem a for&cced
- Estai atento ao que os espíritos vos disserem, eu serei apenas um meio. – informa Ario ordenando silêncio absoluto. Começa a gritar, um grito agudo e estridente que parou tudo. Até o rebuliço dos nossos sitiantes, lá em baixo. Aponta o céu e invoca os espíritos numa linguagem estranha, numa linguagem secreta acessível a poucos mortais. As narbassas possessas erguem seus braços para o círculo e começam a abaná-los. Que estaria Arioax a invocar? As forças arcaicas da natureza? A própria deusa Freya arrancada do âmago da terra? Não! Ninguém conseguria evocar Freya, a rainha das estações, seria tudo muito pesado para ele e depois como pagaríamos a Freya, com que sangue regaríamos a terra para pagar o favor que ela nos concederá? O retrocesso no tempo de Fabilda, o repor da ordem natural das coisas. Arioax pára de re
- Atinge-o! – o miúdo faz mira, roda violentamente as duas correias de couro que embalam a pedra estriada e dispara atingindo-me no olho com uma correia desgovernada. Com um olho fechado vejo a pedra a bater no peito de ferro de meu tio, mas o canalha balança e segura-se forte nas rédeas do cavalo branco renascido. Em fúria, resvalo pela lama da falésia ao seu encontro, ouvindo Odro: - Boríngio, não! - No poço fétido estou, alguém enlameado à minha frente brande-me um machado, tentando-me cortar a meio. Espeto-lhe, antecipando-me a seu movimento, furando as tripas do suevo, a lâmina perfura os orgãos, resvala na coluna e sai nas costas, ergo-o no ar, gritando a minha fúria. - Boríngio, toma! – Odro berra-me de cima e atira-me uma lança. Deixo cair o corpo empalado negro do suevo. Apanho a lança e recebo uma mocada que me faz saltar os dentes. Atontado, vacilo e caio, recebo alguém em cima que me quer apunhalar. Amparo o seu punho, a ponta furadora da lâmina raz
304ª olimpíada ....os suevos confirmam a paz consertada com a parte do povo da Galécia com a qual estavam em guerra. O rei Hermenico acabrunhado pela doença, entrega o poder real a seu filho Réquila… Crónica de Idácio
Levanto-me da rede, essa conversa ocorreu já há um ano, lembro-me da queda dos Alanos e dos últimos navios vândalos partirem, a noiva ainda não chegou, penso em Cibelle e desferrolho a pesada porta, dando um pontapé a Frumário e recebendo o gélido vento, protejo-me com a capa e empunho um archote, procurando o jovem Camalo, encolhido na garita, surpreendo-o gritando: - Raios mestre Langobardo! Por momentos pensei que fosse um demónio. - As sombras tem-te apoquentado? – pergunto-lhe, tremendo com as pernas de frio. Camalo tira a cabeça da guarita, amarelo e enregelado e com olhos dormentes, tinha o cabelo em forma de malga, de facto foi Cassiano, o padre que lhe cortou o cabelo à tesourada, pondo-lhe uma malga de barro de vinho tinto em cima da cabeça. Camalo perscruta as muralhas para sul e para norte, apontando-me com a sua manga felpuda de ovelha: - Além. - miro atentamente e parece que as sombras em forma de homens e cavalos pulavam a muralha, tornando-a a
Rodeado de húmido matagal, encontro um caminho de folhas secas dos teixos, freixos, carvalhos e aveleiras que ladeiam o mesmo. Percorro-o durante meia hora olhando para todos os lados e vendo os fumos saídos da fortaleza que coroa o monte Gerião[1], baptizei-o assim em nome do monte do norte onde a minha grei assentou. Uma elevação granítica estava à minha frente, salpicada de declinados carvalhos e oliveiras, dois corvos desciam e subiam uma dessas árvores e eu achei aquilo um bom presságio. Começo a subir o penedio monte, calcando as caganitas das cabras, encontro as fendas xistosas e embrenho-me nelas a medo entoando cânticos contra os duendes do ferro, um anão estava à minha frente de gorro vermelho e varapau. - O teu mestre está? – pergunto-lhe dando-lhe uma moeda com a esfinge do Imperador Teodósio. O anãozinho, de cara enrugada, toma o peso do metal e trinca-o avaliando o seu valor, depois dá-me passagem pela fenda, eu passo por ele e quando lhe ia agradecer o mesmo j
Nessa noite, em Saturnring, bebi muito, como se toda a minha vida não tivesse sentido o que de facto não estava muito longe da verdade. Relembrava a infância despreocupada com meu pai em que brincávamos com cavalos de madeira nos acampamentos. Debruçado sobre a mesa estou com uma ligeira dor de barriga, tive que implorar a Frumário que produzisse hidromel. Observo a escrava que comprámos para nós os quatro, que é a guarnição sueva que guarda Saturning, Camalo olha para a moçoila a medo, creio que ele ainda é virgem e a mim não me apetece nada meter com ela. Odoacro é o único que fala com ela brincando com as mamas. Frumário crê que comprar a escrava foi um mau negócio e eu tenho a mesma opinião. Veio de Tarragona, trazida por um árabe, há muito tempo estabelecido em Hispânia, não percebe nada do que nós lhe dizemos e é imprestável para qualquer serviço. Como será