— Mande o currículo agora mesmo.
Marcela está totalmente eufórica. Faz três dias que estou pensando sobre a proposta de Otávio em enviar um currículo para o Gran Hotel, mas ainda não tomei minha decisão. Consegui entrar na faculdade, meu salário já está ajeitado para alugar um novo lugar e o apartamento colocarei à venda amanhã. — Eu entrei na faculdade agora, eles não vão me ligar. — Para de ser teimosa e ao menos tenta. — Tudo bem. Pego meu celular e entro no G****e. Primeiro vou pesquisar sobre esse hotel. Imediatamente uma enxurrada de informações aparece e, para o meu desespero, a imagem de Otávio dizendo que ele é o vice-presidente aparece. Abro a boca incrédula; como eu não percebi isso antes? — Terra chamado Desirée. — Você queria saber quem é Otávio. — Queria não, amiga, eu ainda quero. — Aqui. — Viro o celular para ela, e a reação dela é a mesma. — Ele é o vice-presidente Otávio Gambino. Não. — Ela balança a cabeça freneticamente. Me levanto, largando o celular. Agora que eu não vou enviar currículo para lá mesmo. — Ei, onde você vai? — Me arrumar para trabalhar. — Informo, decidida. — Não vai mandar o currículo? — Ela pergunta, desesperada. — Não sei, Marcela. Agora que sei quem ele é, a ideia parece absurda. Eu não quero me envolver nesse tipo de coisa. — Você precisa parar de achar que é algo ruim. Pense nas oportunidades que isso pode trazer! — Oportunidades? Para me tornar um peão em um jogo que nem sei qual é? Não, obrigada. Marcela suspira, frustrada. — Você está sendo ingênua, Desirée. Isso pode ser a chance de mudar sua vida. E se você não tentar, nunca saberá o que poderia ter acontecido. Fico em silêncio, refletindo sobre o que ela disse. É verdade que estou cansada da vida que levei até agora, mas o que Otávio realmente quer de mim? Ele parece genuíno, mas não posso esquecer a fachada que os homens costumam usar. — Vou pensar, tá? — Respondo, mais para aplacar a ansiedade dela do que por convicção. — Isso é tudo o que peço. Mas não demore muito, porque pode ser uma chance única. Entro no quarto, decidida a deixar as coisas em ordem para o trabalho. A ideia de trabalhar no Gran Hotel ainda ecoa na minha mente. É uma oportunidade única, mas será que estou pronta para isso? A dúvida me persegue enquanto me visto e me preparo para o que está por vir. (๑๑˙❥˙๑๑˙❥˙๑๑˙❥˙๑๑˙❥˙๑๑˙❥˙๑๑)✍️ — Sinto muito, Desirée, mas você está demitida. Abro e fecho a boca, sem saber o que dizer. Como assim? — Eu fiz algo de errado, senhor Aroldo? — questiono nervosa. Se ele está me mandando embora, terei que tirar o apartamento da venda. E, para piorar, como vou me manter? — Não, não é nada disso. É apenas um corte de funcionários. As vendas caíram, e você é a mais nova aqui, então é mais lucrativo para mim dispensar você. Me desculpe. — Eu entendo. — Suspiro derrotada. — Obrigada por me dar emprego, mesmo eu sendo de menor, e por toda a ajuda que o senhor me deu. — Não tem que me agradecer. Sinto muito por não conseguir te manter aqui. Você é uma ótima pessoa e merece coisas melhores. Assinto, me levanto da cadeira e pego minha folha de pagamento. O dinheiro já havia sido depositado em minha conta. Saio, querendo chorar, e consigo até escutar a voz da minha genitora me intimando a morar com ela. Não mesmo. Prefiro morar na rua. Enquanto caminho pelas ruas de Nova York, as luzes da cidade parecem mais apagadas. A incerteza do futuro me assombra. O que eu vou fazer agora? A faculdade está começando, e eu não tenho um centavo a mais. Tudo que consegui conquistar até agora está desmoronando. Chego em casa e joguei a chave na mesa, o som ecoando no silêncio do apartamento vazio. Olhando em volta, vejo as paredes que sempre foram um lar, mas que agora parecem me aprisionar. O que vou fazer com todo o esforço que coloquei em mudar minha vida? Meus pensamentos são interrompidos pelo meu celular vibrando. É uma mensagem de Marcela. "Ei! Como foi o trabalho hoje? Alguma novidade?" Sorrio, lembrando que, mesmo com tudo, tenho minha amiga. Respiro fundo e respondo. "Fui demitida, mas tudo bem. Preciso encontrar um novo emprego." "Desirée, que droga! Vamos conversar. Você não pode ficar assim." Penso em suas palavras. Não posso deixar que isso me derrube. Preciso encontrar outra oportunidade. Talvez seja a hora de considerar a proposta de Otávio mais a sério. "Você tem razão. Vou pensar em algo. Vamos nos encontrar depois?" "Claro! Vou te esperar." Desligo o celular e olho pela janela. A cidade continua a pulsar, cheia de vidas e possibilidades. Preciso encontrar uma maneira de me levantar e não deixar que isso me defina. O Gran Hotel... A ideia não parece tão absurda agora. Volto a pegar meu celular e o cartão que continua no fundo da minha bolsa. Com um misto de ansiedade e determinação, puxo meu currículo, que já estava salvo entre meus documentos. Acerto alguns detalhes, acrescentando a informação da faculdade — esse pequeno detalhe pode fazer toda a diferença. Depois de revisar tudo, envio o e-mail para o Gran Hotel, meu coração acelerado em expectativa. Pronto, agora é só esperar e torcer para que eles me chamem.Eu tive que passar por três entrevistas, o que, de certa forma, me deixou extremamente agoniada. A primeira envolveu perguntas básicas; na segunda, fui submetida a um teste psicológico; e, na terceira, tive que fazer algumas provas. Agora, finalmente, estou na última etapa: a sala do CEO.Confesso que estar de frente com Alexander Gambino é um misto de nervosismo e admiração. Pesquisei sobre a vida e a empresa dele e descobri que ele não é apenas o CEO, mas uma figura lendária na empresa, conhecida por sua frieza estratégica e presença intensa. Ao me encarar, seus olhos parecem avaliar cada detalhe, como se ele pudesse ler o que estou pensando antes mesmo de eu abrir a boca.Eu tento manter a compostura enquanto ele revisa o meu currículo. O silêncio na sala é quase esmagador, e eu sei que este momento é decisivo. Toda a preparação, todas as etapas, e tudo se resume ao que ele verá em mim agora.— Desirée González. — Ele levanta a cabeça depois de anotar algumas coisas no meu currícul
Dias atuais...— Vai trabalhar até mais tarde outra vez? — Tiro minha atenção dos papéis que analisava para encarar Alexander. Ele fecha a porta e caminha sem pressa até a mesa de café, servindo-se de uma xícara antes de vir na minha direção.— As coisas finalmente começaram a se alinhar — respondo, tentando manter o tom neutro. — Quero aproveitar esse momento de calmaria para revisar as papeladas da investigação de Milena. Não posso deixar passar nada despercebido.Alexander se senta na poltrona à minha frente e dá um gole no café, os olhos fixos em mim, como se tentasse medir o peso que isso tudo estava me causando. — Queria ter a mesma esperança que você, mas nós dois sabemos que a Yakuza dificilmente deixaria alguém vivo após tanto tempo.Engulo seco, desviando o olhar por um instante. Eu sei disso, e torço contra esse pensamento todos os dias. Todos dizem que a esperança é a última que morre… a minha irá morrer comigo, se for preciso.— Não sei. — Me recosto na cadeira, estudando
Abro os olhos encarando o teto, com a mente ainda presa naquele sonho horrível. Odeio esses sonhos. Dou um suspiro pesado e me sento na cama, esperando que, quem sabe, meu cérebro faça o download da minha alma. Nada. Sinto a frustração se instalar, como sempre.Hoje completo 19 anos. Consigo reconhecer que cheguei até aqui bem melhor do que imaginava. Tenho um emprego decente, estudo em uma ótima faculdade e moro em um apartamento só meu, perto do trabalho. Nem precisei mexer no dinheiro da venda do apartamento do meu pai. Metade, claro, já que tive que dividir com minha “genitora”.Olho ao redor, meio zonza, tentando reunir coragem para sair da cama e encarar o dia. O quarto ainda está na penumbra, a luz da manhã entra devagar pela janela entreaberta, trazendo uma brisa fria que faz o quarto parecer mais aconchegante. Lá fora, o som do trânsito começa a subir, quase reconfortante. A vida não para, e eu também não.Levanto devagar, o chão frio sob meus pés me tira o sono de vez. Vou a
Organizar a agenda do senhor Alexander não é uma tarefa fácil, mas organizar a agenda de Otávio é ainda pior. Às vezes, acho que vou ter um mini infarto só de olhar para esses horários. Ele sempre tem algo inesperado ou algum compromisso que surge do nada, e eu, como uma de suas assistentes, sou a encarregada de colocar tudo em ordem. Por exemplo, o horário de almoço dele hoje foi de meia hora. Apenas trinta minutos. Isso não dá nem tempo de mastigar! Além disso, ele tem três reuniões com os gerentes das filiais, uma com o senhor Alexander às seis, e um jantar de negócios às sete. E, para completar, de manhã ele ligou pedindo que a Melissa enviasse alguns documentos por e-mail, já que estava "ocupado com outros assuntos". Assuntos esses que só Deus sabe o que são. Meu celular vibra, tirando-me dos pensamentos caóticos da manhã. Quando olho, é uma mensagem de Marcela. "Feliz aniversário, minha ruiva! Se prepare, porque hoje vai ter comemoração SIM, e sem desculpas!" Logo, dois ing
Fiquei observando o presente: uma sandália de salto fino em um tom vibrante de rosa. As tiras trançadas, decoradas com pequenos spikes, traziam um ar moderno e ousado, contornando meu pé de forma elegante. A amarração no tornozelo, com um laço delicado, completava o visual com um toque feminino e sofisticado.Eu amei cada detalhe. Mas me pego pensando... Como ele poderia saber? A paixão que tenho por sandálias é algo que apenas Marcela conhece. Não há nenhuma chance de Otávio estar ciente desse meu pequeno vício por saltos altos.Decido que é hora de expressar minha gratidão. Pego o celular e lhe envio uma mensagem:"Obrigada, seu presente foi perfeito."Acrescento um emoji de joinha, tentando transmitir um pouco da empolgação que sinto.Nunca mandei mensagem para meu segundo chefe fora da empresa; esta é a primeira vez. Um misto de nervosismo e expectativa invade meu estômago. Espero por alguns segundos, mas a mensagem não é respondida. Coloco o celular no canto e volto a observar a
Pegamos uma pequena fila porque decidimos chegar cedo. Depois de tudo certo, entramos como casal. Sim, eu e a minha amiga, já que a bonita não queria pagar mais caro, e em casal sairia mais barato.O lugar era incrível, um pouco parecido com uma boate, mas, olhando bem, só um pouco. As luzes eram suaves, criando uma atmosfera íntima e sedutora, enquanto a música pulsava, dando vida ao espaço.Fui até o fundo e me sentei em um canto, já que era a minha primeira vez neste lugar e queria observar tudo antes de fazer algo que poderia me arrepender. Era uma mistura de emoções: ansiedade, excitação e um toque de nervosismo. Enquanto olhava ao redor, percebi que os olhares de homens e mulheres se entrelaçavam, criando uma conexão quase elétrica no ar.Uma morena linda dançava no pole dance, fazendo movimentos graciosos que me fizeram franzi a testa. O que eu esperava ver eram homens, mas ali estava aquela mulher capturando a atenção de todos com sua performance. Ela se movia com tanta confi
Eu não queria estragar a noite de Desirée, mas também não permitiria que ela ficasse vendo um bando de dançarinos se despindo no palco. Por isso, mandei trocar o evento da noite, uma mudança discreta, mas eficiente.A casa de swing não é minha; ela pertence a Rodolfo, assim como outras duas boates na cidade. Mas isso ainda me dá certo privilégio para interferir quando necessário.Observo pelas câmeras de segurança o exato momento em que ela percebe a troca do show. Ela parece descontentamento ao ver as dançarinas entrarem no palco em vez dos dançarinos que esperava. O leve franzir de sua testa me arranca um sorriso. Ela não faz ideia de que eu estou por trás dessa mudança.Ela olha para o palco, parecendo desapontada, desvia o olhar e murmura algo para a amiga, que também parece surpresa e decepcionada. As duas trocam um olhar significativo e, por um momento, penso que vão sair. Mas, para minha surpresa, Desirée permanece ali, embora o desconforto esteja claro em sua expressão.Eu que
— Eles sempre vão tocar na mesma ferida — Alexander murmura, limpando as mãos sujas de sangue. — Essa é a fraqueza que todos veem na Cosa Nostra. O ponto que qualquer organização ousa explorar.Observo-o em silêncio, notando as marcas de uma noite sem descanso. Já está quase amanhecendo, e o céu começa a clarear, mas a tensão no ar é densa, quase palpável. Alexander carrega o peso dessas palavras, o peso de cada acusação de lealdade questionável, algo que outros enxergam como um ponto fraco nosso, um golpe direto no que construímos.Ele inspira fundo, e a frustração se manifesta em cada linha de seu rosto, endurecido pela experiência e pelos sacrifícios que a vida na máfia exige.— Eles acham que conhecem nossas fraquezas, mas não têm ideia do que realmente nos move, algo que eles nunca entenderão — continua, com um tom de desprezo.Alexander lança um olhar sombrio para o corpo de Majoto, caído no chão frio. Seu rosto está inchado, desfigurado, com a língua arrancada como um símbolo d