CAPÍTULO 01 Otávio

Nova York – 13 anos atrás...

17, 18, 19, 20, 21... Parei de contar ao sentir alguém colocar as mãos sobre meu ombro esquerdo. Ao levantar a cabeça, vejo minha mãe, com os olhos arroxeados e inchados, um pequeno corte no lábio e os olhos vermelhos pelo choro.

Ela olha fixamente para a cena diante de nós, e eu volto minha atenção para Alexander novamente. Ele está encolhido em um canto, eu vejo o chicote ser levantado e cair mais uma vez sobre ele. Dessa vez, perdi as contas.

Fecho os olhos quando o olhar do meu pai se volta para mim.

Eu sabia que Alexander estava apanhando por minha culpa. Viro a cabeça e vejo Rodolfo em outro canto do quarto; há sangue no canto de sua boca, e ele me olha com raiva. Os três apanharam por causa da minha falha. Eles estragaram mais uma apresentação da máfia porquê eu não consegui matar alguém. Eu não queria matar, mas ver minha família sofrer a cada erro meu dóia mais do que a própria morte.

Meu pai caminha em minha direção, e sinto a mão da minha mãe apertando meu ombro, um gesto que mistura conforto e preocupação.

— Um verdadeiro conselheiro — ele começa, sua voz firme —, ele aconselha com sabedoria e age como mediador em brigas e disputas internas. Ele planeja e executa com mestria, ajudando o capo a manter a segurança e a eficácia da máfia.

Ele se aproxima, segurando firme meu queixo, forçando-me a olhar em seus olhos.

— Como o braço direito do chefe e subchefe, ele utiliza seus dons para servir à organização e nunca recusa uma ordem.

Eu sabia que ele estava zangado, mas não era minha intenção irritá-lo. Eu só não queria matar alguém. A pressão em meu peito aumenta, e eu me pergunto se um dia conseguirei viver com a responsabilidade de saber que, a cada erro, alguém paga o preço.

— Pai... — minha voz sai hesitante, mas eu me esforço para me manter firme. — Eu não quero fazer isso.

Ouço sua risada amarga ecoando pelo quarto. Logo após, sinto um zumbido em meu ouvido e, em seguida, o impacto ao cair no chão.

Sinto quando sou arrastado pelas pernas. Meu pai desce as escadas e cada degrau faz meu corpo estremecer de dor. Ele continua me puxando pela sala até chegar à porta principal.

— Se coloca de pé! — berra, dando-me um chute.

Solto um gemido prendendo meu choro. Me levanto, sentindo sua mão agarrar minha nuca com força, forçando-me a caminhar no mesmo ritmo que ele. Ele me leva até o galpão próximo à nossa casa. Lá dentro, vejo dois homens da Yakuza presos, um aparentemente já morto. Eles vivem em guerra conosco desde que Milena foi sequestrada.

— Mate-o. — Meu pai coloca a arma em minha mão.

Observo o metal pesado que parece pesar uma tonelada. Encaro o homem à minha frente, sentado em uma cadeira, respirando lentamente. Há sangue no chão, e o cheiro que exala dele é horrível, mas eu me concentro em fazer o que foi mandado.

Levanto a arma, minhas mãos tremendo, observando atentamente o homem.

— Maldito Gambino! — ele surta, debatendo-se na cadeira. — Vocês todos queimarão e aprodeceram no inferno!

Escuto a respiração pesada do meu pai e, então, fecho os olhos, apertando o gatilho exatamente como Alexander e Rodolfo me ensinaram.

O som oco do tiro ecoa pelo galpão, fazendo meu coração acelerar.

Eu matei uma pessoa.

Eu acabei de matar um homem.

Sinto outro tapa em meu rosto e caio no chão, desta vez não seguro as lágrimas. Minha visão está girando; vejo tudo escuro, e a única pergunta que reverbera em minha mente é por que nasci neste mundo, por que não nasci em uma família normal como alguns amigos da escola.

Recebo outro chute e me encolho.

— Se no mês que vem você falhar, eu te mato. — Ele pronuncia, saindo do galpão. — Para me dar dor de cabeça já basta Alexander.

Meu pai sai e eu fico sozinho no escuro do galpão, com o homem que acabei de matar.

O silêncio é ensurdecedor. A realidade do que fiz começa a se instalar em mim como um veneno. Sinto meu coração pesar, e a verdade é clara: não posso voltar atrás.

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— Por que simplesmente não o matamos? — questiono, irritado com Alexander. — Eu o odeio, quero ele morto.

— E o que faremos com o conselho? — Alexander me encara. — Matar o capo é um ato de traição. Você acha que eles nos nomeariam como novos líderes depois da morte do nosso pai? Sem falar da nossa mãe. Você quer que ela morra também?

Fecho os olhos com força.

Eu não queria que minha mãe morresse, só queria viver em paz. Não entendo muito sobre as regras da máfia, mas sei que não quero fazer parte disso.

— Eu não vou ajudar vocês nessa vingança patética. — Ouço Rodolfo resmungar. — Nosso pai só nos corrige porque fazemos o que é errado.

— Ele também te bateu! — brado, furioso com ele.

— Sim. — Ele se levanta da cama e vem na minha direção, forçando Alexander a se colocar entre nós. — Porque eu resolvi te ajudar, junto com Alexander.

— Eu não preciso da sua ajuda! — grito, e Alexander se vira para mim.

— Vamos parar. Você já matou um cara, o próximo será mais fácil.

Olho para seu olho direito, inchado e roxo, e me sinto culpado.

— Vou fazer tudo o que ele quer, só para não te prejudicar mais.

— Ótimo. — Alexander passa as mãos pelos cabelos e segue para o banheiro.

Eu e Rodolfo ficamos no quarto, observando a porta se fechar com um estrondo.

— Como ele vai para a faculdade agora com o olho roxo?

— Faça as coisas certas para que, talvez no futuro, ele não precise mais passar por isso.

Rodolfo sai batendo a porta, e eu fico com suas palavras ecoando na minha mente. Fazer o certo, para que Alexander não sofra as consequências.

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