Desirée González sempre foi sua própria força e salvação. Abandonada pela mãe aos cinco anos, foi criada pelo pai, um homem que se perdeu no vício dos jogos de azar. A vida nunca foi fácil, marcada pelas noites intermináveis em que seu pai chegava tarde, sem nada além de dívidas e promessas vazias. Desirée aprendeu cedo a ser independente, a sobreviver com pouco e a construir com determinação uma vida diferente daquela que lhe parecia destinada. Quando tudo parecia estar entrando nos trilhos, seu pai foi assassinado, e Desirée se viu em busca da verdade e de justiça pela única pessoa que tinha no mundo. Otávio sempre observou Desirée à distância, fascinado pela força e determinação da jovem. Ele era um homem dividido entre o mundo sombrio da máfia e os sentimentos que nutria pela jovem, sentimentos que nunca ousou confessar. Sua posição como conselheiro da Cosa Nostra o mantinha no centro do poder, mas também o sobrecarregava com segredos pesados – segredos que envolviam a mulher que ele desejava. Agora, enquanto Desirée busca respostas sobre o misterioso assassinato de seu pai, Otávio se encontra em um dilema impossível: continuar protegendo-a da verdade ou confessar seu maior pecado, mesmo sabendo que isso pode afastá-la para sempre.
Ler maisRodolfo chegou de viagem hoje à tarde, então Alexander achou que seria uma boa ideia discutirmos os primeiros passos para uma aliança com a Ndrangheta. Estaciono o carro em frente à porta da mansão de Alexander, uma casa imponente que parece estar a quilômetros de distância da cidade. Olho ao redor, avaliando o cenário: as árvores são engolidas pela escuridão, e o breu lá no fundo parece engolir tudo, enquanto a mansão está banhada por luzes amarelas, criando um contraste surreal contra o escuro da noite.Suspiro, sentindo o primeiro floco de neve cair. Provavelmente teremos um Natal movimentado este ano. Essa ideia me faz sorrir, afinal, sempre quis ter uma família grande ao redor da mesa, celebrando a data. Conhecendo Helena, sei que ela não deixará passar em branco, como os outros anos em que simplesmente deixamos o Natal passar despercebido.Adentro a casa, sendo recebido por Cassandro e pelo cachorro de Alice. Me abaixo para alisar os pelos do pequeno animal, sentindo a leveza do
Otávio estende a mão, firme e decidida, seus olhos me encarando com uma intensidade que transmite não apenas autoridade, mas uma expectativa silenciosa. Respiro fundo, tentando controlar o turbilhão de emoções dentro de mim, antes de segurar sua mão. O contato é instantâneo, a textura quente de sua pele contra a minha me faz sentir uma conexão quase elétrica. Ele me puxa delicadamente, me levantando com facilidade, e no movimento, sou envolvida pelo perfume marcante que carrega — amadeirado, intenso, com um toque de mistério.Cada detalhe ao seu redor parece cuidadosamente calculado, como se ele soubesse exatamente como me fazer sentir vulnerável e atraída ao mesmo tempo.Então, ele levanta a outra mão, e vejo que está segurando uma pequena caixinha preta. Meu coração dispara, e por um momento, o ar parece faltar. Já sei o que está prestes a acontecer. Ele abre a caixinha com um gesto suave, e meus olhos se fixam no anel solitário de ouro rosé que brilha sob a luz que entra pela janel
Otávio entra na sala e fecha a porta atrás de si com calma. Não consigo olhar diretamente em seus olhos, então desvio meu olhar para sua mesa, ocupando minha mente com qualquer outra coisa enquanto espero ele se acomodar.Ouço o som de tecido deslizando enquanto ele remove o paletó e o pendura no cabideiro próximo à cortina atrás de sua mesa. Com um gesto, Otávio pressiona um botão sobre a mesa, e as cortinas começam a se abrir lentamente. A luz do sol invade o espaço, preenchendo a sala enquanto as luzes artificiais se apagam. Meu olhar se fixa no mar de prédios visíveis através da janela de vidro que vai do chão ao teto, uma vista impecavelmente deslumbrante.Ele se senta, e seus olhos esverdeados se cravam em mim com uma intensidade que faz meu coração acelerar.— Então? — Ele pergunta, a voz baixa, quase casual, mas cheia de expectativa.Solto um suspiro pesado, fechando os olhos por um breve momento antes de encontrar coragem para falar. Ainda tinha até quarta-feira para responde
Alexander analisa cada detalhe da papelada com a mesma minúcia obsessiva que eu tive esta madrugada. Sua expressão permanece impassível, mas conheço meu irmão bem o suficiente para perceber o leve franzir de testa que surge quando algo o intriga.— Desirée é irmã de Felício. — Ele joga o papel sobre a mesa, inclinando-se para trás na cadeira enquanto me encara com um olhar pensativo. — Isso faz dela herdeira, já que o irmão foi morto e o posto assumido pelo primo.Respiro fundo, sentindo o peso dessa informação. O brilho em seus olhos não passa despercebido. Alexander está vendo as peças se encaixarem, enxergando a oportunidade de expandir nossa influência. É algo que ele sempre quis, mas que, por um tempo, havia ficado de lado.— E isso muda as coisas, não é? — pergunto, sabendo exatamente onde ele quer chegar.Ele não responde de imediato, apenas cruza os braços, pensativo. Desde que se casou com Helena, Alexander adiou qualquer plano envolvendo a Ndrangheta e tem focado em outras m
— Já estou imaginando. Você de noiva com um vestido brilhoso entrando na igreja, vários fotógrafos e o gato do seu chefe esperando no altar. — Marcela suspira, arrancando de mim um sorriso sem graça.Sim, parece um sonho, mas a realidade está longe de ser um conto de fadas.Coloco os pés sobre a mesinha de centro e me acomodo no sofá, tentando ignorar o turbilhão de pensamentos que me invade.Assim que percebi que minha conversa com Otávio já havia ido longe demais, levantei, fui até o quarto, troquei de roupa e saí sem dizer nada. Simplesmente desapareci.É assustador estar nessa situação, mas, no fundo, sei que ele pode me ajudar. Só que há algo mais por trás daquela conversa, algo que ele não quis me contar. E isso está me corroendo por dentro.O problema é que o preço é alto demais. Um casamento sem amor.Eu sei que há uma possibilidade de me apaixonar por ele. Mas e ele?— Pare de queimar seus neurônios e apenas diga "sim". — Marcela me cutuca, quebrando minha linha de pensamento
Ela vai me dizer não. Está estampado no rosto dela, como um reflexo da incredulidade que sinto ao fazer a proposta.Estou frustrado, não apenas pela situação em si, mas pelo peso de saber que meu destino já estava sendo traçado antes mesmo de ter chance de contestá-lo. Desde o momento em que soube que precisaria me casar, sabia que estava embarcando em algo que, inevitavelmente, traria complicações. Levar alguém de fora da máfia para dentro do nosso mundo é como plantar uma semente em solo de guerra: frágil, instável e fadada ao caos.Alexander não merece mais problemas. Já carrega o peso da máfia nos ombros, e prometi a mim mesmo, quando entrei nesse universo, que faria o possível para minimizar os danos, para proteger a família e a organização.Por isso, concordar em me casar com Valentina parecia lógico. Ela é filha da máfia, criada dentro dessas regras, compreende cada detalhe desse mundo. Não haveria surpresas, nem conflitos desnecessários. Seria um casamento conveniente, sem ris
— Está do seu agrado? — A voz de Otávio rompe o silêncio, firme, mas carregada de curiosidade.Tiro minha atenção do prato e levanto o olhar. Ele está ali, encostado no balcão da pia, com os braços cruzados, me observando atentamente. Seus olhos verdes analisam cada detalhe, como se tentassem desvendar algo que eu ainda não disse ou, com toda certeza não quero dizer.— Está perfeito, obrigada. — Respondo, sentindo minhas bochechas aquecerem sob aquele olhar intenso.Ele não sorri imediatamente, mas há uma leve inclinação nos cantos de sua boca, como se estivesse satisfeito com a resposta.— Que bom. — diz finalmente, descruzando os braços e se virando para a bancada, onde pega sua xícara de café. — Fiz com cuidado. Achei que você precisava de algo reconfortante depois da noite que teve.— E estava certo. — Admito, segurando o garfo e voltando minha atenção ao prato. Mas, mesmo assim sinto seus olhos sobre mim, e isso me deixa estranhamente inquieta.— Você quer me dizer alguma coisa?
Acordo com uma tremenda dor de cabeça, e a primeira coisa que percebo é que bebi demais. Mal abro os olhos, puxo o travesseiro e cubro o rosto, tentando afastar o desconforto. Preciso urgentemente de um banho e algo para comer. Respiro fundo, e o cheiro suave de amaciante preenche o ar. Estranho, porque não é o mesmo cheiro que uso em casa.Com um sobressalto, abro os olhos e me sento na cama. O quarto ao meu redor não é meu. É espaçoso, bem decorado, com móveis de madeira escura e cortinas pesadas que bloqueiam quase toda a luz. Meu coração acelera por um momento, mas logo passo a mão pelo meu corpo, verificando minha roupa. Por sorte, ainda estou completamente vestida, o que me alivia. Pelo menos não fiz nenhuma besteira com um desconhecido.Olho ao redor, tentando identificar onde estou. A cama é absurdamente confortável, e o ambiente exala elegância. Definitivamente não é o tipo de lugar onde eu acabaria normalmente. Meu olhar para na porta, que está entreaberta, e ouço o som de u
A semana foi um verdadeiro teste de resistência. Mergulhei no trabalho, tentando manter a mente ocupada, mas o pensamento em Desirée me perseguia. Saber que ela poderia estar envolvida com Katakana tornava impossível afastá-la completamente da minha cabeça.Foi preciso muita força para bloquear qualquer sentimento, mas era inevitável sentir aquela dor sutil no peito, uma lembrança constante do quanto ela significava para mim — mesmo que esse sentimento nunca fosse recíproco. Minha alma ansiava por ela de uma forma que eu sabia ser imprudente. Se eu me permitisse pensar nela, se eu deixasse as dúvidas se infiltrarem, perderia o controle. E isso era algo que eu simplesmente não podia fazer.É difícil aceitar, mas minha mente insiste que ela não pode ser minha. É como se uma parte de mim soubesse que estar ao meu lado só traria perigo, como se cada passo que dou em sua direção fosse mais um motivo para que ela se machucasse. A razão sussurra que devo me afastar, que devo deixá-la livre,